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A-24

Na ex-Jugoslávia ainda há 14.000 desaparecidos

por A-24, em 05.09.12
Ljiljana Alvir continua à procura do irmão que desapareceu durante a guerra na Croácia e está convencida de que as autoridades sérvias não lhe querem dizer o que aconteceu. É uma das muitas pessoas que não sabem dos familiares desde o conflito em que desapareceram cerca de 14.000 pessoas, segundo a Amnistia Internacional. Hoje é Dia Internacional das Vítimas dos Desaparecimentos Forçados.
Alvir vivia na cidade Croata de Vukovar quando as forças sérvias ali chegaram, em 1991. Perdeu o irmão e o namorado mas nunca desistiu de os procurar. “Toda a gente merece saber onde estão os ossos daqueles que amaram”, disse ao Washington Post. O seu caso é um dos muito que integram o relatório “The right to Know: Families still left in the dark in the Balkans”, ou, numa tradução livre, “O direito a saber: Famílias ainda sem respostas nos Balcãs”, que agora foi divulgado pela Amnistia Internacional (AI).
Segundo esta organização de defesa dos direitos humanos, há ainda cerca de 14.000 pessoas por encontrar após a guerra na antiga Jugoslávia que se prolongou de 1991 a 1999 e causou mais de 100.000 mortes. A AI critica os governos dos países que pertenciam à ex-Jugoslávia por não se terem empenhado em conhecer e dar informações sobre o que aconteceu aos desaparecidos, e é também esse o sentimento de muitos dos familiares. “As instituições sérvias têm informação sobre o que aconteceu mas estão a esconder a verdade”, diz Ljiljana Alvir.
Grande parte dos desaparecidos, cerca de 10.000, estão relacionados com a Guerra na Bósnia que durou de 1992 a 1995, adianta a Amnistia Internacional. Na Croácia desapareceram pelo menos 2400 pessoas e outras 1800 durante a guerra no Kosovo entre 1998 e 1999. “As pessoas que vivem nos Balcãs não fecharam ainda o capítulo dos desaparecimentos forçados. Estes são uma fonte diária de dor para os familiares que ainda aguardam saber o destino e paradeiro dos seus entes queridos, que ainda procuram verdade, justiça e reparações”, diz Jezerca Tigani, directora-adjunta da Amnistia Internacional para a Europa e Ásia Central, no comunicado em que resume as conclusões da organização.
“As vítimas de desaparecimento forçado são provenientes de todos os grupos étnicos e camadas sociais”, adianta Tigani. “Civis e soldados, homens, mulheres e crianças – as suas famílias têm o direito de saber a verdade sobre as circunstâncias dos desaparecimentos forçados, o progresso e o resultado da investigação e o destino da pessoa desaparecida. Para as famílias dos desaparecidos, ter o corpo para um funeral é o primeiro passo para conseguir justiça”.
A responsável da AI considera que um dos principais obstáculos para que se desconheça o destino de tantas pessoas é “a persistente falta de vontade política em todos os países da região”. A organização apela aos governos dos países da ex-Jugoslávia para se empenharem “de forma clara” na aplicação de medidas que premiram pôr fim à impunidade dos responsáveis por esta situação, nomeadamente a abertura de investigações “eficazes e imparciais” sobre os crimes que levaram aos desaparecimentos.
Na Croácia, que declarou a independência em 1991 e desencadeou uma violenta resposta das forças sérvias, foram dadas como desaparecidas cerca de 6400 pessoas após a guerra, em 1995, e destas foram encontradas pouco mais de 4000. Nos últimos dois anos foi revelado o destino de apenas 215 pessoas e há cerca de 900 restos mortais que ainda não foram identificados.
Na Bósnia Herzegovina foram dadas como desaparecidas cerca de 30.000 pessoas, e hoje ainda se desconhece o destino de cerca de 10.400, grande parte muçulmanos bósnios. E no Kosovo desapareceram 3600 pessoas, a maioria de etnia albanesa, e cerca de 1800 desaparecimentos continuam por explicar.
Público