Morreu Bernardo Sassetti
por A-24, em 11.05.12
O comandante Nuno Mónica de Oliveira, da Capitania do Porto de Cascais, adiantou ao PÚBLICO que às 15h15 de quinta-feira receberam uma chamada para socorrerem “um indivíduo caído numas pedras a norte da Praia do Abano”. O responsável sublinhou que durante toda a intervenção da capitania não foi possível identificar o corpo como pertencendo a Bernardo Sassetti e que foi ainda por reconhecer que foi transferido para a morgue da Guia.
Nuno Mónica de Oliveira explicou que o corpo terá caído de uma altura de cerca de 20 metros – numa zona “propícia a passeios e contemplação da paisagem, mas ainda assim perigosa” – e que se encontrava “numa zona de difícil acesso, o que dificultou as operações”, acabando o resgate por se prolongar até às 18h30. O comandante disse, também, que o resgate só foi possível com o recurso a equipamentos e técnicas de grande ângulo dos Bombeiros de Alcabideche. O PÚBLICO contactou esta corporação, sem sucesso.
Haverá duas cerimónias fúnebres, uma privada e outra pública, mas as datas e os locais ainda não foram confirmados.
Bernardo Sassetti nasceu a 24 de Junho de 1970, filho mais novo de Sidónio de Freitas Branco Pais e de Maria de Lourdes da Costa de Sousa de Macedo Sassetti. Era bisneto de Sidónio Pais. Iniciou os estudos de piano clássico aos nove anos, tendo frequentando também a Academia dos Amadores de Música. Em 1987 iniciou-se profissionalmente no jazz, estudando com músicos como Zé Eduardo, Horace Parlan e Sir Roland Hanna, e tocando com o quarteto de Carlos Martins e o Moreiras Jazztet.
Nos primeiros quinze anos de carreira apresentou-se por todo o mundo, ao lado de músicos como Al Grey. Frank Lacy ou Andy Sheppard, Paquito D’ Rivera ou Benny Golson. Em 1997, por exemplo, ao lado de Guy Barker, gravou “What love is”, acompanhado pela Orquestra Filarmónica de Londres, que tinha como convidado o cantor Sting.
Como compositor destacam-se no seu percurso obras como “Ecos de África”, “Sons do Brasil” ou “Entropé”. O seu primeiro trabalho, como líder, foi “Salsetti”, de 1994, que contava com a participação de Paquito D’ Rivera. O segundo álbum, “Mundos”, saiu em 1996. O álbum “Nocturno” de 2002, ou os mais recentes “Indigo” e “Livre”, são outras das suas mais recentes gravações de piano solo para a editora Clean Feed.
O cinema, tal como a fotografia, era outra das suas grandes paixões, não surpreendendo que tenha composto muito para cinema. “Alice” de Marco Martins, “A Costa dos Murmúrios” de Margarida Cardoso, “Facas e Anjos” de Eduardo Guedes ou “Maria do Mar” de Leitão Barros foram alguns dos filmes para os quais compôs música.
Nos últimos anos apresentou-se em piano solo, ou em trio com Carlos Barreto e Alexandre Frazão. Ao falar sobre o seu trabalho solo, costumava salientar a importância do silêncio, era um músico em busca do silêncio. Em duo tocou com o pianista Mário Laginha, com quem gravou “Mário Laginha / Bernardo Sassetti” e “Grândolas”, naquela que foi uma homenagem a Zeca Afonso e aos 30 anos do 25 de Abril.
Mas o piano de Bernardo Sassetti não esteve apenas ao serviço do jazz. Ao longo do seu percurso musical trabalhou com músicos de jazz, do fado, da pop ou do hip-hop. Em 2010, por exemplo, juntou-se a Carlos do Carmo. Os últimos trabalhos de Sassetti foram a participação no disco “Mútuo Consentimento” de Sérgio Godinho e “3 Pianos”, ao lado de Mário Laginha e Pedro Burmester.
Era casado com a actriz Beatriz Batarda, de quem tem duas filhas.