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A-24

I'll be back!

por A-24, em 22.03.13
João Pinto Bastos no Estado Sentido

Por diversas vezes disse e escrevi que Sócrates voltaria. Recordo-me das respostas dos meus interlocutores, "não, não volta", "a vida política dele acabou", " jamais", "nunca", coisinhas assim, porém, sempre fiz questão de enfatizar um pequeno facto que, em bom rigor, comprovaria a apetência de Sócrates pelo regresso: uma vaidade tresloucada que não conhece limites. Sócrates é vaidoso. Sempre foi. Sob a capa de uma pretensa sofisticação, desenvolveu um marketing bastante pessoal assente, sobretudo, numa imagem polida e numa ambição ao nível de um Afonso Costa do século XXI. Sócrates vai voltar e vai querer apropriar-se do palco mediático. As suas ambições políticas continuam intactas e ele, mais do que ninguém, sabe que com uns pózinhos de amnésia e de retórica oca, devidamente ministrados, conseguirá desviar a atenção da populaça dos imensos sacrificios a que tem estado sujeita. 
É evidente que este regresso baralha muitas contas e algumas ambições pessoais. O futuro encarregar-se-á de dirimir essas lutas intestinas. Porém, num tempo em que o país é sujeito a uma dieta austeritária brutal, em que a miséria campeia e a desesperança assenta arraiais, um regresso deste calibre merece um forte protesto. Entendo a posição do Paulo Gorjão, também não gosto de silenciar ninguém, respeito a democracia e o direito de todos, sem excepção, de dizerem de sua justiça. Sócrates pode e deve falar, é livre de fazer o que bem entenda, não pode é esperar a benevolência de quem foi espoliado pelo seu projecto oligárquico que durou exactos seis anos. O protesto é lícito, mais, é uma obrigação moral de todos os que não se revêem nas patranhas de uma III República falida e gasta. Por último, last but not the least, tenho de recordar um pequeno pormenor que, infelizmente, tem sido menosprezado pelos muitos indignados que têm vertido, nas últimas horas, a sua revolta nas redes sociais a propósito desta estória: este convite tem a mão do Governo. Num momento em que o executivo vê-se apertado por todos os lados, nada melhor do que promover o retorno do responsável pela confusão presente. 
Jogada de mestre, dirão alguns. Génio político, dirão outros. Total falta de vergonha na cara, direi eu. Falta de vergonha, de escrúpulos e de tacto político. Passos e Relvas só provam com isto que têm de sair rapidamente. O seu tempo acabou definitivamente. Utilizar a televisão pública - sim, tem de ser imediatamente privatizada ou fechada, pouco importa a saída encontrada - para joguinhos políticos tão baixos, denota que este regime está a chegar a uma zona bastante perigosa: a zona em que a desconfiança da cidadania é já absoluta. Por isso, e com isto em mente, apelo aos organizadores das petições já em movimento para não se esquecerem do Governo nos seus protestos. Não se esqueçam, por favor. Relvas e companhia limitada são tão culpados quanto Sócrates. Ponto. Sim, protestem, gritem, digam não a isto, mas não se esqueçam dos preclaros senhores que convidaram o exilado parisiense. É só isso que vos peço.