Histórias do Euro: Espanha vence Euro 1960
por A-24, em 21.06.12
A 21 de Junho, com o general Franco nas bancadas do Chamartín, um golo de cabeça de Marcelino aos 83 minutos fixa o resultado final
Alfredo di Stéfano, Ladislao Kubala e Luis Suárez. Numa altura em que ainda é possível um jogador acumular internacionalizações por duas ou mais selecções, a Espanha chama a si o favoritismo para a vitória do primeiro Europeu de sempre, em 1960. Tal não se concretiza e a responsabilidade nem é de um árbitro equivocado, de um guarda-redes adversário inspirado ou de um avançado sem pontaria. A culpa é de Franco, general de seu prefixo.
A Guerra Civil de Espanha acabara há 21 anos e Franco continuava fechado no seu mundo. Quando o sorteio dos quartos-de-final dita o confronto com a URSS, a Espanha desiste por decisão do Conselho de Ministros, então pouco dado a aberturas a Leste. No Europeu seguinte, em 1964, a UEFA nomeia a Espanha como organizadora. Já sem os estrangeiros Di Stéfano e Kubala, Espanha toma conta do recado com as duas Irlandas e apura-se para o Europeu propriamente dito. A acompanhá-la, Hungria, Dinamarca e URSS.
Na quinta-feira de manhã de 18 de Junho de 1964, a três dias da final, dá-se o primeiro encontro entre as duas delegações para o sorteio dos equipamentos e dos árbitros. Ao inglês Arthur Holland sai a rifa de apitar a final entre os soviéticos vestidos de preto e os espanhóis de azul. Ao mesmo tempo, as perguntas flutuam no ar. Irá Franco ao jogo? Como reagirá o chefe de Estado em caso de derrota frente à representação do seu grande inimigo ideológico? Qual será o comportamento do público?
Todas estas interrogações, e outras, são respondidas na tarde de 21 de Junho, dia de S. Luís, que amanhece chuvoso, e assim continuaria, com especial insistência mais volumosa durante a segunda parte. O Estádio Chamartín, casa do Real Madrid, enche-se com 120 mil pessoas e Franco vai a jogo. Escutados os dois hinos e hasteadas ambas as bandeiras, começa o jogo. Aos cinco minutos, Suárez desce pela direita e cruza para a área. Os centrais Shustikov e Shesterniev atrapalham-se com a bola e é Pereda quem se intromete para fazer o 1-0. Yashin, o Bola de Ouro, não tem hipótese de impedir aquele que continua a ser o golo mais rápido em finais de Europeus. Ainda se ouvem aplausos entusiásticos quando Ivanov passa ao extremo Khusainov e este surpreende Iribar com um remate cruzado, entre as pernas de Fusté e Olivella. Aos oito minutos, 1-1.
A partir daqui, equilíbrio de forças com as linhas de cada selecção a revelarem uma grande solidez e um generoso esforço físico. A segunda parte é mais do mesmo, com a tal chuva a cair insistentemente. É aí que surge o 2-1. A jogada começa num passe mal feito de Ivanov para Khusainov. O lateral Rivilla recupera a bola, galga uns metros e passa-a a Pereda, que, sem demoras e marcado em cima por Mudrik, cruza a dois palmos do solo. Num sensacional voo rente à relva, o avançado Marcelino cabeceia e a bola entra encostada ao poste esquerdo de Yashin. Está escrita a vitória. Aquela do campo, e não só.
Em Varsóvia, Polónia
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