História da vida privada em Portugal
por A-24, em 22.08.11
Dirigido por José Mattoso e coordenado por Ana Nunes de Almeida, este IV volume engloba um arco temporal de 1950 à primeira década do século XXI. A vida privada como tema muito deve à geração dos «Annales» em França que teve a coragem de, sem esquecer a política e o poder, trazer para os estudos históricos o domínio dos sentimentos, das atitudes e crenças, dos comportamentos perante o nascimento, a sexualidade, a morte e as idades da vida.
Em 1950 Portugal era um país pequeno, pobre e católico, com níveis baixos de escolarização e qualificação, uma agricultura estagnada e um regime político orgulhosamente só. Como definiu Sedas Nunes «uma imensa manta tradicional descosida por estreitos rasgões de modernidade». Portugal não foi, nunca foi, um país de brandos costumes como queria Salazar. A violência estava inscrita no âmago das relações sociais. O Instituto de Medicina Legal de Lisboa só no dia 2 de Setembro de 1950 examinou 49 casos de vários tipos de ofensas corporais. A criada de servir era uma figura social com presença expressiva nos espaços públicos e privados da época (anos 50) e vista como ameaça à moral e aos bons costumes mas a realidade era outra: num inquérito da Misericórdia de Lisboa em 1959 junto de 395 prostitutas, 73% destas tinham sido postas na rua depois de os seus patrões as engravidarem.
A violência doméstica pode ter vários matizes. Por exemplo a violência verbal da mulher: «Às vezes digo coisas ao meu marido e ele fica de tal forma aniquilado que durante uns tempos não me chateia com mais nada!». Ou como refere uma médica: «As mulheres são muito mais de azucrinar os maridos com isto e com aquilo e com aqueloutro e com mais não sei o quê! Pimba, pimba, pimba, isso pode ser também considerado uma violência.»
O livro de 415 páginas divide-se em 3 capítulos e integra 11 textos de 10 autores convidados.
(Editora: Temas e Debates/Círculo de Leitores, Design: Leonor Antunes)