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A-24

Hingis: "Fiquei orgulhosa por ter chegado a número 6 do mundo outra vez"

por A-24, em 03.03.11

Encontrar Martina Hingis na Herdade da Comporta durante estes dias não é uma surpresa. A ex-tenista, que dominou o ranking mundial entre 1997 e 2001, acompanha o marido, Thibault Hutin, que participa na 4.ª edição do Atlantic Tour. Mas a presença da antiga número um do mundo tem roubado as atenções a alguns dos melhores cavaleiros do mundo. Nada a que Hingis não esteja habituada. Longe dos courts, a suíça de 30 anos continua de sorriso pronto e disponível para conversar, dar autógrafos ou entrevistas, como esta que deu ao PÚBLICO, durante a sua terceira visita a Portugal.
Como se sente nesta sua nova vida de cavaleira e longe dos courts?
Sempre gostei de competir com os meus cavalos e foi assim que conheci o meu marido. Às vezes é bom fazer alguma coisa sem pressão. É algo completamente diferente do ténis, embora por vezes frustrante, pois fui número um durante quatro anos seguidos e aqui não tenho o mesmo nível. No hipismo não tenho nenhumas ambições. É um desporto muito diferente do ténis: temos que nos concentrar durante um minuto, mas quando se comete uma falta, acabou. No ténis, temos mais tempo, podemos perder um set, acordar e ganhar. É também um desporto caro e não se ganha o mesmo dinheiro. Quando ganho um cheque de 1500 euros, parece que falta um zero [risos]. Mas, graças ao ténis, tenho dinheiro para praticar este desporto. Tenho dois cavalos de competição aqui comigo e tenho um outro para reprodução.

Lembro-me que teve uma queda de um cavalo cinco semanas antes da sua primeira final de Roland Garros, o único torneio do Grand Slam que nunca ganhou...
Tinha 17 anos, mas sempre fiz outros desportos como hipismo, esqui... sempre gostei de variedade na minha vida. Se jogasse só ténis não era eu. Gosto de me mexer, da velocidade, embora não vá aos limites. Sempre tive esse estilo de vida e quando fazia preparação física era sempre ao ar livre. Se ficasse num ginásio, morria. Gosto de ser flexível de modo a ser igualmente flexível no court e ter estratégias de jogo diferentes. Essa queda pode não me ter ajudado em Roland Garros, mas se calhar ajudou-me a ganhar Wimbledon, umas semanas depois.

E a outra final, em 1999 [perdeu com Steffi Graf, por 4-6, 7-5 e 6-2] em que recebeu um ponto de penalidade por se ter deslocado ao court adversário para verificar uma marca (quando vencia por 6-4, 2-0) e que acabou por virar o público contra si?
Essa também gostava de ter ganho. Arrependo-me mais dessa. Estive a vencer 6-4, 5-4, 30-30, a dois pontos da vitória, mas o meu serviço não estava a funcionar. As pessoas estão sempre a lembrar-me disso, em especial os jornalistas [risos], de resto não costumo pensar nela. Na verdade, há pouco tempo, estive a rever o vídeo com o meu marido e fiquei surpreendida com o nível de jogo, com um ténis de alta qualidade. Perdi no fim, mas foi um grande jogo, ténis de qualidade, bons pontos, longas trocas de bola, bastante táctico... Estou também orgulhosa por ter feito história, pois foi um encontro que foi votado pelos fãs como o melhor de sempre [votação online no site oficial do WTA Tour].

Terminou essa final em lágrimas e nem queria regressar ao court para a entrega de prémios. Como é que recorda agora esse momento?
Sim, claro que foi uma final com muita emoção, porque queria ganhar. Mas sempre houve histórias sobre mim. Sempre fui muito emotiva, sempre a sorrir quando estava a ganhar, zangada quando isso não acontecia. Naquela altura havia jogadoras com personalidades muito diferentes, havia as irmãs Williams, Capriati, Seles, Kournikova, caras diferentes com estilos diferentes... foi um bom tempo para o ténis. Hoje em dia, todas as jogadoras têm um mesmo estilo, unidimensional.

Essa falta de variedade de estilos foi uma das razões por que regressou no final de 2005?
Senti que ainda tinha uma hipótese e sempre era melhor fazê-lo com 25 anos do que com 30. Fiquei orgulhosa por ter chegado a n.º 6 do mundo outra vez. Hoje é espantoso o que acontece com Kim [Clijsters], chegar a número um... Não sei se hoje é mais difícil chegar ao topo, mas o ténis é mais físico, há mais jogadoras com um nível alto, como Wozniacki ou Jankovic, e ainda estão no circuito veteranas como as irmãs Williams (quando jogam bem), também Li Na com 28 anos a chegar à final do Open da Austrália... Até a Serena, quando está bem fisicamente, é espantosa. São as jogadoras da velha geração que conseguem jogar um ténis melhor, mais técnico, porque têm uma melhor educação. As mais novas têm um ténis mais standard e, quando as coisas não estão a correr bem, não têm plano B.

Os regressos de Justine Hénin e Kim Clijsters não a fizeram pensar num segundo regresso? Não teria gostado de ter saído do circuito de outra forma que não a acusação de consumo de cocaína que precipitou a retirada definitiva, em 2007?
Já faz parte da história, mas claro que não é a maneira como queremos abandonar uma modalidade em que estivemos no top durante tantos anos. É uma coisa que não posso mudar. Fiz um regresso que teve sucesso e pronto.

A sua ligação actual ao ténis resume-se a fazer comentários para a televisão e a rádio?
É mais a acompanhar algumas jovens jogadoras da Academia que a minha mãe tem em Zurique - temos a melhor sub-14 da Europa, Belinda Becic, vão ouvir falar dela! Jogo duas a três vezes por semana com amigos, faço umas exibições, vou jogar o torneio Legends [prova de veteranos] em Roland Garros e, talvez, em Wimbledon, e depois o Team Tennis [competição por equipas muito popular nos EUA, que junta actuais e antigos campeões] - sempre gostei do espírito de equipa! Não preciso de fazer nenhuma preparação especial porque estou a sempre fazer diferentes desportos.

Que jogadoras actuais gosta mais de ver?
Das novas, a única que está no top é Caroline Wozniacki. Acho que ela é muito eficaz, tira o máximo das suas capacidades. Mas só quando ganhar um Grand Slam é que terá o reconhecimento do mundo do ténis. Joguei com ela umas três vezes e era 20 ou 30 no mundo e deve ter melhorado bastante. No serviço, é muito consistente e, claro, disputa muitos torneios. O que lhe falta é um Major, pois é aí que se tem de ganhar às melhores quando elas estão no máximo.



Conhece algumas jogadoras portuguesas?
Conheço a Michelle Brito, bati bolas com ela umas duas vezes, há três anos, numa exibição em Liverpool e outra vez nos EUA. Quando era nova tinha potencial, mas hoje é preciso mais. Fisicamente é pequena, tem esse défice, por isso tem de trabalhar mais nas outras áreas. Como eu: como não era muito alta nem forte, tudo o resto tinha de ser muito bom, quase perfeito.
Público