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A-24

(Grécia) Abaixo a democracia!

por A-24, em 03.11.11

por Daniel Oliveira




Cedendo à pressão de um povo que assiste, atónito, à destruição do seu País e a sucessivos planos de austeridade que o fundam cada vez mais, Papandreou, tentando salvar-se e encostar a oposição às cordas, marcou um referendo a mais um plano de "resgate". As reacções não se fizeram esperar. Os dois imperadores entraram em estado de choque. Opinadores da situação mostraram a sua indignação. 
Quem é que esta gente se julga para querer repor a democracia no lugar da chantagem? Quem pensa este povo que é para julgar que decide do seu futuro? Não saberão estes irresponsáveis que quem decide são os mercados? E depois dele a barata tonta alemã? E depois dela, se ainda houver alguma coisa para decidir, o senhor Sarko? Julgarão que não havendo democracia europeia podem, no lugar dela, existir democracias nacionais. 
O general Loureiro dos Santos falou-nos, ontem, dos receios de um golpe de Estado na Grécia. Parece-me que o receio vem tarde. O golpe de Estado já aconteceu. Em vários países europeus, começando pela Grécia. Com violações sistemáticas às constituições nacionais - em Portugal elas acontecem com a cumplicidade do Tribunal Constitucional -, o assalto estrangeiro aos recursos das Nações e a perda ilegal de soberania - veja-se o poder que o directório europeu se tem dado a si próprio no processo de saque às empresas gregas a privatizar. O que está a acontecer ali, agora, é a tentativa de repor a legalidade democrática.
Perante as reações indignadas de tanta gente à decisão de devolver ao povo grego o veredicto sobre o seu futuro fica evidente uma coisa: anda por aí muito muito "democrata" que odeia a democracia. Porque ela pode travar a imposição de um programa ideológico que nunca seria sufragado pelo povo sem estar debaixo de chantagem. A Grécia deu o primeiro passo para travar esta ditadura perfeita. Se for até ao fim, pode salvar a Europa do caos político para onde se divide. Pagará um preço alto? Mas ainda tem alguma coisa a perder? 
Se os gregos aprovarem mais este plano de destruição do seu futuro - coisa nada improvável, perante o cenário que a Europa e os "mercados" lhes vão impor pelo seu atrevimento - pelo menos terão tentado dar um sinal de dignidade em tempos que ela parece ser um bem escasso.