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A-24

Gomorra, a Máfia Napolitana

por A-24, em 25.11.12

Esta obra já clássica na história da literatura italiana, marco de uma espécie de novo despertar da arte neste país, é um retrato devastador do domínio da máfia napolitana na Itália, a Camorra, a mais violenta organização criminal do Planeta. Gomorra – A História Real de um Jornalista Infiltrado na Violenta Máfia Napolitana, escrito pelo jornalista Roberto Saviano e lançado pela editora Bertrand Brasil em 2008, é uma corajosa denúncia sobre a ação torpe desta entidade marginal, que não respeita regra alguma, nem mesmo um único guia de conduta interna.
Tamanha é a violência e a indignidade com que esta estrutura mafiosa atua, que logo se tornou conhecida como Gomorra, um trocadilho com o nome original, Camorra, remetendo à destruição da cidade dominada pelo pecado, descrita no Antigo Testamento. Ninguém escapa das garras destes criminosos; agentes governamentais, pessoas comuns, negociantes, membros do Poder Judiciário, políticos e integrantes do clero da Igreja Católica, todos são vítimas potenciais da máfia napolitana, assassinados ou aliciados por ela.
Navios não cessam de depositar no porto de Nápoles produtos de todo gênero, procedentes do próprio território italiano e também de outras regiões européias – restos de substâncias químicas, elementos considerados venenosos e, surpreendentemente, corpos humanos. Tudo aí desembarca ilegalmente. Destes recipientes de carga ao universo da moda dos altos círculos, Saviano vai desvendando os meandros desta organização letal, revelando como ela se infiltra nos lugares e setores mais remotos, dentro e fora do país, gerando no território italiano uma situação insustentável quando eleva ao topo o nível de criminalidade no continente europeu.
A Camorra atua tanto em planos menos significativos, como a transação de produtos piratas nos mercados de camelôs e a corrupção no campo do comércio do lixo, quanto nas esferas requintadas do mundo fashion e da arte, alcançando também o universo do tráfico mundial de drogas. Toda esta movimentação tem como cenário as maiores metrópoles do Planeta, de um extremo a outro, do Leste da Europa à América do Norte, da região chinesa ao Brasil.
Ao desvelar a realidade desta organização mafiosa nos mínimos detalhes, Roberto Saviano conheceu, ao mesmo tempo, o sucesso e o medo, a fama e a reclusão. Napolitano genuíno, nascido em 1979, membro de um círculo de investigadores do Observatório sobre a Camorra e a Ilegalidade, o autor foi obrigado a deixar sua terra natal e esteve a ponto de abandonar a Itália no final de 2008.
Perseguido e ameaçado, sob constante segurança policial, isolado, sem poder desfrutar de sua súbita condição de celebridade, ele se viu de repente vivendo como um condenado, em lugar não revelado, sem poder voltar a trabalhar, aos 29 anos. Seu único livro, Gomorra, lançado na Itália em 2006, foi adaptado para as telas dos cinemas pelas mãos hábeis do diretor Matteo Garrone, que conquistou, como a obra em que se inspira, sucesso imediato, principalmente nas mostras e festivais de cinema. Protagonizado, entre outros, pela célebre Angelina Jolie, o filme conquistou o Grand Prix no Festival de Cannes.
Todo este alvoroço em torno da história fragilizou ainda mais a situação de Saviano; em 2008 a Gomorra marcou as festas natalinas como o momento em que o jornalista deveria ser executado. Ironicamente a popularidade de sua obra, que já alcançou mais de 1 milhão de cópias vendidas em pelo menos quarenta países, decretou sua sentença condenatória.
Apenas em novembro de 2008 o escritor conseguiu retornar ao convívio social, integrando manifestações em prol da liberdade de expressão e conquistando a oportunidade de realizar conferências sobre sua obra. Até mesmo a Academia Nobel, de Estocolmo, prestou homenagens a ele, por sua intrepidez e perseverança.
Por Ana Lucia Santana