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A-24

(França) sobre as eleições francesas

por A-24, em 23.04.12
Hollande ganhou mais do que parece

França. Como se esperava, a segunda volta fica para Hollande e Sarkozy. Ontem votou-se, entre as tantas alternativas, em que se gosta. Tradição francesa: primeira volta, voto a favor de alguém. Facto relevante de ontem: a extrema-direita, Marine Le Pen (18 por cento), tem muita gente a gostar dela. O seu pai, Jean-Marie Le Pen, nas últimas presidenciais, em 2007, teve metade do que teve agora a filha, causando a ilusão de que a extrema-direita francesa estava em desaceleração. Por outro lado, o candidato mais mobilizador desta campanha, Jean-Luc Mélenchon, de extrema-esquerda (aliado ao PCF), teve ontem menos votos do que prometiam as sondagens. E assim se vai para 6 de maio, em que se votará contra aquele que mais se rejeita. É essa a tradição: segunda volta, voto contra alguém. Mélenchon já apelou a votar em Hollande, o centrista François Bayrou hesita e Marine Le Pen não vai escolher ninguém - mas a verdade é que nenhum é dono dos votos que ganhou ontem, e os seus apelos não são decisivos. Mais importante é a campanha que os dois candidatos vão fazer nas próximas duas semanas: Hollande vai para o centro (pode ir, porque à sua esquerda não se foi tão forte como o previsto) e Sarkozy vai mais para a direita (tem de ir, porque esse lado se revelou demasiado forte). Por isso, Hollande foi o vencedor de ontem, e não por ontem ter chegado em primeiro lugar. Ele vai criar menos votos contra e, à segunda volta, isso conta.

Ferreira Fernandes in DN 

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O declínio da França é manifesto exagero

Nunca se deve usar a altura para medir a dimensão de um político francês. Napoleão ficava-se por 1,68 m, De Gaulle pairava nos seus 1,93 m e ninguém duvida da grandeza de ambos. Por isso, não depende do tamanho do seu Presidente - continue a chamar-se Sarkozy ou passe a ser Hollande - o estatuto de França como grande nação. Aliás, poucos centímetros separam os dois homens que a 6 de maio disputarão a segunda volta: se descalçar os sapatos de tacão, Sarkozy mede o mesmo que o imperador, Hollande mais cinco centímetros.
Convém a todos que quem mande em França tenha elevação. É que apesar das ideias feitas, o país está longe do declínio. É hoje a quinta potência económica mundial e na União Europeia só fica atrás da Alemanha.
Continua a dar cartas na investigação científica, só perdendo entre os europeus outra vez para os alemães na hora de contar as patentes, e soma prémios Nobel na última década tanto na medicina, como na física e na química.
Está também nos dez países mais medalhados nos Jogos Olímpicos, nos dez que mais livros publicam e nos dez maiores produtores de cinema, com O Artista a tornar-se a primeira película não anglo-saxónica a ganhar o Óscar de Melhor Filme. E se o francês deixou de ser a língua internacional, a verdade é que continua a ser um dos seis idiomas da ONU e são 56 os Estados que integram a Francofonia.
Por isso, quando Sarkozy faz cartazes a associar-se à imagem de "uma França Forte", não se trata só de propaganda. Mesmo Hollande, quando proclama que já Presidente tratará de inverter o modo como a Europa combate a crise do euro, sabe que só o líder de um grande país pode falar assim sem cair no ridículo.
LEONÍDIO PAULO FERREIRA in DN