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A-24

França - Le Pen vai estrear-se na Assembleia dominada pelo PS de Hollande

por A-24, em 17.06.12
Esta noite também, na segunda volta das legislativas francesas, o Partido Socialista deve conquistar uma maioria absoluta para governar, consagrando um bipartidarismo em relação ao qual a novidade da entrada do partido xenófobo de Le Pen no Parlamento será apenas uma distracção.
Após estas legislativas, o PS deve tornar-se o partido com mais poder na V República, disse ao Libération Rémi Lefebvre, professor de Ciência Política na Universidade de Lille II. Por que é que isto aconteceu, perguntou-lhe o diário francês? "Pela conjugação da hiperpresidencialização do sistema político, pelo facto de que o PS continua a ser o único partido a poder ter uma maioria à esquerda e controlou bem a sua primária", explicou Lefebvre.
Esta força, no entanto, traz já em si uma vulnerabilidade: as próximas eleições, avisa Rémi Lefebvre, estão perdidas para o PS. "Os socialistas vão concentrar todas as críticas e não poderão diluir os golpes da impopularidade."

Mas, em resultado deste crescimento do PS, haverá um estreitamento da pluralidade na Assembleia. O centrista François Bayrou deve ficar de fora, pagando o preço de ter apoiado François Hollande, sem condições, nas eleições presidenciais. O líder da Frente de Esquerda, Jean-Luc Mélenchon, foi batido na primeira volta das legislativas por Marine Le Pen. A Europa Ecologia/Verdes apresenta-se com maus resultados e pequenos partidos de esquerda sumiram-se no horizonte eleitoral. A abstenção, essa, atingiu 40% na primeira volta de 10 de Junho.
A UMP -o partido chapéu, que agrega várias forças da direita e do centro, que estava no poder com Nicolas Sarkozy - tem uma estratégia polémica nestas eleições, do "Nem/Nem". Não apoia nem candidatos da Frente Nacional (FN) nem do Partido Socialista na segunda volta das legislativas, tentando travar a fuga nos diques ideológicos entre a direita tradicional e o partido de Marine Le Pen, que se torna cada vez maior. 
No passado, a UMP e o PS votavam nos candidatos uns dos outros para travar as possibilidades de eleição de políticos da Frente Nacional - era a chamada "frente republicana" um acordo tácito contra o partido de Jean-Marie Le Pen, que funcionou como impedimento para que, desde 1988, não conseguisse eleger deputados para a Assembleia Nacional. 
Mas agora, no pós-presidência de Nicolas Sarkozy, em que houve uma forte apropriação dos temas de FN - como a insegurança relacionada com os imigrantes e os estrangeiros, o excesso de imigrantes, ou a definição de nacionalidade em oposição aos muitos muçulmanos que existem em França, a preferência nacional em termos económicos -, os próprios eleitores da UMP mudaram. 

Eleitores da UMP aceitam FN

Um dos resultados é que, segundo uma sondagem Ipsos-Logica na primeira volta, a 10 de Junho, 66% dos eleitores da UMP são favoráveis a um acordo de desistência mútua entre um candidato da direita e um da FN para derrotar outro de esquerda. 
As figuras gradas da UMP não têm vontade de se zangar com os seus eleitores. Por isso, mesmo as que criticaram a aproximação ao discurso da FN no passado têm seguido fielmente esta estratégia do "Nem/Nem" na campanha eleitoral. 
François Bayrou, o líder do Movimento Democrático (MoDem), um partido do centro independente, fora da UMP, paga nestas eleições o não ter suportado a retórica de direita de Sarkozy namoriscando a aproximação à FN. Na segunda volta das presidenciais, apoiou Hollande e, de forma característica, como um homem orgulhoso, não pediu nada em troca; e nada lhe deram no PS, nem mesmo ao ver-se em dificuldades para ser eleito em Pau, o seu feudo tradicional, por onde é eleito há décadas. 

Fazer-se ouvir

Desta vez, não deve conseguir o seu lugar de deputado, numa triangular que deve ser ganha pela socialista Nathalie Chabann, que na primeira volta teve 34,9%. Ele não obteve mais do que 23,63% no passado domingo. O candidato da UMP não se retirou da corrida, como poderia ter feito se Bayrou tivesse apoiado Sarkozy. Para o MoDem, independente da UMP, é um momento de crise.Restam como representantes do centro Hervé Morin e o seu Novo Centro e Jean-Louis Borloo, do Partido Radical. Ambos querem criar um grupo na Assembleia - não juntos, mas cada um por si. Para isso, precisam de eleger 15 deputados.
Quanto à Frente Nacional, não terá um grupo parlamentar. Tem pelo menos três candidatos com boas hipóteses de serem eleitos, incluindo Marine Le Pen (ver texto ao lado). Longe dos 15 necessários para formar um grupo e assim estar presente na conferência de líderes, onde é organizado o trabalho do Parlamento e distribuído o tempo de intervenção. Sem isso, raramente os deputados da FN serão chamados à tribuna. A composição das comissões permanentes também depende da proporção de efectivos de cada grupo - quem não o tem, fica com os restos.
Mas claro que Marine Le Pen já tem um grande espaço de intervenção na vida política francesa mesmo sem estar no Parlamento. Sendo deputada, saberá encontrar formas de amplificar a sua voz ainda mais.