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A-24

Foram precisas quatro horas para Federer fazer história

por A-24, em 07.01.10
A final masculina do torneio de Wimbledon chegou aos 77 jogos e decidiu-se no mais longo quinto set, em mais de cem anos de prova.
Sim, Roger Federer conseguiu-o! Aos 27 anos, o tenista suíço conquistou o tão procurado 15.º título do Grand Slam. Depois de um suspense de quatro horas e 18 minutos, Federer derrotou Andy Roddick na final do torneio de Wimbledon e tornou-se no maior campeão da história do ténis mundial, aplaudido de pé pelo anterior detentor do recorde, Pete Sampras, vindo expressamente dos EUA para assistir ao momento. O realizar de um sonho que começou há duas dezenas de anos, quando o pequeno Roger viu uma final em Wimbledon, entre Boris Becker e Stefan Edberg, e ganhou forma com o primeiro grande triunfo, alcançado em 2003, na relva do All England Club.
"Estou contente por ter batido o recorde aqui, porque este sempre foi o torneio com mais significado para mim, por causa de os meus heróis e ídolos terem ganho aqui. É como o completar de um círculo, pois começou aqui e termina aqui, mas claro que a minha carreira está longe do fim. É sempre bom ver tantas lendas, em especial Pete", frisou Federer, depois de bater Roddick num encontro épico que terminou com os parciais de 5-7, 7-6 (8/6), 7-6 (7/5), 3-6 e 16-14.
"Eu sei o que o recorde significava para ele e ele sabe o que o recorde significa para mim. De certa forma, sinto que o partilhamos. Sabem, em miúdo, costumava ficar nervoso quando um amigo me ia ver jogar, depois foram os meus pais, depois as grandes lendas do ténis, mas agora podem vir todos ver-me jogar que já não fico nervoso. Mas, hoje [ontem], quando o Pete entrou no court fiquei mesmo um pouco mais nervoso", confessou o campeão suíço, após o encontro de elevada qualidade e que entrou para a história por mais razões: foi a mais longa final do Grand Slam, com 77 jogos (o anterior recorde, 71 jogos, durava desde o Open da Austrália de 1927) e, logicamente, de Wimbledon (no ano passado, Federer e Nadal disputaram 62 jogos). O quinto set foi também o mais longo em finais masculinas do Grand Slam (a final de Roland Garros de 1927 terminou com 11-9).
Num duelo típico da relva, onde o serviço e a resposta fizeram lei, Federer bateu igualmente um recorde pessoal ao somar 50 ases (menos um que o recorde de Ivo Karlovic em Wimbledon) - o melhor que o suíço tinha feito foram 39 ases (frente a Janko Tipsarevic, no Australian Open de 2008).
Mas o encontro, ainda antes de se completar uma hora e meia de jogo, viveu um momento-chave: no segundo set, decidido no tie-break - Federer só perdeu três em 18 disputados em finais do Grand Slam, todos frente a Rafael Nadal -, Roddick serviu a 6/2. Federer recuperou até 6/5, mas num vólei que parecia uma mera formalidade para fechar o ponto, Roddick bateu para fora e desaproveitou a última oportunidade. "Havia algum vento nas minhas costas. Ao princípio, nem pensei que ia bater na bola mas depois começou a descer e já não fui a tempo de pôr a raqueta ao lado da bola", explicaria Roddick.
O norte-americano perderia igualmente o terceiro set no tie-break, mas não se foi abaixo e, a 2-2 da quarta partida, fez o break, o segundo em todo o encontro. A confiança de Rod-dick explodiu e, a 5-3, um serviço a 209 km/h levou a decisão do título para um quinto set, estavam decorridas duas horas e 43 minutos.

No livro de Sampras
Como Federer começou a servir, o norte-americano serviu várias vezes para se manter no encontro, mas nunca cedeu e o serviço manteve uma eficácia constante. A 8-8, Roddick arranca uma esquerda que lhe dá dois break-points, ambos bem salvos pelo suíço. Mas o cansaço, a irregularidade dos ressaltos e as dificuldades de percepção da trajectória da bola, por metade do court estar já à sombra, foram provocando mais erros e, num jogo discutido nas vantagens, Roddick desperdiçou o ponto para 15-15. Um erro do norte-americano dá um match-point a Federer, concretizado quando vê outra direita de Roddick ir para fora.
"Tem 15 [Grand Slam] agora, mas se se mantiver saudável poderá ir até aos 18, 19. Ele é uma lenda, é um ícone", disse Sampras, que não teve dúvidas sobre o lugar de Federer nas páginas da história da modalidade: "No meu livro, ele é o melhor".
Logo após receber o sexto troféu de Wimbledon, Federer tinha à sua espera outras grandes lendas, Rod Laver (quatro títulos em Wimbledon), Bjorn Borg (cinco) e Sampras (recordista, com sete), com quem tirou fotos e trocou elogios. Um pouco mais tarde, deixou o All England Club com um cheque de 994 mil euros e com a certeza de, hoje, voltar a ocupar o primeiro lugar do ranking ATP. (Julho 2009)