Fernando Ruas no país dos snobs
por A-24, em 15.03.14
A presença do bigodudo Fernando Ruas nas listas da AD provocou várias erupções cutâneas em muita gente fofa que se julga dona do bom gosto. Algumas bocas de espanto ainda estão abertas porque a malta cool não consegue parar de olhar para o bigode e, acima de tudo, para o farandol que mãos visivelmemente experientes espalham na cabeleira farta do viseense. No fundo, o espanto resume-se a isto: como é que escolheram um provinciano para nos representar na Europa? Não me pretendo superior, nem imune ao vírus. Também fui tocado pela snobeira urbanóide; nos primeiros segundos, também reagi como uma cadelinha de Pavlov que anda com saquinhos de papel todos trendy na boca e que fica escandalizada quando aparece alguém com um saco de plástico do Pingo Doce.
A preocupação da snobeira é simples: quando colocarem os olhos neste Quim Barreiros da política, o que vão pensar os outros europeus? Vão ficar boquiabertos, não é verdade? Não, não é verdade. Esta preocupação só podia ser portuguesa, só um português poderia pensar que o seu país tem o monopólio da saloiice. Quem anda com esta aflição devia dar uma volta pela Europa para ver o aspecto do alemão médio, do polaco médio ou até do inglês médio. Não, nós não temos o exclusivo do pitoresco. Aliás, ao pé daqueles deputados alemães com cabelinho à Futre, Fernando Ruas é quase a Sara Sampaio em versão milf. Quando comparados com os fatos matarruanos de Merkel, os trajes de Ruas parecem saídos da tesoura de Tom Ford.Importa, portanto, falar da outra indignação, a indignação correcta, que é política e não social. A presença de Fernando Ruas ofende a vista não por causa do farandol mas devido à sua impreparação em questões europeias. Gerir o baronato local do PSD a partir de Viseu não qualifica ninguém para o Parlamento Europeu. O problema não é o bigode, mas sim a transformação da política europeia numa prateleira dourada para dinossauros autárquicos que já não cabem nas prateleiras internas. Já sabíamos que o PSD é um saco de gatos autárquicos e anárquicos. Só não sabíamos que Passos Coelho estava na disposição de exportar a gataria. É mau, é pelaria a mais no ar, e não estou a falar da pelaria do bigode resplandecente de Fernando Ruas.