Falta de mão de obra obriga fábricas de sapatos a deslocalizar… cá dentro
por A-24, em 07.03.13
Empresários investem em novas fábricas. Ao todo, a indústria do sector tem 45 novos projetos no valor de 25 milhões de euros.
A indústria de calçado está a aproveitar as oportunidades surgidas com a crise para assegurar novos ganhos de competitividade - em curso estão projetos de investimento de 45 empresas, num total de 25 milhões de euros.
Mas a elevada concentração da indústria em regiões como Felgueiras está a causar dificuldades na contratação de pessoal.
Um paradoxo numa altura em que o desemprego atinge recordes em Portugal. Para muitos empresários, a solução passa por ter carrinhas a assegurar o transporte diário de trabalhadores de concelhos distantes; para outros o crescimento passa pelo investimento em novas fábricas no interior do País.
É o caso de Luís Sá, responsável da Joia Calçado, que concluiu no passado verão uma nova unidade de corte e costura (onde se produzem as chamadas gáspeas) em Cabeceiras de Basto e onde deu emprego a 36 pessoas. Mas está já em processo de recrutamento para mais seis ou oito trabalhadores.
O investimento foi de 800 mil euros e "foi totalmente realizado com capitais próprios", garante. A escolha recaiu em Cabeceiras de Basto precisamente pela elevada taxa de desemprego e por ser distante da casa-mãe (os dois requisitos definidos à partida), em Felgueiras, onde os novos trabalhadores tiveram "formação especializada", durante meio ano.
Também José Machado, da Macosmi, está à procura de pavilhão para aumentar a capacidade instalada da unidade de corte e costura que adquiriu, em 2010, em Castelo de Paiva. A escolha não foi inocente. A região albergou, em tempos, multinacionais como a CJ Clarks e a Glovar, e José Machado quis tirar partido desse know-how.
Agora que vai instalar uma nova linha de produção na casa-mãe, em São Martinho do Campo, Santo Tirso, quer duplicar a sua produção ao nível do corte e costura, passando para 800 pares ao dia. Admite contratar, "o mais brevemente possível", 10 a 15 funcionários para Castelo de Paiva, onde já tem 36 pessoas. O investimento nas duas fábricas ronda 1,5 milhões.
Um milhão de euros é quanto vai investir a Kyaia numa nova unidade fabril, em Paredes de Coura. Fabricará componentes e será a quinta do maior grupo português de calçado, detentor da Fly London, neste município do distrito de Viana do Castelo. O terreno já está comprado e o investimento só depende da evolução da conjuntura económica nos próximos seis a sete meses, diz Fortunato Frederico.
Até porque, neste momento, o grupo, ainda está a terminar o centro de logística em Guimarães, que iniciou em 2012, e cujo investimento já ultrapassa um milhão de euros.
"Nos últimos seis a sete anos, temos investido uma média de um milhão de euros ao ano. As razões do investimento em Paredes de Couro são hoje distintas. "Nos anos 80, com o aumento do investimento estrangeiro aqui na região [Guimarães], não se conseguia arranjar trabalhadores. Hoje, infelizmente, a situação é diferente. Todos os dias nos vêm bater à porta, é um drama muito grande", lamenta Fortunato Frederico, salientando que continua a investir em Paredes de Coura por ser uma zona mais "amiga da indústria" do que o centro de Guimarães.
E há outros exemplos: a Bolflex está a investir num novo parque industrial; a Procalçado construiu três novos pavilhões e adquiriu novos equipamentos para a produção de solas e calçado injetado.
A indústria do calçado, que dá emprego a mais de 33 mil pessoas, produziu no ano passado sapatos no valor de 1785 milhões de euros, dos quais 1607 milhões foram destinados à exportação. Hoje, fruto do reconhecimento internacional, o calçado português é o 2.º mais caro do mundo, só atrás da Itália.