Emigrar para Los Angeles? Seis conselhos de quem já foi
por A-24, em 09.06.14
Via Dinheiro Vivo
Hollywood é o sonho americano para muitos, mas é difícil ter sucesso lá. Mais ainda na indústria do cinema, e não sendo Portugal reconhecido como uma fábrica de talentos da Sétima Arte. Daniela Ruah, atriz em NCIS: Los Angeles, e David Cabral, argumentista em Hollywood, dão conselhos sobre o que fazer se esse é o seu sonho.
1. Dar o salto
Pode parecer óbvio, mas a verdade é que não há muito que se possa fazer para vingar em Hollywood a partir de Portugal, salvo casos raros. "A primeira coisa é sair de Portugal e ir para lá, e uma vez que esteja lá, ver o que pode acontecer. Começar a conhecer o mercado, se calhar inscrever-se numa escola para se manter ocupado e ir conhecendo pessoas, porque o nosso meio passa-se muito à volta do networking", diz Daniela Ruah, em entrevista ao Dinheiro Vivo.
2. Manter-se fiel
3. Ir para uma escola
"A escola ajuda muito, dá-te o visto de estudante, a introdução aos Estados Unidos, permite que fiques cá. No final dão-te um ano para estagiares e trabalhar. A escola é uma boa base", aconselha David Cabral, que emigrou para a Califórnia em 2008 para tirar um mestrado na USC.
4. Procurar uma comunidade portuguesa
Em Los Angeles há poucos portugueses, mas em regiões como Boston ou Nova Jersey têm comunidades bastante fortes, o que pode ser fundamental no início. David Cabral admite que a sua adaptação foi muito difícil e teria sido mais rápida e fácil se tivesse tido o apoio de uma comunidade portuguesa na cidade.
5. Mudar de mentalidade
"Ao vir para os Estados Unidos, a mentalidade é o mais importante: não vir para cá a achar que fazemos assim em Portugal e fazemos bem. Vir com a ideia de aprender mais do que ensinar. Isto é muito diferente", sublinha David Cabral.
6. Aceitar a mudança
David Cabral está desde 2008 nos Estados Unidos e admite que é difícil deixar a família e os amigos, mas diz que tecnologias como o Skype tornam o processo muito mais fácil do que era há algumas décadas. "As pessoas quando vão emigrar não podem ficar a pensar na família que está atrás, no cozido à portuguesa que é uma maravilha, no bacalhau com natas. Tens que sair disso e perceber que hoje em dia, infelizmente, no mundo em que vivemos a vida é feita de rupturas mais do que de continuidades. São os tempos que estamos a viver, não significa que sejam os tempos ideais, mas é assim", sublinha o argumentista. "E vir para os Estados Unidos é isso mesmo. Todos estes grupos étnicos pensam assim. Alguém que vem para cá e é suíço ou francês não quer ser suíço nem francês: vem para cá para se tornar numa coisa diferente, para fazer uma ruptura, para se transformar. É isso um bocado a experiência americana. Esquece aquilo que se passou para trás, nós agora somos americanos."
Não podia ser mais diferente do que o que David Cabral encontrou em Portugal quando tentou seguir uma carreira como argumentista. "Basicamente há uma empresa, que tem a pouca ficção que se faz em Portugal. Fora desta empresa, é o deserto", diz o argumentista de 32 anos, em entrevista ao Dinheiro Vivo.
Depois de extensa formação na Europa, incluindo países como Dinamarca e Noruega, decidiu rumar à Califórnia para um mestrado numa das melhores escolas do mundo na área do cinema, na USC (University of Southern California) - onde Steven Spielberg tentou entrar duas vezes e foi rejeitado. David conseguiu à segunda tentativa. Foi em 2008.
"Não há muitos outros sítios no mundo onde eu possa fazer a minha profissão, que é a única coisa que sei fazer." Neste momento, trabalha como argumentista no programa sobre celebridades "Close Up", faz comédia e vários trabalhos de copywriting - em que ser poliglota ajuda. O passo seguinte é encontrar um bom agente, e o objetivo final é chegar a realizador. Gostaria de fazer drama, embora esteja a fazer comédia nesta altura, o que às vezes é estranho naquele mercado: "Há muito a ideia de que o humor é uma coisa terrivelmente americana. Ser português e fazer comédia aqui é estranho."
A adaptação a Los Angeles foi tudo menos fácil, mas a persistência acabou por dar frutos - e a qualidade também: David está nos Estados Unidos com visto de Artista Especial, garantido porque o governo americano reconheceu a sua formação e as suas capacidades como argumentista.
Não pondera voltar para Portugal. E lamenta que haja poucos portugueses naquela região, ao contrário de outras nos Estados Unidos, como Boston e New Jersey. "Aprendes a América da maneira difícil, e sem saber nada. Foi muito difícil adaptar-me aqui, e é um processo que ainda não acabou", reconhece. Continua a acompanhar o que se passa no país, de forma um pouco desconsolada. "Não acho que Portugal seja algo de que se deva sentir falta. Acho que se pode sentir falta de várias coisas em Portugal. Mas o país, na realidade, é uma coisa de que muitos poucos portugueses com certeza quererão sentir falta neste momento. Especialmente o Portugal dos últimos três anos."