Em defesa da Isabel Jonet
por A-24, em 10.11.12
Via Blogue do Firehead - Um retrato da esquerda jacobina portuguesa
Isabel Jonet e a arrogância da esquerda ululante. Por José Manuel Fernandes.
Isabel Jonet e a arrogância da esquerda ululante. Por José Manuel Fernandes.
Não há nada como em tempos ter feito parte de uma tribo da esquerda jacobina (no meu caso, uma tribo marxista-leninista-maoista) para entender muito bem a fúria da esquerda ululante face às declarações de Isabel Jonet na SICN. Ela não surpreende: é apenas um subproduto da arrogância intelectual dos que, à esquerda, se sentem intérpretes do sentido da História (com H maiúsculo) e proprietários monopolistas da preocupação com o destino dos mais pobres.
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O primeiro problema da esquerda jacobina com Isabel Jonet é que ela ajuda os pobres – e os pobres são propriedade dessa esquerda, pelo menos no seu entendimento. Pior: ajuda-os com actos concretos que aliviam o seu sofrimento, não com palavras, proclamações e apelos à revolta que muitas vezes têm como efeito concreto piorar a vida dos mais fracos. No imaginário dessa esquerda toda a compaixão está reservada para os da tribo marxista ou descendentes, os restantes não passam de cínicos que, como agora acusam Isabel Jonet de também fazer, utilizam os pobres com fins políticos.
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Há ainda outro elemento muito importante que une a generalidade das reacções de indignação exaltada: a oposição radical a qualquer forma de caridade, algo que definem logo como caridadezinha. Não é uma posição nova nas esquerdas radicais, apesar de poucos se preocuparem em justificar o porquê da sua oposição a uma prática que resulta de um dos sentimentos humanos mais nobres, o da compaixão. Os mais iletrados limitam-se a dizer que tudo isso é “salazarento”, essa espécie de ónus que evita qualquer necessidade de justificação e serve sempre para tentar atirar o opróbrio para cima dos adversários. Os menos iletrados procurarão dizer defender que o Estado tem obrigações de solidariedade porque “as pessoas têm direitos”, sugerindo que a caridade se destina a perpetuar precisamente a falta desses direitos.
Haveria muito a dizer sobre estes raciocínios, mas a minha experiência jacobina permite-me ser apenas cínico: o que realmente pensam muitas dessas almas, mas nunca confessam, é que a caridade – ou o Banco Alimentar Contra a Fome – contribuiu para aliviar o sofrimento dos pobres e isso torna menos provável a sua revolta, ou seja, torna mais longínqua a revolução libertadora com que sonham – e garanto-vos que sei do que falo, porque já pensei assim. Atenção que não estou a dizer que eles desejam o sofrimento dos pobres – o que estou a dizer é que a sua crença num amanhã radioso os leva a opor a tudo o que possa melhorar um dia a dia que vêem sempre como miserável. O militante da esquerda jacobina não dá uma esmola a um pobre – organiza a revolta desse pobre, tentando fazer dele um soldado da revolução. Numa versão mais social-democrata, leva-o apenas a reclamar um subsídio à mesa do Orçamento.
Não surpreende por isso que o trabalho de Isabel Jonet perturbe estas mentes. E surpreende ainda menos que as suas palavras, muito terra-a-terra, muito sensatas, muito capazes de tocarem as pessoas comuns, os irritem de forma superlativa. A bem ver, só me surpreende a pouca irritação que há com estas indignações – a nossa paciência é, de facto, muito grande. Demasiado grande?
via O Insurgente
Isabel Jonet
Isabel Jonet
Há dois dias que as redes sociais estão inundadas de piadas sobre Isabel Jonet. Há um manto de indignação que se espalhou por todo o lado onde vou. Já circula uma petição a exigir a demissão da presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, que agora virou alvo de chacota nacional. Parece que de repente esta senhora é uma bandida trafulha que nos quer fazer mal a todos.
Confesso que só tinha apanhado por alto as tais "declarações explosivas" anunciadas por todo o lado. Então, lá perdi seis minutos e 22 segundos para ouvir tudo o que Isabel Jonet tinha a dizer. E, bom, confesso que não entendo esta indignação geral.
Há muitos anos que a Isabel Jonet é uma mulher que me merece todo o respeito, pelo trabalho exemplar que tem feito à frente do Banco Alimentar Contra a Fome. São 20 anos de voluntariado, de trabalho em prol dos outros, 20 anos a travar uma luta contra a miséria humana, a ajudar quem não tem o que comer. Logo por isso pensaria muito bem antes de atirar pedras a uma pessoa que faz isto.
Mas vamos então às declarações de Isabel Jonet. O que ela diz, basicamente, é que durante muitos anos andámos a viver todos acima das nossas possibilidades e que vamos ter de aprender a viver com menos, e ensinar os nossos filhos que é preciso viver com menos. E é isto. Onde é que está a polémica? Onde é que está a novidade? Quantas pessoas é que já disseram isto?
Onde Isabel Jonet falha é nas imagens que cria, em alguns exemplos que dá. Até a questão de lavar os dentes com o copo ou com a água a correr me parece um exagero estúpido de quem a critica. Sim, os meus avós também foram educados a lavar os dentes com um copo. E eu não. Às vezes uso um copo, sim - e a minha mulher até goza comigo e diz que é coisa de miúdos - mas às vezes deixo a água correr um pouco. E digo sempre ao meu filho para usar o copo - ele próprio o faz porque na escola lhe dizem que é assim que deve ser.
Depois, toda a gente goza e se indigna com a comparação "ir a um concerto" ou "tirar uma radiografia". Uma vez mais, acho que as pessoas só querem indignar-se, só querem criticar por criticar. Basta ver as declarações com atenção para perceber que o que ela está a querer explicar é que há muitos jovens que "forçam" os pais (e acho que todos sabemos o que é a idade parva da adolescência) para que nos possibilitem determinadas coisas. Queremos ir aqui, fazer isto ou aquilo, que nos comprem esta ou aquela roupa de marca, e não queremos saber como estão as contas em casa. Muitas vezes os pais cedem, por amor aos filhos, para ver a felicidade dos filhos, ainda que para isso tenham de deixar de comer um bife à noite e tenham de comer Nestum. Eu faria isso pelo meu filho. A questão das radiografias, sim, parece-me um exemplo mal aplicado, porque acho que ninguém deixa de proporcionar cuidados básicos de saúde a um filho para lhe proporcionar momentos de prazer como ir a um concerto. Mas pronto, é isso, um mau exemplo. Agora toda esta indignação!? A demissão de Isabel Jonet? Virar chacota nacional?
A memória das pessoas é, de facto, muito curta. Se aplicassem na sua própria vida essa tolerância zero ao erro que têm para com os outros tenho a certeza de que a nossa sociedade seria muito melhor. E, já agora, se todos os que a julgam e parodiam se dedicassem, por uma semana, a fazer o que ela faz há 20 anos, também teríamos um país um pouco melhor e mais justo.
via O Arrumadinho
20 anos a alimentar Portugal
Cara Isabel,
Eu gostaria de lhe agradecer. Nunca usei o Banco Alimentar, espero vir a precisar de nunca o usar, doei alimentos variadíssimas vezes, já doei o meu bem mais precioso, tempo, a trabalhar nas vossas fileiras. Não quero saber se conduz um automóvel alemão, afinal eu também gosto deles, não quero saber do seu rendimento mensal, afinal todos recebemos pelo que fazemos, vamos acreditar que a grande maioria merece o que ganha, apenas lhe quero dizer que tem toda a razão, que ricos, médios ou pobres, todos teremos de reaprender a viver no limiar das nossas possibilidades, todos viveremos com menos, afinal o estado leva-nos quase tudo.
Se me permite, Isabel, gostaria de sugerir que não tornasse a usar metáforas. Os Portugueses são estúpidos e não as compreendem, pura e simplesmente focam-se no seu automóvel, no seu ordenado, e não percebem que quando disse "bife" poderia ter dito "telemóvel", "segundo par de sapatos", "arroz de marca", "cinema" ou um sem número de coisas. E agora, Isabel, agora, corre aí uma petição. Caramba Isabel, se tivesse falado comigo poderia ter-lhe dito que existe por aí muito mais miséria que a fome, a miséria de falar mal, a miséria de ser miserável. É um problema do Português, é invejoso, não pode ver nada, adora o coitadinho. Sabe porquê Isabel? Porque o coitadinho é mais pobre que ele... agora se conduz um automóvel como deve ser, se aufere 5000€ por mês, já é um sacana de um chupista, arranjou um tacho à conta dos conhecimentos e um outro sem número de alarvidades. No fundo, Isabel, o Português é um sacana de um invejoso, danado pela putaporra da má língua, uma criança mal educada que acha que o Estado, os contribuintes os mais ricos, qual pai e mãe, têm o dever de tomar conta dele e de providenciar o seu sustento.
Eu, Isabel, se fosse a si, sugeria que os autores da petição, ajudados pelos alarves que falam do seu rendimento, que exigem a sua demissão, e que de certezinha devem estar fartinhos de contribuir para o Banco Alimentar, o organizassem por uma semana. Uma semana bastaria, Isabel. Mais uma vez o meu muito obrigada. Não é fácil trabalhar com a miséria humana.
Ainda a sra Jonet
A sra não disse nada que não saibamos, só que a maior parte não tem a coragem de o dizer nos écrans de televisão. A esquerdalha ululante ficou chocada!
Eu gostei... gostei muito. Sem grandes floreados!
O único "senão" que me mói, é que deu razão à minha mulher que me manda fechar a torneira enquanto lavo os dentes!
via 31 da Armada