Dos quatro aos quarenta
por A-24, em 27.01.13
Os EUA declararam recentemente a sua intenção de reduzir efectivos na base das Lages, uma indicação clara de que o seu interesse militar no Atlântico se está a desvanecer. Isto acontece, enquanto reforça a sua presença no Médio Oriente e, especialmente, no Pacífico.
Não é só o centro de interesse militar, mas também comercial e económico do Mundo que passou do Atlântico para o Pacífico. Cada vez mais o comércio mundial se centra na Ásia e menos na Europa. Em 2002 existiam 3 portos europeus e 1 americano entre os 10 maiores do Mundo. Hoje existe apenas 1 porto europeu nesse top10: Roterdão, em 10º lugar. Nos EUA, os portos com mais trâfego localizam-se na costa do Pacífico e não no Atlântico. A Europa, que foi o centro económico, político e comercial do Mundo durante vários séculos passou agora para a periferia de um mundo cada vez mais centrado na Ásia e no Pacífico. As evoluções demográfica e económica recentes só tenderão a reforçar este efeito.
As implicações para Portugal deste movimento são dramáticas. Portugal que, apesar de sempre ter estado na periferia da Europa, beneficiava da sua plataforma Atlântica para estar no centro do Mundo, deixou de o poder fazer. A emergência económica e comercial das potências asiáticas arrumou com Portugal para a periferia mundial. Portugal é hoje um país periférico num continente também em vias de se tornar periférico .
Infelizmente Portugal está muito longe de se ter preparado para esta situação. Embora a desmaterialização da economia trazida pelas novas tecnologias possa ajudar a suavizar este efeito de periferia, será necessário capital para aproveitar os benefícios dessa nova tecnologia. Como irá então um país pequeno, periférico, sem grandes recursos naturais, atrair capital que lhe permita sobreviver na periferia do Mundo? Da mesma forma que o fizeram a Coreia do Sul ou Singapura no passado: baixando drasticamente os custos de contexto e a carga fiscal, e digo drasticamente porque não bastará que esses custos sejam os mesmos que os de outros países, terão que ser muito mais baixos do que os países do centro para compensar a situação periférica do país. Isso implicará cortar bastante as despesas do Estado, muito para além do que qualquer estudo do FMI recomendará. Quatro mil milhões será pouco. Provavelmente o corte necessário estará mais próximo dos quarenta.