Discriminação contra muçulmanos está a aumentar na Europa
por A-24, em 06.02.10
O voto contra os minaretes na Suíça é só um sinal. Dos palcos políticos à Internet, por toda a Europa emergem manifestações de medo ou desconfiança em relação aos muçulmanos. Há indicações de que a discriminação está a aumentar, dizem especialistas ouvidos pelo PÚBLICO.
Dario Bianchi /Reuters
O que aconteceu na Suíça podia acontecer em qualquer país da Europa.
E um estudo inédito que será apresentado dia 15 em Londres, Muçulmanos na Europa - Um Relatório em 11 Cidades da União Europeia, aponta nesse sentido, recomendando a líderes locais, nacionais e europeus que contrariem a segregação nas escolas, na habitação, na política. O melhor caminho é a mistura. "Cidadãos ou migrantes, recém-chegados ou nativos, os muçulmanos são uma população variada e em crescimento que se apresenta à Europa como um dos seus maiores desafios", lê-se nas conclusões.Para este relatório, levado a cabo pelo Open Society Institute, foram entrevistados 2200 muçulmanos e não muçulmanos entre Janeiro de 2008 e Fevereiro 2009 em Amesterdão, Roterdão, Antuérpia, Berlim, Hamburgo, Copenhaga, Leicester, Waltham Forest-Londres, Marselha, Paris e Estocolmo.O resultado desmente três mitos. Primeiro, que os muçulmanos não se querem integrar. Segundo, que as necessidades dos muçulmanos são diferentes. Terceiro, que os muçulmanos não se envolvem na vida política e cívica. As percentagens dão uma realidade oposta (ver texto nas páginas seguintes).Em síntese, as respostas apontam para "um aumento das experiências de discriminação", diz Nazia Hussain, a directora do projecto. Também parece claro que a preocupação com muçulmanos e minorias étnicas em geral "aumentou nos últimos cinco anos, no público em geral, e nos media, o que conduz a estereótipos".Como judeus nos anos 30?Se os mecanismos da democracia suíça se pudessem repetir noutro país europeu, "teríamos resultados semelhantes", diz Martin Rose, director do projecto A Nossa Europa Comum, para a coexistência de muçulmanos e não muçulmanos na Europa, recentemente lançado pelo British Council. O referendo na Suíça foi "um sinal alarmante" de como "há um sentimento muito mais forte do que esperaríamos, um medo do outro". Rose diz que "preferia não usar a palavra islamofobia, mas é difícil encontrar outra". Uma forma de racismo? "Aquilo a que antes chamámos racismo, mas em que a raça agora é substituída pela religião."
Além das frentes nacionais que há anos disputam o poder na Europa, os britânicos puseram no parlamento "os quase fascistas" do British National Party. E a bandeira anti-imigrantes, agora concentrada nos muçulmanos, alastra para o centro do campo político. "O problema existe em cada país europeu. Quando os tempos são maus, a competição por habitação social, desemprego e assistência é maior, há um "nós" e um "eles", que agora se tornou muçulmanos e não muçulmanos."Nos anos 30, havia o binómio judeus e não judeus. A proibição dos minaretes pode ecoar as proibições anti-semitas e várias associações de judeus fizeram questão de protestar contra o referendo suíço. É possível comparar? "Por um lado, podemos até pensar que a situação é pior do que nos anos 30, porque se passa em toda a Europa", diz Martin Rose.
"O quadro de dificuldade económica é o mesmo, e surgem bodes expiatórios. Se combinamos crise com ignorância, e com o facto de que há gente que se diz muçulmana a fazer-se explodir, os muçulmanos são um alvo óptimo, quando estamos à procura de alguém para odiar."Há uma diferença essencial. "Na Europa dos anos 30 havia um país a encorajar o racismo, a Alemanha. Agora, os governos europeus estão desesperadamente a tentar impedir a discriminação." Mas se parte da Suíça acordou em choque, foi a outra parte que ganhou. "Uma vitória maciça", sublinha Rose. "Temos de nos preocupar."