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A-24

De como as constituições liquidam os regimes

por A-24, em 07.12.12
A emigração em  massa foi um dos muitos sinais da falência do Estado Novo. Centenas de milhares de pessoas saiam do país à procura de trabalho, comida e, poupando dinheiro, uma casa. Para todos, um futuro diferente. Algo que uma ditadura, um país preso aos pressupostos de uma revolução com cerca de 40 anos, não permitia. A emigração em massa foi o maior sinal do falhanço de uma geração e de um regime; de um modo de governar o país. Foi o resultado de anos a fio sem que tivesse sido permitida a adaptação necessária aos novos tempos. O país em 1926 era muito diferente do de 1966, mas a ideologia dominante, a mesma. O resultado foi uma revolução que destruiu o crescimento económico conseguido na década de 70 e trocou um texto constitucional retrógrado por outro reaccionário e, por isso, cedo ultrapassado.

40 anos após o 25 de Abril, repete-se o drama. É certo que os emigrantes de hoje não saem do país a pé, mas de avião. Não recebem comida como forma de pagamento, mas bons salários. Independentemente disso tudo, a questão em cima da mesa é a mesma: para várias centenas de milhares de pessoas, é preferível ir embora. Não porque o clima aqui seja mau ou a segurança deplorável, mas porque não há trabalho.

Não é difícil perceber que o regime saído e ainda marcado pela revolução de 74 não tem futuro. A forte carga ideológica da constituição impede a adaptação aos novos tempos, tal qual aconteceu com a de 1933. Durante 41 anos o país andou literalmente pendurado por um texto constitucional que não o deixava evoluir; preso a um texto que acabou por destruir aquilo que visava defender. Da mesma forma, continuamos agora amarrados a normas que não permitem preservar o que a cada dia que passa, e porque nada foi permitido fazer, se torna mais difícil assegurar.

André Abrantes Amaral, in O Insurgente