Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A-24

Comentário lúcido do "Blasfémias" sobre as fotos e comentários do NYT sobre Portugal

por A-24, em 01.12.12

O New York Times disponibilizou ontem um álbum de fotografias sobre Portugal e a crise que vivemos. Fotografias a preto e branco, têm como missão pintar um retrato negro do país. Independentemente da qualidade estética, a qualidade jornalística do retrato é miserável. Não pela escolha das imagens, mas pelas legendas. Em 16 micro-textos, nove continham erros factuais ou outras incorrecções. Todas correspondiam à tentativa de traçar um retrato apocalíptico do país. Um retrato ideológico, não jornalístico. Senão vejamos:

Slide 1. A demolição de 12 casas ilegais na Amadora, em Julho, é descrita como tendo afecto um “bairro inteiro” habitado sobretudo por cabo-verdianos.

Slide 2. A legenda informa que em Portugal a austeridade significa que há hospitais a fechar, o que é mentira, apesar de haver alguns que podiam e deviam fechar.

Slide 4. Uma imagem de pessoas à espera de alimentos gratuitos é utilizada para ilustrar a informação de que Portugal tem sido elogiado por quem nos empresta dinheiro.

Slide 5. O número escolhido para o número de desempregados não é o estimado pelo INE – 870 mil é o número oficial, a que alguns adicionam os “inactivos disponíveis mas que não procuram emprego”, mais 250 mil. No total, um máximo de 1,12 milhões, longe dos lunáticos 1,4 milhões da legenda do NYT.

Slide 6. A fotografia indica que a loja da imagem está fechada, supostamente por causa da crise. Azar: a imagem é da frontaria do antigo cinema Eden, nos Restauradores, onde funciona um hotel e uma Loja do Cidadão…

Slide 8. Os manifestantes que arrancaram a calçada para atirar pedras à polícia a 14 de Novembro são apresentados como sendo mainstream.


Slide 9. Informa que as greves se tornaram muito mais comuns. No sector privado não tenho dado por isso.

Slide 10. A legenda esquece-se d informar que os manifestantes que queimaram fotografias de Merkel quando ela veio a Lisboa eram escassas dezenas.

Slide 11. Entre o monte de desgraças portuguesas sobre as quais o NYT pretende informar os seus leitores está o aumento das propinas nas Universidades. Um aumento que não existiu mas dava jeito que existisse para a narrativa ser ainda mais melodramática.

Slide 14. Os vândalos que andam a grafittar as paredes são apresentados como “street artists”.

E por aqui me fico. Não sem antes referir que era possível ao NYT realizar uma reportagem muito parecida, porventura até mais negra, sem ter de sair de Nova Iorque. Ou mesmo de Manhatan.