Cinco razões para o voto de protesto nas presidenciais
por A-24, em 30.01.11
Marcado pelo temporal de Fevereiro e pelos incêndios florestais de Agosto, 2010 foi, de facto, o annus horribilis para a Madeira. Situações não ultrapassadas, antes agravadas, levaram a que muitos madeirenses, incluindo milhares de tradicionais votantes do PSD, depositassem na urna das presidenciais o voto de protesto e descontentamento em nome do seu conterrâneo candidato que, ao obter uma surpreendente votação, coloca a região em 2011, como no calendário chinês, sob o signo do Coelho.
1. Maior desemprego de sempre
A Madeira registava, no final de 2010, um número recorde de desempregados, exactamente o triplo do existente quando Jardim provocou eleições antecipadas em 2007. Em Dezembro passado, estavam inscritos no Instituto de Emprego um total de 15.648 desempregados, dos quais a maioria tinham residência no Funchal (40%), em Santa Cruz (14,8%) e Câmara de Lobos (16%), ou seja, 70 por cento dos desempregados residiam nos três concelhos que representam 70 por cento da população da ilha. Coelho ganhou naqueles dois primeiros e no concelho de Machico, onde está instalada a Zona Franca que, contrariando expectativas, não constitui a mola impulsionadora de emprego.
2. Insatisfação social
Passado quase um ano, continuam bem presentes os efeitos dos temporais de Fevereiro, sobretudo nas famílias das vítimas mortais, em número nunca clarificado, e dos que perderam as suas casas ou terrenos agrícolas. Nos dois concelhos mais afectados pelas intempéries, cujas populações desesperam pela prometida reconstrução, o candidato apoiado pelo partido governamental foi punido nas urnas: Cavaco Silva perdeu no Funchal para José Manuel Coelho (38,6 contra 41,5%) e na Ribeira Brava teve a sua maior queda regional em relação a 2006 (de 72,3 para 52,6%), apesar de ter visitado a freguesia por duas vezes no espaço de um ano, a primeira como Presidente da República, logo depois da catástrofe, e, no final da pré-campanha, no entanto, sem contacto directo com a descontente população.
Coelho venceu nas freguesias das zonas altas do Funchal, onde são também mais notórios os sinais de pobreza, o maior flagelo social da região para o qual Jardim não encontrou resposta em mais de três décadas, apesar de atingir 55 mil madeirenses, um quinto da população.
3. Descalabro financeiro
A Madeira atravessa uma situação de falência técnica e política. Ao desastre das contas públicas, cujas responsabilidades atingem 6000 milhões de euros, junta-se o descalabro financeiro das Sociedades de Desenvolvimento com mais de 600 milhões em dívida; o das autarquias, com mais de 300 milhões; o das pequenas e médias empresas, aflitas com o atraso no pagamento da facturação ao sector público; o dos estabelecimentos de educação e ensino, sem dinheiro para cumprirem o seu projecto educativo; o do sistema de saúde, descapitalizado com dívidas às farmácias e aos fornecedores em geral.
4. Recorde de insolvências
A Madeira registou um número recorde de insolvências em 2010, quase quatro vezes mais que em 2007, ano das últimas eleições regionais. Depois do sucesso em termos de criação de empresas, verificado sobretudo nas décadas de 80 e 90, a região vê-se envolvida pelo cenário de crise generalizado que, só em 2010, levou ao encerramento de 122 empresas por dificuldades financeiras.
5. Escandalosas concessões
Alimentando suspeitas de favorecimento, algumas concessões a grupos económicos que nasceram e floresceram no jardim da Madeira Nova têm sido publicamente criticadas por - como denunciou Coelho, que fez desta questão uma das raras bandeiras da campanha -, indiciarem corrupção, nalguns casos investigada mas não condenada pelos tribunais por insufici- ência de provas.
A exploração da Zona Franca por uma entidade detida maioritariamente por um grupo privado (também beneficiária da prorrogação do concessão do jogo de casino, sem concurso); o monopólio das operações portuárias e das ligações marítimas com o Porto Santo; ou a exclusividade da exploração dos parques de estacionamento e centro de inspecção automóvel, sem concorrência, ou concessão da exploração das principais rodovias da região a construto- ras dominadas por figuras do PSD.