Catalunha dá os primeiros passos para a soberania fiscal
por A-24, em 20.09.12
Ontem, no Palácio da Generalitat (sede do governo regional), Artus Mas assinou um acordo com os presidentes das quatro províncias catalãs que é um embrião de uma futura soberania fiscal: as 150 repartições fiscais passam a trabalhar em rede para gerir os impostos próprios da Catalunha, dividindo competências e partilhando informação, e que permitirá avançar no combate à fraude fiscal.
Como todas as regiões, exceptuando o País Basco, a Catalunha cobra os seus impostos e entrega-os a Madrid, que depois redistribui o dinheiro. Os líderes catalães defendem que o Estado fica a dever 16,5 mil milhões de euros à Catalunha todos os anos. Se assim não fosse, dizem, a região não enfrentaria a actual crise, que já obrigou o governo da Convergência e União (CiU, nacionalistas de direita) a ter de pedir um empréstimo de 5 mil milhões de euros a Madrid.
"Este é um primeiro passo, que deriva de um pacto fiscal que tentamos que se faça pela via do acordo. Mas se não puder ser, a Catalunha terá de fazer o seu caminho, não pode renunciar ao seu presente nem ao seu futuro, aconteça o que acontecer", afirmou Artur Mas.
Depois da manifestação pró-independência realizada a semana passada em Barcelona, a maior de que há memória, o presidente catalão defendeu que o pacto fiscal não chega e que ninguém lhe pode pedir que "aborte a ilusão de todo um povo". "Não posso esquecer-me da independência. Não posso misturar uma coisa com a outra", disse. Ontem, repetiu que, mesmo com soberania fiscal, a Catalunha vai apostar em criar "instrumentos de Estado".
Enquanto Artus Mas assinava o acordo fiscal em Barcelona, no Parlamento nacional, em Madrid, Rajoy era obrigado a responder pela primeira vez a perguntas sobre o protesto da última terça-feira. "A resposta está na Constituição e nas leis. Jurei cumprir e fazer cumprir a Constituição e vou fazê-lo se isso for necessário", disse o primeiro-ministro de direita (Partido Popular), antes de deixar claro que não aceitará o pacto fiscal mas que está disposto a negociar melhorias no financiamento das regiões autónomas.
"Não se pode gerar instabilidade política tomando decisões erradas. O pior é teimar-se no erro", disse ainda o primeiro-ministro, repetindo ideias da mensagem do rei Juan Carlos. Interrompendo um período de silêncio (na sequência de várias polémicas), Juan Carlos publicou na terça-feira uma carta onde escreve que "nestas circunstâncias, o pior que podemos fazer é dividir forças, perseguir quimeras, aprofundar feridas