Biliões de euros escondidos em paraísos fiscais
por A-24, em 24.07.12
Os mais ricos do mundo têm fortunas depositadas em paraísos fiscais, que podem representar um valor idêntico aos PIB norte-americano e japonês juntos, revela relatório da ONG Tax Justice Network.
A riqueza privada depositada em paraísos fiscais como a Suíça e as Ilhas Caimão é de pelo menos 21 biliões de dólares (17,7 biliões de euros). Segundo dados ontem divulgados pela Tax Justice Network - organização não governamental de defesa da transparência fiscal -, o dinheiro não declarado, escondido em contas offshores, é equivalente ao produto interno bruto (PIB) norte-americano somado ao japonês.
Os chineses, russos, coreanos e brasileiros, por esta ordem, são os que mais remetem dinheiro para países onde não se pagam impostos. Os africanos, mexicanos, argentinos e venezuelanos também aparecem com destaque no relatório.
São os grandes bancos privados, como a UBS, o Credit Suisse e Goldman Sachs à cabeça, além de outras instituições como o Bank of America, JP Morgan e Citybank, quem trata desta fuga de capitais.
O estudo "The Price of offshore Revisited" - encomendado pela Tax Justice Network a James Henry, consultor e antigo economista-chefe da empresa McKinsey, é o mais completo e rigoroso mapeamento da aplicação de dinheiro em paraísos fiscais - ou seja, não declarada nos países de origem -, até hoje feito.
James Henry reuniu dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS), do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial (BM), ONU, bancos centrais e informações prestadas pelos governos de cada país, cruzando-os com dados acerca da procura de reservas em moeda e ouro, e, ainda, ainda, dados de várias consultoras sobre o setor do private banking com offshores.
"Buraco negro" na economia mundial
O autor do relatório diz que, tendo em contra um universo de mais de 139 países e dez milhões de investidores (os donos destas fortunas), a soma de recursos nos paraísos fiscais varia entre 17 biliões de euros - uma estimativa mais conservadora - a 26,3 biliões.
De acordo com o site "Esquerda.net", caso "esse dinheiro rendesse 3% de juro anual e o rendimento desses juros fosse taxado a 30%, a receita para os cofres públicos alcançaria até 230 mil milhões de euros num ano, ou seja, cerca do triplo do valor do empréstimo da troika a Portugal. Isto sem contar com outras tqaxas sobre mais-valias financeiras ou heranças que fariam a receita fiscal subir muito mais".
Segundo James Henry, a desigualdade no mundo é, certamente, muito maior so que a estimada, uma vez que os estudos sobre o tema não levam em conta tais valores. Os 100.000 mais ricos do mundo detêm sozinhos 8 biliões de euros em offshores.
O autor do estudo responsabiliza o FMI, Banco Mundial, OCDE e G20 por nada terem feito para controlar esta fuga, apesar de saberem de grande parte desta informação agora disponível.
"Estes ativos estão protegidos por um grupo de facilitadores profissionais, altamente pagos e diligentes, na banca privada e nos setores do direito, da contabilidade e dos veículos de investimento, que se aproveitam de uma economia global com cada vez menos fronteiras", disse James Henry.
De acordo com o diretor da Tax Justicce Network, John Christensen, os bancos que tratam da fuga de capitais agem, principalmente, abordando sobretudo os milionários dos países exportadores de riquezas minerais, como os africanos. Além de o dinheiro não ser declarado nos países de origem e nos paraísos fiscais, o governo norte-americano, de onde provémo a maioria destes bancos, também não compartilha informações tributárias.
"Este relatório centra as atenções num gigantesco "buraco negro" na economia mundial que nunca tinha sido medido. isto é, a riqueza privada colocada nos offshores e a enorme quantia de rendimento não taxado que ela produz. Isto, numa altura em que os governos de todo o mundo estão famintos de recursos, e estamos mais conscientes que nunca acerca dos custos da desigualdade económica", afirma James Henry.
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