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A-24

Bayer Leverkusen ou melhor Neverkusen

por A-24, em 14.02.13
O Bayer é daqueles clubes que se não existissem teriam de ser inventados. As suas histórias, desde a fundação, em 1903, até hoje, são assustadoras. O currículo idem: só uma Taça da Alemanha (1992-93) e uma Taça UEFA (1987-88). A sua fama persegue-o. A de perdedor, claro. Daí ser um clube assustador.
Para começar, o óbvio. Não é sequer uma vez campeão alemão. Nem antes da Segunda Guerra – e, atenção, a Alemanha tem 29 campeões nacionais, do rei, Bayern, ao anexado Rapid Viena. É dose. Para cúmulo, é cinco vezes vice. Em 2000 só precisa de empatar com o (dobre bem a língua sff) Unterhaching para se sagrar campeão na última jornada, mas um autogolo de Ballack (esse mesmo) atira o Bayer para o segundo lugar, por troca com o Bayern. Dois anos mais tarde, em 2002, o Treble Horror. Numa semana, o Bayer perde final da Taça da Alemanha (4-2 do Schalke 04), final da Liga dos Campeões (2-1 vs. Real Madrid) e a liga alemã na 34.a e última jornada para o Borussia Dortmund.
Por esta altura já não é Leverkusen mas sim Neverkusen. Única equipa a chegar à final da Liga dos Campeões sem nunca ter ganho o seu campeonato, o Bayer também é o único clube recém- -vencedor europeu a ser afastado por uma equipa portuguesa com dupla derrota – na circunstância, o Belenenses. “Belos tempos”, recorda Stoycho Mladenov, o artista búlgaro. “Ganhámos lá 1-0, com golo meu, e depois 1-0 no Restelo, golo do Adão. Esse Belenenses merece todos os elogios e mais alguns. Saímos na eliminatória seguinte, nos penáltis, em Mostar [Jugoslávia], sem ter sofrido um único golo. Aliás, nem um golo sofrido nos quatro jogos. Deve ser caso único.” É sim senhor. Assustador.
Ao Belenenses segue-se (para o Bayer) outro B de Portugal. É o Benfica. Nos quartos-de-final da Taça das Taças 93-94, um dos jogos mais inesquecíveis na história nacional das Eurotaças. Ao 1-1 na Luz, o 4-4 em Leverkusen. No onze de Toni há uma baixa de vulto: Mozer, suspenso por dois amarelos (são essas as regras naquele tempo; o brasileiro vê um com o Katowice e outro no tal 1-1 da primeira-mão). “Costumo dizer que é o jogo mais louco que não joguei.” O onze é Neno, Abel Xavier, William, Hélder e Schwarz; Kulkov; Paneira, Rui Costa e Isaías; João Pinto e Yuran.
O Bayer, 7.o classificado da Bundesliga, joga com todos os bons, incluindo Bernd Schuster. O maestro está com dores “mas é daqueles jogos que puxam por qualquer um”, esclarece o alemão em castelhano. “Era imperativo jogar e a verdade é que tudo nos corre bem no início. O nosso futebol flui como sempre, os nossos adeptos puxam fortemente por nós. Estamos no bom caminho. Se bem me lembro, o Ulf [Kirsten] faz o 1-0. Ao intervalo estamos apurados e felizes da vida mas sabemos que faltam 45’.”
O que ninguém espera, nem o mais fanático dos benfiquistas, é a diabólica segunda parte. “Faço eu o 2-0 [aos 56’]. A alegria é imensa, os jogadores unem--se aos adeptos num abraço. O Benfica devia estar assustado.” “Aschustado”, na língua de Schuster. “Mas não está, e marca no instante seguinte [Abel Xavier]. Depois empata [João Vieira Pinto]. Bom, lá temos de reagir, mas eles marcam de novo, 2-3 [Kulkov, 77’]. O Ulf empata de cabeça [79’] e damos a volta, outra vez de cabeça [Hapal, 82’], num canto meu ao primeiro poste.”
Uff (que não Kirsten), calma, calma, isto está muito emocionante. “Lembro- -me perfeitamente do Drago [Stepanov, treinador do Bayer] nos fazer sinais, de só faltarem nove minutos. Não deu para aguentar a vantagem, apesar de todo o estádio estar a puxar por nós. A cinco, quatro minutos do fim, golo deles [Yuran] num belo movimento daquele 8, o João Pinto. Fomos eliminados em casa. Bem, verdade seja dita, nessa campanha da Taça das Taças fomos melhores fora [Boby Brno, 2-0 e 3-0; Panathinaikos, 4-1, 1-2; Benfica, 1-1, 4-4],” Aschustador. Hoje há mais. A melhor defesa da Liga Europa (dois golos) vs. Luisão volta à Alemanha. 
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