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A-24

Alfredo Pimenta e a democracia

por A-24, em 05.09.13
"... o catolicismo não o conduziu tão só a tornar-se adepto da Teocracia. Levou-o, também, a contestar a Democracia como inimiga de Deus.

Efectivamente, a Democracia como forma de vida - para usar a expressão de C.J.Friedrich - baseia-se na Liberdade e, portanto, na tolerância, na mais alta neutralidade do Estado face aos cultos, na tese da licitude das várias crenças. Ora, ainda na fase republicana, Alfredo Pimenta ensinava que quem possui a Verdade absoluta tem de ser intolerante. depois da sua conversão, obviamente para ele o catolicismo era a Verdade absoluta. Logo a liberdade, a tolerância, a licitude das várias crenças julgava-as ideias sacrílegas e blasfemas. E a neutralidade do Estado face aos cultos assemelhava-se a uma monstruosidade funesta. O Estado devia estar aos erviço da Verdade absoluta, logo da Igreja que a encarnava. Ao mundo moderno, que reduzia a religião a negócio privado, repelia-o com todas as suas forças. Em suma, o seu Catolicismo era o Catolicismo de Trento e do Syllabus, o Catolicismo integral e não o Catolicismo com um Deus para todo o serviço, à Vaticano II.

Não era só neste plano, porém, que Alfredo Pimenta, como católico, atacava a Democracia. Ele entendia, igualmente, que, no tocante á questão da legitimidade do Poder, a antítese entre aquela última e a doutrina eclesial era patente. Dum lado, achava-se que todo o poder vem de Deus, isto é, que só em função de Deus é legítimo; do outro, pretendia-se que o poder vem do povo, se legitima pela vontade do povo. Concepções incompatíveis, segundo Alfredo Pimenta, porque no que concerne a critérios de legitimidade não há incompatibilidades. As conciliações ou, melhor, as tentativas de conciliação, são subterfúgios, pois, se o povo puder fazer o que lhe aprouver, falar numa transmissão do poder de Deus para o povo não tem sentido, dado que Deus, aí, é reduzido a mera cláusula de estilo. Em compensação, se se entende que o povo está subordinado ás determinações de Deus, eis que falar na sua vontade como instrumento legitimador é plenamente absurdo.
De qualquer modo, Alfredo Pimenta não se pronunciou contra a Democracia exclusivamente por estes motivos. No plano estritamente terreno ele combatia, igual e firmemente, a Democracia. Antes de mais, porque, inspirando-se na liberdade, fazia desse princípio a sua verdade e, dado que as verdades são exclusivistas, transformava em dogmas a liberdade e a tolerância, num contra-senso flagrante.
Além disso, a Democracia, preconizando a liberdade e a tolerância, opunha-se ás mais elementares regras da vida social, a qual exigia a aceitação, por todos, de verdades pragmáticas, pelo menos até serem substituídas por outras mais eficientes."- António José de Brito, para a compreensão do pensamento contra-revolucionário, 
Hugin, 1996