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A-24

Acusações de bruxaria, orações e um ultimato: a luta de poder continua no Irão

por A-24, em 08.05.11

A luta de poder entre o Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o Supremo Líder, ayatollah Ali Khamenei, parece estar a atingir o apogeu com prisões e acusações de bruxaria, slogans nas orações nas mesquitas e um ultimato.

O motivo imediato do estranhamente 
 
público desentendimento entre as duas principais figuras da República Islâmica é o cargo do ministro da Informação e Espionagem, Heydar Moslehi, que foi afastado por Ahmadinejad e recolocado no cargo por Khamenei.

Ahmadinejad ficou então 11 dias sem presidir a reuniões do Governo num aparente protesto, e nas reuniões a que assistiu, o ministro não esteve presente. Agora, segundo relatos de Teerão, o Supremo Líder terá feito um ultimato: ou Ahmadinejad aceita o ministro, ou terá de se demitir.


Embora a composição do Governo seja competência do Presidente, o Supremo Líder é quem tem a última palavra na gestão da República Islâmica. E Khamenei tem vindo nos últimos dias, aparentemente, a mostrar este poder. Primeiro, com a detenção de vários aliados do chefe de gabinete de Ahmadinejad, Esfandiar Rahim Mashaei, acusados de serem “mágicos” e de terem invocado “espíritos”, segundo o diário britânico "The Guardian". Depois, nas orações de sexta-feira, as mais importantes da semana, muitos líderes religiosos sublinharam a importância do Supremo Líder e multidões responderam com cânticos: “Morte aos opositores do Supremo Líder”, descreve o "New York Times".



Nacionalismo pagão



No centro da disputa parece estar justamente o chefe de gabinete de Ahamdinejad, Esfandiar Rahim Mashaei, cuja filha é casada com o filho de Ahmadinejad, e que tinha já sido o motivo de uma repressão do ayatollah Khamenei a Ahmadinejad em Agosto passado. Mashaei, que muitos vêem como o possível candidato à sucessão a Ahmadinejad (que já não se poderá candidatar) em 2013, tinha defendido no ano passado uma “escola iraniana” do islão, levando à indignação vários líderes religiosos, que o acusaram de “nacionalismo pagão”.


Desta vez, os poderosos Guardas da Revolução, cuja influência terá sido essencial para a reeleição de Ahamdinejad, pareceram alinhar-se com a autoridade máxima no Irão. “As pessoas [próximas do Supremo Líder] não estão a apoiar-se em espíritos, fadas e demónios”, comentou o comandante dos Guardas, Mohammad Ali Jafari. Os Guardas da Revolução têm-se afastado de Ahmadinejad nos últimos meses à medida que as tendências “seculares” estão a ser mais visíveis.