A crise do Inter
por A-24, em 28.03.12
Ranieri foi trocado por Andrea Stramaccioni, técnico dos juniores. E Balotelli apareceu na apresentação para lhe dizer um “olá”
O Inter encalhou ao largo da Serie A. O comandante não fugiu à primeira oportunidade num bote, mas levou um empurrão para abandonar o barco. Claudio Ranieri deixou a equipa de Milão no oitavo lugar do campeonato, com 41 pontos e um registo próprio de um ex-campeão encalhado: tantas vitórias (12) como derrotas; tantos golos marcados (38) como sofridos.
Foi o fim da paciência de Massimo Moratti. O presidente do Inter fez o que é costume nestes casos. Deu um voto de confiança depois da última vitória (2-0, em Verona, ao Chievo), mas pegou no chicote quando viu a eliminação da Liga dos Campeões, um empate em casa (0-0, Atalanta) e uma derrota em Turim (0-2, Juventus). “Moratti despediu 17 treinadores em 17 anos. É meu aluno”, brinca Maurizio Zamparini, dono e presidente do Palermo, o maior especialista na arte de coleccionar treinadores.
Desde que José Mourinho saiu do Inter, em Maio de 2010, Moratti nunca mais soube o que fazer à vida. A primeira alternativa foi Rafael Benítez, acabadinho de sair do Liverpool, onde ganhara uma Liga dos Campeões em 2005. Ao fim de seis meses e 13 dias estava desempregado, na antevéspera de Natal e menos de uma semana depois de ganhar o Mundial de Clubes. Quase a caminho da ceia com a família, Leonardo foi anunciado como o substituto. Ora o brasileiro durou seis meses – nem mais um nem menos um dia. Assim que a época terminou, Moratti também lhe disse adeus.
Sai um, entra outro. E o outro foi Gian Piero Gasperini, que só não se tornou recordista porque Mircea Lucescu esteve apenas dois meses e 20 dias à frente do Inter. Gasperini aguentou mais uma semana, mas com quatro derrotas em cinco jogos não podia estar à espera de durar. E assim chegamos a Ranieri, que ficou entre Leonardo e Benítez: seis meses e quatro dias. Está visto, Moratti só tem meio ano de tolerância para um treinador.
Agora o presidente optou por jogar à defesa. Telefonou a Andrea Stramaccioni, que até interrompeu uma entrevista a uma rádio para atender – o técnico falava sobre a vitória dos juniores do Inter na Next Gen Series (uma Liga dos Campeões do escalão). Ontem, na apresentação, dizia as palavras bonitas do costume (“é um sonho que Moratti me ajudou a concretizar”) quando foi interrompido por um fantasma que ainda paira sobre o centro de estágio do clube. Não era Mourinho, mas Balotelli, que aproveitou uma visita a Appiano Gentile para ir à sala de imprensa e cumprimentar o homem que já o treinou. Todos se riem, claro.
Stramaccioni é dono do lugar até ao fim da época. Se agradar, talvez continue. Mas também há outra hipótese à espreita (André Villas-Boas), na posição ideal (desempregado) para Moratti pensar nele. O enredo é o mesmo do Chelsea: uma equipa velha (a média de idades nas últimas jornadas tem rondado os 29/30 anos), a precisar de reformas para voltar aos títulos. Ionline