A crise da imprensa em Portugal
por A-24, em 14.08.12
Mudaram os tempos, não mudaram os jornais. Por Alexandre Homem Cristo.
Os dados disponibilizados pela Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação (APCT) mostram que, entre Janeiro e Abril de 2012, e comparativamente ao mesmo período do ano passado, perderam-se quase 75 mil compradores de imprensa. É muita gente e reflecte, na opinião de alguns, as dificuldades derivadas da crise económica. Mas será só isso? Não. O problema está longe de se restringir à crise, e reside, sobretudo, no próprio sector.
in O InsurgenteHoje, uma notícia chega rapidamente ao público através da internet ou da televisão, e ninguém quer pagar para ler o que já ouviu umas horas antes. Os jornais ficaram num impasse. Para servir as novas necessidades dos consumidores e sobreviver, a imprensa tinha de garantir uma mais-valia informativa, que justificasse a compra de jornais. Até hoje, foram poucas e humildes as tentativas nesse sentido. No geral, a imprensa acomodou-se. Continua a faltar-lhe mais investigação e mais profundidade. E continua a não conseguir distanciar-se dos modelos informativos que existem gratuitamente. Permanece, portanto, incapaz de se adaptar às novas exigências.Em segundo lugar, a imprensa mantém uma relação ambígua com os factos, enquanto vive obcecada com a sua (alegada) neutralidade. Isso é particularmente visível no que respeita à informação política, que a imprensa nem sequer filtra – apenas distribui.(…)No momento actual, em que o leitor se tornou mais exigente, a imprensa não exige mais de si. O resultado está à vista. Perante os números do desastre, é habitual perguntar-se às pessoas porque deixaram de comprar jornais. A pergunta é enganadora, porque impõe o ónus da responsabilidade sobre os consumidores. Ora, sem os pretender ilibar inteiramente, há uma outra pergunta a colocar: o que fazem os jornais para que valha a pena comprá-los?