Devido à fraca qualidade do autor do costume, a gerência de "A Tempo e a Desmodo" abriu uma nova secção: "os convidados". A convidada desta semana é Mónica Ferro, professora universitária e deputada do PSD.
Às vezes não é preciso martelar os números para que eles falem: entre 100 e 140 milhões de meninas, raparigas e mulheres são todos os anos vítimas silenciadas de Mutilação Genital Feminina (MGF). São vítimas de procedimentos que envolvema remoção parcial ou total dos genitais femininos externosou que provocam lesões nos genitais femininos por razões não médicas. Não há qualquer razão religiosa, cultural, de saúde ou de outra índole que justifique uma intervenção deste tipo, uma intervenção que rouba dignidade às meninas e mulheres, que lhes provoca um sofrimento inenarrável, provoca problemas de saúde, de fertilidade, complicações por altura do parto, lhes reforça a vulnerabilidade ao VIH/SIDA, rouba o prazer sexual, quando não provoca mesmo a morte.
A MGF é uma forma de violência de género. Se homens e mulheres sofrem violências diferentes, esta é uma forma de violência específica contra meninas, raparigas e mulheres. Uma discriminação e forma de submissão aos padrões de poder masculino mesmo quando perpetrada por mulheres, pois estas são apenas as mãos e o veículo de perpetuação de uma prática. O mito mentiroso de que se trata de uma escolha das mulheres, que reproduziriam assim nas suas filhas os rituais a que elas próprias foram submetidas, cai por terra na palavra escolha. Não há escolha: estas mulheres não sabem que há escolha. Não sabem que podem não ser mutiladas, que há mulheres não são cortadas ou como algumas preferem dizer "circuncidadas". Além de que há quem ainda considere que certos lugares, práticas e ocasiões estão vedadas a mulheres que não sejam puras, advogando a MGF como o ato de purificação. E o ciclo mentiroso fecha-se sobre elas.
Também não há uma causa religiosa para a MGF, pois há relatos da prática em períodos anteriores ao Judaísmo, Cristianismo e Islão; assim como não há qualquer referência à sua obrigatoriedade em qualquer um dos textos religiosos fundadores. Nem por acaso, no dia 6 de Fevereiro, a Guiné Bissau deu um passo de gigante para a erradicação desta prática nefasta quando 200 líderes islâmicos guineenses pronunciaram, no parlamento nacional, uma fatwa proibindo esta prática que vitima mais de 50% das raparigas e mulheres do país.
A retórica de uma certa excecionalidade cultural, por certo por pura ignorância acerca dos resultados do crime, recorda-me sempre uma indignação de Mary Robinson que dizia que era no mínimo estranho que o argumento da exceção cultural surgisse sempre na boca dos perpetradores e nunca das suas vítimas.
Todas as mulheres em todas as latitudes, de todas as classes e origens têm direito ao mesmo nível de proteção e de realização de todos os seus direitos humanos. Têm direito à dignidade sem ser cortada.
Mónica Ferro, professora universitária e deputada do PSD.
Ao todo, vão morrer 1.314.236 pessoas de cancro nos 27 países da União Europeia durante o ano de 2013, prevê um artigo publicado nesta quarta-feira na revista Annals of Oncology. São mais 32.542 pessoas do que as que morreram em 2009 devido ao cancro. Ainda assim, é um saldo positivo, em termos percentuais morrerão menos 6% de homens e menos 4% de mulheres, de acordo com o estudo. O aumento do número efectivo deve-se a uma população europeia mais envelhecida entre as duas datas.
Mas há más notícias dentro das boas novas. A percentagem de mortes por cancro do pulmão está a crescer nas mulheres e prevê-se que seja a primeira causa de morte por cancro na população feminina em 2015, ultrapassando o cancro da mama, tal como já é nos homens.
Nos 27 países da UE , em 2013, 14 em cada 100 mil mulheres vão morrer de cancro do pulmão, segundo o estudo, o que equivale a 82.640 mortes, um aumento de 7% face a 2009. O cancro da mama, que por enquanto é mais mortal, vai ser este ano a causa de morte de 14,6 mulheres em cada 100 mil, números brutos são 88.886 mortes. Mas representa uma redução de 7% desde 2009.
No Reino Unido e na Polónia, o cancro do pulmão já se tornou no mais letal. Mata respectivamente 21,2 e 17,5 mulheres em cada 100 mil. “O previsto aumento de cancro de pulmão nas mulheres no Reino Unido pode reflectir a prevalência de jovens mulheres que começaram a fumar nos finais da década de 1960 e na década de 1970, possivelmente devido à mudança de atitudes socioculturais”, diz Carlo La Vecchia.
Os activistas indianos estão indignados. “Embora não haja nenhuma única lei, específica para os homens, que afirme quando, onde ou como os cuidados médicos devem ser prestados, os governos promulgam leis que prescrevem, confundem e restringem o acesso da mulher aos serviços de um aborto seguro”, apontou Anjali Sen, directora, do Sul da Ásia, da Federação Internacional do Planeamento Familiar. “Os cuidados correctos e necessários podiam ter salvado a vida dela. É imperdoável que os médicos, em vez de desenvolverem esforços para salvá-la, assistiram à sua morte de braços cruzados”.
Halappanavar teve forte dores no dia 21 de Outubro. Ela estava a perder o bebé e, de acordo com o seu marido, pediu várias vezes a interrupção da gravidez após ter sido informada de que o feto não sobreviveria. Mas Halappanavar e o seu marido foram informados de que a Irlanda é um país católico e como o feto ainda tinha batimento cardíaco, o procedimento estava fora de questão. Halappanavar morreu de septicemia; a sua família acredita que este desfecho teria sido evitado se a interrupção da gravidez tivesse sido realizada.
Os protestos na Irlanda fizeram com que o primeiro-ministro Enda Kenny se deslocasse ao local, com os activistas, como os da Índia, a argumentarem que Halappanavar morreu devido a uma abordagem teocrática aos cuidados de saúde. Os activistas irlandeses que defendem o direito ao aborto, apontam que, no seu país, legalmente, a vida do feto não tem precedência sobre a vida da mãe, mas tem precedência sobre a saúde da mãe – uma distinção que os norte-americanos, que são contra o aborto, procuram há muito replicar nos Estados Unidos.
O caso Halappanavar inverte assim o estereótipo ocidental em relação às sociedades orientais, de que preservam a superstição e o extremismo religioso. A morte de Halappanavar resultou do comportamento fanático e atávico de uma teocracia ocidental, ao mesmo tempo que manifestantes e legisladores indianos têm defendido o etos científico e racionalista do Iluminismo. Nós, no Ocidente, estamos tão habituados aos “nossos” religiosos fanáticos, que raramente olhamos para eles como olhamos para os fanáticos religiosos do Oriente.
Mas a morte de Halappanavar não nos deixa outra alternativa. Uma mulher que não era católica, envenenada lentamente por um feto que já não era viável, foi-lhe pedido a aceitar que os cuidados de saúde lhe seriam negados, porque o Papa, agindo sob as ordens de São Paulo, guiava as mãos dos seus médicos. Pode-se imaginar a fúria que haveria se uma mulher ocidental, não muçulmana, tivesse morrido devido ao facto de um imã se recusar a prestar-lhe cuidados médicos por motivos religiosos.
O facto de o tumulto se estender até à Índia esclarece as muitas maneiras com que se pode olhar para o aborto – até mesmo a partir de uma perspectiva religiosa. Tal como eu disse há quase 20 anos, a visão cristã/católica ocidental em relação ao aborto não é a única interpretação religiosa da questão.
No hinduísmo, o aborto é considerado mau carma, mas isso não se equivale à visão maniqueísta defendida por cristãos fundamentalistas e pela Igreja Católica. Aética médica hindu exige ahimsa ou “não violência”, isto é, o dever de um médico é causar o menor dano possível numa situação. Assim, uma perspectiva hindu no caso Halappanavar ditaria salvar a vida da mãe se o feto colocasse a sua vida em risco. Neste ponto, o hinduísmo assemelha-se ao judaísmo, inclusive o judaísmo ortodoxo, no qual “a vida da mãe é mais importante do que a do feto”.
O aborto, embora seja visto de forma negativa, não é ilegal na Índia, provavelmente por ser encarado como uma questão de moralidade pessoal – o carma que cada um carrega na sua consciência por ter de fazer o que no Ocidente se chamaria de “escolha”. (Na verdade, o problema do aborto na Índia situa-se no extremo oposto do espectro: a interrupção da gravidez generalizada de fetos do sexo feminino, devido a uma preferência cultural por filhos homens, uma situação que eu diria que também inflige violência contra as mães).
A batalha cultural acerca da morte de Halappanavar está longe de estar resolvida. As mulheres irlandesas têm todo o direito de perguntarem novamente a si mesmas se da próxima vez serão elas que estarão ameaçadas por um ponto de vista religioso, que nada tem a ver com as suas necessidades médicas. Mas é a indignação geral na Índia, onde os manifestantes exigem que o aborto na Irlanda seja tratado como uma decisão médica privada entre a mulher e os profissionais de saúde, que pode indicar o caminho certo a seguir – um diálogo mundial sobre o direito universal das mulheres à saúde e à liberdade reprodutiva.
Tal diálogo mundial iniciado no “Oriente” não seria único. A crescente exigência internacional pelo Estado de direito e pelos direitos humanos revelou-se recentemente, quando os legisladores afegãos tentaram – inutilmente, mas honrosamente – explicar os princípios da Constituição dos EUA aos norte-americanos ocupantes, que tinham procurado estabelecer um sistema de detenção sem o devido processo.
É saudável quando o Ocidente é convidado a viver de acordo com a sua própria auto-imagem como o bastião da razão e da liberdade humana. Enfrentar as suas próprias falhas, em forma de fanatismo ou de barbaridade, seria um bom passo para começar.
Os fumadores australianos disseram ontem adeus aos famosos logótipos e às cores atraentes nos maços de tabaco. As prateleiras perderam o aspecto de paletas e transformaram-se num monótono bloco verde azeitona: seja qual for a marca, a nova lei impõe que todos os maços devem ter a mesma cor e que sejam ilustrados com imagens e avisos chocantes. Os nomes das marcas também foram uniformizados, sendo agora impressos com o mesmo tipo e tamanho de letra.
“Constatamos que as crianças compreendem desde muito cedo a mensagem que as empresas tabaqueiras tentam vender através da gestão das suas marcas”, disse a ministra da Saúde australiana, Tanya Plibersek. Para o Governo, o objectivo da nova lei não é tanto levar os fumadores a deixarem de fumar, mas antes prevenir o aumento do número de consumidores, declarando luta às tabaqueiras no seu próprio terreno: o marketing.
Num estudo publicado em 2008, financiado pela organização australiana sem fins lucrativos Cancer Council Victoria, os investigadores concluíram que “os consumidores de maços simples foram classificados como pessoas menos ‘na moda’ e menos sociáveis do que os fumadores dos maços originais”. “Por exemplo”, prossegue o estudo, “maços castanhos com a indicação do número de cigarros e com o nome da marca impresso em letra pequena foram considerados menos atraentes e menos populares do que os maços originais”. Para além das questões relacionadas com a imagem, “os fumadores inferiram que os cigarros dos maços simples seriam menos ricos em tabaco e menos satisfatórios”.
A indústria tabaqueira tentou travar a entrada em vigor da nova lei com o argumento de que será mais fácil contrabandear as marcas, levando a um aumento do consumo. “Ao fabricarmos maços que podem ser copiados com mais facilidade, os produtos de contrafacção vindos da China ou da Indonésia vão chegar às ruas de Sydney, de Melbourne e de todo o país”, alertou Scott McIntyre, porta-voz da delegação australiana da British American Tobacco, a segunda maior produtora do mundo.
Do outro lado da barricada, as autoridades de saúde dizem não ter dúvidas quanto à eficácia da lei que entrou ontem em vigor. “Sempre que são aprovados avisos mais rígidos, constatamos que há alterações nas taxas de consumo de tabaco. Este é apenas o passo seguinte”, afirmou Becky Freeman, investigadora em saúde pública na Universidade de Sydney.
A Austrália é agora o país com a legislação mais rígida em relação à imagem dos maços de tabaco e pode abrir as portas a decisões semelhantes noutros países — os governos do Canadá, da Noruega, da Índia, da Nova Zelândia e da Turquia estão a estudar a possibilidade de seguir os passos das autoridades australianas.
Alguns leitores podem compreensivelmente não se sentir muito estimulados quanto aos prospectos da legalização, descriminalização e uso da maconha para fins médicos, mas os benefícios são maiores do que se pode imaginar a princípio. Em primeiro lugar, a crise econômica é uma grande oportunidade para fazer com que este tipo de reforma seja aprovado. Há várias dimensões econômicas atuando nesta questão. A mais óbvia de todas é que os governos estão sedentos por receitas, e a legalização da maconha pode ser uma fonte atrativa para os governos, tanto em termos de impostos indiretos quanto em termos de taxas de permissão. A legalização da maconha seria também uma fonte de empregos, embora o ganho líquido em termos de postos de trabalho e renda provavelmente seria pequeno de início. Um grande benefício seria uma redução no escopo do governo. A proibição da maconha resulta em centenas de milhares de pessoas sendo presas, bem como em um enorme desperdício das atividades do efetivo policial. Em vez de proteger os cidadãos nas ruas, a polícia é utilizada para fazer batidas e encarcerar indivíduos pelo "crime" de estar em posse de uma planta natural. Tribunais e penitenciárias ficam desnecessariamente lotados em consequência desta irracionalidade. Quando a cidade da Filadélfia tomou a decisão de que o combate à maconha teria uma baixa prioridade e que a posse seria tratada como sendo mera intoxicação (multa de US$200), a prefeitura acabou poupando US$2 milhões logo no primeiro ano.
Ver televisão diminui a esperança de vida em vários anos, concluiu um estudo australiano, cujo autor diz ao Expresso que as pessoas não têm noção dos riscos que correm.
"Couch potato". A expressão norte-americana (qualquer coisa como "batata de sofá") que é utilizada para qualificar as pessoas que passam muito tempo 'enterradas' no sofá a ver televisão é habitualmente utilizada num tom jocoso, mas a verdade é que a situação acarreta mais riscos do que aparenta.
A conclusão é de um estudo australiano - "Television viewing time and reduced life expectancy: a life table analysis" - publicado no "British Journal of Sports Medicine". A pesquisa assegura que a cada hora que uma pessoa passa sentada a ver televisão reduz a esperança de vida em 22 minutos. Isto é, quem passa uma média de seis horas por dia a ver televisão pode viver menos cinco anos, além de elevar os riscos de ter diabetes e doenças cardiovasculares.
Os dados analisados referem-se às respostas de 12 mil australianos (com mais de 25 anos) sobre o seu estilo de vida, obtidas depois de se questionar não só o sedentarismo, mas também os hábitos alimentares e o tabagismo. Mas a pergunta mais importante era aparentemente inofensiva: "quantas horas vê televisão por dia?"
"Os riscos que enunciamos vão crescendo com o tempo"
"Os resultados aplicam-se às pessoas que vêm televisão, mas, se estiverem igualmente paradas, também se podem aplicar às pessoas que estão no computador. Os comportamentos sedentários podem ser 'triviais', mas quase todos nós fazemos isso por várias horas todos os dias, por isso os riscos vão acumulando", explica ao Expresso Jacob Lennert Veerman, médico e investigador da Universidade de Queensland, um dos autores do estudo publicado na semana passada.
"Só agora é que os investigadores começaram a olhar para as consequências deste comportamento na saúde e o nosso estudo reflete os resultados que encontrámos", acrescenta Veerman, admitindo que a questão não se colocaria há 15 anos, por exemplo, porque havia muito menos pessoas a ver televisão.
"Pode ser uma das razões pelas quais estas conclusões só se põem agora - e há que ter em conta que os riscos que enunciamos vão crescendo com o tempo. Por exemplo, com a diabetes há uma deterioração gradual do sistema antes de uma pessoa ter a doença, depois sofre-se com a doença durante um longo período e após muitos anos morre-se das consequências. O que se vê, portanto, em termos de mortalidade de algumas doenças, é o resultado do efeito cumulativo de 'vícios' ao longo dos anos e até de décadas", explicou o investigador australiano, especialista em utilizar estatísticas para fazer previsões.
Fumar vs. ver televisão
Os resultados do estudo são especialmente alarmantes porque as consequências do comportamento sedentário podem não ser visíveis a curto prazo, mas afetarão um número mais alargado de indivíduos. Na Austrália, as pessoas com mais de 25 anos viram 9,8 mil milhões de horas de televisão, em 2008, de acordo com o estudo.
"Se assumirmos que fumar reduz a esperança de vida em 10 anos, de acordo com a nossa pesquisa teríamos de ver 12 horas de televisão por dia para ter consequência semelhante. Portanto, digo que fumar é pior, claro, a nível individual. Mas se olharmos para a toda a população, ver televisão pode causar mais danos porque, ainda que cada vez menos pessoas fumem, quase todas as pessoas vêm televisão."
"Não podemos evitar todos os riscos na vida, pois não?"
Jacob Lennert Veerman ressalva, no entanto, que o exercício físico regular pode "compensar", em parte, os possíveis problemas de ver demasiada televisão, até porque se o limite de duas horas por dia de televisão não for superado, os riscos são menores.
"Independentemente da idade, nunca é tarde para melhorar o nosso comportamento e reduzir drasticamente os riscos", explica Veerman. "Tenho 41 anos, vou de bicicleta para o trabalho e faço natação quatro vezes por semana. Se vejo quatro horas de televisão por semana já é muito. Mas também é verdade que passo imenso tempo no computador. Afinal, não podemos evitar todos os riscos na vida, pois não?"
Apenas 2279 calorias diárias por pessoa, ou 106 camiões de bens essenciais, bastariam para evitar a malnutrição em Gaza, concluiu o Exército israelita num estudo realizado quando o Hamas assumiu o controlo do território, em 2007, mas que só agora foi divulgado por ordem do tribunal.
As contas foram feitas ao pormenor para se saber o que era preciso para evitar situações críticas de malnutrição em Gaza durante o bloqueio israelita imposto ao território em 2007, quando o movimento xiita Hamas assumiu o poder. No relatório “Consumo de alimentos em Gaza – As linhas vermelhas”, que agora acaba de ser divulgado, fica a saber-se como foi preparado o bloqueio imposto a 1,6 milhões de palestinianos que só acabou por ser aliviado em 2010.
Para trás fica uma já longa batalha legal. O documento acabou por ser divulgado nesta quarta-feira por ordem do Supremo Tribunal israelita, que obrigou o Governo a publicá-lo após uma forte pressão do Gisha, um grupo israelita de defesa dos direitos humanos. Um porta-voz do Ministério da Defesa israelita, Guy Inbar, admitiu em declarações aos jornalistas que o documento foi elaborado e discutido, mas garantiu que “nunca foi aplicado”. Terá sido, no entanto, um estudo que ajudou a preparar o bloqueio que deixou milhares de palestinianos em Gaza sem acesso aos bens mais essenciais e que suscitou duras críticas de vários países e organizações internacionais.
O estudo tem a data de Janeiro de 2008, pouco após o Hamas ter tomado o poder, e refere que, por dia, deveriam entrar em Gaza apenas 2279 calorias por pessoa “para manter a estrutura básica de vida”, um cálculo que terá sido feito com base num modelo elaborado pelo Ministério da Saúde israelita. Segundo esses cálculos, Israel permitiria a entrada de 106 camiões em Gaza com bens essenciais, por dia. Mas, segundo o Gisha, na altura em que o documento foi elaborado só entravam em Gaza cerca de 67 camiões com alimentos ou medicamentos, muito menos do que os cerca de 400 que chegavam ao território antes do bloqueio e do que os cerca de 935 camiões que entraram em Gaza na semana passada com alimentos e materiais de construção.
“Como é que Israel pode afirmar que não é responsável pela vida dos civis em Gaza quando controla inclusivamente a quantidade de alimentos que os residentes palestinianos podem consumir”, perguntou Sari Bashi, um dos directores do Gisha. O director em Gaza da agência da ONU para os refugiados, Robert Turner, sublinhou, por outro lado, que o estudo agora divulgado “vai contra os princípios humanitários”.
No documento é feita uma lista de produtos – são proibidos os coentros mas permitida a canela, por exemplo –, e há também referências a medicamentos, equipamentos médicos ou produtos de higiene.
Os homens castrados que serviram os reis da Coreia ao longo de séculos viveram, em média, 14 a 19 anos mais do que os seus congéneres não castrados, conclui um estudo publicado ontem na revista Current Biology. Estes resultados sugerem que as hormonas masculinas encurtam a vida dos homens, concluem Kyun-Jin Min, da Universidade de Inha (Coreia do Sul), e colegas.
Em muitas espécies, as fêmeas vivem mais do que os machos e pensa-se que a responsável por esta diferença seja a hormona masculina testosterona, ao encurtar a vida dos machos. Isto pode ser devido ao seu efeito negativo sobre o sistema imunitário e ao facto de ser um factor de risco cardiovascular. Para mais, sabe-se que a castração prolonga a vida dos machos de muitas espécies animais. Porém, nos seres humanos, os estudos da relação entre longevidade e reprodução masculinas não têm sido conclusivos.
Uma maneira de abordar a questão tem sido justamente através dos efeitos a longo prazo da castração masculina. Um estudo realizado na década de 1990, por exemplo, mostrou que a castração permitira prolongar em 14 anos a vida de doentes internados num hospital psiquiátrico quando comparados com os doentes não castrados. Mas, como salientam os autores no artigo agora publicado, o estudo dos castrati - os cantores líricos castrados da Itália dos séculos XVII e XVIII, tais como o célebre Farinelli - não permitiu revelar diferenças significativas de longevidade entre eles e os cantores não castrados.
Os cientistas sul-coreanos viraram-se desta vez para os registos genealógicos da corte imperial coreana durante a dinastia Chosun, de 1392 a 1910. "A manutenção dos registos genealógicos era importante", escrevem, "porque atestavam da pertença à nobreza." E os eunucos da corte - que devido a uma mutilação acidental ou deliberada tinham perdido os testículos (e por vezes também o pénis) e se tinham tornado altos funcionários ao serviço dos monarcas - podiam casar-se e adoptar "rapazes eunucos ou raparigas normais". Tinham portanto uma linhagem apesar da sua infertilidade e também eles mantinham metódicos registos genealógicos. Que se encontram reunidos num documento, o Yang-Se-Gye-Bo. "Tanto quanto sabemos", escrevem os cientistas na Current Biology, "este é o único repositório no mundo de histórias de famílias de eunucos."
Cruzando estes dados com outros documentos oficiais, que registavam o dia-a-dia no palácio imperial, Kyun-Jin Min e a sua equipa conseguiram confirmar a idade, na altura da morte, de 81 dos 385 eunucos que constam do Yang-Se-Gye-Bo ao longo de cerca de cinco séculos de história. E puderam assim concluir que a longevidade média desses eunucos foi de 68 a 72 anos. Ou seja, ultrapassou em 14 a 19 anos a longevidade "de homens não castrados de status socioeconómico semelhante".
O contraste entre a longevidade dos eunucos e a dos homens não castrados é ainda reforçado pelo facto de três desses eunucos terem chegado a centenários - atingindo, respectivamente, os 100, 101 e 109 anos. Ora, salientam ainda os autores, visto que, actualmente, a proporção de centenários é de um em 3500 no Japão e de um em 4400 nos EUA, isso significa que essa proporção, nesse grupo de eunucos coreanos que viveram há séculos, era 130 vezes maior do que é hoje em dois dos países mais desenvolvidos do mundo!
Mas, perguntam os autores, será mesmo a ausência de testosterona a responsável pela longevidade dos eunucos? Não será antes o seu estilo de vida pacato e protegido? Não é muito provável, respondem. Por um lado, a maioria dos eunucos vivia fora do palácio e só lá entrava quando estava de serviço. E por outro, a longevidade da família real - que, essa sim, passava a vida fechada naqueles muros - revelou ser muito menor: os reis viviam em média 44 a 50 anos e os membros masculinos da família real 42 a 48 anos...
Resultados deste tipo poderão permitir perceber melhor o envelhecimento humano, dizem os autores. Mas entretanto, acrescentam em comunicado, os homens não devem esquecer que, "para ter uma vida longa e saudável, convém evitar o stress e aprender o que podem junto das mulheres."
Neste Agosto madrileno, quente e de ruas vazias, com os vizinhos na praia e os meus filhos no Alentejo, os dias passam lentos, como que desocupados, mesmo que às oito da manhã tenha já o cu sentado na secretária em frente ao monitor . Acontecem os dias de Agosto com os seus Jogos Olímpicos, a crise do euros e da dívida, da Síria, com mortos na televisão por tiroteios de loucos desfasados e com esse eterno incêndio que nunca se apaga e que cada ano vai incinerando o nosso futuro. Estamos adormecidos em Agosto, os que trabalhamos com a rotina dos autocarros e dos e-mails, os que estão de férias com os pés soltos, livres de saltos e das correrias dos pequenos almoços e dos colégios que fecham antes que o trabalho. E há quem se aproveite desta sonolência: especuladores, amantes, programadores de televisão e políticos. E há um político espanhol que tem a convicção que o verão nos aparvalha: chama-se Alberto Ruiz Gallardón e é o Ministro de Justiça.
Enquanto foi Presidente da Câmara de Madrid a ninguém lhe importou que endividasse a capital até níveis pornográficos, nem que substituísse as árvores das alamedas e da praças pelo granito frio, nem muito menos que fosse um ultra-católico com antepassados membros do regime franquista (às vezes a sonolência não é só questão estival, trata-se só da ausência de consciência civil). Gallardón sentou-se na sua cadeira do seu ministério e de ali começou a sua Cruzada pessoal nesta Espanha endividada, arruinada, entristecida e sem mais futuro que o resgate: modificar a lei do aborto. Os fetos têm direitos. Direito a não serem abortados, mesmo que venham com graves mal-formações, porque os mal-formados também devem nascer, independentemente que durem 2 horas ou 2 décadas em condições lamentáveis, agarrados a uma máquina ou ao destino de uma mãe que não teve direito a decidir uma vida digna, não para ela, mas para o filho que lhe mal-crescia no ventre. Este senhor diz-se católico e agora (talvez inspirado pela cabronice congénita de uns gajos que, sem ter sexo, nem filhos nem casa ou mulher que amar, tentam ordenar sobre a vida dos outros) programa legislar sobre o mais íntimo, sagrado e pessoal que poderá nunca ter uma mulher, a maternidade. Em Espanha, se este homem tão pouco cristão conseguir concretizar os seu sonho, a livre vontade da mulher ficará anulada e crianças, e toda a sua família, estarão condenadas a mal viver, porque assim é a lei de Deus, ou do raio que o parta. Nem os critérios dos médicos seriam válidos se esta lei se materializa. Imagino que daqui a pouco tempo saberemos que nem a violação será uma justificação para abortar. Se numa democracia nunca aceitaríamos que um muçulmano fundamentalista nos impusesse as suas convicções religiosas, porquê deveremos aceitar que um ultra-católico legisle segundo a sua moral? São mais válidas as teorias católicas sobre a sexualidade e a natalidade que a dos muçulmanos só porque estamos mais habituados? E afinal quem tem que se adaptar a quem? O conjunto da sociedade democrática aos parâmetros da Curia Católica ou ao contrário? Que alguém queira ser do clube dos padres é obrigatório? Aliás, é obrigatório abortar? Não. Aborta quem quer. Nem sequer se trata de um assunto religioso.
Trata-se de uma decisão íntima, pessoal, livre e, em última instância, da mulher. Assim são as nossas regras, as dos democratas, as dos cidadãos livres. Não será um padreco com aspirações a um lugar no santoral quem decida por mim, pelo futuro da minha família, dos meus filhos. Este é o PP que nos governa em Espanha, um partido que me acha inferior ao homem e portanto incapaz de tomar decisões conscientes e que necessitaria sempre a tutela superior. Acaso estes homens nunca desistirão de tentar controlar o destino das mulheres, a minha vida, o meu direito a decidir quando quero ter um filho e em quais condições? Proibir o aborto é obrigar a ter um filho que não se quer ou não se pode ter. E não me venham com sermões sobre mulheres que abortaram e se arrependeram, casos de deficientes bem sucedidos e histórias de lagriminha fácil para a TVI. Não, minha gente, não. O aborto é um tema demasiado sério para demagogias bacocas e cantorias de grupos de catequistas. Aqui não.
Já se sabia que o consumo de café pode ajudar a prevenir a doença de Parkinson, por possuir cafeína que estimula o sistema motor. Mas sabe-se agora que beber uma ou duas chávenas de café por dia pode também ajudar no tratamento destes doentes, aliviando os sintomas motores associados à patologia.
O café funciona como estimulante nas pessoas que não têm a doença, mas parece ter um efeito oposto nos doentes com Parkinson: por um lado, tem efeitos mínimos na diminuição da sonolência diurna, e por outro lado ajuda a recuperar os movimentos e a aliviar os tremores.
Esta é a principal conclusão de um estudo realizado na Universidade McGill, de Montreal, no Canadá, publicado anteontem na revista Neurology. Os investigadores analisaram os efeitos do consumo de café em 61 pacientes. A amostra foi dividida em dois grupos: um deles tomou comprimidos de cafeína durante seis semanas – um por dia (equivalente a uma chávena de café) nas primeiras três semanas e dois por dia nas restantes; o outro tomou um placebo durante o mesmo período.
No primeiro grupo, a cafeína teve apenas efeitos marginais sobre a sonolência e não teve qualquer impacto nos sintomas de depressão e na qualidade do sono nocturno dos pacientes. Além disso, “as pessoas que tomaram os suplementos de cafeína apresentaram uma melhoria nos seus sintomas motores, ao contrário dos que receberam o placebo”, afirma o principal autor do estudo, Ronald Postuma, numa nota de imprensa.
Segundo os resultados da pesquisa, os problemas motores associados à doença são causados pela falta de dopamina (responsável pelos movimentos como andar, falar, vestir), resultado da destruição das células que produzem esta molécula no cérebro. Geralmente, a produção de dopamina é inibida pelos receptores de adenosina. Ao bloquear estes receptores, a cafeína permite a produção de dopamina e pode, por isso, ser uma forma - mais barata - de tratamento da doença.
Ressalvando que são necessários mais estudos para esclarecer os benefícios da cafeína, Ronald Postuma considera que este estimulante natural, presente no café e no chá tão apreciados um pouco por todo o mundo, deve ser explorado como uma opção de tratamento para a doença de Parkinson. “Pode ser útil como suplemento à medicação e pode assim ajudar a diminuir as doses dadas aos pacientes”, afirma.