A democracia mais não é do que uma forma de eleger os nossos representantes. Para assegurar um normal funcionamento das instituições é necessário ir além da mera soberania popular, é essencial que haja Lei, separação de poderes, e uma sociedade civil suficientemente forte que permita aos cidadãos respirar sem o constante jugo do Estado e dos impostos a limitarem as suas ambições e autonomia. Na Europa, conhecemos diversos sistemas políticos, diversas formas de confirmar a democracia e de a operacionalizar.
Um voto em Portugal, em França, ou no Reino Unido, tem pesos distintos. Portugal segue o método de Hondt que facilita a formação de maiorias. No Reino Unido as votações são binárias, de tudo ou nada, com deputados eleitos em círculos uninominais. Em França o Presidente efectivamente manda, não podendo dar-se ao luxo de estar calado. Há quem tenha Rainhas.
Em Itália, o Parlamento tem duas câmaras cujos representantes são eleitos segundo um método proporcional que conduz a uma maior fragmentação do Poder. Os italianos sempre valorizaram a formação de coligações e gostam de um sistema que força os partidos a entenderem-se. A politica italiana tem o seu lado pop, inaugurou, ‘avant la lêtre’, o estilo voyeur do ‘reality show’.
A politica italiana é fértil em figuras bizarras: recordo Negri, que usou a imunidade parlamentar para sair da prisão e fugir para França; Cicciolina, que deu nova significação à expressão “deputada”; ou recentemente, Berlusconi, o politico da geração Viagra. Visto do exterior, parece que para os lados de Itália a politica anda confusa. De uma forma ou outra, os italianos sempre se entenderam.
É que, apesar das deficiências e problemas, em Itália impera a Lei e a separação de poderes – até os presidentes de empresas poderosas vão presos, como aconteceu faz dias com o CEO da Finmeccanica, Giuseppe Orsi – e a sociedade civil é suficientemente forte para seguir calmamente o seu caminho, apesar dos devaneios do poder politico.
O grande vencedor das eleições italianas é frequentemente qualificado de populista. Mas, na Europa, essa categoria política um tanto vaga abrange perfis bastante diferentes, recorda o historiador belga Marnix Beyen.
A vitória esmagadora de Beppe Grillo em Itália reacendeu o debate sobre o conceito controverso de "populismo". No Morgen, o cronista Bert Wagendorp referiu que, "ao contrário de populistas como Bart De Wever [Bélgica], Geerts Wilders [Holanda] e Berlusconi", Grillo não é oriundo dos partidos políticos existentes. Por outras palavras: como verdadeiro outsider, Grillo não parece fazer parte da grande família populista. Ao dizer isto, Wagendorp esqueceu-se da importância da ideologia na definição do populismo. No entanto, segundo uma definição ideológica deste tipo, Grillo é quase o protótipo do populista: alguém que apresenta a classe política como sendo o inimigo do povo "verdadeiro".
Algumas formas de populismo são fascistas
Pela mesma razão ideológica, Grillo não pode ser simplesmente definido como populista. Com efeito, o populismo é um fenómeno particularmente polimorfo, que pode partir de interpretações muito diferentes do que é o "povo". Em teoria, é possível distinguir duas posições extremas. Por um lado, pode apresentar-se "o povo" como uma unidade metafísica e moral que continua a ser dotada das mesmas características ao longo dos séculos. Esse povo deve ser protegido contra os inimigos do estrangeiro e das influências estrangeiras e pode absolutamente ser incarnado por um líder carismático.
No outro extremo deste leque político, situa-se a abordagem segundo a qual o povo é apresentado como a soma de milhões de cidadãos livres, com aspirações e projetos próprios, que não devem ser travados por regras e leis supérfluas. O populismo integralmente associado à primeira interpretação étnica do conceito de "povo" pode ser designado como fascista. Se assentar na segunda abordagem, trata-se mais precisamente de populismo libertário.
A imagem ideal do povo finlandês
Praticamente todos os movimentos populistas atuais combinam aspetos das duas variantes, mas em doses muito diferentes. A partir do nome do seu partido, poderá deduzir-se que os Verdadeiros Finlandeses, de Timo Soini, se encontram mais profundamente próximos da primeira variante. De facto, este partido político assenta na imagem ideal do povo finlandês, que deve ser protegido de influências estrangeiras como o casamento de homossexuais, a língua sueca e a imigração norte-africana. A mobilização que este partido realiza em torno destes ideais e as medidas concretas que propõe são, no entanto, demasiado moderadas para lhe valerem o rótulo de "fascista".
Pela sua parte, Geert Wilders sublinhou muito mais claramente a faceta libertária do populismo no nome do seu partido, o Partido para a Liberdade. A atitude positiva desse partido em relação à homossexualidade como fazendo parte de uma herança esclarecida corresponde a isso. Contudo, o conceito de "a nossa Holanda" é de facto representado como uma unidade mística, que deve simultaneamente obstruir "a Bruxelas deles" e a "ascensão do Islão".
O partido húngaro Fidesz sofre igualmente de uma ambiguidade deste tipo. Apesar de, inicialmente, ser a abreviatura de Jovens Democratas Livres, agora o nome tem só a ver com o termo latino para fidelidade [fides]. Os ciganos húngaros, entre outros, vivem todos os dias a experiência do resultado dessa fidelidade aos "verdadeiros" valores húngaros.
A favor da “democracia eletrónica”
O Movimento 5 Estrelas de Grillo corresponde muito mais ao pool libertário do leque populista do que os movimentos anteriormente mencionados. É verdade que o seu blogue e os seus discursos estão cheios de referências à Itália eterna, que finalmente está prestes a ser ressuscitada, mas, ao mesmo tempo, Grillo mostra-se alérgico a excessos hipernacionalistas como os de Timo Soini e Viktor Orbán. É verdade que Grillo advoga a necessidade de travar a imigração, mas não baseia essa tomada de posição na fobia ao Islão nem no medo da perda dos valores italianos. A sua defesa da "democracia eletrónica" diz muito a seu respeito. [Considera que], em vez de irem atrás de líderes e de símbolos, os italianos devem fazer ouvir massivamente a sua voz através da Internet.
Esta classificação coloca também a seguinte questão: onde situar Bart De Wever neste leque? Claro que de Wever é o herdeiro de uma tradição que venerava a variante étnica do nacionalismo. Por enquanto, De Wever ainda não cola bandeirinhas com o leão flamengo nas placas [com os nomes] das ruas da sua própria cidade [Antuérpia], mas deixa claro que quer refundir a sua população para chegar a uma comunidade mais ou menos homogénea, com fronteiras externas sólidas.
Graças à história comunitária, De Wever não é obrigado a apresentar-se como populista. Pode definir-se como executante de um processo de formação de Estado inacabado, em vez de como porta-voz do povo contra uma classe política corrompida.
O resultado das eleições italianas recordam-nos que não devemos confundir a realidade com os nossos desejos. Particularmente quando se é jornalista. Temos pois de volta Berlusconi e a (previsível) instabilidade governativa. É mau? É péssimo. Como dizia há dias um amigo meu, enquanto tiver um tipo daqueles como seu líder (e nem estou a pensar na sua atribulada vida privada) a direita italiana terá um sério problema de credibilidade. Da esquerda e do seus Grillos pouco ou nada se espera.
Miguel Noronha
Nas próximas eleições italianas os jornalistas portugueses faziam uma declaração de voto ou melhor dizendo de não voto na qual explicariam porque acham que os italianos devem erradicar Berlusconi da cena política etc etc… e depois assim desobrigados faziam notícias. Porque não é possível continuarmos a ter alegadas reportagens sobre as eleições italianas em que só se entrevistam, vêem e avistam pessoas que pensam como os jornalistas. Digamos que isto é tão bizarro quanto nas últimas presidenciais da Venezuela só se terem feito notícias sobre o candidato Capriles ignorando o Chavez ou vicer-versa.
Helena Matos
Deve ser extremamente doloroso para a Comunicação Social Portuguesa que Berlusconi, um empresário corrupto com ares de chulo, ofereça melhores soluções para a crise que a esquerda italiana, o fantoche Monti e a classe política portuguesa somada. Como sugeriu o outro: “meta manteiga”. Ricardo Lima Apesar dos sentimentos da comunicação social portuguesa, a política italiana vai continuar a depender de Berlusconi, de quem os italianos – essa gente ignara e analfabeta – parece não querer ainda prescindir. A divisão de votos entre a esquerda de Bersani e a direita de Berlusconi irá, por sua vez, lançar a Itália na “ingovernabilidade”, condição quase natural do país, à qual todos já se habituaram sem grande prejuízo. Quanto a Monti, o asséptico Monti, o desejado Monti, o virtuoso Monti, o Monti com que a basbaquice nacional sonhou durante meses, irá esfumar-se no ar com uns míseros 7% a 9%. Uma interessante lição a reter. Rui A.
Um país ingovernável, um país de gente de esquerda e de direita e de gente apenas desesperada por alguém em quem acreditar, um país de políticos insonsos e pouco corajosos e de partidos fantasma, como o Povo da Liberdade, de Silvio Berlusconi, ou agarrados ao passado e incapazes de seguir em frente, como o Partido Democrático, de Pier Luigi Bersani. O país com os políticos mais velhos da Europa e os partidos mais novos, embrulhos diferentes para receitas já experimentadas e decrépitas.
Bersani julgava que tinha chegado o seu momento de governar a Itália sem ter querido perceber que o seu momento já passou. Nas primárias do Partido Democrático, em Novembro, foi obrigado a disputar uma segunda volta com Matteo Renzi, o presidente da câmara de Florença, com 37 anos e uma proposta de renovação e abertura para a esquerda. Renzi sabe que o mundo mudou e prometia liderar uma nova geração pronta a enterrar a classe de dirigentes saída da tradição comunista e da democracia-cristã. Renzi sabe que o mundo mudou mas o aparelho do PD preferiu Bersani, preferiu-se a si mesmo.
Matteo, um controlador aéreo reformado de 67 anos, votou Beppe Grillo mas teria votado Renzi, disse-nos em Roma, na segunda-feira. Antes das festas “bunga-bunga” acreditava nas promessas impossíveis de Berlusconi e dava-lhe o seu voto; agora já não o conseguiu fazer. Federico, jovem milanês, votou Nichi Vendola (Esquerda, Ecologia e Liberdade) mas teria votado Renzi. Aos 28 anos, a “falta de alternativas” ainda não lhe permitiu ter “um voto muito convicto”, admite.
Bersani ainda poderá ser o próximo primeiro-ministro de Itália mas é o grande derrotado político destas eleições. Escolheu a velha receita, a aliança à esquerda com Vendola na perspectiva de alargar a coligação à direita, ao centro católico de Mario Monti, caso fosse preciso, depois de contados os votos. Perdeu em toda a linha. Ganhou a Câmara dos Deputados, por poucos votos, e ficou numa situação em que nem Monti lhe vale no Senado.
Renzi queria um PD aberto à sociedade, empenhado em recuperar os desiludidos de centro e de esquerda e em conquistar os de direita. Queria aproveitar a crise e fazer dela um trampolim para a mudança profunda por que tantos italianos suspiram. O PD não entendeu dar-lhe essa oportunidade, acreditando que podia conquistar a Itália sem a encantar, sem a convencer. Só porque é menos mau do que Berlusconi, porque apoiou a austeridade de Monti em nome da estabilidade, dos mercados e do interesse do país, porque não fascina mas também não envergonha italianos nem europeus.
Monti é o outro derrotado destas eleições. Se não podia continuar a ser primeiro-ministro queria ser “fazedor de reis”, contribuir para instaurar uma nova forma de fazer política, dizia. Ajudar a lançar a Itália pós-Berlusconi.
Afinal, vimo-lo na campanha, tão pouco diferente de todos os outros, perdido entre anúncios, polémicas, promessas e contradições. Num dia, disse que desejava ver uma mulher na presidência da República. No dia seguinte, afirmou que apoiava um segundo mandato de Giorgio Napolitano. A seguir, sugeriu que Berlim e Bruxelas não queriam o PD no governo – ele que, tudo indica, já negociara uma aliança pós-eleitoral com o PD.
Berlusconi é um dos vencedores destas eleições. Vingou a forma humilhante como foi obrigado a deixar o poder, em Novembro de 2011, para apoiar Monti e o seu governo de “emergência nacional”. Mostrou que a direita está viva, é certo, mas até ele saberá que, desta vez, a maioria dos que lhe deram o seu voto estão cansados do seu espectáculo e gostavam de lhe poder dizer “vai para casa, acabou a brincadeira”.
Os italianos que votaram uma vez mais em Berlusconi fizeram-no porque são de direita e era ele o candidato, porque ainda temem os comunistas, porque não entendem Grillo ou apenas porque ele repetiu todos os dias a palavra impostos. E 2012 foi o ano em que os impostos doeram no bolso dos italianos. E o dinheiro deixou de circular, e as pessoas deixaram de consumir e o desemprego não parou de crescer. Impostos, impostos, impostos, repetiu Berlusconi.
Impostos, teria provavelmente repetido Matteo Renzi. “Na luta contra a evasão fiscal temos sido duros com os fracos e fracos com os fortes”, dissera o candidato derrotado por Bersani na liderança do PD.
Com excepção de Grillo e do seu Movimento 5 Estrelas, partido mais votado na Câmara dos Deputados, incontornável a partir de agora, a Itália que se apresentou a votos é uma Itália velha que os italianos conhecem demasiado bem. A Itália onde a direita aproveita a maioria absoluta para aprovar uma lei eleitoral destinada a não permitir que mais ninguém consiga governar o país. A Itália onde o centro-esquerda consegue estar duas vezes no poder depois da erupção de Berlusconi sem legislar contra os conflitos de interesses na política.
É por tudo isto que a votação de Grillo e do seu movimento de cidadãos moldado online e animado em comícios de praças a abarrotar não deve surpreender. A responsabilidade do sucesso do 5 Estrelas é de todos os que governaram a Itália nos últimos 20 anos, de Berlusconi (primeiro-ministro em metade deste tempo) a Bersani (ministro durante oito anos em governos do centro-esquerda), passando por Monti, pelo seu aliado Pierferdinando Casini (líder dos cristãos-democratas) ou pela Liga Norte, com os seus escândalos de corrupção e discursos baforentos e xenófobos.
Grillo limitou-se a ver o que todos os outros quiseram ignorar. Viu que os italianos estão impacientes por mudança, por respirar um ar mais limpo, viu que a Itália já mudou sem que os partidos e os políticos se tenham apercebido disso ou apenas sem o quererem aceitar. Viu que a crise transformou a Europa e que pede receitas diferentes, novas formas de fazer política, de comunicar, de pôr as pessoas a pensar no que as rodeia e a procurar novos caminhos.
A Itália é ingovernável apenas porque aqueles que a governaram assim o quiseram. Haverá quem se sinta tentado a culpar os eleitores. Mas a culpa é mesmo dos eleitos.
O vencedor das eleições de domingo e segunda-feira em Itália é Beppe Grillo, o comediante que fundou o Movimento 5 Estrelas, no fim de 2009. Isoladamente, foi o partido mais votado na Câmara dos Deputados, com 25,5%, e foi o seu resultado no Senado que impediu a obtenção de qualquer maioria. A lei eleitoral italiana ajudou.
As duas câmaras do Parlamento italiano têm poderes semelhantes e qualquer governo precisa da aprovação de ambas para entrar em funções.
Coligado com o Esquerda, Ecologia e Liberdade e com outras pequenas formações, o centro-esquerda do Partido Democrático de Pier Luigi Bersani emerge como vencedor na câmara baixa, somando 29,5% dos votos, à frente da direita do Povo da Liberdade, de Silvio Berlusconi, e da Liga Norte, que juntos obtêm 29,1% na Câmara dos Deputados.
A lei eleitoral prevê prémios de maioria. Na Câmara dos Deputados uma diferença de um voto chega para o partido ou bloco mais votado ocupar 55% dos lugares, com 340 parlamentares. No Senado, esse prémio de maioria, os mesmos 55%, é atribuído região a região. E aqui, em vez de contribuir para produzir um vencedor, teve o efeito de impedir que qualquer bloco chegasse à maioria absoluta.
O bloco de Bersani elege 113 senadores, menos do que os 115 obtidos pelo centro-direita. Segue-se o 5 Estrelas, cujos eleitos ocuparão 58 das 315 cadeiras do Senado. Muito atrás, com 18 senadores, surge a Escolha Cívica, grupo de partidos de centro que apoiaram a candidatura do ex-comissário europeu Mario Monti à presidência do governo.
Monti, o actual primeiro-ministro, símbolo das políticas de austeridade que aceitou pôr em prática sem ser eleito, é o grande derrotado (apenas 10,5% para a câmara baixa e 9,1% no Senado).
A maioria absoluta no Senado consegue-se com 158 senadores. Contas feitas, nem o PD aliado a Monti nem o PdL coligado com o homem que liderou o executivo técnico dos últimos 14 meses chegam para a obter.
Na prática, só há três soluções possíveis e todas são improváveis: ou o PD e o PdL se aliam e formam um governo de grande coligação ou os eleitos de Grillo se juntam a um dos dois grandes blocos tradicionais para assegurar a estabilidade de um futuro executivo.
“Sem Grillo será impossível governar”, escreve o diário Corriere della Sera. “Connosco não há inciucio”, responde Grillo, usando a expressão que nasce numa onomatopeia e saiu do dialecto napolitano para passar a referir, em Itália, um acordo entre adversários com o fim único de dividir o poder.
“Vão fazer uma grande coligação e conseguirão sobreviver por alguns meses. Estão falidos”, sentenciou o comediante profissional, que promete “mandar os políticos para casa”, pôr “a honestidade na moda” e mudar o país com uma “revolução cultural”.
Os comentadores sentenciam que os italianos terão de voltar a votar, nem que seja só para eleger o Senado (nunca aconteceu, mas está previsto na Constituição), nem que seja só depois destes eleitos aprovarem uma nova lei eleitoral – a actual, da autoria da Liga Norte (quando esteve no governo com Berlusconi, entre 2001 e 2006), ainda não foi mudada porque os partidos nunca se conseguiram pôr de acordo sobre uma nova.
Cabe ao Presidente da República, Giorgio Napolitano, ouvir os líderes e depois nomear um deles para que tente formar governo.
O PD já disse que assume essa responsabilidade, enquanto vencedor na Câmara dos Deputados. “Vamos gerir os resultados no interesse da Itália”, prometeu Bersani, numa intervenção iniciada já no início da madrugada de terça-feira. “O centro-esquerda venceu a Câmara e por número de votos também venceu o Senado. É evidente para todos que esta é uma situação delicadíssima para o país.”
O PdL, de Berlusconi, diz que é uma loucura mandar os italianos de novo para as urnas. Berlusconi, adivinha-se, vai dizer-se disposto a dar lugar a Angelino Alfano, secretário-geral do partido que fundou, numas eventuais negociações, garantindo assim que não será a sua presença numa coligação a impedir qualquer acordo. “Uma grande coligação? Estamos disponíveis”, disse Alfano. Talvez isso chegue, talvez não. Público
A poucos dias das eleições de 24 e 25 de fevereiro, a comunicação social italiana ignora o êxito do movimento fundado pelo ex-humorista, populista assumido. Porém, a acreditar nas sondagens, Beppe Grillo e Silvio Berlusconi podem fazer nascer uma inédita coligação eurofóbica.
Entrevistado há uns dias numa emissão de televisão muito apreciada, Mario Monti, o chefe de Governo demissionário, reconheceu que não sabe utilizar o Twitter, que não sabe o que são As Cinquenta Sombras de Grey, evita cuidadosamente dar a sua opinião sobre os PACs e aflora o Festival da Canção de São Remo.
Na mesma altura, Beppe Grillo, antigo humorista e fundador do Movimento 5 Estrelas (M5S) falava à multidão em Marghera, perto de Veneza. À sua frente, pessoas normais enumeravam os problemas e as angústias da vida de todos os dias. O trabalho, as creches, a maternidade, as dificuldades dos patrões das PME. Enfiados nos seus casacos, ali estavam ao frio, montes de gente, à tardinha, depois de almoço, a ouvir Beppe Grillo e a tomar o lugar uns dos outros em cima do estrado.
Porém, no dia seguinte, nem La Repubblica nem o Corriere della Seradedicaram uma linha que fosse a Beppe Grillo. Como se não existisse. Mas a reação será brutal. [Os dois diários com maior tiragem em Itália a dedicaram depois uns artigos à subida do candidato nas sondagens.]
Passa-se qualquer coisa em Itália. Este Movimento é benéfico ou nefasto? Podemos discutir isso. Mas trata-se de um fenómeno de primeiro plano. O Movimento 5 Estrelas recolhe 17% nas sondagens, um número que muito poucos partidos foram capazes de ultrapassar em Itália.
"Vamos abrir o parlamento como abrimos uma lata de atum", proclama ele. E a multidão inflama-se. "Acabou a época da representação, já não acreditamos mais. Vamos arruinar a banca. E se não for hoje, será para o ano. Mas é apenas uma questão de tempo. E, aliás, bem o podíamos fazer já hoje." Beppe Grillo não para. "Populistas? Sim, digam-lhes que somos populistas" e a multidão marca o ritmo em voz alta: "Po-pu-lis-tas!"
Tratado como um pequeno ditador
O "Tsunami Tour" faz lembrar uma política à antiga, mas também aquela que foi adotada por um certo Barack Obama – que sabe utilizar o Twitter (e de que maneira!!!) e que certamente conhece As Cinquenta Sombras de Grey, se é que ainda não o leu. Porque é evidente que, se uma pessoa não vier à rua, não existe, não é credível.
Nas suas reuniões, Beppe Grillo fala muitas vezes das equipas de televisão estrangeiras que o acompanham. De todo o mundo. Dinamarquesas ou canadianas. Porque o jornalismo não se resume a análises e a interpretações, também conta uma história e faz um relato. Se um estrangeiro abrir La Repubblica ou o Corriere della Sera não vai perceber nada do que se passou nesta campanha eleitoral. Será incapaz de ficar com uma ideia sobre o estado de espírito dos italianos e sobre as duas perguntas que atormentam o país: quem vai votar no Movimento 5 Estrelas e quem fica a tremer só de pensar nisso?
A comunicação social dita "de referência" trata Beppe Grillo como se este fosse um pequeno ditador. Só se fala no Movimento 5 Estrelas quando alguém se rebela contra o chefe de fila ou quando há qualquer coisa para dizer sobre o "guru" Gianroberto Casaleggio, cofundador do Movimento de Beppe Grillo. Como se toda esta gente, todos estes italianos que enfrentam o frio para se concentrarem na rua um dia por semana fossem cidadãos de segunda categoria, lobotomizados. Temos o direito de perguntar como é que um humorista consegue ter um êxito destes. Chega a ser um dever de informação. Seja o que for, não se pode ignorar.
Um lugar no governo?
Quanto ao resto, basta passar os olhos pelas sondagens. Publicado dia 6 de fevereiro, o último inquérito do instituto de sondagens SWG (Studi e Proiezioni Elettorali) sobre as eleições para o Senado dá à coligação de centro-esquerda 34,4% (o Partido Democrata fica nos 29,6%) e à coligação de Monti, 11,5%. Teoricamente, Monti e os seus apoiantes podem mesmo não ultrapassar a barreira dos 10%. O centro-esquerda e Monti não ultrapassam portanto a barreira dos 45%.
Os mesmos números são obtidos se juntarmos os 28,7% do centro-direita (o Povo da Liberdade fica nos 19%) e os 17,5% de Beppe Grillo (que recolhe 18% dos votos na Câmara dos Deputados). Se só olharmos para os números, o duo Berlusconi-Grillo (46,2%), por muito hipotético e dificilmente imaginável que seja, concentra hoje mais intenções de voto no país do que a dupla Bersani-Monti (45,8%), a única de que os jornais falam.
Dito de outra forma, para se compreenderem bem as coisas, no caso muito pouco provável de Beppe Grillo e Silvio Berlusconi forjarem uma aliança, será difícil ao chefe de Estado não oferecer a um destes dois homens a responsabilidade de formar governo.
Uma Itália dividida ao meio
Números inquietantes? Cenários fantasistas? A verdade é que estes números são reais. E mais do que os números, há os cérebros, os corações, as pessoas, as famílias. Há duas Itálias. Uma que podemos resumidamente considerar europeia, ou seja, responsável, credível, mas que vacila e se perde em questiúnculas e debates inúteis, e uma outra difícil de identificar porque Beppe Grillo e Silvio Berlusconi são diferentes, mesmo tendo alguns pontos em comum.
Os italianos que tencionam votar em Bersani ou em Monti são em mesmo número que os que tencionam votar em Beppe Grillo ou em Berlusconi. E estamos a dezassete dias das eleições! É esta a realidade dos factos. Vejamos melhor. Há qualquer coisa que se passa em Itália. Uma coisa grave. Intensa. E que nada tem que ver com o cãozito de Mario Monti. Previnam as estrelas do Twitter. E até mesmo os dirigentes políticos, que ainda podem restabelecer a vantagem.
Fundado em 1472, o banco Monte dei Paschi contribuiu para elevar Siena à vanguarda em termos de qualidade de vida e governação. Mas o escândalo político e económico que eclodiu em torno do “MPS” pode marcar o fim de um sistema e de uma época.
“Siena está rubra, mas de vergonha”: comenta um observador atento dos assuntos de Siena, durante uma pausa para café, sobre as mais recentes revelações sobre as enormes perdas do banco. Há que dizer que há quase 700 anos que os habitantes de Siena têm diante dos olhos a melhor representação do estado de espírito da sua cidade. A Alegoria dos Efeitos da Boa e Má Governação, o conjunto de frescos de Ambrogio Lorenzetti [que adorna o Palazzo Pubblico, hoje sede da Câmara Municipal], mostra a cidade em ruínas e os campos abandonados, quando deixados nas mãos da “má governação”.
Roberto Barzanti, figura respeitada da esquerda local, grande presidente da Câmara do Partido Comunista (PCI) na altura em que o Monte dei Paschi comemorou o 500º aniversário da sua fundação, atribui os males de hoje ao “espírito supersticioso de Siena”, responsável pelo abraço ininterrupto entre responsáveis do banco e da vida política local.
“A transformação, em 1995, da antiga instituição de direito público numa sociedade por ações teve aqui repercussões mais perturbadoras do que em qualquer outro lugar”, afirma o ex-deputado europeu. “Os habitantes de Siena tiveram muita dificuldade em compreender a diferença entre as atividades filantrópicas do 'Monte' e as do banco propriamente dito, que deveriam concretizar-se, as primeiras como fundação e as outras como banco cotado na Bolsa. Quando esse passo foi finalmente dado, as coisas realmente mudaram, mas foi feito de tudo para que realmente nada mudasse.”
Vaca leiteira
Daí nasceu aquele “emaranhado harmonioso”, que mantinha a velha Democracia Cristã e o antigo Partido Comunista, a Igreja e a Maçonaria, sindicalistas e banqueiros. As nomeações para o banco eram decididas em reuniões dos partidos, as do município no banco – nos últimos 25 anos, todos os presidentes de Câmara de Siena começaram as suas carreiras no Monte dei Paschi, à exceção do último, Franco Ceccuzzi, que permaneceu no cargo pouco mais de um ano e foi também ele oprimido pela crise do “Monte”. O “Pai Monte”, como é chamado. Ou a “vaca leiteira”, segundo as más-línguas, no sentido de que todos os que por lá passaram não se coibiram de a ordenhar.
E pode-se dizer que havia leite em abundância, e para todos: de 1995 a 2010, a Fundação distribuiu, só por si, “no território” quase €2 mil milhões. Estradas, recuperação de património, clubes desportivos e associações de voluntários, seguindo uma distribuição rígida que fez com que ninguém, independentemente da sua cor política, se pudesse queixar com razão.
Sistema feito em pedaços
Há um ano, o jogo acabou, quando a Fundação descobriu que estava à beira do abismo. A partir daí, tudo se precipitou. O Partido Democrata [herdeiro do PCI] local perdeu força quando uma parte (a do partido da Margarida) se recusou a dar um voto de confiança ao presidente da Câmara, Franco Ceccuzzi, aquando da apresentação do orçamento, por discordar da distribuição dos subsídios atribuídos pela Fundação.
Enquanto o mundo político local se vê dilacerado perante os destroços do “sistema de Siena”, hoje feito em pedaços, a sociedade civil vê incerto o seu futuro. A austeridade imposta pelas contas no vermelho levou, nos últimos dias, a cortes drásticos em financiamentos e patrocínios. O primeiro a sofrer cortes foi o clube de futebol, o Siena Calcio, cujos subsídios foram brutalmente reduzidos, segundo consta, de quatro para dois milhões de euros, e a equipa de basquete, o Mens Sana, a grande paixão desportiva dos cidadãos de Siena, que viu os patrocínios baixarem de doze para quatro milhões de euros. Mas não ficou por aqui. Os subsídios do famoso palio [o hipódromo de Siena] também sofreram um corte de €250 mil, ou seja, 15 mil a menos por cada contrada [bairro] participante. Parece pouco, mas tem grande valor simbólico.
“Paradoxalmente, o fim dos apoios financeiros pode ter pelo menos um aspeto positivo. Nesta altura já todos compreenderam que uma determinada época acabou, para sempre”, escreve no seu blogue o “Herético de Siena”, um comentador precioso sobre diversos acontecimentos da vida de Siena.
Divórcio multimilionário concluído após três anos de um processo litigioso que opôs o ex-chefe de governo italiano e Veronica Lario.
Cem mil euros por dia, três milhões por mês, 36 milhões por ano. Esta é a quantia que Silvio Berlusconi deverá pagar à ex-mulher Veronica Lario, segundo um acordo de divórcio alcançado durante o último Natal e tornado público nesta sexta-feira pela imprensa italiana.
Após três anos de um processo de divórcio litigioso que agora chega ao fim, Veronica Lario, 56 anos, terá conseguido um acordo que a manterá multimilionária, mas que ficou abaixo do que exigia. A mulher de Berlusconi há mais de 30 anos, que avançou com o pedido de separação em 2009 depois de um escândalo que envolveu o italiano, de 76 anos, e uma jovem de 17 anos, pretendia receber 43 milhões de euros por ano. Berlusconi tinha feito uma contraproposta de 300 mil euros mês. Lario não conseguiu ficar com a mansão de Macherio, nos arredores de Milão, onde viveu durante 20 anos com Berlusconi e os seus três filhos, Barbara, Eleonora e Luigi, e que está avaliada em cerca de 78 milhões de euros.
O valor da pensão, decidida por um tribunal de Milão, foi calculado com base no artigo 156 do Código Civil italiano que prevê que a pessoa que se considera lesada mantenha o mesmo nível de vida que tinha durante o período de vida em comum. E no caso de Silvio Berlusconi o nível de vida é muito elevado. O italiano tem uma fortuna avaliada em cerca de 4400 milhões de euros, segundo a Forbes.
A chegada a acordo entre Lario e Berlusconi ainda não foi anunciada oficialmente. Nem o tribunal, nem os advogados fizeram qualquer comunicação sobre o caso.
O afastamento entre Lario e Berlusconi era há muito conhecido. Lario deixou mesmo de comparecer em cerimónias em que o protocolo previa a presença da mulher do primeiro-ministro. Em Maio de 2009, Lario disse ao jornal italiano La Repubblica que há dez anos pensava em separar-se do marido. Mas foi quando ficou a saber que Berlusconi estivera no aniversário de Noemi Letizia, uma jovem de 18 anos, filha de um dos seus amigos, que decidiu avançar com o divórcio. A jovem confessou aos jornalistas que conhece Berlusconi há muito tempo e que costuma encontrar-se com ele em Milão e Roma.
Houve depois o caso "Ruby". Uma bailarina de nigthclub, menor, que particiou em festas de Berlusconi na sua villa de Arcore, nos arredores de Milão, e com a qual o então primeiro-ministro foi acusado de ter tido relações sexuais. Público
A produção industrial em Itália caíu 1.1% por comparação com o mês passado, sendo agora de -6.2% por comparação com o ano passado. A estimativa da Reuters era de -0.2% (mensal) e -4.3% (anual).
O spread da dívida italiana (BTP face aos "Bunds") continua a subir, rumo ao lugar que lhe é devido perto dos 500 e tal pontos base.
A procura interna manteve-se em queda, apesar do aumento das exportações (parece que estou a ler um jornal português sobre Portugal, mas não, estou a citar da Business Week e é mesmo sobre Itália) com a confiança dos consumidores a atingir o nível mais baixo desde 1996 nesta que é a quarta recessão daquele país depois de 2001.
Mario Monti está de saída. Não é inesperado, com a perda de apoio por parte do PDL de Berlusconi, e eleições à espreita dentro de poucos meses, que Berlusconi não vencerá de maneira alguma, embora não seja despicienda a posição de charneira que Bunga-Bunga deverá conquistar e manter.
A Itália é de todos os países da zona euro aquele que mais ganharia com o regresso a uma divisa própria, além de trazer às costas uma dívida pública perfeitamente irresgatável, que só pode ser gerida (a única coisa que deve fazer-se a uma divida soberana, de acordo com o Anacoreta de Paris) se Itália estiver fora do jugo da moeda única.
A norte, importa perceber o que vai fazer Mark Carney, outro Goldmanita, ao leme do Banco de Inglaterra. Próximo capítulo.
Ao escolherem Pier Luigi Bersani, do Partido Democrático, como candidato do centro-esquerda a primeiro-ministro, os eleitores italianos contrariaram a ideia de que a crise da zona euro está a destruir o sistema tradicional de partidos políticos, na Europa do Sul.
Pier Luigi Bersani, de 61 anos, é um ex-comunista originário da classe trabalhadora, que, nas eleições primárias de domingo, contou com o apoio da sua fiel base sindical para derrotar Matteo Renzi, presidente da Câmara de Florença e seu opositor, de 37 anos.
As sondagens indicam que o Partido Democrático conta com um apoio nacional de 30%, bem à frente dos seus rivais, pelo que Bersani parece bem colocado para vir a ser primeiro-ministro de um governo de coligação de esquerda, depois das eleições legislativas, previstas para março.
Contudo, tanto em Itália como em toda a zona do Mediterrâneo, a posição dos partidos tradicionais é mais confusa do que o sucesso de Bersani tende a indicar. A evolução mais significativa da política italiana continua a ser a desintegração das forças de centro-direita, que dominaram a cena nacional desde 1994. O partido Povo da Liberdade, do antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, em tempos conhecido como Forza Italia, regista um recuo acentuado. Boa parte da sua base de apoio está a transferir-se para o idiossincrático Movimento Cinco Estrelas, do humorista Beppe Grillo.
Contudo, os atrativos da destruição da política têm os seus limites, mesmo num país como a Itália, onde as elites partidárias estão desacreditadas por terem arrastado o país para a beira do desastre financeiro. Imediatamente a seguir à Segunda Guerra Mundial, irrompeu na cena política um partido “antiestablishment” conhecido como Uomo Qualunque (Homem Comum), que obteve mais de um milhão de votos nas eleições de 1946 e 1948 e cerca de duas dezenas de assentos no parlamento.
Uma força esgotada
A verdade é que o “qualunquismo” desapareceu quase tão rapidamente como tinha aparecido, varrido pelos democratas cristãos, à direita, e pelos comunistas, à esquerda. A questão é se o movimento de Beppe Grillo sobreviverá ao ressurgimento inevitável do centro-direita italiano, depois de Berlusconi finalmente desistir.
A Grécia representa o exemplo mais claro do colapso da ordem estabelecida. Até à crise da dívida de 2009, a política tinha sido controlada por dois partidos, desde o fim do regime militar, em 1974: o conservador Nova Democracia e o socialista PASOK. Mas, nas eleições gerais de há seis meses, a votação combinada desses dois partidos mal chegou aos 42%.
O PASOK, em especial, com apenas 12,3%, parece uma força esgotada. Os eleitores transferiram-se em massa para o Syriza, uma alternativa mais explicitamente de esquerda. No entanto, além do facto óbvio de que o eleitorado estava a expressar a sua cólera pela descida da Grécia ao abismo, uma das razões pelas quais se deu a fuga de apoios dos partidos tradicionais residiu no facto de estes terem muito menos benefícios a oferecer em troca dos votos.
Os sistemas de partidos construídos em Espanha e Portugal, após as transições democráticas dos anos 1970, estão, para já, a resistir melhor do que na Grécia. A nível nacional – embora não a nível regional em Espanha – a competição é, em larga medida, entre um grande partido, à direita, e um grande partido, à esquerda. A mudança é travada pela natureza altamente centralizada destes partidos e pelo poder das lideranças partidárias para escolher candidatos às eleições, sem o contributo dos membros comuns do partido ou dos eleitores.
Apoio a Rajoy em queda livre
No entanto, existem algumas diferenças entre Espanha e Portugal. Apesar de os índices de popularidade do primeiro-ministro de centro-direita, Mariano Rajoy, estarem em queda livre, os cidadãos espanhóis não dão mostras de gostar mais do líder da oposição socialista, Alfredo Pérez Rubalcaba. Mesmo entre os eleitores do seu próprio partido, verifica-se uma espantosa ausência de convicção de que Rubalcaba governaria mais eficientemente a Espanha do que Rajoy.
A Espanha apresenta algumas condições essenciais para uma reformulação do sistema de partidos, mas isso parece ser menos verdadeiro no caso de Portugal. Ali, os sociais-democratas (centro-direita), no poder, e os socialistas, na oposição, mantêm a capacidade de moldar as atitudes de um povo que parece quase sempre mais passivo a nível político do que os seus primos espanhóis. Em 1975, quando se realizaram em Portugal as primeiras eleições livres em cinco décadas, a afluência foi de 92%. Mas, nas eleições gerais do ano passado, foi de 58%.
É desanimador pensar que, mesmo num período de crise, os jovens nascidos numa sociedade democrática votam menos do que os seus pais, que viveram diretamente o autoritarismo.