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A-24

Brasil 2014

por A-24, em 09.10.14
Comentário de um português a residir no Brasil


Aí estão os resultados que o Brasil esperava: Dilma (PT) e Aécio (PSDB) vão discutir a eleição para presidente do Brasil numa segunda volta. Sem dúvida que a passagem de Aécio à segunda volta no lugar de Marina Silva é uma réstia de esperança para este País. Aécio pertence ao PSDB, o partido de Fernando Henrique Cardoso, o presidente que preparou o terreno e criou as condições para a cavalgada de Lula da Silva, o maior embuste das últimas décadas. O Brasil de Lula cavalgou a …onda da crise financeira mundial, em que os investidores transferiram capital dos Estados Unidos e da Europa em crise para os paises emergentes, isto em paralelo com compras de matérias primas por parte da China que dificilmente se repetirão. Estes factos levaram a que o Brasil em 2010 crescesse 7,5% e achasse que tinha resolvido os problemas históricos e crónicos que o assolam. Dilma (uma criação de Lula) chegou a viajar para a Europa explicando como a Europa devia resolver a sua crise (perante os silêncios e risos trocistas de muitos). Claro que os tempos mudaram e os problemas nunca resolvidos ficaram novamente à vista de todos. O Brasil este ano deverá crescer perto de 0% e encontra-se já em recessão técnica. Como costume, estas políticas “bolivarianas” não têm sustentação e quem tira e não repõe acaba por bater contra a parede. Onde foi que eu já vi isto? Não sei se Aécio é a resposta. Acho que o problema do Brasil é bem mais profundo e sem políticas estruturais profundas (que não sei se a a população está preparada para aceitar) não me parece que a situação se resolva nas próximas décadas. Uma coisa eu sei, o Brasil não aguenta mais um governo do PT. Este País merece outra sorte.

Brasil: Dilma e Aécio na segunda volta

por A-24, em 06.10.14
Dilma Rousseff é candidata à reeleição. E vai disputar a segunda volta com Aécio Neves, numa eleição que se prevê bastante renhida . No dia 26 de Outubro o Brasil voltará a ver uma disputa entre candidatos do PT e do PSDB, algo que acontece pela sexta vez. Marina Silva, que era a candidata surpresa desta campanha, acabou por não conseguir passar à segunda volta.
Dilma venceu a primeira volta com 41, 53% dos votos, Aécio ficou em segundo com 33,63%. Marina Silva ficou-se pelos 21,29%. 
Será uma eleição marcada por duas visões diferentes para o Brasil: a de Dilma alicerçada na herança de Lula da Silva e que tem um ponto de vista de esquerda, e a de Aécio que promete renovar o país. E a verdade é que Aécio entra nesta segunda volta reforçado por uma votação surpreendente, muito superior ao que as pesquisas prometiam. Mas agora os “canhões” do PT, que “abateram” com sucesso Marina Silva, vão virar-se contra o candidato Social-Democrata e usar o trunfo Lula até à exaustão.
A derrotada Marina pode ser determinante, visto que se optar por apoiar um dos candidatos pode acrescentar a maioria dos 20 milhões de votos a um dos concorrentes em disputa. No entanto, será difícil que opte por apoiar algum: a sua plataforma eleitoral, chamada Rede Sustentabilidade, está praticamente pronta para uma corrida de longo prazo que pode culminar numa disputa presidencial daqui a quatro anos. E os governadores eleitos também entram no contar de espingardas que vai durar mais três semanas. Também será importante ver como reagem os mercados a este resultado — já se sabe que as bolsas preferem o candidato da direita, em grande medida graças à estagnação económica a que Dilma presidiu.
Nas eleições de hoje foram também escolhidos os governadores dos 26 estados e do Distrito Federal e os cenários são diversos. Até às 00h50, horário de Lisboa, os resultados provisórios eram:

São Paulo – Geraldo Alckmin (PSDB) 57,34%
Minas Gerais – Fernando Pimentel (PT) 52,91%
Distrito Federal – Rodrigo Rollemberg (PSB) 45,23%, e Jofran Frejat (PR) 27,97%
Paraná – Beto Richa (PSDB) 55,67%
Pernambuco – Paulo Câmara (PSB) 68,15%
Espírito Santo – Paulo Hartung (PMDB) 53,44%
Mato Grosso do Sul – Delcídio (PT) 42,92% e Reinaldo Azambuja (PSDB) 39,09%
Amapá – Waldez (PDT) 42,121% e Capiberibe (PSB) 27,56%
Rio Grande do Sul – José Ivo Sartoni (PMDB) 40,41% Tarso Genro 32,57%
Santa Catarina – Raimundo Colombo (PSD) 51,36%
Maranhão – Flávio Dino (PC do B) 63,57%
Goiás – Marconi Perillo (PSDB) 45,86% e Iris Rezendo (PMDB) 28,39%
Tocantins – Marcelo Miranda (PMDB) 51,30%
Rio de Janeiro – Luiz Fernando Pezão (PMDB) 40,57% e Marcelo Crivella (PRB) 20,26%.
Piauí – Wellington Dias (PT) 63,52%
Mato Grosso – Pedro Taques (PT) 57,26%
Sergipe – Jackson Barreto (PMDB) 53,54%
Rondónia – Confucio Moura (PMDB) 35,88% e Expedito Júnior (PSDB) 35,41%
Ceará – Camilo Santana (PT) 47,73% e Eunício Oliveira (PMDB) 46,41%
Paraíba – Cássio Cunha Lima 47,51% (PSDB) e Ricardo Coutinhi (PSB) 45,97%
Amazonas – José Melo (PROS) 43,04% e Eduardo Braga (PMDB) 42,93%

Se não ganhar na primeira, é muito provável que perca na segunda

por A-24, em 04.10.14
in Blasfémias


Como era mais do que expectável, Dilma Rousseff tem vindo a aumentar substancialmente o espaço de intenções de voto entre si e os seus concorrentes mais próximos, principalmente em relação a Marina Silva. Todos os institutos de pesquisas eleitorais brasileiros o confirmam, e, hoje mesmo, o Ibope apresentou uma nova sondagem que dá resultados próximos dos números da pesquisa de ontem da Datafolha: 39% para Dilma, 25% para Marina e 19% para Aécio.
O facto, porém, é que não estando eleita na primeira volta, Dilma tem grandes probabilidades de perder a eleição na segunda, como, de resto, o PT sempre temeu, e isso tem uma explicação muito simples.
Na verdade, existem três tempos eleitorais muito diferentes nas eleições presidenciais brasileiras: a pré-campanha, até ao início da propaganda eleitoral televisiva; a campanha eleitoral da primeira volta; e a campanha eleitoral da segunda, quando esta ocorre. Resolvendo-se as eleições brasileiras essencialmente na televisão (é impressionante a política de alianças partidárias para fazer aumentar os tempos de antena), até começar a campanha televisiva a realidade é uma, e outra muito distinta após o seu início. Contudo, da primeira volta para a segunda, as coisas podem também mudar profundamente.
Para se ter uma ideia simples do que se passa neste momento na televisão brasileira, fruto dos partidos que apoiam cada um dos candidatos, Dilma dispõe de 11m e 24s diários, Aécio tem 4m e 35 s e Marina apenas 2m e 3s. Ou seja, sozinha Dilma tem quase o dobro do tempo televisivo dos outros dois candidatos juntos, quase três vezes o tempo de Aécio e seis vezes o de Marina. No segundo turno, porém, o candidato que lá chegar receberá certamente alguns dos tempos de outros partidos e poderá equilibrar as coisas. O jogo volta, por isso, a recomeçar. É por esta razão que o PT, Lula e Dilma temem a segunda volta. E têm excelentes razões para isso.

Todos ao ataque contra Marina Silva na campanha eleitoral do Brasil

por A-24, em 05.09.14
A repentina mudança de opinião da candidata da coligação Unidos pelo Brasil, que de um dia para o outro deixou cair o apoio à legalização do casamento gay, pode ser explorada pelos seus adversários.


A cavalgada de Marina Silva nas sondagens relativas à votação presidencial no Brasil inaugurou uma nova etapa de “todos contra Marina” na campanha eleitoral, mas iriam os seus adversários políticos explorar as suas fragilidades e cerrar fogo sobre a sua candidatura no segundo debate televisivo, esta segunda-feira à noite?
A concorrente da coligação Unidos pelo Brasil – que provocou um pequeno terramoto político ao assumir a vaga que pertencia ao líder do Partido Socialista Brasileiro, Eduardo Campos, morto num desastre aéreo em campanha –, abriu o flanco às críticas, depois de ter renegado o seu apoio às iniciativas legislativas com vista à legalização do casamento gay, uma promessa que estava inscrita no seu programa de governo.
A reviravolta de Marina, que ocorreu menos de 24 horas depois da apresentação oficial da plataforma eleitoral da coligação, tornou-se o caso político mais relevante da campanha, por aparentemente confirmar a percepção do “fundamentalismo” religioso da candidata, que é missionária da Igreja Assembleia de Deus e se opõe à união de homossexuais.
Apesar de vincar o seu respeito pela laicidade do Estado, e garantir que as suas convicções pessoais não se reflectem na sua acção política, Marina Silva não conseguiu descartar a impressão de que a “correcção” do seu programa aconteceu por pressão da chamada bancada evangélica no Congresso – um poderoso lobby político em Brasília. “Bastaram quatro tweets do pastor Silas Malafaia para ela dar o dito pelo não dito” no seu apoio à luta pelo reconhecimento da igualdade de direitos, lamentou o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais, Carlos Fonseca.
Numa breve explicação sobre o ocorrido, a candidata notou que outras propostas do programa tinham sido também corrigidas, como por exemplo o apoio ao investimento na energia nuclear, e repetiu o seu “compromisso com o respeito às liberdades individuais e religiosas” e a defesa “dos interesses de todos, daquele que crê e daquele que não crê, independente de cor, orientação sexual ou religião”, frisou.
Mas o episódio abriu brechas mesmo dentro da campanha da coligação: o conhecido escritor Milton Hatoum, por exemplo, retirou o seu nome da lista de apoiantes de Marina, por classificar a marcha atrás como uma “falha moral” e de princípios éticos. “Não quero eleger um Presidente que seja refém de bancadas religiosas, tenho pavor disso”, explicou ao Estadão.
Os candidatos dos chamados partidos “nanicos” foram implacáveis ao pronunciar-se sobre a Marina Silva. “Durou pouco. Bastou um pastor ameaçar uma guerra santa e a campanha recuou”, lamentou Eduardo Jorge, dos Verdes. Luciana Genro, do PSOL, acusou Marina de “ceder à bancada da intolerância, como cedeu ao mercado, como acena aos usineiros e ao agronegócio”.
Porém, nem a Presidente Dilma Rousseff, que corre pela reeleição, nem o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Aécio Neves, exploraram a celeuma causada pela mudança de opinião de Marina Silva. A campanha do PT descreveu a sua adversária como uma “evangélica fervorosa” sem outras considerações, e um porta-voz do PSDB descreveu a sua errata como “uma agressão á nossa inteligência”. É possível que os dois se estivessem a guardar o ataque para o debate desta noite – mas também é provável que prefiram manter-se longe do tema, para não provocar a mesma reacção irada dos evangélicos.
Organizado pelo site Uol, o jornal Folha de São Paulo, a rádio Jovem Pan e o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), será o primeiro confronto directo entre Dilma Rousseff e Marina Silva, empatadas com 34% das intenções de voto de acordo com a última sondagem eleitoral realizada pelo instituto Datafolha. Com 15%, Aécio Neves está já a uma distância considerável e precisa de inverter a tendência para projectar o seu partido até à segunda volta.
No fim-de-semana, o candidato tucano mudou o tom das suas críticas (até então relativamente inócuas) a Marina, apontando por um lado as contradições, e por outro as generalidades, do seu programa político. “Entre o original e o genérico, essa nova versão adaptada das convicções da candidata Marina, acho que os brasileiros ficarão com o original”, atacou Aécio, acusando Marina de ter levantado as suas propostas económicas do manual tradicional do PSDB.

"Todos os brasileiros adoram futebol" - logo, há algo de errado comigo

por A-24, em 08.07.14
Via Mises Brasil

Morando no Canadá, uma das primeiras perguntas que me fazem quando descobrem que sou brasileira é: "Você deve estar muito empolgada por estar sediando a Copa do Mundo, não? Você gosta muito de futebol?"

No íntimo, sempre quis dar a seguinte resposta: "É claro que estou muito empolgada e é óbvio que gosto muito de futebol! Assim como absolutamente todosos canadenses amam xarope de Maple e comem donuts na arena de hóquei,absolutamente todos os brasileiros amam futebol. Não é óbvio?"
No entanto, dado que sempre opto pela resposta educada e verdadeira — não e não —, tais encontros sempre acabam em situações embaraçosas, pois meus interlocutores aparentemente imaginam ser inconcebível encontrar uma brasileira que, além de não gostar de futebol, definitivamente não está torcendo pelo Brasil.
Até onde sei, não importa quem seja o campeão da Copa, os perdedores serão os brasileiros. E, como sempre ocorreu na história do país, os mais pobres e os mais vulneráveis serão os mais atingidos.
Após a Copa, a Arena Amazônia será o palco de populosos
e rentáveis jogos, como Rio Negro x São Raimundo
Para mim, é difícil entender como um país com um PIB per capita de US$11.340 sediou a mais cara Copa do Mundo da história, estimada em US$11,3 bilhões
"Ei, mas a Copa irá trazer um número suficientemente grande de turistas para estimular a economia e compensar todos estas gastos governamentais! Logo, não há com o que se preocupar!" Acontece que, segundo estimativas do próprio governo (o mais interessado em inflar os números), as receitas geradas por turistas serão de aproximadamente US$3 bilhões. Ou seja, ainda faltarão US$8,3 bilhões para fechar o rombo. 
Mas a encrenca é ainda maior: a Federação do Comércio de São Paulo estima que, em decorrência de feriados e da dispensa de trabalhadores para acompanhar os jogos da Seleção, os prejuízos em termos de produção podem alcançar US$14 bilhões.
Ou seja, somando-se os prejuízos gerados pelos gastos públicos e os prejuízos com a produção, podemos chegar a um prejuízo total de US$22,3 bilhões. Trata-se de uma conta de US$112 por cidadão brasileiro em um país em que 11% da população vive com menos de US$2 por dia.
Políticos desviaram dinheiro de impostos para construir estádios que não trarão serventia para ninguém (exceto para as empreiteiras que os construíram, é claro). Manaus, cidade cujo Índice de Desenvolvimento Humano coloca em 850ª entre as cidades brasileiras, possui agora um estádio que custou US$300 milhões (quase R$700 milhões), e que, após a Copa do Mundo, não mais será utilizado em sua capacidade, tornando-se um genuíno elefante branco. Ótimo uso do dinheiro dos pagadores de impostos.
Sediar a Copa do Mundo realmente levou a um grande uso dos recursos públicos. Um país com infraestrutura calamitosa, hospitais em ruínas, e um sistema educacional precário finalmente recebeu o estímulo de que precisava. Obrigada pelo estímulo, FIFA!
Ah, mas a coisa fica ainda melhor. Além de termos o iPhone mais caro do mundo, de ofertarmos quartos de hotel sem janela por US$250 (R$575) por noite, e de fabricarmos carros que, quando vendidos no Brasil, custam o dobro do preço de quando vendidos no exterior, o Brasil já é classificado como um dos países mais caros do mundo. Somente as ricas Noruega, Suécia e Suíça, bem como a disfuncional Venezuela, conseguem apresentar custos de vida mais altos. Pelo menos neste ranking estamos no topo.
E agora, graças ao aumento na demanda por bens e serviços em decorrência da Copa do Mundo, a inflação de preços oficial acumulada em 12 meses chegou a 6,4%. Isso é apenas 0,1 ponto percentual abaixo do teto da meta estipulada pelo próprio Banco Central. Um país que já oferecia uma moeda com um baixo poder de compra agora o faz a uma taxa 6,4% pior.
É o novo panem et circenses. Ou talvez seja panem et morbi. As classes média e alta, cujos impostos pagoschegam a 36% do PIB — sendo que em países similares mal chegam a 21% —, e os pobres, que são os mais severamente atingidos pela carestia dos alimentos, devem estar empolgadíssimos. Não sei por que eu não estou. Talvez eu não seja devidamente patriota. Ou vai ver é porque eu odeio futebol.

há 100 anos, um martírio

por A-24, em 29.06.14
Em 1908, por cá, um Rei e um príncipe herdeiro eram assassinados pela escumalha carbonária. Durante muitos anos, pulhas de carácter moral mais do que duvidoso fizeram peregrinações aos túmulos dos criminosos que, Deus seja louvado, hão-de estar a penar. Seis anos depois, em Sarajevo, Francisco Fernando e a esposa eram igualmente martirizados às mãos do equivalente local da canalha lusitana e de outra que, durante décadas conspirou contra as casas reais europeias. Hoje inaugurou-se uma estátua do homicida. O polvo maçónico-capitalista, aparentemente, triunfou e domina hoje a Europa, mas a guerra que começou antes de 1914 ainda não terminou.

in A Corte na Aldeia

Manaus: Uma cidade em busca da harmonia com a natureza

por A-24, em 16.06.14


Por Hugo Daniel Sousa (texto) e Nelson Garrido (fotos)



Já foi a Paris dos Trópicos, mas o crescimento nas últimas décadas descaracterizou-a um pouco. Percorremos a cidade pelos olhos do escritor Milton Hatoum e descobrimos que Manaus afinal ainda tem muitos encantos. E que está a tentar recuperar alguma harmonia com a natureza.
Ver uma cidade pelos olhos de quem a conhece é sempre diferente. Não ficamos limitados às primeiras impressões e aos locais turísticos. Ganhamos perspectiva histórica e sentido crítico. Manaus tem merecidamente um lugar no imaginário mundial, como a cidade às portas da Amazónia, a maior floresta tropical do mundo. Só isso justifica a visita. Mas vê-la pelo olhar de Milton Hatoum, um dos grandes escritores brasileiros da actualidade e um dos filhos mais conhecidos da capital da Amazónia, é conhecê-la mais profundamente.
Agora a viver em São Paulo, Milton Hatoum tem sentimentos contraditórios quando fala da cidade onde nasceu há 61 anos, descendente de emigrantes libaneses. Alegria e tristeza. Admiração e desilusão. Saudade e revolta. A voz do escritor enche-se de emoção quando recorda a Manaus da sua infância, uma “cidade horizontal, com casario bonito e igarapés [canais de água] no centro”. Enche-se de orgulho quando fala do Teatro Amazonas e de admiração quando descreve o prazer de entrar pela selva adentro.
A voz, no entanto, muda de tom ao falar nas grandes transformações que ocorreram nas últimas décadas. “Manaus perdeu as suas características históricas, do começo do século. Destruíram a cidade. Os igarapés, que eram talvez o maior encanto, foram poluídos e hoje estão aterrados. A Manaus das praças lindas, da natureza, acabou”, diz à Fugas Milton Hatoum, falando da sua terra natal como uma “São Paulo do Norte”, que perdeu a “harmonia com a natureza”.
Estes contrastes são, aliás, bem visíveis assim que se chega a Manaus. A começar pela aproximação do avião à cidade (a TAP iniciou esta semana voos directos Lisboa-Manaus-Belém). Quem for à janela (o que se recomenda), verá a diferença entre a natureza verdejante da floresta amazónica e o cimento de uma cidade que cresceu e tem agora dois milhões de habitantes. A cada esquina, cruzamo-nos com edifícios magníficos do início do século passado, ao lado de prédios em ruínas ou arranha-céus descaracterizados. Tanto estamos numa rua suja, pejada de carros, como paramos, extasiados, numa bela praça, como a de São Sebastião.
E não se pense que estas críticas de Milton Hatoum são uma voz isolada ou radical. O próprio poder político reconhece que a evolução foi negativa. “A cidade cresceu mal e de mau jeito. Era para ser uma cidade horizontal e está-se transformando numa capital igual ao resto do mundo, vertical, o que descaracteriza a arquitectura própria da região e atrapalha a boa qualidade de vida. É preciso compreender que estamos numa zona tropical húmida e é preciso viver de acordo com a natureza. Se não o fizermos, vamos viver mal”, diz Robério Braga, secretário de Cultura do estado do Amazonas, afirmando que é, por isso, que a prioridade tem sido recuperar o património e as praças de Manaus.



Quer isto dizer que não vale a pena ir a Manaus? Longe disso. A cidade conserva encantos, que lhe valeram o cognome de Paris dos Trópicos, e está às portas da Amazónia, uma experiência única para qualquer turista ou viajante. Vamos então ao roteiro de Milton Hatoum, um amazonense viajante, que afinal nunca deixa a sua cidade para trás. “Se o desejo, a literatura ou a viagem levam os personagens a expandir o raio de sua acção e a transpor as barreiras da infância e da moral, da classe e da província, estes mesmos elementos não se dão por vencidos e, mais cedo ou mais tarde, recaem sobre os heróis como uma fatalidade que os traz de volta a um centro imóvel: “para onde vou, Manaus me persegue”, lê-se na apresentação do seu livro de contosA Cidade Ilhada.


Teatro Amazonas, o ícone
O Largo de São Sebastião é, talvez, o local mais bonito do centro de Manaus. Consegue perceber-se como era a cidade nos tempos áureos. A praça está bem arranjada, com a calçada portuguesa no sítio, as árvores são frondosas, os bancos de madeira dão uma sombra preciosa. Os prédios em volta estão quase todos pintados de fresco. São restaurantes, gelatarias, hotéis, cafés. E, acima de todos, na beleza, na altura e no destaque, está o imponente Teatro Amazonas, um edifício improvável numa cidade à entrada da selva.
“Quando eu era criança, morava a 100 metros do teatro. A minha irmã começou a estudar piano aos cinco anos e, aos 10, deu um recital no teatro. Eu tinha seis anos. Fiquei deslumbrado com as pinturas da sala principal e do salão nobre”, diz à Fugas Milton Hatoum, que escreveu o conto A Ninfa do Teatro Amazonas, que tem como cenário o principal ícone de Manaus.
O teatro foi construído no final do século XIX, na época áurea da borracha. O então governador Eduardo Ribeiro foi o ideólogo e executor de um projecto que marcou para sempre a cidade. Por fora, é um edifício imponente, também graças à estranha cúpula verde e amarela (tem 36 mil telhas importadas da Europa) que Eduardo Ribeiro acrescentou ao projecto original, desenhado por um gabinete de arquitectura de Lisboa. Mas é lá dentro que o teatro revela todo o seu esplendor. Os lustres franceses, as pinturas do tecto ilustrando a dança, tragédia, ópera e música, as máscaras homenageando compositores e dramaturgos, entre eles Gil Vicente, as cadeiras de madeira, os mármores nohall de entrada, os espelhos no salão nobre a fazerem lembrar Versalhes, tudo se conjuga para transformar o teatro “numa obra de arte”, como diz Robério Braga, que arrisca que Manaus “é a única cidade do mundo cujo símbolo é um teatro”.




É possível visitar o teatro de segunda a sábado (e durante o Mundial também ao domingo). A visita é curta mas serve para saber um pouco da história deste projecto, construído à base de materiais vindos da Europa. Quando a Fugas fez uma visita guiada, encontrou o maestro Marcelo de Jesus. “O Teatro Amazonas é o coração de Manaus. É para onde todo o mundo vem, o que todo o mundo quer visitar”, resumiu. Além da visita, é inesquecível assistir a um espectáculo nesta sala. Não só pela beleza actual, mas também porque é impossível não imaginar o que era este espaço há 100 anos, sem nada em volta, com senhoras de vestido longo e homens trajados de gala para assistir à ópera no meio da Amazónia.

Saindo do teatro, volta-se à praça São Sebastião, outra das memórias fortes de Milton Hatoum. “Ia quase todos os dias à praça São Sebastião, esse bela praça de desenho italiano, cujo piso é revestido de pedras portuguesas. As ondas pretas e brancas inspiraram o paisagista Burle Marx no projecto dos jardins do Aterro do Flamengo, no Rio”, conta o escritor, deixando-se levar pela sua formação em arquitectura. “Os sinos da igreja de São Sebastião ainda ecoam na minha memória. Às vezes, em São Paulo, acordo com as badaladas dos sinos e recordo proustianamente cenas da infância”, acrescenta Milton, que usou esta praça, e o monumento à abertura dos portos, como cenário do início do seu romance Cinzas do Norte: “Antes de conviver com Mundo no ginásio Pedro II, eu o vi uma vez no centro da praça São Sebastião: magricelo, cabeça quase raspada, sentado nas pedras que desenham ondas pretas e brancas. Ao lado de uma moça, ele mirava a nau de bronze do continente Europa; olhava o barco do monumento e desenhava com uma cara de espanto, mordendo os lábios e movendo a cabeça com meneios rápidos como os de um pássaro. Parei para ver o desenho: um barquinho torto e esquisito no meio de um mar escuro que podia ser o rio Negro ou o Amazonas. Além do mar, uma faixa branca. Dobrou o papel com um gesto insolente, me encarou como se eu fosse intruso; de repente se levantou e estendeu a mão, me oferecendo o papel dobrado.”

Esta praça é o verdadeiro centro de Manaus. Durante o dia, tem pouco movimento, porque o calor abrasador afasta as pessoas da rua. Mas a partir do final da tarde, ganha vida. É nessa altura que se juntam as pessoas. À sexta-feira e sábado, por exemplo, é habitual haver grupos de jovens no meio da praça, em círculos de conversa ou de canções.
A comunidade desfruta da praça. Um dos pólos de atracção é a banquinha do Tacacá da Gisela, uma receita tradicional do Amazonas que faz sucesso do final da tarde em diante. O tacacá é feito com tucupi (um suco extraído da mandioca brava), goma (amido de mandioca), jambu (uma erva picante que deixa a boca ligeiramente dormente, porque tem um efeito anestésico) e camarões. Tem um sabor diferente de todos os outros caldos que já provámos.
O senhor Joaquim, dono da banca de tacacá e de um quiosque de jornais e livros, costuma projectar DVD de música ao vivo numa pequena tela, para animar os clientes: normalmente passa música brasileira (vimos Chico e Caetano, por exemplo), mas Joaquim Melo também tem Madredeus e Carlos Paredes na colecção.
A tarde/noite é também o momento ideal para fazer um périplo pelos bares e gelatarias. O Bar do Armando, que era de um português, tem mesas no passeio. Serve cervejas bem geladas (inteligentemente geladas, como diria Miguel Esteves Cardoso) e petiscos, incluindo os bolinhos de bacalhau que provam como a influência portuguesa se nota muito por aqui. É habitual haver música ao vivo. Na esquina, há uma gelataria, a Glacial, também fundada por portugueses, onde é possível experimentar sabores de que nunca se ouviu falar: cupuaçu, açaí, tucumã, pupunha ou taperebá.

Herança europeia
A praça também pode ser o ponto de partida de um passeio em direcção ao porto. É neste trajecto que Milton Hatoum mais sente a passagem do tempo, como se lê em Cinzas do Norte. “Em poucos anos Manaus crescera tanto que Mundo não reconheceria certos bairros. Ele só presenciara o começo da destruição; não chegara a ver a ‘reforma urbana’ do coronel Zanda, as praças do centro, como a Nove de Novembro, serem rasgadas por avenidas e terem todos os seus monumentos saqueados. Não viu sua casa ser demolida, nem o hotel gigantesco erguido no mesmo lugar.”
Ainda assim vale a pena caminhar, embora preparado para enfrentar o calor e a humidade. A praça da Polícia, também conhecida como Praça Heliodoro Balbi, diz muito a Milton Hatoum. Aqui fica o colégio onde estudou e, também por isso, foi usada como cenário do romance Dois Irmãos, um bom livro para ler antes de ir a Manaus. A praça foi renovada em 2009. É uma reminiscência da Manaus que tinha harmonia com a natureza. As árvores dão sombra, os bancos de madeira dão descanso e em frente aprecia-se o Palacete Provincial, mais um desses edifícios que, de repente, nos faz pensar que estamos em Paris ou Viena.
Outro edifício que nos faz viajar no tempo é o Palácio Rio Negro, construído por um antigo magnata da borracha e hoje transformado em centro cultural. Os jardins foram renovados e têm pequenos canais, que dão uma ideia de como era a cidade no tempo dos igarapés.
Percorrendo as ruas, percebe-se facilmente que Manaus é uma cidade de múltiplas influências. A herança europeia está presente na arquitectura, a cultura indígena é omnipresente e, em certos momentos, a cidade parece africana. O comércio de rua é um desses traços africanistas. Costuma haver “camelôs” nas principais avenidas (algo que o Governo está a tentar mudar, criando lojas para os vendedores ambulantes). E descendo até ao porto encontramos outra das imagens de marca de Manaus: o mercado, ou melhor, os mercados.
Existe o Mercado Municipal Adolpho Lisboa, um conjunto de edifícios de 1893, renovados em 2013. É um espaço inspirado nos mercados de Grenelle e Les Halles, em França, e com uma fachada influenciada pela galeria Vittorio Emanuelle, de Milão. “Um belo exemplo da arquitetura de ferro”, diz Milton Hatoum sobre esse mercado, que é outro dos postais ilustrados de Manaus.
Algumas dezenas de metros ao lado fica o outro mercadão, chamado Manaus Moderna, um espaço bem menos organizado e bonito, mas onde a população faz habitualmente as compras. Pela manhã, tem mais gente do que o Adolpho Lisboa, à procura do peixe fresco e das frutas amazónicas. Passear pelos mercados é a oportunidade para ver de perto os famosos peixes da Amazónia, do tambaqui ao tucunaré, passando pelo pirarucu ou o bodó, um peixe que é vendido vivo, porque liberta enzimas que o tornam impróprio para consumo se for abatido antes de ser cozinhado.
Do outro lado da rua, fica o porto de Manaus, que está a precisar de uma renovação profunda. Dezenas de barcos acumulam-se no cais. Chegam vegetais e partem arcas frigoríficas, carregadas com alimentos. Muitas comunidades ribeirinhas ficam a quatro e cinco horas de viagem de barco. Outras a mais ainda. A rede de descanso é um apetrecho obrigatório para ter algum conforto na viagem e, por isso, nos barcos vazios já há dezenas de redes estendidas, a reservar lugar.

Bosque da ciência, o oásis
Assim que desafiámos Milton Hatoum a fazer um roteiro de Manaus, o escritor falou imediatamente de um sítio especial: o bosque da ciência, onde fica a sede do INPA - Instituto Nacional de Pesquisa Amazónica. É um parque, “o lugar mais aprazível de Manaus”, segundo Hatoum. “A cidade deveria ser toda assim, mas a barbárie e a ignorância não permitiram isso. É arborizado, um oásis no meio da loucura calorenta, porque a natureza foi burramente expulsa da cidade.”
Situado na zona leste e inaugurado em 1995, o parque tem 13 hectares e foi projectado por Severiano Porto, o mesmo arquitecto que desenhou o estádio Vivaldo Lima, demolido para dar lugar à nova arena para o Mundial de futebol deste ano — outras das revoltas de Milton: “Destruir um património da arquitectura amazónica é um lance de extrema crueldade e ignorância. O que há por trás dessa crueldade e incultura? A ganância, a grana às pencas, o ouro sem mineração, sem esforço”, escreveu na crónica “Estádios Novos, Miséria Antiga”. Ainda assim, é justo reconhecer que a Arena Amazónia, onde Portugal disputará o seu segundo jogo no Mundial, é um dos estádios mais bonitos do Brasil.
Fomos ao bosque num domingo à tarde. É uma boa opção para sentir um pouco da Amazónia, especialmente para quem não tiver tempo ou dinheiro para ir à selva. A vegetação é vasta e podemos ver vários animais. Aliás, é mais fácil vê-los aqui do que na selva. Logo à entrada, estão os tanques com os famosos peixes-boi, uma mamífero que pode chegar aos 450 kg e quase três metros de comprimento. Duas curiosidades: não tem unhas e nunca fica banguela (desdentado), porque troca continuamente de dentes.
Também vemos ariranhas, uma espécie de lontra com cauda comprida, que tem uma característica peculiar: as manchas no peito e pescoço funcionam como uma impressão digital, permitindo a identificação individual dos animais. Há também tartarugas da Amazónia, que podem atingir os 82cm, e três espécies de jacarés (tinga, açú e pedra), aliás, bem mais fáceis de ver nestes tanques do que no meio da selva, onde são fugidios e só saem à noite para caçar.
No passeio pelo bosque, bem mais fresco do que a cidade, é também possível ver algumas árvores típicas da Amazónia, como o cupuaçu (um parente do cacau, óptimo no gelado) e Tanimbuca — no bosque, existe um exemplar com 600 anos e 35 metros de altura.
O rio, solidão absoluta 
Outro dos grandes atractivos de Manaus é ser banhado pelo rio Negro, que mesmo ao largo da cidade se junta com o Solimões, dando origem ao rio Amazonas. O fenómeno chama-se Encontro das Águas e é fácil de ver — é uma curta viagem de 15 minutos de barco.
As águas dos dois rios não se misturam imediatamente, porque há grandes diferenças de temperatura e de velocidade entre os dois. O rio Negro, que nasce no hemisfério Norte, na Colômbia, é mais quente (24º a 28º, consoante as fontes) do que o Solimões, que vem do hemisfério Sul, do Peru (18º a 24º). A cor escura do Negro deve-se às matérias orgânicas e a cor barrenta do Solimões é dada pelas argilas que a água transporta. É muito curioso meter a mão nas águas dos dois rios e sentir as diferenças de temperatura.
O Encontro das Águas é apenas o começo dos encantos do rio. Se nos afastarmos de Manaus, percorrendo um dos rios de barco, mergulha-se num outro mundo. “O rio Negro é um lugar único no mundo pela vastidão. É um dos pouco lugares do mundo em que há uma solidão absoluta. Não há ninguém. Quando se sobe o rio, navega-se quatro, cinco, sete dias de barco e não se vê ninguém. Isso só existe em algumas regiões da África e da Ásia”, diz Milton Hatoum.
Na visita da Fugas não houve tempo para viajar tantos dias pelo rio Negro acima, mas uma visita ao Museu do Seringal, a meia hora de Manaus, dá para sentir a beleza da paisagem e a sensação de isolamento. O Museu do Seringal, aliás, é outros dos sítios a não perder nos arredores de Manaus. Foi construído para as filmagens do filme A Selva, de Leonel Vieira, e transformado em museu para lembrar como eram os tempos da borracha, que trouxe riqueza a Manaus mas causou a morte a milhares de seringueiros (ver Fugas de 12/04/2014).
Ironicamente, o crescimento económico que descaracterizou a cidade de Manaus foi o mesmo que permitiu a preservação da floresta. “Ao contrário do Pará, a floresta foi muito preservada em Manaus”, diz Milton Hatoum, para quem o ecoturismo realmente funciona. “Você sai de Manaus e parece que está noutro mundo.”
O que Milton Hatoum diz sobre o rio Negro vale igualmente para o Solimões. A Fugas foi dormir a um hotel de selva, o Juma Lodge, a três horas de Manaus (ver Fugas de 08/03/2014). A experiência é única. Realmente única. Os telemóveis não funcionam e é realmente possível fugir à civilização. Passear na selva, ver jacarés, nadar no rio, pescar e ver o nascer do sol são algumas das actividades possíveis, sendo que nenhuma iguala o prazer de deslizar numa canoa pelos igarapés, vendo e ouvindo os pássaros que sobrevoam o rio.

Brasília, 54, tem renda maior que Suécia, mas suga o Brasil para funcionar

por A-24, em 09.06.14
Fernando Rodrigues

A capital da República completa 54 anos nesta segunda-feira, 21 de abril. Embora uma das razões para a criação de Brasília tenha sido trazer o desenvolvimento para o centro do país, a cidade nunca cumpriu essa profecia –muito menos para si própria.
A região Centro-Oeste tem sua economia baseada na agricultura e na pecuária. Nada indica que Brasília tenha contribuído para haver mais cultivo de soja e grãos em geral no meio do país.
Bairros da parte central da capital têm renda superior à da Suécia. No Lago Sul, a renda per capita anual é de R$ 81.508, o equivalente a US$ 36.420. Na Suécia, o valor é de US$ 18.632. (Não confundir renda per capita com PIB per capita –leia explicação abaixo*)
A cidade é rica à custa dos brasileiros. Pouco mais de um terço do que é gasto para sustentar Brasília sai do bolso dos cidadãos de outras unidades da Federação.
Em 1988, durante o Congresso constituinte, foi criado o Fundo Constitucional do Distrito Federal. O que é isso? É um fundo para o qual o dinheiro dos impostos é enviado e obrigatoriamente entregue ao governo de Brasília.
O fundo estava previsto na Constituição e entrou em vigor em dezembro de 2002, no final do governo Fernando Henrique Cardoso. No ano passado, alcançou R$ 10,7 bilhões. Esse valor é maior do que o Orçamento total de 9 Estados brasileiros (Acre, Alagoas, Amapá, Paraíba, Piauí, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins).
O Orçamento total de Brasília em 2013 foi de R$ 29,6 bilhões (incluídos aí os R$ 10,7 bilhões do Fundo Constitucional). Isso coloca a capital da República com o maior Orçamento per capita do país. São R$ 10.616 por habitante. Em São Paulo, o valor é de R$ 3.972 para cada paulista. No Rio, R$ 4.340.
E o que é feito desse dinheiro todo aqui em Brasília? Obras como a reforma (reconstrução) do estádio Mané Garrincha, ao custo de R$ 1,6 bilhão. A arena tem capacidade para 72 mil pessoas, mas Brasília não tem times de futebol na primeira nem na segunda divisão nacional. Ao contrário dos demais estádios da Copa, que contaram com financiamento do BNDES, o Mané Garrincha foi bancado integralmente com recursos próprios do Distrito Federal.
A cidade também é campeã de desigualdade, como mostrou o Ipea. Em 2000 a 2010, a desigualdade de renda diminuiu em 80% dos municípios brasileiros. No Distrito Federal, ficou inalterada.
A economia da capital segue altamente dependente do setor público. Em 2011, 93,3% do PIB estava concentrado no setor de serviços, incluindo a administração pública. A máquina governamental respondia, sozinha, por 54,7% do PIB. A indústria representava apenas 6,4% e a agricultura, 0,3%.
É difícil encontrar justificativas favoráveis para Brasília existir. Uma delas seria que na capital da República o padrão de vida dos cidadãos é acima da média dos brasileiros. O problema é a conta é paga por milhões de brasileiros que não podem desfrutar desse benefício nem são consultados se desejam continuar a sustentar o projeto.
*Observação incluída às 14h: A base de dados utilizada para calcular a renda per capita do Lago Sul foi o Censo Demográfico de 2010, do IBGE. O resultado é a soma dos rendimentos dos moradores de um domicílio dividida pelo número de seus moradores, atualizado para março de 2014 pelo IPCA. A renda per capita da Suécia foi calculada pelo instituto Gallup com metodologia semelhante. Não confundir esse dado com o PIB (Produto Interno Bruto) per capita, que é a divisão de toda a riqueza produzida por um país em um ano pelo número de seus habitantes. O PIB per capita da Suécia é US$ 55.040, segundo o Banco Mundial.

Ideia de português: estádio novo em dois anos, por 40% do preço do Itaquerão

por A-24, em 08.06.14
via Veja



Dentro de exatamente duas semanas, São Paulo receberá a abertura da Copa do Mundo – mas o palco da festa, o Itaquerão, continua cercado de dúvidas. Ainda que já tenha sido inaugurado, o estádio não estará nas condições ideais na partida entre Brasil e Croácia, em 12 de junho. Com alguns trabalhos inacabados e muitos improvisos, a arena do Corinthians continuará em obras mesmo depois do Mundial – quando, aliás, o clube começará a encarar o desafio de pagar o custo do empreendimento (que deve passar de 1 bilhão de reais) e de fazer com que ele seja lucrativo. Há pouco mais de uma década, uma missão muito similar foi entregue à direção do Benfica, o principal clube de Portugal, que receberia a decisão da Eurocopa de 2004. Mas se o Itaquerão começou a ser construído em maio de 2011 e, passados três anos, ainda não está totalmente pronto, o Estádio da Luz, em Lisboa, foi entregue em apenas dois anos – e acabou sendo inaugurado, com público total e sem nenhuma restrição, nada menos de oito meses antes do torneio europeu de seleções. No último sábado, foi o palco da decisão da Liga dos Campeões, entre Real Madrid e Atlético de Madri. Recebeu elogios gerais dos visitantes, foi exibida para 400 milhões de telespectadores no mundo todo e rendeu aos cofres do Benfica pelo menos 2 milhões de euros, ou 6 milhões de reais – esse foi o valor do aluguel pago pela Uefa para realizar a final ali.



Capaz de abrigar pouco mais de 65.000 torcedores, o estádio do Benfica tem uma capacidade similar à do Itaquerão – desde que incluídos os setores de cadeiras provisórias, que estão sendo instalados para aumentar o público máximo durante a Copa (cerca de 68.000 lugares). Ainda assim, o custo final do projeto foi muito inferior ao da arena paulista (que, aliás, ainda pode aumentar, graças à correria para completar o estádio antes da Copa). O preço declarado pelo Benfica foi de 134 milhões de euros, o equivalente a cerca de 400 milhões de reais pelo câmbio atual – ou apenas 40% do custo estimado do Itaquerão. A comparação não leva em conta, por exemplo, as diferenças nos custos de construção na Europa e no Brasil, mas é fácil entender como os portugueses conseguiram abaixar a conta. A Eurocopa só foi entregue a Portugal em 2000, quatro anos antes da realização do torneio. O Benfica teve de fazer uma escolha: ou reformava o velho Estádio da Luz (que ficava no mesmo terreno e tinha sido erguido em 1954) ou aproveitava a oportunidade para construir uma nova casa da estaca zero, abrindo caminho para ganhar mais dinheiro com os atrativos de uma arena moderna (como museu do clube, lojas e restaurantes). Preferiu a segunda opção, e como tinha pouco tempo para desenvolver o projeto, procurou um escritório de arquitetura especializado em arenas multiuso e reaproveitou um desenho que estava engavetado.


Sem excessos - Não é coincidência a semelhança do novo Estádio da Luz com o Emirates Stadium, do Arsenal, em Londres: o projeto absorvido pelos portugueses era uma das versões iniciais da arena inglesa, que, assim como o Itaquerão, passou da marca de 1 bilhão de reais. Os benfiquistas, porém, trabalharam para simplificar a sua versão, deixando o estádio mais despojado e dispensando luxos desnecessários. O palco da final da Eurocopa de 2004 e da decisão da Liga dos Campeões deste ano não tem banheiros com mármore, corredores com acabamento imponente nem materiais nobres em áreas de grande fluxo de torcedores. Isso não quer dizer, entretanto, que não seja um estádio extremamente confortável, funcional e agradável (além de bonito, mas sem excessos).



A arena é servida por duas estações de metrô (permitindo que torcidas rivais, como a de Real e Atlético, sejam separadas na chegada) e tem bons acessos viários. Por causa da boa média de público sustentada pela fanática torcida do Benfica e das visitas ao Museu Cosme Damião (que conta a história do clube) e às lojas e restaurantes, a arrecadação mensal com a arena supera os gastos com a manutenção do estádio. Isso não quer dizer que todos os problemas financeiros estejam resolvidos: por causa da crise econômica que abateu o país nos últimos anos, o Benfica está endividado. O estádio, contudo, não é o culpado pela situação – pelo contrário, já que a quitação dos débitos decorrentes da construção está na reta final e, daqui em diante, vai ajudar a agremiação a se reerguer, e não mergulhar o clube num buraco ainda maior.

Dia da libertação de impostos

por A-24, em 05.06.14
Via Inst. Ludwig Von Mises


Em nome da "justiça social", Brasília e as demais esferas de governo arrecadam quase metade do que é produzido de riqueza no país. Em troca, produzem muitas leis estúpidas e um mar de corrupção. A renda per capita da capital é a maior do país, superandoinclusive a da Suécia. Como agravante, somos chamados pelo eufemismo de "contribuinte", como se estivéssemos fazendo uma doação voluntária (com o perdão do pleonasmo) para bancar a farra dos parasitas consumidores dos nossos impostos. Esse ato imoral de nos tirar quase a metade do que ganhamos sob a mira de uma arma precisa ficar mais transparente.

Os péssimos serviços prestados tornam a situação ainda mais calamitosa. Mas é importante destacar que esse não é o cerne da questão, ao contrário do que muitos pensam. Mesmo que o senhor de engenho ofereça alguns confortos razoáveis para seus escravos, isto não altera a natureza imoral da escravidão. E quando somos forçados a transferir a metade do que ganhamos para governantes, isso não pode ter outro nome senão escravidão, ainda que velada. Infelizmente, muitos não se dão conta disso, e nem sequer sabem o quanto entregam para o governo. Eis o porquê de a iniciativa do "dia da liberdade de impostos" merecer todo apoio possível. Chega de imposto!

Nesta data simbólica, a venda de gasolina será subsidiada. Para isso, o Instituto Ludwig von Mises e o Movimento Endireita Brasil organizaram a venda de 5 mil litros de gasolina comum isentos do preço dos tributos. A gasolina sairá pela metade do preço cobrado normalmente, que é quanto a gasolina custaria caso não incidissem sobre ela tributos como a CIDE, PIS, Cofins e ICMS.