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A-24

25 de Abril: quando a obsessão se transforma em ridículo

por A-24, em 24.04.14
João Vaz

Existe uma revista, de nome Mais Educativa, distribuída gratuitamente e de periodicidade mensal que hoje me chegou às mãos, na escola. Folheando-a ao acaso, deparo-me com um artigo intitulado "40 anos de liberdade". A coisa não está assinada, e ainda bem. É que, além das falsidades, o nível é de uma redacção do sexto ano.

Esta pérola literária começa com uma página dedicada ao ensino durante o Estado Novo, que me vou abster de comentar - demoraria demasiado tempo. Posteriormente, a segunda página reflecte sobre a vida antes do 25 do quatro, e aí a narrativa atinge proporções delirantes. Ficamos a saber (ou melhor, ficam os jovens estudantes aos quais a revista se destina) que "Antes do 25 de Abril, a ausência de liberdade e a atuação repressiva das forças da autoridade impediam o aparecimento de quaisquer grupos, dos negros aos ciganos, passando pelos hippies, pelos homossexuais ou pelos punks." Isto é verdadeiramente delirante. Portanto, antes da abrilada não havia negros nem ciganos em Portugal. Só com a liberdade é que as fronteiras se abriram e eles foram autorizados a entrar. Gueis também não existiam. Hippies? nem vê-los. Os cabeludos de Vilar de Mouros, em 1971, por exemplo, não estavam em Vilar de Mouros, mas numa outra dimensão. Quanto aos punks, é de facto revoltante. Tudo bem, não existiam em nenhum país do mundo, mas os fascistas não podiam ser suficientemente inovadores para permitirem o aparecimento de punks antes deles surgirem, alguns anos depois? como é que este país podia ir para a frente com tamanha falta de iniciativa e criatividade?
Mais a frente surge mais informação notável. Diz-se que "Com a democracia, o povo ganhou poder. Durante estes quarenta anos, os vários Governos impulsionaram a criação de leis para direitos reclamados pelas pessoas, como o divórcio, o aborto ou o nudismo.". De facto, Abril valeu a pena para que estes direitos essenciais fossem adquiridos, em especial o último. Creio que não é despiciendo recordar as centenas de pessoas que foram perseguidas por defenderem um direito essencial como o nudismo e há que reconhecer que, desde a sua emergência enquanto direito, este país é um lugar melhor para viver. 
O arraial prossegue ao longo de mais uns parágrafos. Não me vou demorar mais a dissecar algo que não merece a pena. Mas, se alguém puder deitar a mão a um dos 25.000 exemplares desta publicação de distribuição gratuita leia. Leia e veja como a obsessão com Abril e a demonização do Estado Novo atinge níveis de absoluto ridículo, conjugados com a mais descarada falsidade.