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A-24

Auto-elogio sempre!

por A-24, em 31.07.14
Via a Batalha

Em Cuba dificilmente poderia ser de outra forma. Raúl Castro elogia as reformas económicas por si postas em prática No discurso de encerramento do III Período Ordinário da Assembleia Nacional, o governante cubano defendeu o carácter gradual das reformas económicas. “Encontramo-nos numa fase de actualização do modelo económico qualitativamente superior em que se produzem decisões de maior complexidade e alcance”, sublinhou o general Raúl Castro. “A gradualidade com que se realizam os processos de aperfeiçoamento não é um capricho mas uma necessidade para garantir a ordem e evitar erros que possam desvirtuar os objectivos propostos.” Numa intensa avaliação do programa de reformas que provocou um crescimento económico de 0,6 por cento , Castro afirmou: “os resultados nãos nos satisfazem mas não nos desanimam.” As ideias de actualização da economia socialista da ilha para os capítulos que se seguem passam por “lutar com mais afinco” e, imagine-se “captar mais investimento estrangeiro.”
Perante as dificuldades económicas que se reflectem na crónica escassez de produtos alimentares, as autoridades cubanas preparam-se para tomar novas medidas. Uma delas consiste na eliminação de 6441 cargos administrativos e burocráticos da enorme administração pública que visa diminuir a ineficácia e a corrupção dos organismos estatais, especialmente naqueles quue actuam como intermediários entre os agricultores e o mercado. A outra medida importante passa pela implementação de medidas que permitam uma maior flexibilização operativa das cooperativas agrícolas, consideradas como o pólo principal da actividade agrícola em Cuba. Apesar da aposta de renovação económica do socialismo cubano, a realidade mostra uma desaceleração do ritmo do crescimento económico. Prontamente, o governo aponta os culpados: diminução de divisas e investimentos externos, condições climatéricas adversas e insuficiências internas que são justificadas pela “complexa situação internacional” e pelo “aumento do bloqueio norte-americano” a Cuba. Aliás, boa parte do discuro de Raúl Castro foi gasto nos habituais ataques aos EUA e avisou que “as políticas norte-americanas contra a ilha estão condenadas ao fracasso.” Apontou mesmo o caso do pagamento da multa de nove mil milhões de euros por parte do banco francês BNP Paribas como “um atropelo mais contra a soberania dos estados e das normas de livre comércio e do direito internacional.” Na mesma linha, o general cubano criticou a justiça norte-americana no caso entre a Argentina e os fundos de investimento. A luta do socialismo “neo-liberal” cubano passa por mais firmeza e optimismo temperados com a devida opressão.

Entender um conflito - O que é a Cisjordânia ou Margem Ocidental? E a faixa de Gaza?

por A-24, em 31.07.14

O que é a Cisjordânia ou Margem Ocidental?

É a área compreendida entre a linha do armistício de 1948 e o vale do Jordão. Historicamente corresponde a parte das terras bíblicas da Judeia e Samaria, razão pela qual é essa a denominação adoptada pelo governo israelita para designar a Cisjordânia ou Margem Ocidental.


É na Cisjordânia que se situam alguns dos lugares urbanos há mais anos habitados pelo homem, como Jericó, considerada a cidade ainda habitada mais antiga do mundo, com 10 mil anos. Entre as suas cidades mais importantes contam-se Hebrom, Belém, Jenin, Nablus, Al-Bireh e Ramallah, onde hoje se situa a sede da Autoridade Palestiniana.
A população árabe da Cisjordânia é de cerca de 2,2 milhões de habitantes.
A seguir à guerra da Independência de Israel, 1948, a Cisjordânia foi integrada no Reino da Jordânia, situação que se alterou em 1967 depois da guerra dos Seis Dias e da ocupação israelita. É na Cisjordânia que se encontram a maior parte dos colonatos israelitas.

O que é a Faixa de Gaza?

A Faixa de Gaza é uma estreita fatia de território encaixada entre o Egipto, a sul, Israel, a leste a norte, e o Mediterrâneo. Tem uma superfície de apenas 360 quilómetros quadrados, o que significa que ocupa uma área pouco maior do que o concelho de Sintra mas mais pequena do que a do concelho da Figueira da Foz. É um pequeno rectângulo de uns 40 quilómetros de comprido por nove de largura. Nela vivem 1,8 milhões de palestinianos, o que faz desse enclave uma das regiões do mundo mais densamente povoadas: cinco mil habitantes por quilómetro quadrado.
A Faixa de Gaza vai buscar o seu nome à cidade de Gaza, há vários milénios uma das cidades mais importantes da região e que foi conquistada e reconquistada inúmeras vezes.
No plano de partição das Nações Unidas (1947) a Faixa de Gaza era entregue ao novo estado árabe a criar na Palestina, mas depois da guerra de 1948 acabou por ficar sob jurisdição egípcia até à Guerra dos Seis Dias (1967), quando foi ocupada por Israel. Em 1993, depois dos acordos de Oslo, a administração civil de Gaza passou para a Autoridade Palestiniana, e foi lá que Yasser Arafat, regressado do exílio em Tunes, começou por se instalar.
Em 2005 Israel decidiu retirar-se por completo deste pedaço de território, um gesto unilateral decidido por Ariel Sharon. Todos os colonatos israelitas foram então evacuados e entregues à Autoridade Palestiniana. Pouco depois, em 2006, o Hamas, maioritário entre a população de Gaza, ganha as eleições legislativas e, ao não conseguir chegar a acordo com a OLP, toma o poder neste território e dele expulsa violentamente as outras facções palestinianas.

Tem sido a partir deste território que, nos últimos anos, têm sido disparados contra Israel e os seus centros urbanos milhares de misséis Qassam. Apesar do controle exercido na fronteira com o Egipto, nunca Israel e os seus aliados conseguiram impedir o contrabando de armas para Gaza, armas que depois são utilizadas nestas acções. Esta actividade esteve na origem da curta guerra de 2008/2009, quando Israel desencadeou uma operação militar que incluiu uma invasão por terra através da qual tentou acabar com o disparo permanente de rockets. Neste momento podemos estar a assistir à preparação de uma operação semelhante.

A perturbadora ligação entre o ocultismo e o feminismo

por A-24, em 30.07.14
Antes de começar, quero partilhar convosco uma experiência de vida de um amigo meu que estava numa "relação" com uma mulher do Este da Europa que brincava com o ocultismo. Para condensar a saga, esta rapariga era a típica rapariga "tradicional", "feminina" que cozinhava para ele, e que lhe dava intimidade sexual sempre que ele assim quisesse (...). Tudo pareceu perfeito entre os dois durante mais ou menos seis meses, mas durante esse período ele não sabia que ela era secretamente uma "bruxa" que estava a enviar-lhe feitiços de "amor" como forma de o "amarrar" a ela. Succubus, bruxa, e “namorada” - tudo numa pessoa só. Mais tarde, ele descobriu que ele tinha mais do que ele pensava que tinha.


Gradualmente, à medida que a relação progredia e a paixão ia acabando, as coisas passaram a ser previsíveis e aborrecidas. As suas exigências subtis e caprichosas rapidamente se tornaram dominantes, o que o levou a querer acabar imediatamente com a relação. Isto trouxe ao de cima o pior dela e ele passou a atravessar por momentos destress. Ele partilhou comigo como ele, antes de a expulsar de casa, descobriu que ela estava a juntar preservativos usados (contendo esperma seco), cabelo e fotografias dele para as suas experiências ocultistas para o "amarrar". Isto para não falar da forma como ela tentou enfeitiçar a comida dele como forma de completar o "amarro" sobre ele.

As coisas pioraram, e ela começou a persegui-lo por onde ele andava (depois dele a expulsar de casa), e depois começou a intimidá-lo psicologicamente; quando tudo isto falhou, ela tentou destruir a sua reputação social e profissional. Ele era suficientemente forte para resistir aos ataques dela, mas a sua relação foi uma inspiração suficientemente constrangedora para se aprender mais sobre o ocultismo, e descobrir a ideologia comum que ele partilha com o feminismo.
Uma vez que os leitores podem não acreditar no paranormal, o ponto que se pode deduzir da história, que será principalmente focada mais em baixo, é a surpreendente ligação entre o feminismo e o ocultismo.

A primeira revolta conta o patriarcado

Ao contrário do Judaísmo, do Cristianismo e do islão. a glorificação da forma feminina, começando com Lilith, a suposta primeira esposa de Adão (que o desobedeceu e é considerada a primeira "feminista"), é parte integral do ocultismo. Segundo a crença ocultista, Lilith foi a primeira esposa de Adão, o arquétipo duma feminista com quem os homens se casam, mas divorciam-se depois. Ela frequentemente discutia com Adão e recusava-se a deitar sob ele durante a copulação afirmando que eles eram "iguais". (Um texto com a "História de Lilith" pode ser lido aqui.) A sua recusa em se submeter a Adão é vista como a primeira revolta contra o patriarcado.
O ocultismo e o feminismo no mundo actual

O feminismo tem as suas raízes no ocultismo e na bruxaria, um ponto muito bem confirmado por Mitch Horowitz, autor de “Occult America” .

A sociedade moderna, progressista e feminista, tornou-se, em muitas formas, numa sociedade energizada pelo ocultismo. Referências à "Deusa" ou ao "Feminino Divino"(conceito comum à bruxaria, ao feminismo, e ao esquerdismo), começando com a ascenção do "Movimento da Deusa"nos países Anglófonos e coincidindo com a segunda vaga do feminismo dos anos 70, tornou-se prevalecente nos dias actuais - produto consequente de cinco décadas de feminismo e da espiritualidade a ela associada (ocultismo). Actualmente, somos bombardeados em todos os lugares com simbologia ocultista através dos média. Façam uma busca por "simbolismo ocultista" e vejam os resultados por vocês mesmos.

A cultura beta (pílula azul), que tipicamente romantiza o conceito do amor sentimentalizado e ideal, tem as suas raízes no ocultismo, tal como visto no aumento recente do consumo de filmes românticosnas sociedades modernas (especialmente nas gerações mais jovens). A maior parte das mulheres envolvidas no ocultismo - tanto do presente como do passado - têm (e tiveram) uma crença na superioridade psicológica das mulheres quando comparadas com os homens. Semelhantemente, mascarando-se de um movimento em torno dos direitos das mulheres, o feminismo- como ardil cruel - diz às mulheres que os seus intintos naturais e biológicos foram "socialmente construídos" para as oprimir.

A engenharia social do feminismo, feita com o propósito de destruir a identidade sexual, invertendo os papéis sexuais, é na verdade um movimento feito para que as mulheres secretamente promovam ódio aos homens, bem como sirvam indirectamente de força motora para o ocultismo (ou pelos para os seus conceitos) visto que ambos partilham uma ideologia comum.
A missão do feminismo de dar às mulheres, por mais inútil e indigna que ela seja, o poder de liderar o homem como um cavalo ou um boi amordaçado, para onde quer que ela queira, quando ela quiser, e da forma que ela assim quiser, é semelhante à bruxa que supostamente "controla" o homem de modo a que ele faça o que ela quer, através da manipulação "mágica".
Será coincidência que a revogação do "Witchcraft Act"no ano de 1951, no Reino Unido, associado ao renascimento do ocultismo/bruxaria, coincidiu com a ascensão do feminismo? Para ilustrar ainda mais este ponto, eis aqui um excerto dum artigo que foi publicado há alguns anos atrás (o artigo completo pode ser lido aqui):
Porque é que a feitiçaria se apoderou de tal forma da nossa sociedade baseada no Cristianismo? Certamente, que há vários factores. Muitas bruxas são feministas fervorosas. Este é provavelmente o factor que mais contribuiu para o rápido crescimento do movimento. Seguido de modo fiel os antigos rituais, a religião Wiccana é dominada por mulheres - a sacerdotisa lidera as cerimónias ritualistas. A deusa da fertilidade recebe sempre a adoração inicial. A religião Wicca está feita à medida para as mulheres que queiram exercer poder e autoridade sobre os homens. O Cristianismo genuíno é solidamente patriarcal e este facto afasta a filosofia feminista. As feministas que não foram bem sucedidas em alterar os ensinamentos Cristãos de modo a que estes estejam ao seu gosto, abraçaram a religião Wicca.

Outro artigo publicado no ano passado mostra como a bruxaria e o ocultismo estão, na verdade, a crescer mais rapidamente que qualquer outra religião na Anglosfera. Levando em conta estas tendências (do renascimento da bruxaria no Ocidente) a Anglosfera parece que estará mais ou menos paganizada de um modo significativo mais para o final do século, especialmente se levarmos em conta que as mulheres criadas pelo feminismo estão cada vez mais a escolher o caminho "espiritual".

A bruxaria pelo mundo

Em 2011, e depois de legalmente "registar" a sua primeira bruxa, a Roménia - terra de Drácula - tornou-se no primeiro país a legalizar (e taxar) a bruxaria como uma profissão; levando em conta as tendências, mais cedo ou mais tarde o mesmo irá acontecer no Ocidente.

Na Rússia e em outras partes da Europa Eslava (com uma longa e embutida história de bruxaria), as crenças ocultistasainda estão bem prevalecentes. Muitas mulheres modernas e com formação académica ainda practicam secretamente a feitiçaria (normalmente "magia do amor") - se não practicam, pelo menos acreditam nela.

Num artigo publicado pela WHO ficou-se a saber que há mais bruxas e feiticeiros na Rússia do que médicos; podem ler mais sobre a viagem dum visitante ao coração do ocultismo na Rússia moderna; eis aqui outro artigo centrado no renascimento ocultismo na Rússia moderna; e eis aqui outro artigo interessante sobre as raízes ocultistasda Revolução Russa. No entanto, a Rússia parece estar actualmente a tomar medidas proactivas para acabar com a feitiçaria, ao mesmo tempo que promove um regresso ao Cristianismo Ortodoxo e aos valores patriarcais.

Outras partes da Europa foram alvo dum aumento recentedas prácticas ocultistas, possivelmente consequência da glorificação ocultista que é feita nos média, e essas tendências também são observadas na Ásia e no Médio Oriente. Nas sociedade matriarcaisAfricanas, a feitiçaria vem sendo practicada desde tempos antigos. A Áfricaenfrenta o mesmo problema que a Rússia visto que tem mais curandeiros do que médicos de verdade. Muitas mulheres ainda usam "feitiços de amor" e "poções" para "amarrar" e controlar os seus homens, e muitas mais dependem de curandeiros para se curarem fisicamente.

O que é que o futuro nos reserva?

A clara ligação é aquela que existe entre o feminismo e o ocultismo em sítios ondeambosestão em crescimento. É dito com frequência que a ignorância é uma bênção, mas o conhecimento é poder. É o poder deste conhecimento e a realização da ligação entre o feminismo e o mundo do ocultismo que deve armar os homens de modo a que eles fiquem longe de mulheres que simpatizam com crenças ocultistas. Tal como descobriu o meu amigo, os riscos não compensam.

Via Marxismo-Cultural

Não haverá mais bebés. Habituem-se

por A-24, em 30.07.14
Ana Sá Lopes
A cultura em vigor é a maior ameaça à natalidade. A crise financeira agravou tudo


Não foi porque as mulheres começaram a trabalhar que se deu o rombo da natalidade: afinal, as mulheres das classes trabalhadoras sempre tiveram muitos filhos, no tempo anterior à massificação dos métodos anticoncepcionais. Foi a pílula - e muito menos a entrada das mulheres das classes média e alta no mercado de trabalho - a responsável pela queda a pique das famílias numerosas. Muitas dessas famílias numerosas, importa dizer, viviam a pão e água.
À pílula seguiu-se uma dessacralização e uma sacralização, que nos últimos 40 anos funcionaram em paralelo e se foram agravando: as pessoas dessacralizaram a ideia de "casar e ter filhos", mantendo-se na indecisão sobre se era exactamente isso que queriam e no momento em que decidiram - o que foi acontecendo cada vez mais tarde - foram engolidas por uma cultura de "sacralização". A gravidez era, dantes, uma coisa despreocupada. Hoje, os progressos científicos transformaram-na radicalmente: as mulheres grávidas têm mesmo de mudar de vida e hábitos porque os riscos que lhes são hoje apresentados (desconhecidos anteriormente) são medonhos. A gravidez sacralizada é só o princípio - o complicómetro dispara no nascimento do bebé. A cultura em vigor é a maior ameaça à natalidade: as mulheres deixaram de reconhecer o relógio biológico e convenceram-se (também aqui graças ao progresso científico) de que é possível e absolutamente natural ter o primeiro filho depois dos 40 anos. E vão adiando o "momento certo", mesmo que existam condições sentimentais e financeiras. Muitas vezes o momento certo não chega, porque a fertilidade entra em decadência depois dos 35. Junta-se a isto o rol de pressões para que os pais sejam absolutamente perfeitos - e tenham dificuldade em multiplicar a perfeição por dois ou três. À antiga expressão "tudo se cria"
(e muitas vezes criava-se muito mal) sucedeu o oposto: é "tudo" mesmo muito difícil de criar. Esta situação, que mistura o direito à opção com um caldo cultural que transformou o acto normal de ter filhos numa paranóia, é a principal responsável pela queda da natalidade.
Dito isto, a crise financeira veio agravar a situação, que já não era famosa, e juntou-lhe muito desemprego e uma crise de confiança no futuro. As medidas de apoio à natalidade não resolvem a situação mas, de qualquer modo, como mais ou menos explicou Passos Coelho, não haverá dinheiro - "é preciso fazer contas". Com esta cultura e esta política, não haverá mais bebés.

Entender um conflito - De que falamos quando falamos de dois estados? E de só um estado?

por A-24, em 30.07.14
De que falamos quando falamos de dois estados? E de só um estado?


O princípio das negociações de Oslo que levaram ao histórico acordo israelo-palestiniano de 1993 foi o da troca de terra por paz: Israel devolvia à Autoridade Palestiniana, de forma progressiva, a soberania sobre Gaza e a Cisjordânia em troca do reconhecimento da sua existência. A prazo deveria nascer nos territórios entregues à Autoridade Palaestiniana um novo Estado que pudesse viver em paz com Israel.
Este plano sempre contou com ferozes opositores dos dois lados do conflito. Em Israel opuseram-se-lhe quer os que defendem um Grande Israel, e por isso não abdicam de uma fronteira que passe pelo vale do Jordão, quer os que receiam, por questões de segurança, a vizinhança de um Estado palestiniano com soberania plena.
Do lado palestiniano opõem-se-lhe todos os que continuam a não reconhecer o direito à existência do Estado de Israel. É essa a posição tradicional do Hamas, por exemplo.
De acordo com sondagens realizadas tanto em Israel como nos territórios é esta a solução desejada pela maioria tanto de israelitas como de palestinianos.
A solução de um único Estado parece inviável. Uma fusão pacífica que juntasse todos os que vivem no antigo espaço da Palestina do mandato britânico criaria um Estado de maioria árabe e representaria o fim da ideia de um Estado judeu, e é duvidoso, para não dizer altamente improvável, que pudesse funcionar em paz e democracia. A alternativa – um Estado judeu do Mediterrâneo ao Jordão – implicaria, para ter viabilidade, a expulsão de centenas de milhar de palestinianos ou a sua manutenção como cidadãos de segunda, sem direitos políticos, o que ninguém na comunidade internacional aceitaria.

iTime. Está na hora de acordar, Apple

por A-24, em 29.07.14
23/07/2014 | 12:50 | Dinheiro Vivo | Ana Rita Guerra


Por causa de um artigo que falava da dificuldade de diferenciação das fabricantes que usam Android, levei uma ensaboadela sobre como este sistema operativo é tão superior a todos os outros. Por ser de código aberto, por ser flexível, por estar em todo o lado. As pessoas que ainda usam outros sistemas - leia-se, iOS e Windows Phone, porque o resto implodiu - cedo ou tarde irão reconhecer a sua superioridade e mudar.
A minha resposta foi a seguinte: o Android terminará 2014 com 80,2% de quota de mercado. O iOS terá 14,8% e o Windows Phone 8 terá 3,5% (dados da IDC). Não sei se querem que o Android tenha 100%? É possível traçar um paralelismo entre o que está a acontecer com os dispositivos móveis e o que aconteceu com os computadores. Mas com uma certa piada: o software que venceu, Windows, é proprietário. Nenhuma variação do software de código aberto Linux o conseguiu desafiar. Agora, o software de código aberto é o rei e os sistemas proprietários da Apple e da Microsoft estão bem atrás.
Há uma diferença grande na percepção. O Windows disseminou-se de tal forma e tornou-se tão presente na vida das pessoas que passou a ser considerado obrigatório. Não se ia a uma loja dizer: "uau, eu quero este computador espectacular porque adoro o Windows e sou super fiel à Microsoft." Não havia malta com o símbolo do Windows colado na traseira do carro. Nos piores anos (em termos de segurança e de versões falhadas, como o Vista), a maioria dos utilizadores não gostava de usar Windows. Tinha de usar, e pronto.
O Android, que está a chegar próximo do domínio que o Windows conquistou nos anos noventa, é uma situação totalmente diferente. Começou por ser a alternativa e tornou-se a norma, mas não perdeu a aura de diferente, fresco e desafiador - por ser de código aberto. Há qualquer coisa de rebelde nele. Consegue rivalizar com a Apple nos defensores acérrimos e já tem o maior ecossistema de aplicações do mercado, embora gere ainda menos receitas que a App Store.
Serve isto tudo para dizer que há um risco muito real de que o Android venha a significar 90% ou 95% do mercado mundial dentro de (poucos) anos. Mau em todos os aspectos - excepto para a Google, claro, que terá a maior base de dados de utilizadores do mundo sem grandes custos, com todas as suas actividades e gostos mapeadas e prontas a usar. Correio electrónico? Gmail. Site de vídeos? YouTube. Motor de busca? Google Search. Navegador? Chrome. Software on demand? Google Apps. Loja de música? Google Play Music. Software de mapas? Google Maps. Sistema operativo em que tudo isto se passa? Android.
Mau, porque nenhuma situação de domínio tão completo é boa para a concorrência. Ainda que a Apple tenha uma posição bem mais confortável no mercado doméstico - tem 32,5% de quota, contra 61,9% do Android - a tendência é de queda. É bom que a estratégia de Satya Nadella na Microsoft dê frutos e a nova Nokia volte a ter sucesso. É bom que a BlackBerry não desapareça definitivamente. É bom que a Apple acorde e lance inovações significativas, não apenas incrementais. O relógio inteligente de que se fala há anos - e para o qual a marca submeteu uma patente em 2011 - é um bom princípio. Este outono não é o tudo ou nada da Apple. Mas vai ser bastante mais importante que os últimos.

No comment

por A-24, em 29.07.14

Entender um conflito - O que foram os acordos de Camp David? E os acordos de Oslo?

por A-24, em 29.07.14
O que foram os acordos de Camp David?


Depois de ter combatido e vencido a Guerra da Independência, em 1948, e a Guerra dos Seis Dias, em 1967, nas quais conseguiu derrotar vários exércitos árabes ao mesmo tempo – sobretudo Egipto, Jordânia e Síria, mas também Líbano e Iraque -, Israel enfrentou em 1973 uma terceira guerra convencional em que chegou a temer pela sua sobrevivência. Foi a guerra do Yom Kippur, assim conhecida por os exércitos árabes terem atacado durante a festa mais importante do calendário judaico.
Na frente do Sinai o exército egípcio logrou atravessar o canal do Suez em diversos pontos e avançar rapidamente, só sendo obrigado a recuar depois de um conjunto de audaciosas manobras chefiadas por Ariel Sharon. Esses avanços puderam ser apresentados aos egípcios, muito traumatizadas pela humilhação da derrota de 1967, como uma grande vitória, o que facilitou o caminho ao Presidente egípcio, Anwar El Sadat, e à sua aproximação a Israel.
Com mediação de Jimmy Carter, então Presidente dos Estados Unidos, Anwar El Sadat reuniu-se com o primeiro-ministro israelita Menachem Begin (que era o primeiro não-trabalhista a chegar à chefia do governo desde a independência) na residência de férias do presidente americano, em Camp David. Foi aí que em Setembro de 1978 os dois estadistas chegariam a acordo, firmando uma paz que lhes garantiria, semanas depois, o Prémio Nobel. Formalmente esses acordos foram assinados um pouco mais tarde, em Março de 1979.
Os acordos traduziram-se em dois documentos. Um regulava a relação entre o Egipto e Israel, consagrava a devolução da Península do Sinai e tem funcionado até hoje. Desde Sadat que o Egipto passou para a órbita dos Estados Unidos e mantém uma relação de paz fria com Israel. Suspenso da Liga Árabe, que retirou a sua sede do Cairo, ficou isolado entre os países da região durante grande parte da década de 1980 por causa deste acordo, o Egipto recuperou entretanto a sua posição e viu a Jordânia juntar-se, em 1994, ao grupo dos países que assinaram acordos com o Estado judaico.
O segundo documento pretendia regular a questão palestiniana e previa a retirada de Israel da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Nunca foi aplicado.
A audácia de Sadat acabaria contudo por lhe custar a vida: foi assassinado em 1981, durante uma parada militar, por extremistas que se opunham à paz com Israel.
OBSERVADOR

E como evoluiu o processo de paz desde os Acordos de Oslo?

Os Acordos de Oslo previam uma retirada gradual de Israel da Faixa de Gaza e da Cisjordânia e a transferência gradual da soberania para a Autoridade Palestiniana. Num prazo de cinco anos esperava-se que as duas partes chegassem a um acordo de paz definitivo. Mas quase nada correu como estava previsto, sendo que ambas as partes culpam a outra pelo que correu mal.
Neste processo os palestinianos esperavam receber os seus territórios de volta e os israelitas viverem em paz e segurança. Ora nos cinco anos que se seguiram aos acordos o número de vítimas da violência não diminuiu: morreram 405 palestinianos e 256 israelitas, sendo que no caso dos israelitas esse valor ultrapassou largamente o número de mortes registado nos 15 anos anteriores, que incluíram os seis anos de primeira Intifada.
Politicamente, do lado de Israel, a evolução também não foi positiva, pois Rabin, que havia negociado Oslo, foi assassinado por um extremista judeu em 1995.
No final da década, sob mediação de Bill Clinton, houve um novo esforço para se chegar a acordo. Ehud Barak, o primeiro-ministro israelita de então, disponibilizou a Yasser Arafat, durante uma cimeira realizada em Camp David, um acordo que muitos viram como irrecusável. Mas Arafat recusou e, passados apenas dois meses, a região estava de novo mergulhada na violência da segunda Intifada. A bloquear o acordo esteve o estatuto de Jerusalém, a delicada questão da gestão do Monte do Templo/Esplanada das Mesquitas e o tema terrivelmente difícil do “direito de retorno”.

De então para cá pouco se tem avançado no processo de paz. Os últimos anos de vida de Arafat (morreu em 2004) foram de profunda desconfiança entre as duas partes. Como Ariel Sharon e Abbas houve avanços – Israel saiu unilateralmente de Gaza, houve acordo entre ambos para terminar a segunda Intifada – mas depois veio o conflito entre o Hamas e a Fatah, com a divisão da zona controlada pela Autoridade Palestiniana em duas metades rivais. Entretanto Israel construiu uma extensa barreira de protecção que os palestinianos designam por “muro”. Na prática foi uma medida que quase acabou com ataques suicidas no interior de Israel.

Mundo - Bolívia baixa idade legal de trabalho infantil para os 10 anos

por A-24, em 28.07.14
Via Observador

A Bolívia baixou a idade legal para uma criança trabalhar dos 14 para os dez anos. O vice-presidente boliviano, Alvaro Garcia Linera, assinou no final da semana passada a lei que estabelece que uma criança com dez anos passa a podertrabalhar por conta própria. Os requisitos para que tal aconteça são dois: a criança continuar a estudar e ter autorização dos pais. A partir dos 12 anos uma criança boliviana passa a poder assinar um contrato de trabalho, com a obrigação de ter a aprovação dos pais e frequentar a escola.
A aprovação da lei faz parte de um plano governamental que tem por objetivo ajudar os bolivianos a saírem da pobreza. O executivo de Evo Morales acredita que ao adicionar um salário aos rendimentos as famílias consigam melhorar a situação financeira. O vice-presidente, Alvaro Linera, citado pela BBC, disse que a nova legislação reflecte as necessidades da Bolívia, um dos países mais pobres do mundo e “endurece as penas para a violência contras as crianças”. Linera sublinhou que “O presidente [Evo] Morales interveio para garantir que encontrávamos um equilíbrio entre a realidade e a lei, entre os direitos e os tratados internacionais”. Mas a contestação não tardou. E precisamente pelo lado da violação das leis internacionais. Vários grupos contra o trabalho infantil têm levantado a voz contra a medida. Carmen Moreno, da Organização Internacional do Trabalho, disse que a lei vai contra a determinação das Nações Unidas que estabelece os 14 anos como a idade mínima para alguém trabalhar. Jo Becker, advogada da “Human Rights Watch”, citado pelo jornal “Independent“, disse que a lei mostra “vistas curtas” e não é a solução para os problemas financeiros que os bolivianos encaram. Becker considera que a Bolívia “está um passo atrás do resto do mundo, o trabalho infantil pode ser visto como uma solução de curto-prazo para as dificuldades económicas, mas é, na verdade, uma causa de pobreza.”
De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho, o trabalho infantil foi reduzido em um terço entre 2000 e 2008. E entre 2008 e 2012, na América Latina e nas Caraíbas, caiu perto de dois milhões o número de crianças a trabalharem. Ainda assim, o trabalho infantil é encarado como estando enraizado na cultura boliviana, sendo que uma grande percentagem da população adolescente trabalha. Estima-se que um milhão de crianças bolivianas com idades entre os cinco e os 17 anos trabalham. É o equivalente a 15% da força de trabalho do país.

Criminalização de sem-abrigo avança pela Europa

por A-24, em 28.07.14
Público

A penalização da mendicidade na Noruega é o derradeiro exemplo de uma tendência para aprovar leis, regulamentos ou medidas que dificultam a vida de quem dorme nas ruas da Europa. Ao mesmo tempo, há tentativas de integrar os sem-abrigo. Diversos países delinearam estratégias, como Portugal.

Com a crise a semear pobreza, há cada vez mais gente sem casa pela Europa. Alguns descobrem que as acções mais corriqueiras na rua podem resultar numa sanção penal. O último exemplo vem da Noruega. Este Verão os seus municípios voltam a poder banir a mendicidade.
A Federação Europeia de Organizações Nacionais Que Trabalham com Sem-abrigo (FEANTSA) tem manifestado "preocupação" pelo modo como, em diversos pontos da Europa, se tem optado por "medidas repressivas". Em 2012, aliou-se à Housing Rights Watch e à Fondation Abbé Pierre para produzir o primeiro relatório sobre "a criminalização dos sem-abrigo na Europa".
No Sul e no Norte, no Ocidente e no Oriente, regiões e municípios têm avançado com regulamentos e medidas que dificultam o dia-a-dia de quem sobrevive nas ruas, diz Freek Spinnewijn, director da FEANTSA, ao PÚBLICO. Proíbem actos como deitar-se, dormir, comer ou guardar pertences pessoais no espaço público, mendigar, distribuir comida ou recolher lixo dos contentores.
A tendência vem dos Estados Unidos, com tradição de "lei e ordem" baseada em políticas como a "tolerância zero". Antes os sem-abrigo não faziam parte da chamada "população perigosa". Esse lugar pertencia aos ciganos e, na Irlanda e no Reino Unido, aos travellers. Com o aumento de estrangeiros entre os sem-abrigo, alguns tornaram-se "vítimas" de leis e regulamentos que punem o suposto risco de crime.
A Freek Spinnewijn a Noruega parece um caso "interessante". Tem um Estado social forte e um conjunto de leis progressistas. Os noruegueses não serão tão afectados pela proibição de mendigar. A medida, anunciada com a promessa de mais apoio à reinserção de toxicodependentes e expansão da habitação social, recairá mais sobre os estrangeiros indocumentados, em particular sobre os de origem cigana saídos da Roménia, da Bulgária e da Hungria.

Escalada na Hungria
Nenhum lugar preocupa tanto Freek Spinnewijn como a Hungria. Desde meados dos anos 2000 que as autoridades locais criminalizam a chamada "mendicidade silenciosa". E já então era proibido mendigar na companhia de crianças ou de forma "agressiva". A partir de 2010, com a subida da extrema-direita ao poder, o país começou a escalada para a criminalização dos sem-abrigo.
Primeiro, o Parlamento húngaro aprovou a lei que permite atribuir funções específicas ao espaço público e proibir quaisquer outras. Depois, Budapeste interditou o uso do espaço público para morar. Volvidos uns meses, o Parlamento decidiu punir com 60 dias de prisão ou 530 euros de multa quem, durante seis meses, por duas vezes violasse qualquer proibição de dormir no espaço público. Mais um mês e estava a proibir dormir no espaço público em todo o país.
"A criminalização dos sem-abrigo pode ter o perigoso efeito secundário de forçar as pessoas a procurarem lugares mais escondidos, onde é mais difícil receber a ajuda — amiúde vital — de cidadãos preocupados ou o acompanhamento de técnicos que se deslocam ao terreno", sustentou Balint Misetics, professor no Colégio de Estudos Avançados em Teoria Social, no referido relatório.
"A Hungria choca mais porque não teve o cuidado de esconder o que está a fazer e fá-lo a um nível nacional", considera Freek Spinnewijn. "Noutros países europeus, isso tem estado a acontecer de uma forma mais subtil, por vezes quase invisível, e a um nível das regiões ou dos municípios."
Cory Potts, criminologista da FEANTSA, e Lucie Martin, socióloga da Diagénes, pegam no caso da Bélgica para mostrar como tudo pode começar com sanções administrativas e acabar em prisão. Veja-se o caso de Liège. De acordo com o regulamento aprovado em 2011, mendigar é permitido entre as 8h e as 17h de segunda a sexta e das 7h às 12h de domingo; não podem estar mais de quatro mendigos numa rua; não se pode mendigar em cruzamentos, nem em entradas de edifícios públicos, empresas, casas. Desde 2012, quem desrespeita as regras cai na alçada da polícia. Na primeira vez, um aviso; na segunda, uma intervenção do serviço social; na terceira, detenção.
Os sem-abrigo não desapareceram da cidade. Há zonas de tolerância. Cory Potts e Lucie Martin temem que essa tolerância esteja ameaçada. Proliferam os locais "semipúblicos", o que abre caminho a novas restrições. E a requalificação que se vai fazendo vai tornando os sítios mais "defensivos". Basta colocar barreiras nos bancos públicos para impedir as pessoas de se deitarem neles, por exemplo.

Punir comportamentos
Há exemplos anteriores à crise que começou nos EUA em 2008 e se estendeu à Europa. A Câmara de Barcelona é emblemática: em 2005, optou por punir comportamentos que considera anticívicos, como vomitar, urinar, defecar, cuspir, pintar graffiti, mendigar na rua, exercer a prostituição ou fazer venda ambulante, com multas que oscilam entre 120 e os três mil euros.
No ano passado, a Câmara de Madrid aprovou um modelo mais duro: punir com multa de 750 a três mil euros quem pedir esmola à porta de um centro comercial, acampe, faça malabarismos ou solicite serviços sexuais no espaço públicos, cuspa ou atire papéis para o chão, ofereça folhetos nos semáforos; perturbe os vizinhos, enquanto rega as plantas; alimente ou dê banho a cães na rua.
Em Itália, os exemplos multiplicam-se. Logo em 2008, a Câmara de Roma decidiu castigar com multas de 50 a 150 euros quem se pusesse a comer ou a beber, a cantar, a fazer barulho ou a dormir no centro histórico ou mesmo fora dele, se junto a monumentos. Também decretou que não se pode mendigar, nem vender flores ou outros pequenos objectos, a menos que se tenha licença.
Verona foi mais longe. A câmara resolveu passar multas de 25 a 500 euros a quem alimentar sem-abrigo. O presidente, Flavio Tosi, eleito pelo partido de extrema-direita anti-imigração Liga do Norte, diz que o objectivo é promover "a higiene" e "a imagem pública da cidade".
Tudo isto, na opinião de Freek Spinnewijn, reflecte ignorância e sensação de impotência. "Ser sem- abrigo não é uma escolha individual, é o resultado de uma série de desvantagens", sublinha. "Tornar a vida destas pessoas mais difícil não resolve o problema. As pessoas podem ficar menos visíveis, mas continuam lá."
Havia complacência, corrobora Sérgio Aires, presidente da Rede Europeia Anti-pobreza. Pensava-se os sem-abrigo como pessoas com problemas de saúde mental, dependência de bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas. Essa ideia é mais redutora do que nunca. Muita gente tem perdido a casa com a crise.
Sérgio Aires lê nas leis, regulamentos e medidas que dificultam a vida dos sem-abrigo uma "intolerância para com os pobres" que lhe parece "estranha". As pessoas que estão a chegar às ruas são "mais parecidas com o cidadão comum". Muitas vezes tinham vidas integradas até perderem o emprego.
O fenómeno está na agenda europeia. Há meia dúzia de anos que a União instiga os Estados-membros a investirem na integração das pessoas sem-abrigo.
Diferentes países adoptaram estratégias para reduzir o número de pessoas a dormir nas ruas. Alguns optaram por abordagens mais baseadas na lógica "casa primeiro", como a Suécia, a Finlândia e a Dinamarca. Outros, apesar de considerarem isso importante, falam em aumentar a qualidade da rede de albergues e de serviços de apoio à habitação, como os Países Baixos, a França e Portugal.

Regras portuguesas
"Portugal não tem orçamento", comenta Freek Spinnewijn. Apesar disso, o país cabe no rol de exemplos positivos. "Tem uma estratégia nacional. Ainda está no papel, mas tê-la já é um princípio."
Segunda a Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas Sem Abrigo, aprovada em Portugal em 2009, ninguém deve permanecer na rua mais de 24 horas, a menos que seja essa a sua vontade. Existiriam centros de emergência — estruturas de resposta imediata, das quais se sairia, com um diagnóstico feito, para alojamento temporário ou permanente. Em lado algum foram criados.
A estratégia aponta para a organização local. Sempre que o número de sem-abrigo justifique, deve constituir-se um Núcleo de Planeamento, Intervenção a Sem-Abrigo e delinear-se um conjunto de respostas integradas. "Vai funcionando no Porto", afiança Sérgio Aires. Em Lisboa não tanto. Tenta-se agora reactivá-la. "Há muita coisa a acontecer e essa não é uma das prioridades." Congratula-se por não haver em Portugal a intolerância de outros países. Nem um clima rigoroso.
No ano passado, pelo menos 4420 pessoas viviam em jardins, estações de metro ou camionagem, paragens de autocarro, estacionamentos, passeios, viadutos, pontes e abrigos de emergência de Portugal. O número peca por defeito. Corresponde às pessoas acompanhadas no âmbito da Estratégia.
Os técnicos encontram resistência entre alguns sem-abrigo. Os albergues não permitem animais. Nem deixam entrar quem emite sinais de estar de consciência alterada. Têm rigorosos horários de entrada e saída. As pessoas têm de sair e de voltar cedo. São forçadas a passar o dia na rua. E, na maior parte das vezes, não têm privacidade no albergue. Mesmo assim os que existem não chegam para as encomendas. A Segurança Social recorre então a pensões, amiúde, de baixíssima qualidade.
"Aquelas pessoas querem viver numa casa, como as outras, mas precisam de algum apoio para isso", diz Freek Spinnewijn. Alargar o mercado social de arrendamento parece-lhe a melhor hipótese. "Em muitos países, o Estado e a Igreja e outras organizações têm inúmeras casas vazias."
Há uns meses, o diário britânico The Guardian fez as contas: na Europa existem umas 11 milhões de casas vazias e uns 4,1 milhões de sem-abrigo. Em Portugal a desproporção também é grande 4420 sem-abrigo e, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), 735 mil casas vazias.
O exemplo de Portugal pode ajudar a perceber o quão inalcançável pode ser uma casa. O preço das rendas permanece alto para quem recebe 179 euros de rendimento social de inserção ou 235 euros de pensão social, como já explicou ao PÚBLICO Henrique Pinto, director da Cais.
Sérgio Aires também faz a defesa das bolsas de habitação. Não a construção de bairros, modelo que criou não lugares por toda a Europa, mas a recuperação de casas situadas em ruas comuns, "com dignidade, a custos controlados". Na certeza de que tal não será solução para todos.

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