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A-24

Mundial: França e Alemanha nos quartos de final

por A-24, em 30.06.14


França 2-0 Nigéria (Pogba 79' e Yobo a.g 90'+2)


Não foi fácil. A Nigéria chegou a estar por cima, mas os franceses conseguiram confirmar o favoritismo e ficam à espera do vencedor do Alemanha-Argélia. Foi um erro de Enyeama que permitiu a Pogba desbloquear o marcador num jogo em que a França apresentou muitas lacunas no último passe. A Nigéria mostrou ser uma equipa madura e bem organizada, mas acusou o desgaste na recta final do encontro. A dupla Musa-Emenike voltou a ser um quebra-cabeças para os adversários e sai deste Mundial muito valorizada.

A Nigéria conseguiu equilibrar o jogo contra uma das equipas mais fortes da fase de grupos. A equipa surgiu concentrada e bem posicionada, conseguindo travar a dinâmica do meio campo francês durante um largo período. Só quando Pogba e Matuidi conseguiam ultrapassar Mikel e Onazi é que a turma de Deschamps conseguia criar perigo, e num desses lances o médio da Juventus viu Enyeama negar-lhe o que seria um grande golo. Do outro lado, Musa e Emenike deixaram a defensiva francesa em sentido. Os nigerianos até bateram Lloris, mas o golo de Moses foi invalidado por um fora de jogo no limite. Na segunda parte, a França entrou com uma atitude muito passiva e os africanos, mais acutilantes, superiorizaram-se e podiam ter marcado (Lloris esteve atento). A mudança no jogo deu-se com a entrada de Griezmann e a passagem de Benzema para a zona central. Os europeus voltaram ao comando da partida e chegaram à vantagem na sequência de um canto, com Pogba a aproveitar um mau alívio de Enyeama. Já em cima do final, Yobo fez um auto-golo quando Griezmann se preparava para marcar.


França - Foi a pior exibição até ao momento, muito por culpa de Deschamps. A opção inicial, com Giroud e Benzema, não deu resultado ofensivamente (fez falta um jogador como Griezmann a aparecer entre linhas) e prejudicou a equipa defensivamente, já que o jogador do Real Madrid não defendeu e permitiu a Ambrose ter uma auto-estrada no flanco direito. O técnico francês foi a tempo de corrigir o erro, mas fica o aviso para a próxima eliminatória. Individualmente, Pogba fez uma exibição algo intermitente mas quando aparecia no jogo fazia a diferença com a sua capacidade de passe e transporte, tal como Matuidi. Benzema fez o jogo menos conseguido, aparecendo menos e cometendo muitos erros no passe. Valbuena esteve em bom plano e foi mesmo o elemento que esteve mais assertivo no último terço. Defensivamente, para além da segurança de Lloris, Varane e Koscielny fizeram uma exibição impecável, bem como Debuchy, que sempre que se integrava no ataque criava desequilíbrios. Evra sofreu bastante com a velocidade dos nigerianos, muito por culpa da falta de apoio de Benzema.

Nigéria - Excelente réplica dos africanos. Se não fosse o erro de Enyeama (não merecia e até fez várias defesas espectaculares) até podiam ter conseguido o prolongamento. Keshi montou bem a equipa, conseguindo anular durante a maior parte do encontro as subidas dos laterais franceses (Musa e Moses estiveram bem nas tarefas defensivas), pressionando a saída de bola e aproveitando a superioridade numérica no corredor direito para criar perigo. Ambrose fez um grande jogo, apoiando muito bem o ataque. A dupla Musa-Emenike voltou a causar imensas dificuldades ao adversário com a sua potência, velocidade e, ao contrário de muitos jogadores africanos, boa capacidade de decisão. Odemwingie também surpreendeu, recuando bastante e dando critério à posse de bola da equipa.




Alemanha 2-1 Argelia (a.p,)

Não estava nas previsões, mas a Argélia deu muito trabalho à Alemanha, a ponto de ter pairado a hipótese de uma enorme surpresa. Os germânicos precisaram de um prolongamento para vencer os argelinos (2-1) e seguirem para os quartos-de-final, fase em que vão defrontar a França.
Depois de 90 minutos sem golos, Schurrle quebrou a resistência da Argélia, ao marcar logo no início do prolongamento. O jogador do Chelsea marcou de calcanhar, após um cruzamento de Müller.
No penúltimo minuto do prolongamento, Özil marcou o segundo golo e logo a seguir Djabou reduziu para a Argélia.
Com a vitória por 2-1, a Alemanha garante pela 15.ª vez seguida a presença entre os oito melhores de um Mundial de futebol.

Cem anos depois, o passado continua a assombrar Sarajevo

por A-24, em 30.06.14
Num país dividido como a Bósnia-Herzegovina, onde o passado continua a assombrar o presente, as comemorações dos cem anos da Primeira Guerra Mundial são assunto delicado: tanto tempo depois, os olhares cruzados sobre Gavrilo Princip, o sérvio bósnio que assassinou o arquiduque Francisco Fernando a 28 de Junho de 1914, assim precipitando a Europa num conflito que acabaria por se estender ao resto do mundo, mostram que as feridas da sangrenta desintegração da Jugoslávia continuam por cicatrizar. Os concertos que terão lugar na capital, Sarajevo, e em Visegrad, ali assinalando a data que mudou para sempre o século XX, são um sinal de que continua a ser impossível falar do passado a uma só voz.

Em Sarajevo, onde o herdeiro ao trono dos Habsburgos foi abatido a tiro numa manhã do Verão de 1914, a Filarmónica de Viena vai tocar Haydn, Schubert, Brahms e Ravel, em memória do crime que deu início à guerra e encerrou uma era de paz e progresso na Europa. Paralamente, em Visegrad, a principal orquestra da Sérvia interpretará o Concerto de Verão de Vivaldi num tributo a Gavrilo Princip, que os sérvios continuam a ver como um herói cujo acto de bravura deu a machadada final em séculos de ocupação dos Balcãs. A organização está a cargo do cineasta Emir Kusturica. 

Os líderes da Sérvia e dos sérvios bósnios recusaram-se a participar nas comemorações organizadas em Sarajevo, argumentando que a maioria muçulmana da Bósnia e a maioria católica da Croácia estão decididas a impor que Princip fique para a História como um terrorista nacionalista, assim culpando os sérvios em geral pelas guerras que abriram e fecharam o século XX na Europa. Contrariando essa visão, os sérvios vão inaugurar em Visegrad um mosaico representando Princip e os seus colaboradores; um grupo de actores reconstituirá o assassinato de Francisco Fernando e o julgamento do seu jovem assassino de 19 anos, que morreu na prisão, vítima de tuberculose, meses antes do fim da Primeira Guerra Mundial.
O assassinato do herdeiro ao trono dos Habsburgos, disse Kusturica à Reuters, "iniciou a libertação da servidão e da escravatura". "Não vejo por que razão toda a gente haveria de assinalar o dia no mesmo lugar quando as visões sobre este acontecimento são tão desencontradas", reforçou.
Do outro lado da barricada, a mensagem é de união: em Sarajevo, as comemorações terminarão com um musical ao ar livre que junta 280 artistas de toda a Europa, incluindo sérvios, e cujo título, esperançoso, é A Century of Peace after the Century of Wars ("Um século de paz depois do século das guerras"). "Gostaríamos de abrir simbolicamente o novo século com um gesto artístico sobre a paz e o amor", explicou à Reuters o encenador Haris Pasovic. "Representamos uma geração mais nova, comprometida com a mesma ideia básica - a vitória da paz e da vida sobre todas as coisas más que aconteceram", acrescentou o estudante de teatro sérvio Uros Mladenovic.
O Presidente austríaco, Heinz Fischer, encabeça a lista de dignitários que assistirão às comemorações do centenário da Primeira Guerra Mundial na capital bósnia. Os festejos são maioritariamente patrocinados pela França. Com a unidade e a prosperidade da Europa ameaçadas pela crise económica e social, os líderes dos 28 Estados-membros da União Europeia reúnem-se na próxima quinta-feira, dia 3, em Ypres, uma cidade que é sinónimo da morte e do sofrimento causados pela guerra de 1914-1918.

Uma estátua para um assassino
O concerto que a Filarmónica de Viena dá este sábado na Bósnia terá lugar na antiga Câmara Municipal de Sarajevo, onde na manhã de 28 de Junho de 2014 Francisco Fernando e a mulher, Sofia, assistiram a uma recepção pouco antes do atentado fatal.
Um mês depois, o exército austro-húngaro atacava a Sérvia e as grandes potências europeias entraram no conflito. Mais de dez milhões de soldados morreram à medida que os impérios se desmoronavam e o mapa do continente se redesenhava radicalmente.
Reconvertido em Biblioteca Nacional em 1949, o edifício neo-mourisco ardeu em 1992 durante o cerco que manteve a cidade sitiada ao longo de 43 meses. Quase dois milhões de livros foram então destruídos; uma placa entretanto colocada no local denuncia a culpa dos "criminosos sérvios". Meticulosamente restaurado, reabriu em Maio e vai acolher o seu primeiro evento este sábado. Mas os sérvios são sensíveis a qualquer tentativa de estabelecer ligações entre as guerras de 1914-1918 e de 1992-1995.
"Ponderei ir a Sarajevo", declarou o primeiro-ministro sérvio Aleksandar Vucic. "Mas era suposto passar junto de uma placa que refere os 'agressores sérvios fascistas'. Lamento, mas com todo o devido respeito não posso fazer uma coisa dessas."
Muitos bósnios e croatas recordam a ocupação austro-húngara como um período de progresso e vêem em Princip um sérvio nacionalista movido pelas mesmas ambições territoriais que estiveram anos depois por trás das limpezas étnicas da década de 1990. Na sequência da Primeira Guerra Mundial, consideram, o domínio austro-húngaro foi substituído pelo domínio de Belgrado, no contexto do então criado reino da Jugoslávia.
Depois da Segunda Guerra Mundial, e sob o regime socialista jugoslavo, Princip foi oficialmente reabilitado como um combatente pela libertação de todas as nações e de todas as fés unidas por Tito. Mas a desintegração da Jugoslávia, que se pulverizou entretanto em sete novos estados, quebrou qualquer hipótese de unanimidade acerca do seu papel na História. A guerra, fomentada pela Sérvia e pela Croácia, provocou a morte de cem mil pessoas, na sua grande maioria bósnios. Até hoje, continuam a ser descobertas valas comuns.
A casa natal de Princip, no Noroeste da Bósnia, foi demolida, mas foi reconstruída este ano pelos sérvios, que planeiam reabri-la como museu. E entretanto, na metade Leste de Sarajevo, de maioria sérvia, será inaugurada uma estátua do assassino de Francisco-Fernando. Os acordos de paz que selaram o fim da Guerra dos Balcãs dividiram a Bósnia em duas regiões altamente autónomas, distribuindo o poder por facções étnicas antagónicas num sistema que os críticos acreditam apenas ter cimentado as divisões anteriores. Os líderes políticos continuam a enfatizar as diferenças, apesar de uma aparente disponibilidade acrescida entre os bósnios para seguir em frente.
Perante a polémica das comemorações do centenário da Primeira Guerra Mundial, o líder bósnio sérvio Milorad Dodik, que frequentente agita o fantasma de uma secessão, disse aos jornalistas: "Tanto no sofrimento como nas celebrações, sempre estivemos em lados opostos. Isso diz muito acerca do passado da Bósnia, mas também acerca do seu presente." PÚBLICO

Acontecimentos de 1975

por A-24, em 30.06.14


Há 39 anos, por esta hora, eu estava no Campo Santana, em Lisboa, numa manifestação à porta do Patriarcado que tinha ali a sua sede, de apoio aos trabalhadores da Rádio Renascença. Não era a primeira vez que o fazia: antes do 25 de Abril, participara em vários protestos contra o cardeal Cerejeira, por atitudes que ele tomava, ou omitia, nas relações entre a Igreja portuguesa e o governo em tempos de ditadura. Tipicamente, acabávamos sempre refugiados no átrio ou, pelo menos, protegidos pelo gradeamento que, no passeio, rodeava a porta principal – reacção instantânea quando se aproximavam os tradicionais Volkswagen creme nívea da PSP.
Mas, em 18 de Junho de 1975, os ventos eram já bem diferentes e foram outros que se refugiaram dentro da sede patriarcal. Passo a explicar, mas muito resumidamente, porque foi longo e complexo o chamado «caso da Rádio Renascença».
Quando a Revolução aconteceu, a Rádio Renascença (RR) era uma das três grandes estações de radiodifusão, a par da Emissora Nacional e do Rádio Clube Português, com um ambiente relativamente livre dentro dos limites existentes e não foi por acaso que sobre ela incidiu a escolha para a transmissão de Grândola como senha para os militares avançarem. Mas, curiosamente, foi lá que teve lugar a primeira greve em serviços de informação, logo no dia 30 de Abril, por uma profunda divergência entre jornalistas e directores a propósito da cobertura da chegada a Portugal de Mário Soares e de Cunhal. A estação esteve parada cerca de 19 horas, os trabalhadores ocuparam o espaço e o conselho de gerência acabou por abandonar o local. Este foi apenas o primeiro capítulo de uma atribulada história que duraria até Dezembro de 1975, data em que a gestão da estação foi definitivamente devolvida à Igreja.

Pelo meio, o tal episódio de 18 de Junho de 1975. Durante mais uma crise interna, sindicatos

representativos de vários sectores – jornalistas, revisores de imprensa, tipógrafos e telecomunicações – convocaram uma manifestação a ter lugar junto do Patriarcado. E teria sido apenas mais um evento, entre muitos semelhantes que aconteciam quotidianamente, não se tivesse dado o caso de ter havido uma convocatória para uma contramanifestação, feita por muitos padres, a pedido do conselho de gerência da RR (texto na imagem, aqui ao lado).
Estava lançado o rastilho para um confronto que teve tiros para o ar dados pela PSP e pela Polícia Militar, muitas pedradas e cerca de 40 feridos, com os manifestantes pró-Patriarcado refugiados no interior do edifício e evacuados já de madrugada em camiões militares.
Antes, durante e depois, foram divergentes os apoios recebidos por cada um dos lados. A UDP foi a primeira organização política a apelar para a participação na manifestação de apoio aos trabalhadores, acompanhada, entre outros, pelo MES, LCI, LUAR, PRP/BR, CMLP, ORPCML, Associação de ex-Presos Políticos Antifascistas, várias comissões de trabalhadores (com realce para a dos TLP), e organizações católicas como a JOC e Cristãos pelo Socialismo. Contra a manifestação, embora com diferentes nuances, declararam-se o PS, o PPD, o CDS, o PDC e o PCP. Estranho? Olhem que não, olhem que não!