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A-24

Sete pessoas morreram em ataques terroristas na União Europeia em 2012

por A-24, em 31.05.14
Via Observador
Sete pessoas morreram no ano passado na União Europeia na sequência de ataques terroristas, menos dez do que no ano anterior. Esta é uma das conclusões que constam no relatório anual sobre terrorismo, divulgado esta quarta-feira pela Europol. “O terrorismo continua a ameaçar a segurança dos cidadãos e os interesses da União Europeia”, lê-se, com a guerra civil da Síria a fazer “crescer exponencialmente essa ameaça”.
Lee Rigby

Do total de 152 ataques reportados em 2013, quatro deles resultaram em sete vítimas mortais. Uma delas foi o soldado britânico Lee Rigby, de 25 anos, assassinado a 22 de maio nas proximidades de um quartel do Exército em Woolwich, sudeste de Londres, por dois cidadãos ingleses convertidos ao islamismo, que o atropelaram e esfaquearam repetidas vezes, alegadamente para vingar a morte de muçulmanos pelas forças armadas britânicas.
Outro caso tem a ver com uma série de ataques terroristas levados a cabo também no Reino Unido entre abril e julho, motivados pela ideologia da extrema-direita. Num dos casos, um cidadão ucraniano esfaqueou um reformado muçulmano, Mohammed Saleem, quando saía de uma mesquita e caminhava para casa. O atacante, identificado como Pavlo Lapshyn, detonou ainda bombas caseiras em três mesquitas na área de West Midlands. O ucraniano viria depois a dizer à polícia que os ataques foram motivados pelo ódio às pessoas não-brancas.
A 9 janeiro de 2013, três mulheres curdas foram assassinadas em Paris, por pertencerem ao Partido dos Trabalhadores Curdos e estarem ativamente envolvidas no financiamento da organização. E, a 1 de novembro, dois membros do partido neo-nazi grego Aurora Dourada foram mortos a tiro num ataque que foi reclamado pelo antigo grupo Forças Revolucionárias Militantes Populares – foram as primeiras vítimas mortais resultantes da atividade terrorista anarquista na Grécia desde 2010.

Ainda sobre as eleições na Índia

por A-24, em 31.05.14
Jorge Almeida Fernandes no PÚBLICO:

1. A vitória de Narendra Modi e dos nacionalistas hindus do Bharatiya Janata Party (BJP, Partido do Povo Indiano) marca o fim de uma era. A vitória estava anunciada. A surpresa é a sua dimensão. Desabou o Partido do Congresso, que liderou a independência da Índia, moldou as instituições e governou quase sempre. Só este facto permite falar em “ruptura histórica”. Abre-se também uma situação inédita desde os tempos da antiga hegemonia do Congresso: a oposição parece inexistente.

A avalancha que leva Modi ao poder suscita inquietações nas minorias religiosas — muçulmanos e cristãos — e entre os liberais seculares que temem a “hinduização” da “maior democracia do mundo” e uma deriva autoritária. Em Março, o historiador Ramachandra Guha, impenitente crítico de Modi, avisou os intelectuais que falavam na ameaça de um fascismo hindu: “É sucumbir a um infeliz e prematuro alarmismo. A democracia sobreviverá.”
2. O BJP esteve no poder entre 1988 e 2004 e não aconteceu nenhuma catástrofe. O primeiro-ministro de então, A. B. Vajpayee, pertencia à ala “moderada” do partido e estava amarrado numa coligação heterogéna. Ao contrário, Modi tem uma maioria absoluta e um perfil controverso. Fez carreira na “milícia” hinduísta Corpo Nacional de Voluntários (RSS), vanguarda do nacionalismo hindu desde os anos 1920. Depois, o nome de Modi está associado aos confrontos inter-religiosos e massacres ocorridos em 2002 quando governava o estado de Gujarat. Foi ilibado pelo Supremo Tribunal mas os seus críticos replicam: “Falta de provas é uma coisa, inocência é outra.”
O fascismo é um fenómeno europeu e a prioridade do RSS não é conquistar o poder, sublinha o indianista Christophe Jaffrelot. Quer modelar a sociedade segundo os valores e símbolos hindus, identificar Índia e hinduísmo: é a ideologia da hinduidade (Hindutva). As outras religiões teriam liberdade no foro privado, na mesquita ou na igreja, mas o espaço público seria exclusivo do hinduísmo e seus símbolos.

O BJP tem no seu programa uma parte destas reivindicações, como o Código Civil Uniforme que retiraria aos muçulmanos a aplicação de um direito próprio — designadamente em matéria de família — com base na sharia (lei islâmica). A Hindutva visa desmantelar o modelo secularista indiano, muito mais próximo do multiculturalismo do que do laicismo. Poderia desembocar, na expressão de Jaffrelot, numa espécie de “democracia étnica”.
Curiosamente, durante a campanha, Modi evitou o tema da Hindutva e nunca usou a palavra. Deixou esse trabalho para o seu “braço direito”, Amit Shah, no estado do Uttar Pradesh. Duplicidade? Interroga-se o jornalista britânico Edward Luce: será Modi “um Dr Jekyll e Mr Hyde indiano”?
3. Há uma questão prévia: por que votaram os indianos maciçamente em Modi? Primeiro, ele deu “um horizonte de esperança” e centrou a campanha na economia e no desenvolvimento. Foi impressionante o contraste entre a sua “energia” e a “atonia” do discurso do Congresso, sublinham os analistas. A Índia conheceu um período de espectacular crescimento económico e uma travagem nos últimos dois anos. As expectativas das jovens classes médias são elevadíssimas. A travagem deu lugar à frustração e à denúncia da corrupção generalizada: o Congresso era o alvo.
Modi seduziu as classes médias urbanas com o seu discurso contra a corrupção e com a sua imagem de “administrador”, mas também pobres que antes votavam no Congresso. Não falou no combate à desigualdade social mas na aceleração da mobilidade social. Recebeu o apoio dos meios de negócios, graças à sua política liberal e de atracção de investimentos no Gujarat. A Bolsa entrou em euforia mal surgiram as sondagens à boca das urnas. Muitos vêem nele um “Thatcher indiano”. Promete uma política externa guiada pelos interesses económicos da Índia. E também a afirmação da potência indiana: citando a política do governo de Vajpayee quer o “equilíbrio entre força e paz”.
No dispositivo de sedução de Modi pesa também a imagem que de si construiu: um homem rico mas nascido numa casta baixa, um homem novo não corrompido pelos corredores do poder de Nova Deli, um homem com autoridade — o apelo à disciplina está a crescer na Índia. Convenceu os eleitores de que era a solução para o crescimento da Índia. Foi o que o Congresso não soube fazer.
Resume o influente jornalista Swapan Dasgupta, que colaborou na campanha de Modi: “O contexto de hoje na Índia é o sentimento de declínio da economia, de deriva, de frustração pessoal. Modi escolheu directamente a economia e não falou de coisas abstractas como a ideia de India.”
4. Para onde vai a Índia? Anota Ramachandra Guha: “Modi falou de uma governação firme e eficaz. O RSS tem uma ideia, que é a da Hindutva. O verdadeiro teste só virá depois de ser eleito. A questão é que isto é a Índia não é um Paquistão hindu.” Corrobora o analista Ganesh Devi: “A diversidade indiana funciona como uma válvula de segurança contra todas as formas de ideologias de exclusão. Modi vai talvez tentar promover políticas de clivagem, mas a Índia não o deixará fazer.”
R. K. Swahney, membro de um círculo de reflexão próximo do BJP, declarou ao correspondente do Monde: “Se você não trabalhar com todas as comunidades, arrisca-se a ameaçar a paz e, portanto, a prosperidade económica do país. Ora, nada afastará Modi da prosperidade económica. Ele quer ser o Deng Xiaoping da Índia.”
Jaffrelot tem uma ideia mais complexa. Modi estará sob pressão da “ala dura” dos nacionalistas hindus, a quem deverá fazer concessões simbólicas. A magnitude da sua vitória é uma face de dois gumes. Pode convencer os radicais de que é a oportunidade para concretizar a sua agenda. Por outro lado, deu a Modi uma enorme legitimidade pessoal. E ele mostrou, no Gujarat, que se sabe distanciar do Sangh Parivar (a cúpula do nacionalismo hindu). Vê um risco: “Entrar a Índia numa nova era combinando nacionalismo religioso, osmose entre círculos políticos e meios económicos, personalização do poder.”
A Índia tem uma democracia que é um modelo de estabilidade institucional apto a “gerir o caos”. Tem um eficaz sistema de checks and balances de inspiração anglo-saxónica. O romancista Chandrahas Choudhury considera que Modi abre um imenso desafio mas propõe um olhar histórico. “Em Agosto, a democracia indiana celebrará os seus 67 anos. (…) Olhando para há 20 anos atrás, a democracia indiana parece hoje mais resistente ao vírus das provocações religiosas e da maioria [hindu]. Olhando para trás, para o ponto de origem, a democracia indiana parece hoje muito mais… muitíssimo mais real.”

Feliz dia do capital

por A-24, em 31.05.14
Instit. ludwing Von Mises

Hoje, usufruímos prazeres e magnificências que eram inimagináveis há até mesmo 200 anos. Dirigimos automóveis, temos luz e inúmeros aparelhos elétricos em nossas casas, produzimos em massa todo e qualquer tipo de antibiótico, temos ar condicionado, viagens aéreas, geladeiras, congeladores, filmes, televisão, videocassetes, aparelhos de DVD, Blu-ray, rádios, toca-discos, CD players, computadores, notebooks, celulares, moradias confortáveis, comidas e roupas abundantes e de qualidade, medicina e odontologia modernas, máquina de lavar e secar, forno de microondas e por aí vai.
Livros que antes tinham de ser meticulosamente reproduzidos um de cada vez -- com trabalho -- hoje são reproduzidos aos milhares tanto por meio de fotocópias e impressoras quanto por meios puramente digitais. Hoje, você pode ler este texto na internet por meio do seu computador, notebook, iPad, iPhone ou simplesmente por meio de papel e impressora. Você escolhe.
Um voo intercontinental de algumas horas substitui semanas de viagem dentro de um navio primitivo. E mesmo um navio primitivo havia ao menos tornado possível as viagens intercontinentais, algo que era uma impossibilidade em um mundo baseado exclusivamente no trabalho humano. (Imagine ter de nadar todo o Oceano Atlântico!) Uma mensagem que demorava dias para ser transportada por meio de cavalos é hoje instantaneamente entregue via celulares e emails.
O que permitiu esta magnífica criação de riqueza foram investimentos em capital feitos por capitalistas, os quais geraram as mudanças tecnológicas que hoje nos permitem produzir mais com cada vez menos recursos. O trabalho é importante, sem dúvida, mas o que realmente nos faz ricos é o capital e a tecnologia que tornam o trabalho mais produtivo.

Em vésperas de Mundial - Brasil teve em 2012 a maior taxa de homicídios desde 1980

por A-24, em 30.05.14
José Alfredo Vasco Tenório estava a começar o passeio diário de bicicleta à beira-mar quando, a 400 metros de casa, foi abordado por dois rapazes. Ao interromper a marcha foi atingido a tiro. Morreu no local, em Maceió. Casos como o deste médico, de 67 anos, contribuíram para o que o Brasil tivesse registado em 2012 um número recorde de 56.337 assassínios e a mais alta taxa de homicídios desde 1980.
Os dados divulgados esta terça-feira pelo jornal O Globo constam da nova versão do Mapa da Violência que será lançado nas próximas semanas com informações que vão até 2012 e confirmam os elevados índices de violência no país.
O número de pessoas mortas naquele ano representa um acréscimo de 7,9% face a 2011. A taxa de homicídios, que tem em conta o crescimento populacional, também aumentou 7% sobre o ano anterior e chegou aos 29 assassínios por cada cem mil habitantes. Nos últimos dez anos a taxa subiu 2,1%.
“Não se pode dizer que o ano de 2012 seja uma tendência, mas é preocupante. As acções pontuais na área da segurança estão mostrando os seus limites. Sem reformas sociais que mexam no sistema penitenciário e no modelo obsoleto de polícia civil e militar, não conseguiremos resolver o problema. E aí, sim, a tendência vai ser alta”, disse ao jornal o autor do estudo, o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz.
O estudo é feito anualmente a partir do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde, o qual tem como fonte as certidões de óbito emitidas em todo o Brasil. Desde que, em 1980, este mecanismo de recolha de informação começou a produzir dados os valores globais nunca tinham sido tão elevados.
“As nossas taxas são 50 a 100 vezes maiores do que a de países como o Japão. Isso marca o quanto ainda temos de percorrer”, disse o autor do Mapa da Violência. O Brasil, acrescentou Waiselfisz, vive um “equilíbrio instável”, com avanços nalguns estados, mas retrocessos noutros.
De 2011 para 2012 as taxas de homicídio diminuíram em cinco estados – Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Espírito Santo e Rio de Janeiro. As quebras menores foram as do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, com 0,3% e 0,4%, respectivamente. A mais expressiva, com uma diminuição de 10,4%, foi a do estado de Alagoas, que tem como capital Maceió, onde foi morto José Tenório. Líder da violência e cobaia do plano Brasil Mais Seguro, Alagoas registou entre Janeiro e Abril deste ano 820 assassínios contra 765 no mesmo período de 2013.
A maior subida de 2011 e 2012 ocorreu em São Paulo, com 11,3%, mas a sua taxa de homicídios no estado é ainda a segunda menor do país, observa O Globo. Porém, olhando para a década que vai de 2002 a 2012, o balanço paulista é positivo – queda de 60%. No caso do Rio, a descida naquele período de dez anos foi de 50%. Estes dados levam Júlio Jacobo Waiselfisz a avaliar de modo positivo as medidas de segurança adoptados nos últimos anos nos dois importantes estados.
O sociólogo chama também a atenção para uma migração da violência das capitais para o interior – uma ideia sustentada pela quebra de 20,9% das taxas de homicídio em capitais e grandes municípios entre 2003 e 2012 acompanhada do crescimento de 23,6 % nos municípios mais pequenos.

Como se comportar no Qatar

por A-24, em 30.05.14
Via Observador

Com o aumento do fluxo turístico e o campeonato mundial de futebol que se realiza no Qatar em 2022, o Centro Cultural Islâmico do país decidiu preparar uma campanha, a ser lançada nas redes sociais, para ensinar aos turistas como se devem vestir durante a estadia.
Através da campanha “Mostra o teu respeito”, que será promovida através doTwitter e do Instagram, o país espera que os turistas sigam os costumes locais e que deixem as roupas mais atrevidas em casa. Fatos-de-banho e roupa de praia são permitidos nas piscinas dos hóteis mas em locais públicos os turistas têm de tapar os ombros e os joelhos. Calções e tops são proibidos, e as leggings não substituem as calças. Segundo as leis nacionais, cantar em público, dizer asneiras ou fazer gestos obscenos pode resultar em seis meses de prisão.
Uma porta-voz da campanha disse que a mesma surgiu devido ao crescente número de estrangeiros que violam os costume e leis do Qatar, ao andar em locais públicos com roupa inapropriada. Durante a campanha, que será lançada a 20 de junho, antes do início do Ramadão, grupos de mulheres e crianças distribuirão panfletos nos aeroportos com as indicações em inglês e árabe.

A história de amor entre um skinhead e uma menina de Cascais

por A-24, em 30.05.14
via Observador

Os acordes da música gótica num bar alternativo do Cais do Sodré, Lisboa, deixaram de incomodar Mário Machado assim que a viu. No centro da pista de dança, uma mulher alta, cabelo comprido ruivo e minissaia, ao estilo psychobilly. O coração disparou. “Aquela paixão que dá logo”, recorda. Disse-o aos amigos e aproximaram-se dela. “Meu Deus! Fiquei cheia de medo. Estava rodeada de skinheads”, conta Susana ao Observador. Ele, confessa, aproveitou-se desse medo para ganhar-lhe a confiança. Dez anos depois, a relação improvável entre um neonazi e uma filiada no Partido Socialista resiste.

Estão sentados lado a lado numa esplanada em Lisboa. Aproveitam cada minuto da última saída precária da prisão de Alcoentre, onde Mário Machado cumpre pena de 10 anos de cadeia em quatro processos, por crimes de discriminação racial, posse de arma ilegal, agressões, difamação. Ao Observador, intercalam entre os dois episódios de uma história de sorrisos, lágrimas, polícias, prisões e um filho. Quando discordam, trocam carinhos e beijos na testa. Perdoam-se. “Ela é muito ciumenta”. “Não sou nada, eu é que tive de apagar os amigos rapazes do Facebook”, responde-lhe. Ele acaba por baixar a guarda: “costuma dizer-se que por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher”. A mulher de quem fala chama-se Susana Machado, tem 34 anos e é licenciada em Matemática Aplicada. Não diz onde trabalha para preservar a sua identidade.
Susana estava a estudar na universidade quando foi abordada por Mário, três anos mais velho, na pista de dança do então bar gótico “Disorder”. O medo do cabeça-rapada tatuado com cruzes suásticas e vestido de negro deu lugar à curiosidade. Nos dias seguintes, deu por ela a voltar ali na esperança de reencontrá-lo. Ele fez o mesmo. Era dia de Natal quando trocaram o primeiro beijo. Ela, filha de uma família de esquerda e criada em Cascais, desconhecia sequer que o homem por quem estava a apaixonar-se tinha já cumprido pena de prisão – por envolvimento num crime racial no Bairro Alto, em Lisboa. “Eu falava-lhe dos países por onde tinha viajado, só não dizia o que tinha ido lá fazer”, conta Mário. Quando ela soube “era tarde demais”. “Estávamos demasiado envolvidos”, diz ele. Já passaram dez anos.

Mário era já pai de dois filhos e dava pela primeira vez uma entrevista à comunicação social sem mostrar a cara. Corria 2005. À frente do movimento de extrema-direita, Frente Nacional, fundador da Hammerskins Portugal e sob mira da GNR por promover encontros neonazis, começava a ganhar protagonismo. “Não concebia o discurso daqueles que diziam ‘pretos’. Achava horrível e ignorante, ainda assim ia com ele para todo o lado, mesmo não concordando”, afirma Susana. A determinação de Mário impressionava-a. “Estávamos sentados no sofá quando apareceu na televisão a história da comunidade cigana em Coruche. Ele disse: temos que lá ir”. E reuniu de imediato um batalhão para o seguir.
A partir daqui começou a dar a cara por manifestações. E apareceu na televisão empunhando uma shotgun, em 2006. Foi a primeira de várias detenções que se seguiram. “Tive muitos problemas com a minha família e com os meus amigos. Mas quando conhecem o Mário, percebem que ele não é o homem que aparece na comunicação social. Ele é super educado e um romântico”.
As diferenças ideológicas foram-se atenuando à medida que o registo criminal de Mário Machado crescia. O facto de Susana ter-se tornado a “chefe de família” lá de casa também limou algumas arestas. Mas não foi fácil. Para Mário, a sua “mulher não devia trabalhar”. Para Susana, “feminista”, seria impensável. “Eu gosto de lhe dar esta sensação de domínio”, atira Mário. “Sensação?”, interroga Susana. “Em casa conversamos”. Trocam sorrisos e carícias. Mais do que contas, Susana tem sido fundamental na vida de Mário.
Quando ele foi libertado da prisão preventiva, em 2008, decidiram ter um filho. E é por ele, e pelo trabalho, que Susana prefere resguardar-se e não dar a cara. “O meu filho já sofre imenso por ter o pai preso e não quero que se saiba que ele é o filho do Mário Machado. As crianças conseguem ser muito cruéis”. Já estava grávida quando Machado foi novamente detido. Desta vez por crimes de sequestro e coação. “Tive uma gravidez de risco e ele estava preso quando o meu filho nasceu”. Numa visita no estabelecimento prisional da PJ, Mário e Susana decidiram casar. “Tive que registar o meu filho na companhia do advogado dele!”, lembra. Mário foi depois transferido para a prisão de alta segurança do Monsanto. A cerimónia foi lá. A 22 de fevereiro de 2011.
Naquele dia ela arranjou-se como se fosse casar-se numa igreja, o seu sonho. E foi sozinha até à cadeia. À sua espera Mário, de fato macaco de recluso, dois guardas, uma técnica e a conservadora do registo civil. “A educadora prisional pediu para assistir. Disse-me que estava linda”, recorda Susana, emocionada. Os noivos uniram as mãos. E começou. “Reparei que a senhora do Governo Civil tratava sempre a minha mulher no masculino. O nubente, o filho de …” lembra Mário. Até que a interpelou e perguntou-lhe porquê. “Explicou-me que desde a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o Governo Civil decidira não fazer distinção de géneros”. Mário não queria acreditar. “Até num momento destes se põe em causa a minha ideologia”. Susana apertou-lhe a mão em jeito de sinal. “Não, no dia do meu casamento não quero discursos políticos!”. Ele acedeu, e cedeu.
A cerimónia durou 45 minutos. Mário regressou, depois, à cela onde estava encarcerado 23 horas por dia. “Só tivemos contacto físico seis ou oito meses depois. A prisão parecia um filme americano. Havia um vidro a separar-nos e nem podíamos tocar um no outro”, diz Susana. “Não podia receber os meus filhos. O sistema devia permitir que os filhos vissem os pais. Pelo menos um abraço”, defende Mário. As limitações dos encontros, duas vezes por semana, levaram Susana a escrever para vários serviços da justiça, em Lisboa e em Estrasburgo, a implorar que transferissem o marido de prisão. “Eu estava preso no mesmo sítio onde havia terroristas e homicidas”, diz Mário. “Nestes anos acumulei tanta coisa que há dois meses sofri um aneurisma cerebral, do qual estou a recuperar”, conta Susana. Ele faz-lhe uma festa na cabeça.
Fechado na cadeia de Monsanto, Mário Machado perdeu 22 quilos. E a mulher incentivou-o a estudar para ocupar o tempo. “Já estou no último ano do curso de Direito da Universidade Autónoma”. Até nisso a mulher tem sido fundamental. É ela quem vai à universidade buscar livros e sebentas, faz-lhe cópias e entrega tudo na prisão. As propinas, a educação dos filhos, as despesas da casa. Todas estas contas têm a ajuda dos pais de Susana e de Mário. “Eu também poupei dinheiro quando andei a fazer aquelas habilidades…”, diz Mário sem especificar. Supõem-se que fale dos crimes pelos quais esteve preso – em que marcava encontro com traficantes de droga para lhes extorquir dinheiro. “Não quero saber se ele cometeu crimes. Eu sei quem é o Mário. Um excelente marido e um excelente pai. Sou completamente contra crimes, fui criada assim, mas ele é um ser humano”.
Na última saída precária em que estiveram juntos, pelo 25 Abril, Mário levou-a, e aos três filhos, para um hotel. O mesmo onde houve o encontro de preparação do novo partido nacionalista que ele quer criar. “Agora acredito mais. Há pessoas muito sérias, de todas as idades e profissões, por trás. Não tem nada a ver com o grupo de miúdos de antes”, diz Susana. “Amor, eu que pago as quotas para votar no Partido Socialista, vou votar em ti!”, diz-lhe. Ele dá uma gargalhada.

O palco das ilusões

por A-24, em 29.05.14

Pedro Daniel Oliveira

Já todos sabemos que Macau é um lugar pequeno com muitas pessoas (residentes ou turistas) e onde não é grande a variedade de negócios, para além da indústria do Jogo, do turismo, do cada vez mais definhado pequeno comércio da restauração.

Há depois, como em qualquer cidade perniciosa, os negócios obscuros relacionados com o Jogo, tais como a prostituição, a lavagem de dinheiro, as transacções fraudulentas com recurso a cartões de crédito ou de débito, a "comercialização" de uma grande variedade de drogas, entre outros expedients altamente lucrativos que teimam em florescer à margem da legislação vigente.

Para um turista não chinês que aqui passa uns dias de lazer, certamente não conseguirá "Sentir Macau" conforme apregoa o "slogan" da Direcção dos Serviços de Turismo.

Por um lado, porque por vezes pouco civilizados nos modos como se comportam em sociedade, sendo que a grande percentagem deles vem para gastar dinheiro nos casinos e/ou em prostitutas.

Por outro lado, porque o comum turista não vai para a zona da Areia Preta, não entrando assim verdadeiramente em contacto com a população chinesa de Macau.
Acredito também que a maior parte não visita as zonas da Barra (a ida ao Templo de A-Má é o mero cumprir de um pró-forma, ficando o restante por ver), do Mercado Vermelho e da ilha da Taipa (excluindo o Cotai), por isso não estará em condições de "Sentir Macau" na sua verdadeira essência identitária, até porque para ele o território serve apenas como um local de passage e de algum (pouco) divertimento.
De igual forma, não se apercebe como é a vida da população, nem terá qualquer tipo de inveja de não ser considerado residente, sempre que estiver confrontado com a poluição atmosférica, com os turistas do continente chinês que sufocam o centro e algumas periferias da cidade, com os taxistas desonestos, com a péssima qualidade do serviço prestado pelos transportes públicos, etc.
Sentimento oposto certamente terá quem visitar Nova Iorque, Toronto, Viena, Lisboa, Londres, Paris, Singapura, Amesterdão, Copenhaga, Berna, Frankfurt, Banguecoque, Auckland e Melbourne, entre muitas outras cidades mundiais.

Eu sou um genuíno libertário

por A-24, em 29.05.14
Eu sou um libertário. Não sou afiliado a nenhum partido político. Não sou progressista nem conservador. Não sou de esquerda nem de direita. Não sou moderado nem radical. Não sou um fusionista. Não estou aberto a concessões.
Sou um libertário puro e inflexível. Para mim, há apenas uma única forma de libertarianismo: aquela que se baseia única e exclusivamente no Princípio da Não-Agressão. Isso significa que, para um genuíno libertário, a lei deveria proibir a iniciação de violência contra pessoas inocentes (tanto as que não cometeram crimes quanto as que querem apenas empreender) e contra sua propriedade. Ponto. O libertarianismo é apenas isso e nada mais do que isso. Não há nada mais no libertarianismo do que as implicações desse axioma básico — o que já é muita coisa.
Por que estou dizendo isso? Porque, de uns tempos para cá, tem havido algumas tentativas, tanto da esquerda quanto da direita, de sequestrar o movimento libertário.
A esquerda vem tentando sequestrar o movimento libertário acrescentando ao Princípio da Não-Agressão sua típica agenda progressista. Daí surgem bizarrices como dizer que um libertário tem de ser publicamente contrário ao patriarcalismo, ao machismo, a uma hierarquia de poderes dentro das famílias, à homofobia, ao racismo, ao preconceito, ao brutalismo etc.
Outros vão ainda mais longe e dizem que um libertário deve ser abertamente feminista, pró-movimento gay, e deve fazer apologia de movimentos contra-culturais e ser adepto de estilos de vida alternativos. Alguns chamam isso de libertarianismo humanitário, outros de libertarianismo denso (porque engloba várias características), e ainda há aqueles que chamam isso de "Novo Libertarianismo".
O que essas pessoas não entendem é que ser libertário significa única e exclusivamente se opor à iniciação de agressão contra inocentes. Ponto. É só isso e nada mais do que isso. É perfeitamente possível você ser um racista nojento, ter total aversão a gays e ainda assim ser libertário: basta você guardar para si sua visão de mundo e não implantá-la sobre terceiros. Você pode ser totalmente contra a prática do homossexualismo e totalmente avesso a qualquer ideia feminista; o que você não pode fazer é iniciar agressão contra essas pessoas. Aja assim e você será um libertário.

Quão difícil é entender isso?
Mas o problema não vem apenas da esquerda. Uma tentativa de guinar o libertarianismo para a direita também vem ocorrendo de maneira igualmente intensa. Há alguns direitistas que, assim como os esquerdistas, também querem criar sua própria forma de "libertarianismo denso", exortando libertários a aceitar ideias conservadoras.
Daí a necessidade de fazer estes esclarecimentos.
Sou um libertário. Não sou um libertário "denso" nem "diluído". Não sou brutalista nem humanista. Não sou holista ou solipsista. Não sou moralista nem consequencialista. Não sou aberto nem fechado. Não sou um libertário modal, nem cosmopolita, nem cultural, nem sofisticado. Tampouco sou um "libertário de bom coração". Não sou neo, nem milenar, nem de segunda onda. Sou simplesmente um libertário, do tipo que não precisa de rótulos, não cria advertências, não faz concessões e nem pede desculpas.
Sou libertário. O libertarianismo é uma filosofia política que se preocupa exclusivamente com o uso da coerção e da violência. Não se trata de uma filosofia política que diz que o melhor tipo de governo é um governo limitado. Não se trata de uma filosofia política socialmente liberal e economicamente conservadora. Não se trata de uma filosofia política que diz que o governo é menos eficiente do que o setor privado. Não se trata de uma filosofia política que diz que a liberdade pode ser alcançada por meio da promoção de determinadas políticas governamentais em detrimento de outras. Não se trata de uma filosofia política que advoga um "liberalismo com impostos baixos".
O libertarianismo não é a ausência de racismo, de machismo, de homofobia, de xenofobia, de nacionalismo, de nativismo, de classismo, de autoritarismo, de patriarcado, de desigualdade ou de hierarquia. Libertarianismo não é diversidade ou ativismo. Libertarianismo não é igualitarismo. Libertarianismo não é tolerância ou respeito. Libertarianismo não é uma atitude social, estilo de vida, ou sensibilidade estética.
Eu sou um libertário. Sou seguidor do Princípio da Não-Agressão, o qual diz que o único papel adequado para a violência é o de defender o indivíduo e a propriedade contra agressões, e que qualquer uso da violência que vá além de tal defesa é em si mesma agressiva, injusta e criminosa. O libertarianismo, portanto, é uma teoria que afirma que todos devem estar imunes a agressões e que devem ser livres para fazer o que lhes aprouver, desde que isso não signifique agredir a pessoa ou a propriedade de outro.
Meu interesse é nas ações; não estou preocupado com os pensamentos. Estou interessado apenas nas consequências negativas de pensamentos. Acredito que o Princípio da Não-Agressão tem de ser estendido ao governo. Os libertários devem, portanto, se opor à — ou tentar limitar ao máximo a — intromissão dos governos tanto em nível doméstico quanto internacional, pois os governos são os maiores violadores do Princípio da Não-Agressão.
Eu sou um libertário. Acredito na regra de ouro. Acredito na filosofia do "viva e deixe viver". Acredito que uma pessoa deve ser livre para fazer o que quiser, desde que sua conduta seja pacífica. Acredito que os vícios não são crimes.
Eu sou um libertário. Nosso inimigo é o estado. Nossos inimigos não são a religião, as corporações, as instituições, as fundações ou as organizações. Elas só têm hoje o poder de nos fazer mal por causa de sua ligação com o estado. Retire os subsídios, as medidas protecionistas, e as regulações que as protegem da concorrência, e elas rapidamente passarão a ser inócuas. Mais ainda: serão inteiramente subserviente a nós consumidores.
Eu sou um libertário. Acredito no laissez- faire. Qualquer indivíduo deve ser livre para incorrer em qualquer atividade econômica, sem licença, permissão, proibição ou interferência do estado. O governo não deve intervir na economia de nenhuma forma. Acordos de livre comércio, vouchers educacionais e a privatização da Previdência Social não são de forma alguma ideias libertárias.
Eu sou um libertário. O único governo bom é aquele que não existe. O segundo melhor governo é aquele que menos governa. Como disse Voltaire, governo, em seu melhor estado, é um mal necessário e, no seu pior estado, é intolerável. A melhor coisa que qualquer governo poderia fazer seria simplesmente nos deixar em paz.

Eu sou um libertário. Imposto é roubo praticado pelo governo. O governo não tem direito a uma determinada porcentagem da renda de ninguém. O código tributário não tem de ser simplificado nem reduzido, e não precisa ser mais justo ou menos intrusivo. As alíquotas de imposto não têm de ser nem diminuídas, nem igualadas e nem se tornar menos graduais. O imposto de renda não precisa de mais e maiores deduções, e nem de lacunas, abrigos, créditos ou isenções. Todo esse podre tem de ser abolido. As pessoas têm o direito de manter para si tudo o que ganharam e decidir por si mesmas o que fazer com seu dinheiro: gastá-lo, desperdiçá-lo, torrá-lo, doá-lo, legá-lo, guardá-lo, investi-lo, queimá-lo, apostá-lo.
Eu sou um libertário. Não sou um libertino. Não sou um hedonista. Não sou um relativista moral. Não sou devoto de algum estilo de vida alternativo. Não sou um revolucionário. Não sou um niilista. E não desejo me associar a ninguém que tenha essas características; mas também não desejo agredir aqueles que têm. Acredito na liberdade absoluta de associação e discriminação.

Eu sou um libertário.

Espero não haver mais dúvidas.

Instit. Ludwig Von Mises

Suicídios políticos de Costa e confissões imaginárias de Seguro

por A-24, em 29.05.14
A entrada em cena de António Costa para disputar a atual liderança de António José Seguro no PS domina a imprensa nacional matutina de hoje / João Carlos Santos
"Agora que me conhecem como fraco líder, insistem mesmo em mim?". A pergunta de António José Seguro aos militantes socialistas é imaginada por Ferreira Fernandes, na última página do "Diário de Notícias". "E se o PS insistir, olhem, paciência", conclui o cronista.
Esta é uma das muitas colunas de opinião publicadas na impressa desta quarta-feira sobre o desafio pela liderança do PS lançado na véspera por António Costa a Seguro. Ferreira Fernandes parece assim defender a convocatória de um congresso. "Seguro, não indo embora, engana os socialistas."
Não é o único. Nem foi o primeiro. Ontem, na SIC, Miguel Sousa Tavares afirmava pelas 20h que "se Seguro não convocar um congresso é um suicídio político". No Expresso Diário, às 18 horas, Pedro Santos Guerreiro titulava que " a eleição no PS é inevitável " e que deve ser o próprio Seguro a marcar um congresso. Se não, "será um ano penoso. Em vez de debatermos o assalto ao poder de António Costa, vamos discutir o apego ao poder de António José Seguro."
No mesmo jornal, também Henrique Monteiro usava a palavra, mas no sentido inverso. " Apear Seguro é um suicídio político ", escrevia. "A forma de o PS recuperar o poder é um caminho estreito, difícil e lento. Não é a partir tudo, numa espécie de revolução por que anseiam alguns dos mais exaltados esquerdistas." Henrique Monteiro é de opinião que "Seguro vai aguentar". É o único entre os colunistas a escrevê-lo.

É melhor guerra do que paz podre
Regra geral, a opinião publicada concorda que Seguro e Costa devem enfrentar-se. Em editorial, o "DN" escreve que "Seguro tem um problema para resolver. E não se vê como possa fugir ao repto que António Costa ontem lhe lançou. Se encontrar argumentos estatutários para inviabilizar as intenções de Costa, deixará o PS (e o País) a pensar que tem medo de enfrentar o seu adversário."
António Costa, o diretor do "Diário Económico", concorda: "Pior do que a paz de conveniência, só mesmo a paz podre em que o PS necessariamente entrará se não houver uma clarificação, se mantiver o lugar de secretário-geral na secretaria, se se barricar no Largo do Rato." Se isso suceder, Seguro "será também responsabilizado pela provável decadência eleitoral do PS nas próximas legislativas, será um líder fraco".
Já é? Seguro "optou pela estratégia do assim-assim, convencido de que bastaria esperar pelo apodrecimento de um governo em desagregação para se tornar primeiro-ministro", escreve Ana Sá Lopes no "i". Seguro "crispou-se, fechou-se, refundiu-se numa trincheira. Abrir-se à sociedade não é só fazer uma convenção num hotel com Joana Amaral Dias".
O problema, diz Eduardo Dâmaso no "Correio da Manhã", é que "as vitórias de Seguro e as sondagens projetam uma ideia de crise absoluta nas próximas legislativas". "O avanço de António Costa para disputar a liderança do PS tem o mérito de acabar com as águas pantanosas em que o PS tem navegado".
Ainda no "CM", Carlos Rodrigues escreve que "o Governo prepara-se para assistir no cadeirão a uma guerra fratricida entre os socialistas. Esse é o sintoma mais claro de que o país precisa de um novo líder do PS".Há ou não congresso?
Além da vontade, há a formalidade. "Os estatutos que um dia Seguro blindou, as polcas do aparelho, as valsas dos militantes, a trabalheira que é convocar um, congresso, as trapalhadas burocráticas", escreve Maria João Avillez no "Observador". "Vai ser um calvário doloroso", antevê Ana Sá Lopes. Mas "Seguro sabe que, ainda que não convoque um congresso extraordinário, não serão as formalidades dos estatutos a travar a candidatura de António Costa", escreve o "Público" em editorial.
"O pior que pode acontecer a António José Seguro é derrotar o seu rival na secretaria, ou seja, porque Costa não consegue reunir os apoios necessários dentro da comissão nacional ou junto das federações. Isso implicaria que o PS chegaria às legislativas dividido e com uma liderança contestada." Em notícia, o "Público" pergunta em título: "O PS vai finalmente escolher entre António José e António Luís?".

E Costa, quem é?
António Costa "precisa de ter um projeto alternativo. Ou dois. Um alternativo a Seguro, outro alternativo ao Governo", escreve o diretor do "Económico". Paulo Ferreira, no "JN", diz-se mesmo pouco interessado em Costa candidato ao PS: "Interessa-me, isso sim, saber o que pensa Costa (eventual) candidato a primeiro-ministro". No "Observador", José Manuel Fernandes não crê em grandes diferenças face a Seguro. E afirma que "as propostas de Costa-candidato-a-primeiro-ministro serão sempre muito mais escrutinadas do que alguma vez foram as ideias de Costa-candidato-a-presidente-de-câmara."
Ora, escreve Ana Sá Lopes, "António Costa é corresponsável pela fraca vitória do PS" nas eleições de domingo. "Foi ele que achou que estava tudo bem e recuou numa famosa noite no Largo do Rato depois de ter tudo preparado para ser candidato à liderança do partido. Aquele era o momento certo para começar a construir a alternativa interna", sentencia. Foi Costa "que nos disse que tinha chegado a um acordo com Seguro sobre não sei o quê". Agora, resume Ana Sá Lopes, "não se lhe pode exigir menos do que a maioria absoluta. Quer dizer, se houver congresso e ele ganhar". Porque, como diz António Costa no "Económico", "é mais fácil ganhar o País do que o partido"
Fernando Sobral é menos crente. Não se referindo diretamente a António Costa, o cronista do "Negócios" sublinha que "nenhuma sociedade séria avança sem conceitos alternativos. O problema é que esta geração de políticos nasceu do mesmo aviário: são profissionais que divergiram uns para o lado direito e outros para o lado esquerdo. Mas a sua leitura da realidade é a mesma. E, por isso, não há alternativa no centro político. Para mal dos portugueses."

A boa imprensa
Tudo isto é escrito na impressa portuguesa, onde, como vimos, apenas Henrique Monteiro criticou a ação do atual presidente da Câmara de Lisboa. O diretor do "Económico" afirma que "António Costa Já tem o apoio da opinião publicada - será, provavelmente o político em Portugal com a melhor imprensa". E exemplifica: "promoveu obras antes de eleições e ninguém o acusou de eleitoralismo".
No "Correio da Manhã" (onde Eduardo Cabrita toma posição a favor de Costa, que "tem o sentido do risco e da mensagem que une"), o socialista recebe seta para cima, por mostrar "decisão que faz esquecer hesitações passadas". Costa sobe também no barómetro do "Económico", por ter dado "o passo político que faltava".José Manuel Fernandes concorda que "Costa tem, sobre Seguro, a vantagem de beneficiar de uma boa imagem pública." E isso também se vê fora dos jornais. Como titula o "Jornal de Notícias", "se dependesse das redes sociais António Costa já estaria eleito".

Expresso

Sobre esta União Europeia

por A-24, em 28.05.14
Nigel Farage sintetiza bem qual o sentimento de grande parte dos votantes e não-votantes europeus. O problema não é a Europa, a sua pluralidade, as suas diferenças, a sua riqueza, o seu património, o Norte e o Sul, o Ocidente ou o Leste, os nórdicos ou os latinos. O problema é a União Europeia. Não o conceito de União Europeia — que se quer aberta, num mercado único de livre circulação de pessoas, bens e serviços — mas esta União Europeia, que dedica uma fatia de leão a subsidiar a agricultura na França, que calibra o tamanho da fruta e que regula a quantidade de canela nos bolos. Farage extravasa, contudo, no que à questão da imigração diz respeito. Mas, tirando isso, é a bottom line do descontentamento europeu.

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