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A-24

Leitura nacional das eleições autárquicas

por A-24, em 30.09.13
Estando quase encerradas as contagens, chegou a hora de fazer algumas contas. José António Seguro já veio proclamar uma vitória retumbante do PS e veio falar na inevitável leitura nacional dos resultados. Façamos então a leitura nacional dos resultados usando a melhor ferramenta para isso: os números.


Comecemos pela distribuição de votos nas Câmaras Municipais:


A CDU foi o grande vencedor da noite, aumentando a % de votos em 17,9%, enquanto que a coligação de governo e Bloco de Esquerda perderam 13,2% e 16,7% respectivamente. Note-se que o PS, após dois anos da oposição mais fácil que um partido pode fazer, apenas ganhou 1,4% (0,5 pontos percentuais). Em relação aos partidos de governo, uma perda de 13,2%, ou 5,7 pontos percentuais, é significante mas mesmo assim menos do que se esperaria para partidos de governo nas actuais condições políticas e económicas. Mas estes números escondem uma outra realidade: para fazermos de facto uma leitura nacional há que eliminar o efeito da má gestão local da escolha dos candidatos autárquicos do PSD. Os votos perdidos no Porto, Gaia e Sintra para grupos de cidadãos estão mais relacionados com a punição dos eleitores às fracas escolhas de candidatos do que propriamente uma reacção às políticas do governo. Rui Moreira, por exemplo, fez uma campanha ideologicamente mais próxima do governo do que o próprio candidato do PSD. É claramente um candidato da área política dos partidos de governo, apesar de não se terem candidatado por nenhum deles. Em Gaia e Sintra, ambos os candidatos de movimentos independentes estão ligados ao PSD local. Somados os votos dos grupos de cidadãos de Porto, Gaia e Sintra ligados a facções do PSD locais, temos a seguinte imagem:


Eliminado este efeito, a % de votos nos partidos da coligação governamental sobe para 39,7%, apenas 3.5 pontos percentuais abaixo dos resultados de 2013. Note-se que chegam até a ultrapassar os votos no PS. A leitura nacional começa a ficar negra para o PS. Mas é ainda mais negra para o PS de Seguro. O maior concelho do país, Lisboa, foi ganho pelo representante dos seus opositores internos, contribuindo em larga margem para o aumento na % de votos a nível nacional. Excluindo Lisboa, o cenário é este:


Dois anos de austeridade depois, tudo o que o PS de Seguro tem para mostrar são uns míseros 0,2 pontos percentuais de aumento no número de votos. Mas há mais más notícias para o PS: a Madeira. Misturado nos resultados do PSD está o caso, bastante excepcional, da Madeira. Aí dificilmente se poderá argumentar que os eleitores estão a castigar o governo nacional. O resultado da votação é um sinal claro do desejo de mudança ao nível regional. Do ponto de vista ideológico, Alberto João Jardim está até bastante mais próximo do PS do que do actual PSD. Se também excluirmos a Madeira da imagem, esta é a distribuição de votos:


Dois anos de austeridade depois, excluindo a má gestão local de candidatos do PSD, o castigo dos eleitores a Alberto João Jardim e o efeito António Costa, Seguro não tem nada para mostrar. A área política dos partidos de governo perde apenas 2,7 pontos percentuais nos votos fora de Lisboa e Madeira. O PS de Seguro até cai ligeiramente.

Mas há uma última escapatória para Seguro que é não existir qualquer leitura nacional para estes resultados. Os eleitores escolhem as melhores pessoas para as câmaras municipais, independentemente do seu partido ou das políticas do governo central. Felizmente para António José Seguro é o cenário mais plausível.

(Nota adicional: percentagens excluem brancos e nulos do total)

In Montanha de Sísifo

PS, independentes e CDS acabam com domínio do PSD na Madeira

por A-24, em 30.09.13
O PSD, que mantinha há 39 anos a fidelidade dos eleitores madeirenses, perdeu domingo sete municípios na Madeira, quatro deles para os socialistas, dois para grupos de cidadãos e um para o CDS-PP.

Os socialistas venceram no Funchal (em coligação com o BE, PND, MPT, PTP, PAN), em Machico, em Porto Moniz e no Porto Santo, dois grupos de cidadãos conquistaram Santa Cruz e São Vicente e o CDS-PP venceu em Santana.
Os sociais-democratas mantiveram apenas as quatro câmaras - Calheta, Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Ribeira Brava.
DN-Funchal

Certamente que não voto para as autárquicas

por A-24, em 29.09.13
«Que me lembre, já não voto para as legislativas desde 2005 e para as chamadas autárquicas desde 1997. Para as presidenciais - por as considerar feridas de nulidade por usurpação - nunca votei. Durante muito tempo, pela minha formação, considerei as eleições autárquicas as mais relevantes e verdadeiras, posto serem emanação das realidades locais e darem voz a essa entidade mítica que dá pelo nome de povo. Contudo, foi corrigindo a minha teimosa ingenuidade a respeito desses micro-estados que dão voz, presença, micro-poder e dinheiros a uma constelação de pequenos interesses, pequenas ambições, pequenas habilidades e enorme impreparação. Hoje, tendo presente o triste historial desse "poder local", miniatura do regime dos partidos, das comanditas e redes clientelares que chega a superar em perversidade a matriz inspiradora, julgo que a administração local é assunto demasiado sério para repousar em mãos amadoras. A gestão dos assuntos locais devia - não temo a provocação - estar integrada na administração pública preparada, isto é, profissionalizada, trabalhando por objectivos, avaliada, fiscalizada; ou seja, devia ser uma carreira confiada a quadros superiores do Estado. O poder local centuriou e feudalizou a geografia portuguesa, não exprime qualquer realidade social, não promove nem forma uma elite local, não é racional nem eficaz. É, tão só, um agente empregador de base destinado a alimentar milhares de amigos, familiares, protegidos, satisfazendo o estrato mais baixo das lideranças partidistas.»
Miguel Castelo-Branco

Banco Islâmico Britânico

por A-24, em 28.09.13
London is vying to be the capital of Islamic finance outside of the Muslim world, says the city's Deputy Mayor Sir Edward Lister.

A task force on building the UK's Islamic finance industry has been at work since early 2013 and London will host the World Islamic Economic Forum in October.

"The task force has just started and its aim is to make it easier for banks in London to have Islamic products, which is still quite a new concept to any of them," Lister told a press conference, reported Reuters.

"Only now people are beginning to understand what the products actually mean and how they comply ... What you will see is a lot of companies introducing those products."

Globally, the Islamic finance industry is forecast to be worth $2.6tn (€1.9bn, £1.6bn) by 2017. It has grown by around 30% each year since the millennium and consultancy firm Oliver Wyman predicts that there will need to be at least 150 Islamic finance institutions by 2020 to meet the ever-growing demand.

There are more than 20 UK banks offering Sharia-compliant products, such as HSBC and RBS. There are also three Sharia-only institutions, including the Islamic Bank of Britain (IBB).

By increasing the number of Sharia-compliant financial services in London it will be easier to facilitate investment in the UK from Islamic investors.


What is Islamic banking?


According to IBB's website: "Islamic banking operates without interest which is not permitted in Islam, as money in itself is not considered to have intrinsic value.

"As interest is income generated from money, it is seen as effortless return. Instead money must be used in a productive way and wealth can only be generated through legitimate trade and investment, which involves an element of risk.

"Islamic banking therefore uses various principles recognised as Sharia compliant such as Ijara (leasing), Musharaka (partnership) and Wakala (agency agreement). Islamic banks use these principles to develop Sharia compliant financial products, such as savings accounts and home finance, which allow Muslims to conduct their finances in an Islamic way."

Source

Palavras certas - Quanto custa um candidato às autárquicas?

por A-24, em 27.09.13

A eleições autárquicas devem ser as mais caras da democracia: todos os milhares de candidatos têm direito a 15 dias de dispensa do emprego, com direito a ordenado por inteiro. Isto apesar de 99% deles não ser eleito para coisa nenhuma. Os indignados que andam sempre com os custos das campanhas eleitorais na boca, ainda não emitiram um ai de indignação em relação a esta situação. Deve ser porque muitos também andam aconcorrer. 

Os prospetos eleitorais dos candidatos à Câmara de Lisboa começaram a chegar esta semana em força às caixas do correio. O nível de promessite eleitoral é estratosférico: prometem tudo a todos, como se o dinheiro fosse deles. E até candidatos que deviam ter juízo, como Fernando Seara, entraram no delírio e anunciam medidas como a oferta de manuais escolares a todos os alunos do 1º ciclo e o pagamento das taxas de inscrição dos jovens atletas. Decididamente a austeridade ainda não chegou às campanhas eleitorais.

in Lisboa - Tel Aviv by DL

Credibilidade

por A-24, em 27.09.13
João Vaz

Andando-se um pouco pelo país e reparando-se nos cartazes eleitorais, constata-se a existência de coligações entre o PSD, MPT e PPM em diversas autarquias. O caso não é único, evidentemente. Por exemplo, um partido como o PEV não merece credibilidade, sendo como é um mero satélite do PCP. No caso do PPM, no entanto, é triste. Se isto é o melhor (e não é) que a área monárquica tem para apresentar é muito pouco. Um partido residual, incapaz de se afirmar sozinho, sistematicamente ligado ao PSD como se ainda estivéssemos no tempo da AD é manifestamente insuficiente. O mesmo é válido para o MPT, mas do MPT não quero saber para nada. A monarquia, essa, os monárquicos, é que precisam de outro rumo, de outra vitalidade, e não é num partido moribundo que a encontram, certamente.

No esconderijo do Aurora Dourada

por A-24, em 25.09.13
Reclamam a ditadura dos coronéis e atacam os sindicatos, os comunistas e os imigrantes. E infiltram-se nos meios operários, que são as primeiras vítimas de uma crise sem fim. Reportagem no Pireu, onde este movimento neonazi tira partido do desemprego e da miséria. Excertos.
Amélie Poinssot

Rua Tsaldari, em Keratsini. Em frente a uma pastelaria, veem-se ramos de flores frescas e velas. Foi ali que, na noite de 17 para 18 de setembro, terça-feira, o jovem cantor de hip-hop, Pavlos Fyssas, foi assassinado por um membro do partido neonazi Alvorada Dourada.

O assassinato de Pavlos, que chocou a opinião pública e que – se tal ainda fosse necessário – revela a natureza criminosa desta organização neonazi, insere-se numa estratégia bem ponderada. Desde há alguns meses, este partido criado com base na nostalgia da ditadura dos coronéis tenta semear o terror e ganhar terreno nos subúrbios do Pireu, antigos bairros operários e bastiões dos sindicatos, hoje atingidos pelo colapso da indústria naval e pela crise económica. Em Keratsini, Nikaia e Perama, três municípios vizinhos onde a taxa de desemprego é superior a 40%, a maioria dos homens trabalhava nos estaleiros navais ou na indústria metalúrgica.

A frente sindical comunista PAME controlava as contratações e detinha uma posição de força, que lhe permitia defender os operários e as suas condições de trabalho; nos estaleiros navais, ganhava-se 100 euros por dia e nunca havia falta de trabalho. Mas, no fim de 2008, tudo mudou. Os patrões começaram a deslocalizar para a Turquia, para Chipre e para a China. Os dias de trabalho começaram a rarear, os sindicatos centraram-se na manutenção do nível dos salários e não conseguiram que os patrões assinassem a renovação dos contratos coletivos. Em pouco tempo, a maior parte dos operários ficou no desemprego.
Explicações simplistas e promessas

Quatro anos mais tarde, os poucos dias de trabalho nos estaleiros navais são pagos a metade do montante anterior, várias empresas de siderurgia fecharam e, no fim de um ano de subsídio, os operários não recebem qualquer ajuda nem contam com qualquer proteção social. “Muitos consideram os sindicatos responsáveis por esta situação e, por trás destes, o Partido Comunista”, conta Takis Karayanakis, antigo operário dos estaleiros de Perama e antigo dirigente sindical. Com o seu anticomunismo virulento e a sua rejeição do sistema político, o Alvorada Dourada “exprime a angústia e a frustração dessas pessoas que perderam tudo”.
O terreno é propício: com a crise, muitos eleitores perderam as suas convicções políticas

Este movimento neonazi apresenta explicações simplistas e faz promessas: “É culpa dos imigrantes”, “vamos arranjar-vos trabalho”… O terreno é propício: com a crise, muitos eleitores perderam as suas convicções políticas. É o caso de Dimitris Karavas, habitante de Keratsini: “Eu e a minha família sempre votámos no Nova Democracia [centro-direita]. Mas, hoje, não conseguimos rever-nos em nenhuma das forças do espetro político”. Este motorista de táxi diz que trabalha 14 horas por dia, para ganhar, no máximo, 20 euros. “É preciso conseguir manter o sangue frio e isso não é fácil. Percebo a tentação de votar no Alvorada Dourada.” Dimitris preferiu não votar, nas últimas eleições.

A pouco e pouco, o Alvorada Dourada vai-se introduzindo nas brechas. No inverno passado, os seus homens invadiram as instalações da ONG Médicos do Mundo, em Perama, exigindo a expulsão dos imigrantes. Neste município, alguns cafés e bombas de gasolina transformaram-se em redutos da organização: as bandeiras gregas, os braços musculados e as roupas pretas não deixam margem para dúvidas.
Rondas no município

O partido financia os honorários de advogados. “O Alvorada Dourada é a nossa única esperança”, diz Tassos, operário desempregado, diante do seu café. Uma organização criminosa, capaz de matar um homem? “E então? Hoje, as pessoas morrem de fome e ninguém fala nisso…”, replica o homem, com uma violência não contida. Tal como as outras pessoas presentes, nessa manhã, no café da “zona”, o estaleiro naval de Perama, Tassos só tem um desejo: “ver Samaras e Venizelos enforcados”, o primeiro-ministro (Nova Democracia) e o número dois do Governo (PASOK). Não quer ouvir falar desses dois partidos, que governaram a Grécia em alternância nos últimos quarenta anos.

O Alvorada Dourada está firmemente empenhado num braço de ferro com os sindicatos históricos da indústria naval. Há dez dias, quando os sindicalistas da PAME colavam cartazes nas proximidades da “zona”, cerca de quarenta membros do Alvorada Dourada, envergando os seus uniformes pretos e armados de cacetes, apareceram, vindos das ruas adjacentes. Nove sindicalistas ficaram feridos.
No Pireu, o aparecimento do Alvorada Dourada no espaço público começou em princípios de 2012, com rondas no centro do município

No Pireu, o aparecimento do Alvorada Dourada no espaço público começou em princípios de 2012, com rondas no centro do município, realizadas por cerca de 20 membros, aos sábados ou nas tardes de domingo. Essa presença foi-se tornando cada vez mais agressiva, à medida que o país avançava para as eleições legislativas antecipadas: em duas ocasiões, os neonazis cercaram e espancaram militantes antifascistas.
Discurso racista

“Há cada vez mais agressões dirigidas diretamente contra pessoas de esquerda”, opina Dimitris Kousouris, natural do Pireu. Esses ataques verificam-se nos bairros populares e operários, onde o partido neonazi decidiu ganhar a “batalha da rua” – como eles próprios dizem. É evidente que a sua missão é atingir o que resta do movimento operário organizado.

O próprio Dimitris Kousouris, historiador especializado nos anos 1940 na Grécia, foi vítima de agressão por um membro do Alvorada Dourada, há quinze anos – quando a organização era apenas um grupelho que batia em esquerdistas, nas faculdades –, por ser dirigente sindicalista estudantil. Posteriormente, o Alvorada Dourada passou a atacar com cada vez maior frequência os imigrantes – albaneses e, depois, sobretudo afegãos e paquistaneses – e, há três anos, o partido neonazi começou a infiltrar-se num bairro pobre do centro norte de Atenas (Agios Panteleimonas) através de investidas que decorriam sob o olhar passivo – ou mesmo cúmplice – da polícia.

Takis e outros militantes de esquerda fundaram, em Perama, um grupo de entreajuda, que organiza distribuições de alimentos, aulas de apoio escolar gratuitas e mobilizações contra as políticas de austeridade. Nas suas assembleias-gerais semanais, os membros do grupo são constantemente confrontados com a questão do avanço do Alvorada Dourada. Alguns operários desempregados aderem com facilidade ao discurso racista. Nos últimos meses, várias pessoas abandonaram o grupo e juntaram-se às fileiras do Alvorada Dourada.

“Estamos a assistir a uma forma de guerra civil de baixa intensidade”, considera o historiador Dimitris Kousouris, “que se tornou possível, devido, por um lado, a uma certa forma de amnésia coletiva e, por outro, ao desespero das pessoas. Esse encontro despertou a besta fascista que estava adormecida”.

Verdades inconvenientes

por A-24, em 25.09.13
Enquanto morreram mais de 100 mil pessoas nenhum 'pacifista' lembrou da Síria, agora que a guerra já mete americanos já há manifs e passeatas pela paz. E sempre em zonas nobres como o Chiado. Nunca lhes dá para se manifestarem em Chelas ou na Musgueira.

Lisboa - Tel Aviv

Reacções à vitória de Merkel na Alemanha

por A-24, em 24.09.13
ELEIÇÕES ALEMÃS 2013 :Merkel tem “a Europa a seus pés”

23 setembro 2013
Presseurop

No trono: chanceler federal. Na cadeira: vice-chanceler.Heiko Sakurai


Um terceiro mandato com uma quase maioria absoluta: a chanceler alemã sai das eleições de 22 de setembro mais forte do que nunca no seu país e no continente. Mas o que vai ela fazer com esse poder?, pergunta a imprensa europeia.


“Angela Merkel atordoa os seus rivais políticos”, escreve oRzeczpospolita. No seu editorial, o diário polaco garante que, durante o terceiro mandato, “a mulher mais importante do mundo” vai mostrar como é que usa o extraordinário poder da Alemanha dentro da UE.


Este terceiro mandato é uma oportunidade para mostrar que a Alemanha é hegemónica em todos os domínios. Manter-se-á fiel à tradição pró-europeia dos chanceles precedentes ou aproximar-se-á perigosamente de uma visão mais radical fustigada nos cartazes nas ruas de Atenas, onde Merkel é representada com o bigode do Führer. [...] Cabe a Angela Merkel fazer reviver o sonho de atração da UE para as gerações futuras.


Angela Merkel é “triunfal”, mas conseguiu “uma vitória que a compromete”, defende Les Echos, em Paris. Depois de uma campanha “parca em pormenores”, o que vai fazer a chanceler?, pergunta o diário francês.


A resposta dependerá, em parte, da capacidade da chanceler em governar sozinha ou com os sociais-democratas. Sobre este assunto, o Eliseu, que há muito espera uma vitória dos adversários de Angela Merkel e depois uma coligação que a reforça, sofreu um revés. [...] No plano externo, Berlim não pode ater-se ao discurso tão vago e oco quanto generoso sobre a organização da Europa. É nestas condições que Angela Merkel entrará na lista dos chanceleres que marcaram a história.


“Merkel grande vencedora”, titula La Stampa. O diário de Turim escreve que o “plebiscito” obtido pelo partido da chanceler, tal como o bom desempenho do SPD – e o insucesso do partido AfD e o declínio dos Verdes – contrasta com a crise que atinge os partidos tradicionais no resto da Europa. E, no futuro,


não haverá viragem na estratégia política, económica e financeira da Alemanha. Os sociais-democratas têm falta de ideias alternativas e não as terão, contrariamente ao que [o candidato do SPD Peer] Steinbrück afirma. O principal resultado das eleições de ontem é que na Alemanha não há alternativa à política posta em prática nos últimos anos por Merkel. Os verdadeiros interlocutores, com autoridade, só podem vir da Europa.


Agora, titula El Periódico, Angela Merkel tem “a Europa a seus pés”. O diário de Barcelona escreve que a chanceler


é a sobrevivente da crise que fez cair Sarkozy, Zapatero, Sócrates, Monti e Berlusconi. [...] Para a Europa, uma coisa é clara. Agora, sem atos eleitorais no horizonte, vamos ver uma chanceler muito mais disposta a tomar decisões. A incógnita é sabermos quais e em que direção, mesmo que já tenha dito não às euro-obrigações e à mutualização da dívida. Ela quer liderar a Europa, fazer uma Europa alemã ou uma Alemanha europeia?


No entanto, apesar de o Financial Times escrever que “Merkel conseguiu ‘um super resultado’”, talvez não seja de esperar demasiado dela. O cronista Wolfgang Münchau defende que ter falhado a maioria absoluta por alguns votos é “o melhor resultado concebível para Angela Merkel”:


Vai continuar no poder – mas, no fundo, nunca houve dúvidas sobre isso. [Merkel] também conseguiu outro dos seus objetivos – tornar impossível a formação de uma coligação entre os três partidos de esquerda durante a próxima legislatura. Os alemães vão ter aquilo que querem: uma grande coligação chefiada por um líder sem visão. Só um tonto poderia acreditar que as eleições libertariam a chanceler para dar um salto em frente e resolver a crise de uma vez por todas. Depois das eleições, as coisas não serão muito diferentes daquilo que eram antes.


Mas apesar de tudo, como lembra o Volkskrant, o grande mérito de Angela Merkel é canalizar as tensões da Europa:


Merkel é a rolha da garrafa no que diz respeito às tensões e aos poderes populistas da Europa. Enquanto na Holanda a política perdeu a estabilidade, na Alemanha há Merkel, que respira calma. E é assim que ela ataca os problemas: etapa por etapa.


Há um país que olha para o resultado das eleições alemãs com circunspeção: a Grécia. No seu sítio de Internet, o semanário To Vimaescreve que


os alemães disseram um grande sim à soberania do seu país na Europa. Uma soberania erigida sobre as ruínas da parte Sul do que resta do Velho Continente “unido”. Era evidente e previsível: pela sua política, face à crise da dívida, Angela Merkel conseguiu levar uma grande parte da Europa à catástrofe, mas permitiu aos alemães fazerem da Europa um quintal. […] Em Atenas, uma vez mais, desmoronam-se as esperanças vãs. Merkel já fez saber, claramente, e desde o primeiro instante, que a pressão sobre a Grécia não será aliviada.

Em três dias, GTA V fez mais dinheiro do que muitos filmes

por A-24, em 22.09.13
Já se tinha percebido que o mais recente episódio da saga Grand Theft Auto, lançado nesta terça-feira, seria um recordista de vendas. Bastaram três dias para o jogo atingir a marca simbólica dos mil milhões de dólares (740 milhões de euros) – muito menos tempo do que os maiores sucessos de bilheteira demoraram para chegar ao mesmo valor.
O montante conseguido com as vendas foi anunciado nesta sexta-feira pela editora e distribuidora do jogo, a americana Take-Two Interactive. Grand Theft Auto V (que em Portugal custa cerca de 70 euros) já tinha vendido 800 milhões de dólares só nas primeiras 24 horas.

As receitas dão ao jogo o estatuto de produto de entretenimento que mais rapidamente atingiu a marca dos mil milhões. Os filmes Avatar (2009), Harry Potter and the Deathly Hallows Part 2 (2011) e The Avengers (2012) foram os que mais rapidamente alcançaram aquela marca de vendas: demoraram todos 19 dias.
As receitas já obtidas com GTA V superam mesmo as receitas totais de bilheteiras de muitos filmes. A ficção científica de Avatar é a recordista, com receitas a rondar os 2800 milhões de dólares, seguindo-se Titanic (1997), com perto de 2200 milhões. Estima-se que apenas 17 filmes tenham conseguido ultrapassar os mil milhões de dólares de receitas (se os valores não forem ajustados à inflação). Entre eles, estão títulos como Senhor dos Anéis: o Regresso do Rei, Toy Story 3 e Jurassic Park. De fora da lista ficam nomes também bem conhecidos, como os filmes da saga Star Wars e ET.
Os videojogos estão a concorrer com o cinema pelo estatuto de indústria cultural mais rentável e mesmo o anterior detentor do recorde agora nas mãos dos criadores de GTA tinha tido uma facturação mais rápida do que a dos filmes no cinema: Call of Duty: Black Ops II, outro título muito popular e que foi lançado no final do ano passado, demorou duas semanas a chegar à marca dos mil milhões.
Por seu lado, os jogos para telemóveis e tablets, embora muito populares e descritos como uma tendência do sector, são muito mais baratos do que os congéneres para consolas e computador (muitos são mesmo distribuídos gratuitamente) e obtêm resultados financeiros mais modestos. A finlandesa Rovio, criadora do muito jogado Angry Birds, terminou 2012 com receitas de aproximadamente 152 milhões de euros.
Só em jogos de consola, os consumidores em todo o mundo deverão gastar este ano perto de 26 mil milhões de dólares, segundo dados da consultora PwC, no relatório Global entertainment and media Outlook. Incluindo jogos para PC, jogos online e ainda para telemóveis e tablets, o sector deverá rondar os 61 mil milhões. Por comparação, a PwC estima que a facturação dos filmes em salas de cinema seja este ano de 13,4 mil milhões de dólares. Os filmes vistos em casa representarão perto de 80 mil milhões.
Público

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