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A-24

Calor de Agosto

por A-24, em 31.08.13
Matou-a com trinta e quatro golpes de faca. Atingiu-a nos braços, nas pernas, no tronco, vazou-lhe uma vista. O médico legista explicou que, pelas marcas, se percebia que a ponta da faca fora torcida depois de enterrada no olho. Para justificar tanta facada, o assassino explicou ao juiz que encontrara, naquela tarde de Agosto, um outro homem em casa. O ciúme falou mais alto. Pegou numa faca e, enquanto o calor abafava o apartamento, escorrendo pelas paredes, esfaqueou a mulher. O calor era muito e talvez tenha sido esse calor de Agosto, tão ardente, que lhe ateou a raiva e permitiu que o ódio se apoderasse de si. Talvez, continuou o homem, se estivesse um dia mais fresco, a raiva não tivesse ardido como ardeu.

Com o calor de Agosto, num instante, a fagulha se ateou e incendiou-lhe o corpo. A culpa, via-se bem, era dele, que não era homem para a não assumir, mas também do calor, do maldito calor de Agosto. O juiz escutou o assassino em silêncio e encontrou beleza nas suas palavras. As vizinhas, durante o julgamento, contaram os pormenores daquela vida. A pancadaria era muita e as discussões permanentes. Discutiam por tudo e por nada. Por causa do dinheiro, por causa do choro do menino, que tinha cólicas, mas, sobretudo, por causa da televisão. Ele queria ver o domingo desportivo; ela queria ver as telenovelas. Os gritos interrompiam o silêncio da noite. Eram gritos lancinantes. Pareciam arrancados de dentro. O homem chamava muitos nomes à mulher, nomes indecentes, porcos e ordinários, nomes que custava repetir ali, na sala de audiências, na presença dos senhores doutores juízes. Porém, explicaram as depoentes, quando amanhecia, a porta do apartamento abria-se e saiam os dois, homem e mulher, a caminho da paragem do autocarro. Como se nada se tivesse passado. Às vezes, quando a mulher trazia o corpo mais moído da pancada, o homem aliviava-lhe a carga e levava o bebé ao colo. Uma mulher contou que, muitas vezes, enquanto ele lhe batia, ela pedia “Amor, por favor, não me batas na cabeça”.
(A última frase, lida há alguns anos num jornal, não me larga e, hoje, para o meu filho mais velho, para lhe mostrar a maldade de Deus, li uma passagem de um conto do Albert Cossery, o do barbeiro que mata a mulher.)

in Ana de Amsterdam

Bayern vence Supertaça europeia

por A-24, em 31.08.13
O Bayern Munique conquistou a Supertaça Europeia, depois de derrotar o Chelsea, em Praga, nas grandes penalidades (5-4, depois do empate a 2 nos 120'), num encontro que marcou o regresso dos embates entre Mourinho e Guardiola. O domínio dos alemães foi claro, embora sem grande objectividade, mas a organização, contra-ataque e posicionamento do conjunto inglês estiveram em destaque. Excelente partida, sempre com incerteza no resultado, que apenas foi decidida nas grandes penalidades onde os bávaros foram mais felizes, depois de Javi Martínez ter empatado o encontro já depois dos 120'. Esta conquista marca o primeiro título de Guardiola ao serviço dos alemães, depois de já ter desperdiçado a possibilidade de vencer a supertaça da Alemanha, enquanto que Mourinho adia, assim, o regresso às vitórias (o último título do português foi a supertaça espanhola com o Real Madrid), sendo que ainda não foi desta que venceu este troféu.

No que diz respeito ao encontro, o Chelsea fez o 1-0 nos minutos iniciais da partida, na primeira jogada ofensiva da equipa inglesa. Hazard cria o lance, Schürrle assiste primorosamente Fernando Torres, com o internacional espanhol a fuzilar Neuer para o golo inaugural. A formação de Pep Guardiola tentou responder, com Ribéry a testar os reflexos de Cech, mas os blues estavam, em virtude da liderança no marcador, claramente mais confortáveis no encontro. Muita organização da equipa orientada por Mou, sempre com as transições prontas aquando da recuperação de bola. Domínio dos bávaros, com a posse de bola típica, apoiado num Ribéry bastante activo, perante uns londrinos mais pragmáticos e com as melhores ocasiões de golo. A segunda metade do encontro começou com mais pressão do Bayern Munique e... com o golo do empate. Ribéry dispõe de muito espaço na diagonal e, apertado por Ramires, atira forte para a igualdade. Depois do golo alemão, manteve-se o domínio do vencedor da Champions, desta vez com o Chelsea menos afoito no ataque. Robben ainda esteve perto de marcar à sua antiga equipa, mas depois os blues tiveram 3 excelentes oportunidades de fazer o 2.º golo. Primeiro foi Oscar a desperdiçar frente-a-frente com Neuer, depois de um erro tremendo de Dante, depois foi Ivanovic a falhar de cabeça, e de seguida David Luiz não marca porque o guardião adversário faz uma defesa fantástica. Antes do final dos 90', Ramires foi expulso, no seguimento de uma entrada dura sobre Götze. No prolongamento, o Chelsea teve o título na mão, depois do golo de Hazard, aos 93', mas no último minuto do encontro - e depois de muitas ocasiões desperdiçadas pelos alemães - Javi Martínez adiou todas as decisões para as grandes penalidades. Na marca dos 11 metros, o Bayern foi mais feliz, vencendo por 5-4 (Lukaku falhou o remate decisivo).

Destaques:

Bayern Munique - A equipa de Guardiola fez um jogo bem conseguido, muito melhor a partir da 2.ª parte (nos primeiros 45min sofreu com o contra-ataque inglês), com um domínio assinalável. Os bávaros, contudo, cometeram alguns erros defensivamente (falhas de Dante e passividade no golo de Hazard), que poderiam ter custado a conquista do troféu. Falta um pouco mais de objectividade ao jogo alemão, isto porque, por vezes, existe alguma cerimónia na hora de finalizar. Boateng e Dante estiveram algo inseguros, enquanto que Alaba fez um jogo verdadeiramente fantástico (deu profundidade ao flanco esquerdo durante os 120'). Javi Martínez trouxe outra segurança à posse de bola do Bayern e foi um dos responsáveis pela vitória final; Robben só teve alguns rasgos interessantes e Ribéry fez um jogo brilhante. Grande resposta do francês ao prémio de melhor jogador da Europa, ao ser o autêntico dinamizador do ataque bávaro. Mandzukicfoi importante na batalha com os centrais, enquanto que Götze esteve pouco activo.
Chelsea - Jogo de esforço e luta por parte da equipa liderada por Mourinho. A 1.ª parte foi bastante interessante, com muita organização e intensidade, sendo que os blues tiveram as melhores oportunidades do encontro, apesar do domínio bávaro. Grande posicionamento defensivo que apenas foi derrubado no último minuto da partida, numa altura em que já se "celebrava" a conquista. Mesmo com a expulsão de Ramires, os ingleses estiveram coesos e o génio de Hazard quase levava a taça para Stamford Bridge. A dupla Cahill-David Luiz esteve impecável (apesar de alguma agressividade em excesso), e Ivanovic sofreu um pouco com as investidas de Ribéry. Cech fez uma exibição de classe mundial (a defesa ao livre de Ribéry foi um dos destaques da partida), sendo que Oscar fez uma partida assinalável a todos os níveis, sobretudo na ajuda defensiva. Hazard quase decidia a partida, depois de um grande golo (com grande "ajuda" de Neuer); Torres esteve muito bem na 1.ª parte, assim como Schürrle.

Ridiculos à la Bloco de Esquerda

por A-24, em 31.08.13
Elsa Almeida e Adriana Lopera criticam banalização da ideia de que a mulher "está aí para ser tocada"
Duas bloquistas querem que o piropo seja controlado. Como? Ainda não sabem como e se é preciso a legislação travar os elogios pouco elegantes nas ruas portuguesas, mas acreditam que há frases que de elogiosas têm pouco e podem até ser consideradas assédio sexual. O tema vai estar em debate este fim de semana no Fórum Socialismo, a iniciativa de rentrée política do Bloco.

Para já, o assunto não vai passar do debate que este fim-de-semana os bloquistas vão fazer no Liceu Camões em Lisboa, mas Elsa Almeida e Adriana Lopera, duas feministas militantes do BE que promovem a discussão, querem que o piropo seja considerado assédio e defendem que o "assédio só pode estar enquadrado na área na violência contra as mulheres, portanto da violência de género ou violência machista".

Mas as próprias autoras da iniciativa não querem, para já, que isto passe do debate para a legislação. Adriana Lopera explicou ao i: "Não estamos a discutir legislação, estamos a discutir o piropo como violência de género. Temos de começar devagar."

Adriana Lopera faz parte de várias associações que lutam contra a violência sobre as mulheres e por isso quis trazer ao debate algo que considera uma agressão. Diz Adriana que, além da violência doméstica, há outro tipo de violência, como o assédio sexual, que pode ser exercida via piropos. Mas o próprio partido afasta à partida qualquer iniciativa para enquadrar legalmente a questão. As promotoras concordam que é cedo e defendem que "neste debate veremos como podemos fazer para viabilizar esta questão e a importância de agir sem fazer ouvidos moucos".
O debate vai acontecer no sábado às 10h30, mas num artigo online no esquerda.net as duas militantes avançam as linhas gerais. Para Adriana Lopera e Elsa Almeida, "o homem é ensinado desde pequeno a ser sujeito sexual, a ter desejo, prazer, orgasmo e a falar disto abertamente fazendo alegoria dos seus dotes de engate e não só" e "pelo contrário à mulher é reservada apenas a possibilidade de ser objecto sexual".
A prova de que, no entender das militantes do BE, o assunto deve ser discutido é que "está instituído que o piropo é inofensivo" e está banalizada a ideia da "mulher enquanto ser que está aí para cumprir o seu papel, ser vista e avaliada, tocada". A situação só poderá ser alterada se as mulheres conseguirem acabar com uma "sociedade patriarcal e machista", que "expulsou a voz das mulheres do palco". Além do debate no Fórum Socialismo, Adriana Lopera e Elsa Almeida estão a preparar várias iniciativas para levar a cabo no dia 25 de Novembro para protestar contra a violência sobre as mulheres.
IOnline

Controlador mas pouco

por A-24, em 31.08.13
Joana Nave

De que adianta querer controlar o mundo se tão pouco conseguimos controlar os nossos próprios impulsos?
Controlar é uma condição inerente a qualquer ser humano. Somos, em doses variáveis, controladores, manipuladores e obsessivos, mas gostamos de tingir estas características menos positivas com uma lata cheia de obstinação, a que invariavelmente apelidamos de personalidade forte.

Desde pequeninos que nos ensinam que temos de ocupar o nosso lugar no mundo, como se este fosse demasiado pequeno para o tamanho dos nossos desejos e ambições. Os valores fundamentais como a partilha, a solidariedade e a compreensão são sinais de fraqueza que só mais tarde, em idade adulta, nos entram pela porta adentro mascarados de homens de boa-vontade que lutam pelo seu semelhante. É mais uma moda que uma crença.
O controlo é apenas uma consequência da vivência mesquinha a que somos instigados desde a infância. Controlar o que se come para ter um corpo esbelto, controlar o que se veste para ter uma aparência decente, controlar o que se diz para ser considerado uma pessoa culta, controlar o que se faz para ser tido como uma pessoa educada. Pouco se tem dito sobre controlar a desonestidade, a falta de civismo, a mesquinhez, e até a avareza, porque o que se controla está à superfície e não na profundidade dos nossos sentimentos.
Tenho pensado algumas vezes que gostava de controlar o tempo para poder assimilar com maior clareza as consequências dos meus actos, mas o impulso é incontrolável e só o trabalho diário, perseverante e consistente consegue alinhar dentro de cada um de nós o que racionalmente sabemos que nos faz bem. Controlar tudo e todos os que nos rodeiam é um trabalho inglório, que nos desgasta e deprime, porque só quando conseguimos entender o que estamos a sentir somos capazes de aceitar e libertar as amarras que nos oprimem e limitam a nossa felicidade plena.

O socialismo: uma história fácil de entender

por A-24, em 30.08.13
Os socialistas não acreditam que o mercado, isto é, as pessoas em processo directo de cooperação sem intermediários, consigam compor os seus interesses e promover o desenvolvimento e bem-estar social. O socialismo vê a sociedade como um drama, onde as pessoas se digladiam em vez de cooperarem. Acreditam, também, que o egoísmo humano leva, em processo de mercado, à concentração da riqueza numa minoria privilegiada e ao agravamento das desigualdades sociais. Ora, como o fim do socialismo é a igualdade material dos homens, os socialistas defendem a criação de autoridades de intermediação das acções humanas, a fim de torná-las socialmente úteis. Para cumprirem os seus objectivos, os socialistas promovem, a partir de uma autoridade central, uma distribuição de rendimentos supostamente mais eficaz do que aquela que o mercado consegue, fazendo-o por via de processos de redistribuição (tirar alguma coisa a todos em proporção crescente consoante os seus rendimentos, para atribuir aos que menos têm e mais precisam). Com essas políticas de redistribuição ficariam sanadas as supostas ineficiências do mercado e alcançar-se-ia a igualdade material entre os indivíduos. Vamos ver como é que isto funciona, esclarecendo, desde, já, que isto não funciona.

A ideia da redistribuição pressupõe, como é óbvio, a existência de algo que possa ser distribuído. Falando em bens e recursos materiais fungíveis, a redistribuição só poderá ocorrer onde exista a produção e/ou transformação desses mesmos bens, de forma a que eles criem riqueza suficiente para, por um lado, sustentar os seus produtores e o aumento da escala produtiva, bem como possam gerar, por outro lado, a margem necessária à captação de recursos pelo estado para a redistribuição. Existem óbvias falhas neste raciocínio, que, aliás, o caso português evidencia exaustivamente.

A primeira dessas falhas é que a redistribuição não incentiva, e mesmo até reduz, a produção da riqueza necessária ao bem-estar social. Retirando, por via tributária ou outra, os recursos de quem os produziu, o intermediário estado está a reduzir o capital financeiro disponível do produtor e, consequentemente, a enfraquecer a sua capacidade de investimento e crescimento. Acima de um determinado limite de taxação, pode mesmo ocorrer a necessidade de diminuir o capital investido na produção para suportar os custos sociais da redistribuição. Ou seja, os produtores deixam de produzir para pagar impostos ao estado.

Outra falha evidente destes postulados reside no facto de muito do dinheiro captado coercivamente aos contribuintes acabar por não ser verdadeiramente redistribuído a ninguém, nem aplicado em bens e equipamentos ditos sociais, ficando para custear os custos progressivamente elevados da burocracia. Como esta se gere a si mesma e não tem qualquer racionalidade empresarial, isto é, não carece de desempenhar uma actividade lucrativa para se sustentar, porque que o faz com o dinheiro dos contribuintes, acaba por andar em rédea solta e por consumir cada vez mais dinheiro na sua própria actividade. Esta, por sua vez, não produz coisa nenhuma, mas apenas serviços de utilidade mais do que duvidosa, ou seja, não gera qualquer riqueza que possa contribuir para o produto nacional. Pelo contrário, diminui a riqueza do país, porque consome recursos, e enfraquece o tecido produtivo, porque nada produz.

A questão essencial é, por isso, a seguinte: ao captar recursos da produção para destinar à redistribuição, o intermediário estado desvia esses recursos para os chamados bens sociais, que são, no essencial, serviços em si mesmos não produtivos: saúde, educação, ambiente, prestações sociais mais prolongadas no tempo, subsídios variados, etc. Não discutiremos agora a eficácia empresarial de todos estes serviços prestados pelo intermediário estado, embora se saiba que eles têm invariavelmente custos superiores a unidades homólogas oferecidas por empresas privadas. O que interessa aqui reter é a ideia de que, mais uma vez, os recursos produtivos foram desviados para serviços não produtivos. Os socialistas justificam isto dizendo que, por exemplo, a educação é um bem social que produzirá, a prazo, riqueza, visto melhorar e qualificar o capital humano necessário à produção. É uma ideia muito velha, retirada dos velhos canhenhos dos Enciclopedistas das Luzes. Mas a ideia de que a educação melhora o capital humano e este o tecido produtivo, não deixa de ser verdadeira. Só que nada justifica que não sejam os próprios produtores a gerarem os meios necessários, a custos convenientes, para a formação do capital humano de que eles necessitam. Pelo contrário, os socialistas fazem-no por via de uma burocracia que desconhece as necessidades do mercado e da produção, sem informação fidedigna da utilidade das suas decisões (quantos cursos sem alunos e cheios de professores existem nas Universidades e Politécnicos portugueses?), e que, por sua vez, consome consigo mesma parte substancial desses recursos. A redistribuição socialista cria, assim, falsa riqueza com recursos compulsoriamente retirados a quem gera riqueza verdadeira, que fica progressivamente diminuída e enfraquecida.


Para compensarem a ausência de riqueza criada por uma produção cada vez mais escassa, o passo seguinte dos socialistas é manipular o crédito, gerando uma riqueza artificial que eles crêem ser suficiente para gerar riqueza autêntica. Eles baixam artificialmente as taxas de juros, isto é, o preço do dinheiro, e quase o oferecem às pessoas para que elas possam consumir bens e serviços. Com isto, acreditam os socialistas, aumentará a procura e esse aumento gerará automaticamente a criação de riqueza produtiva. Existem óbvias falhas lógicas neste raciocino.

A mais evidente é a de que os consumidores podem, com esse crédito, comprar bens e serviços de empresas estrangeiras e, assim, não apenas não contribuírem para qualquer incentivo à produção nacional, como até agravarem a situação da balança comercial do país, colocando-o – colocando os seus contribuintes, claro – como devedores compulsivos de quem vende esses produtos ou faculta o dinheiro necessário a essas compras. Depois, porque o dinheiro é ele também um bem de mercado, que deve ter o preço que o mercado determinar, em função da sua escassez, utilidade e necessidade. Ao instrumentalizar a taxa de juro, obrigando os bancos a venderem dinheiro a um preço inferior ao real, o intermediário estado acabará por esgotar o crédito natural e deixará os bancos sem capacidade para emprestar a quem eventualmente aplicaria bem esse dinheiro. Se fizermos uma análise do crédito bancário português dos últimos anos, ficaremos certamente estupefactos com o seu destino… Por último, porque o dinheiro barato será sempre um incentivo ao desperdício e um desincentivo ao aforro, como o foi em Portugal nos últimos vinte anos. Se o dinheiro for um bem barato e acessível, porque o haveremos de poupar?

Todavia, sem poupança não haverá nunca investimento, nem produção. O paradigma da sociedade capitalista baseia-se no ciclo trabalho-poupança-investimento. Ou seja, numa sociedade de mercado, um homem médio que queira melhorar as suas condições de vida e da vida dos seus, trabalha para aforrar durante um período razoável da sua vida – de dez a vinte anos, em média – e, com o produto da poupança resultante do seu trabalho, ainda numa boa idade para correr riscos, concebe um negócio, cria postos de trabalho efectivamente necessários à produção e ao mercado, ou seja, gera verdadeira riqueza. Para alavancar a criação do seu negócio, poderá ter de recorrer, em parte, ao crédito, que lhe será ou não concedido se for capaz de convencer o banco de que os frutos do seu negócio restituirão o capital emprestado, mais o custo contratualmente estabelecido dessa operação de crédito. Numa sociedade que não obedeça aos princípios do mercado livre, isto é, numa sociedade socialista, este ciclo é impossível de ser cumprido, por várias razões: porque o intermediário estado reduz a produção e a poupança; porque o estado destrói o crédito natural; porque o estado incentiva a criação de serviços e de burocracia inúteis ao mercado, isto é, repita-se, às pessoas; porque a gratuitidade da maior parte desses serviços incentiva à sua desvalorização e à desnecessidade de esforço e empenho pessoal para os conseguir.

A este propósito, Portugal é um caso exemplar de falência das ideias socialistas, com as quais vivemos há décadas. As “ineficiências” do mercado foram sempre colmatadas por um estado interventor, que durante décadas ofereceu a todos os portugueses, sem excepção e a título “gratuito”, saúde, educação, serviços públicos variados e crédito abundante para quem o quisesse utilizar. O resultado disso foi que hoje somos um país sem produção, dependente do estrangeiro para conseguirmos os bens essenciais à nossa existência. Sem produção e sem riqueza, deixamos mesmo de ser capazes de manter os serviços que o estado prestava, ainda que deficientemente, porque estes, por sua vez, têm também de ser pagos, seja nos recursos humanos utilizados, ou nos recursos materiais consumidos. O socialismo, e não o mercado, levou Portugal à falência, e parece querer perpetuar essa infeliz situação.
(fonte)

Apagar o fogo

por A-24, em 30.08.13
in Atentado ao Pudor

Ouvi dizer há tempos que os países da Europa do Sul, por serem aqueles em que as leis e a Justiça pior funcionam na Europa comunitária, são também aqueles em que mais advogados e juristas há por, vá, 1000 habitantes (não fui confirmar: dá demasiado trabalho e a "certeza" deste "facto" é o que sustenta o que vou dizer a seguir, logo não me convém infirmá-lo). Acontece que, segundo o Correio da Manhã, esse farol de coisinhas deliciosas, pelo menos 10 fogos dos que têm tirado o sono a muitos bombeiros - e a muita gente de esquerda raivosa de fraternidade - foram ateados pelo mesmo homem como vingança por a sua ex-namorada o ter trocado por um bombeiro. É ternurento, não é?

Eu sei que uns quantos especialistas associam a maior área florestal ardida no Norte e no Centro ao facto de os pinheiros bravos e os eucaliptos, que por ali pintam a paisagem, arderem muito melhor do que os sobreiros do pachorrento Alentejo. Isto é factual, mas os factos são aborrecidos. Gosto de pensar que deus nosso senhor estava em dia não quando decidiu juntar flora de boa combustão e gentes mais conservadoras do que a média numa mesma área geográfica. Perdoemos-lhe, como pede Jesus no evangelho de Saramago. E convenhamos que, sendo as gentes deste tipo e as árvores daquele, a empregabilidade para bombeiros nesta área do país é coisa para merecer um brinde - com cerveja, é certo - de Pires de Lima. Mais a Sul, onde se faz cortiça, a casca grossa dos sobreiros pode bem ser parte do que faz dos homens mais homenzinhos.

Bitcoins já são taxados na Alemanha

por A-24, em 29.08.13

“A notícia foi um golpe rude para os meios alternativos” anuncia o Huffington Post depois de a Alemanha ter reconhecido a bitcoin como moeda oficial.
site chega mesmo a perguntar-se se “a Grécia receberá a sua próxima tranche de ajuda em bitcoins em vez de euros?” e explica esta decisão pelo “aumento significativo do seu valor” e não pelo facto “dos tesoureiros alemães se terem tornado mais flexíveis”. De facto, quem diz moeda oficial, diz imposto:
Até à data as transações efetuadas com esta moeda escapavam ao imposto. [A partir de agora], serão deduzidos 25% sobre os benefícios de uma venda em bitcoins. […] Relativamente às empresas, estas deverão incluir uma taxa de IVA em todas as suas transações em bitcoins.
Huffington Post lamenta o facto de
esta moeda alternativa, muito apreciada pelos hackers, vir a perder um pouco do seu caráter rebelde…

Press Europe 

Violência doméstica mata cada vez mais

por A-24, em 29.08.13


Em seis meses, o número de mulheres mortas por violência doméstica já ultrapassou mais de metade dos números de 2012.

Perguntar a Maria Macedo, diretora técnica da Associação de Mulheres Contra a Violência (AMCV), quantas mulheres morreram este ano em Portugal vítimas de violência doméstica implica receber uma resposta emocionada: "Uma mulher morta que seja é sempre um número altíssimo".


Em 2012, as mortes contabilizadas são, por isso, "demasiadas": 37, segundo os dados da GNR e da PSP, que também registaram 26.084 queixas de violência doméstica.

Este ano, os números continuam a preocupar. Até junho, já se registaram pelo menos 20 assassínios e 21 tentativas de homicídio relacionados com violência doméstica, de acordo com informações recolhidas pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) e fornecidas ao Expresso.

Números que podem ser ainda mais graves do que parecem, uma vez que Maria Macedo revela que as autoridades não contabilizam as mortes das vítimas que não falecem no dia e local da agressão, assim como as mortes de pessoas relacionadas com a vítima de violência. "Conheço um caso, no ano passado, de uma amiga de uma mulher agredida que foi assassinada quando foi a casa do casal buscar alguns pertences. Esse tipo de mortes não entra na contagem", diz.

Prisão 'não domiciliária'

Maria Macedo explica também o funcionamento de uma medida de coação a agressores que tem sido cada vez mais utilizada: a pulseira eletrónica. Até 30 de junho deste ano, 149 arguidos estavam sujeitos a esta vigilância, mais do que os 116 registados nos 12 meses do ano passado, segundo dados da Direção-Geral da Reinserção e Serviços Prisionais.

"É uma medida de afastamento. Os agressores têm uma pulseira que não podem retirar e as vítimas têm um dispositivo, do tamanho de um telemóvel, que apita quando os agressores estão a menos de 'x' metros delas. A pulseira também avisa o agressor que tem de se afastar e os sinais são enviados para a Cruz Vermelha, que depois articula a situação com as autoridades".
"Há 20 anos olhavam para nós como se fossemos de Marte"

Prestes a completar 20 anos, a AMCV acompanhou, no ano passado, 9.135 pessoas em situações de violência, numa média mensal de 192 utentes, nos seus centros de acolhimento, casas de abrigo e grupos de ajuda. "De 1993 para cá a situação em Portugal já é completamente diferente, é um tema que as pessoas reconhecem", explica Maria Macedo. "Há 20 anos olhavam para nós como se fossemos de Marte, até relativamente à igualdade sexual." 

"As mulheres são muitas vezes reféns e aguentam num sistema de sobrevivência, sem se mexerem muito para evitarem mais agressões. O risco de morte é maior na altura em que elas vão sair ou quando estão separadas, por isso é que elas têm de estar informadas, para saberem qual a melhor forma de saírem em segurança", explica, justificando a nova campanha da AMCV, intitulada "Esquecer a primeira agressão é tão difícil como esquecer o primeiro beijo".A AMCV pretende que haja uma maior consciencialização sobre a violência doméstica, pelo que, para além da campanha que irá ser divulgada nas televisões, associou-se ao Benfica para realizar uma ação no jogo das "águias" frente ao Gil Vicente, hoje à noite: conseguir que trezentos casais se beijem ao mesmo tempo no Estádio da Luz, num gesto contra a violência sexual. 

"As pessoas já têm outra forma de olhar, mas não deixa de ser difícil perceber as coisas e intervir, até por parte das famílias, uma vez que o agressor cria estratégias de isolamento. Às vezes não sabem o que podem fazer, as pessoas perguntam-nos isso. Ainda há muitos mitos em relação à violência doméstica", conclui Maria Macedo.
Expresso

O vencedor antecipado

por A-24, em 27.08.13
Não tenho dúvidas que com esta campanha Luís Filipe Menezes vai ganhar estrondosamente as eleições para a Câmara do Porto. Tal como Valentim Loureiro ganhou há muitos anos as eleições em Gondomar a distribuir televisões e frigoríficos. Infelizmente em Portugal os eleitores adoram ser comprados, pelo que esta história há-de repetir-se sempre. Não sabem é que a factura vai chegar depois e será paga por todos os munícipes do Porto, da mesma forma que os contribuintes nacionais estão a pagar a factura de anos de despesismo irresponsável no governo. Não há almoços grátis.
Luís Menezes Leitão

Jogadores portugueses enganados em Chipre, Grécia, Turquia e Roménia

por A-24, em 27.08.13
Riscos de incumprimento salarial, coacção física e psicológica a futebolistas estrangeiros levam FIPPro e Sindicato dos Jogadores a lançar alerta aos seus associados.

Assinar um contrato para jogar nos campeonatos de Chipre, Grécia ou Turquia pode implicar grandes riscos para um jogador profissional, especialmente se for estrangeiro. Os casos de incumprimento salarial têm aumentado, assim como situações de coacção física e psicológica sobre os atletas, entre os quais portugueses. A FIFPro, confederação internacional de sindicatos de jogadores profissionais, aconselhou ontem os associados a terem cautelas antes de assinarem um contrato com emblemas destes países e o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) português alarga o alerta à Roménia.

"Estive a jogar em Chipre na última temporada e, no meu caso, não me pagaram dois meses de ordenados", revelou ao PÚBLICO Rui Miguel, actualmente jogador do Paços de Ferreira, que alinhou em 2012-13 pelo AEL Limassol. "Passei por algumas situações complicadas. Fui ameaçado por dirigentes [um dos quais português] para rescindir o meu contrato de dois anos e prescindir das verbas a que teria direito", denuncia o médio, admitindo que o contexto de crise financeira que Chipre está a atravessar tem agudizado a situação.
Também Paulo Sérgio, avançado que integrou esta temporada os quadros do Arouca, viveu momentos difíceis em Chipre no ano passado, igualmente ao serviço do AEL Limassol. "Eles prometem, mas depois não pagam os ordenados e ainda ameaçam os jogadores", lamentou o avançado formado nas escolas do Sporting, que aceitou rescindir o seu contrato e regressar a Portugal.
"Sei do caso de um português, que não vou referir o nome, que tinha mais um ano de contrato e o clube queria rescindir. Disseram-lhe que se não saísse a bem, sairia a mal. Uma noite conduzia um automóvel, acompanhado pela esposa e filha, e foi mandado parar por um carro da polícia a poucos metros de casa. Meteram-lhe dois cães dentro do veículo e disseram-lhe que aquilo era só um aviso, que na próxima vez iriam "encontrar" droga no carro. No dia seguinte aceitou rescindir, abdicando de tudo o que teria a receber", recordou Rui Miguel, que também passou por outras situações complicadas no futebol romeno e russo.
A Roménia não está incluída no alerta da FIFPro, mas é, segundo o SJPF, outro destino problemático, pelo menos para os jogadores nacionais. "Na óptica dos futebolistas portugueses, os países onde se verificam situações anómalas mais graves são Chipre, Grécia e Roménia, mas não tanto a Turquia", garante Joaquim Evangelista, presidente do SJPF. "A maioria dos jogadores portugueses que vai para estes campeonatos responde a uma oportunidade que lhe é apresentada por um empresário, que pode ou não ser certificado. Os atletas não sabem muitas vezes que proposta estão a assinar."
Este não foi o caso de Rui Miguel, que partiu para Chipre com um contrato devidamente traduzido e rubricado, mas nem isso permite muitas vezes descansar. "Na Rússia [onde representou o Krasnodar, em 2011-12] também tive problemas. No acordo que assinei tinha direito a um carro com motorista, mas foram-me ambos retirados quando cheguei e tinha de deslocar-me sempre de táxi. Depois, também me tiraram a casa que o clube tinha alugado, com as minhas coisas lá dentro."
Após esta experiência negativa em terras russas, o médio, de 29 anos, seguiu para a Roménia, mas o cenário não melhorou. "Estive lá cinco meses [ao serviço do Astra Giurgiu] e nunca recebi ordenado. Tive de levar o caso à FIFA e, como represália, puseram-me a treinar com os juniores e nem me forneciam equipamento." Mas a queixa terá sido a melhor opção do jogador: "Como a equipa tinha alcançado o segundo lugar no campeonato e só poderia participar nas competições da UEFA sem casos pendentes de dívidas salariais, acabaram por pagar."
A maioria dos casos anómalos com estrangeiros nestas ligas verifica-se em clubes que não lutam pelos lugares europeus, segundo denuncia a FIFPro, já que não estão sujeitos aos controlos de licenciamento da UEFA. "Estes clubes oferecem salários estupendos, vivendas luxuosas, planos ambiciosos e um prémio de assinatura", revela o relatório deste organismo. Os jogadores têm encontrado uma realidade bem diferente. "Há mais casos de insucesso do que de sucesso", alerta Evangelista.
Público

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