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A-24

Do ontem e do hoje

por A-24, em 30.06.13
«Tinha 12 anos, no longínquo 1966, quando ingressei na Escola Industrial. Saía de casa às sete da manhã, e após quarenta e cinco minutos de comboio e outros tantos a pé carregando livros e almoço, estava na escola. No regresso a mesma coisa, chegando a casa às nove da noite.

Todos os dias quatro horas de aulas práticas de serralharia, a lima de doze polegadas pesava quase tanto como eu e deixava-me as mãos em sangue. Nas derradeiras aulas do dia o cansaço dava sinais e por vezes deixava-me dormir, puseram-me a alcunha de tsé-tsé, sobretudo naquelas maçadoras aulas de Física e Química dadas à pressa devido a não termos tido professor no primeiro período.

No primeiro ponto daquela disciplina, qual teste nem teste, dei-me ao luxo de ter batido o record de menor valor obtido num ponto. As respostas ao teor do mesmo foram zero, mas como o cansaço me levou a preencher o seu cabeçalho com erro, a nota obtida foi menos um (-1). Naquele tempo só havia duas vias para contacto com os encarregados de educação. A sua assinatura de conhecimento dos resultados obtidos nos pontos, ao lado da do professor, e através de carta quando o comportamento do aluno excedia o previsto e recomendável. Com uma nota daquelas o meu pai chegou-me a roupa ao pelo, vindo todo o imbróglio daquela situação a servir-me de exemplo mais tarde.

Naquele tempo não havia subterfúgios, não havia desculpas, ou era branco ou preto não havia cinzento.
Tudo isto para dizer que foi com aquelas dificuldades, naqueles ambientes que não lamento de forma alguma, que me fiz Homem.»
Fonte

Governo holandês estuda fechar prisões devido à falta de criminosos

por A-24, em 30.06.13
O governo holandês está enfrentando protestos da população após anunciar que irá fechar 19 prisões no país, como forma de economizar 271 milhões de euros do orçamento devido à falta de criminosos no país.
De acordo com a emissora de TV holandesa “NOS”, o secretário de Estado Fred Teeven foi criticado inicialmente ao sugerir o fechamento de 26 cadeias, o que representaria um corte de 340 milhões de euros mas, ao mesmo tempo, o desaparecimento de 3.400 empregos. Em vez disso, 2.000 funcionários seriam dispensados.
Uma das razões da medida anunciada pelo Estado é a diminuição da taxa de criminalidade e a utilização de tornozeleiras com rastreadores em vez de deixar os presos encarcerados, o que deixou muitas das celas vazias. A oposição está tentando reverter a medida, afirmando que o equipamento “não é alternativa à prisão”.
A falta de criminosos na Holanda foi muito discutida pela mídia internacional pela primeira vez em 2009, quando o governo inicialmente anunciou o fechamento de 8 unidades prisionais, e, diante das demissões que seriam feitas, estava estudando a possibilidade de importar 500 criminosos da Bélgica, para que possa manter um contingente nas prisões.
Globo

Actividade urgente para a FENPROF em dia de greve: "kit urgência-português " para Arménio Carlos

por A-24, em 29.06.13
Não há mistérios. Na Alemanha, na Grã-Bretanha e na Holanda, os dirigentes sindicais frequentam institutos de formação contínua; cursos de legislação e economia, cultura geral, línguas, técnicas de comunicação. Naqueles infernos gelados, os sindicalistas discutem as mais complexas matérias com o patronato, sentam-se à mesa do poder, interpelam e são interpelados sem o menor vislumbre de paternalismo. Há-os escritores, jornalistas, docentes universitários, como os há músicos apaixonados, actores amadores e até artistas plásticos.
Por cá, cultiva-se o estilo "4º estado", o iletrismo cavalar, os comboios de frases-feitas, o roncante a dar o típico boneco do imaginado mineiro. Contudo, os nossos líderes sindicais são, sabemo-lo todos, os menos produtivos dos trabalhadores, vivem do ofício protestatário, não têm uma profissão, pelo que tempo de sobra teriam para polir, adornar, encher o verbo. Há dias, qualquer-coisa Nogueira, sindicalista dos professores, mas que não dá uma aula há mais de vinte anos, berrava (os sindicalistas não conhecem a moderação canora) e em meia dúzia de minutos assestou uma dúzia de biqueiradas na santa língua. Hoje, Arménio qualquer-coisa, em trinta segundos de comunicação agit-prop, afirmou que o governo dos "charlatões" (sic) e restantes "dignatários" devem sair, e já, reclamando eleições antecipadas. Não há, na CGTP, um só camarada de Arménio qualquer-coisa que lhe ofereça um prontuário, coisa de somenos que custa 3 ou 4 Euro? 
Sei bem que Arménio q.c. não lê, que o mundo em que vive é mínimo e que aquele tom rastracueros é q.b. para um país habituado a ser uma espécie de Suazilândia. Para quê mudar? O importante são as mariscadas, as cervejolas e a bola.

in Combustões

Coisas do dia da greve

por A-24, em 29.06.13
Talvez hoje valha a pena recordar um artigo da Maria João Marques: 82% dos trabalhadores nunca fizeram greve na sua vida. Apenas 9% fez greve nos últimos cinco anos.
A CGTP não quis cair no ridículo, mas a UGT saiu-se com este número: 50%!

De alguma forma, Ridículo não é suficiente para sequer começar a descrever este número. Mais de 2.000.000 em greve? Devem ter passado o dia na praia, só pode…

Ricardo Campelo de Magalhães

Afinal, qual é mesmo o objectivo de paralisar um país que, na realidade, já está paralisado há tantos anos??? 
Aliás, depois do Marquês de Pombal, e com a excepção de um pequeno período entre a nossa entrada na CEE (em 86) e por volta do meio da década de 90, já estamos paralisados há 400 anos!

Comentário no Expresso


Mais um dia em que Portugal se desdobra em dois – o das centrais sindicais - CGTP reclama “forte adesão” à greve geral no sector privado e de algumas redacções - Greve geral: país está parado. Mas na verdade isso pouco importa: as greves a que chamamos gerais são basicamente greves de alguns sectores da função pública. O que não entendo é o papel dos piquetes de greve. Não é aceitável que alguns tentem pela força e intimação que outros façam greve: Movimento dos Precários Inflexíveis interrompeu a circulação ao irromper pela Av. Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, e ainda entrou em instalações da Portugal Telecom.

Helena Matos

Exijo: demissão de Arménio Carlos já!


Arménio Carlos interessa-me muito pouco, a CGTP igualmente e só depois de uma lobotomia (e também de alguma esquizofrenia, cismas de personalidade ou por aí) descontaria mensalmente uns poucos cêntimos que fossem para algum sindicato da CGTP, que são AS organizações mais reaccionárias e imobilistas do país. (A UGT tem dias menos maus – e hoje não foi um deles).
Mas isso não interessa nada. Se a criatura pode ousar supor que os seus devaneios ideológicos e as suas alucinações sobre o que são ‘a vontade popular’ têm mais valor do que o meu voto de há dois anos para a manutenção de um governo eleito para quatro, então eu quero dar palpites sobre o que se deve passar numa organização com a qual nada tenho a ver – nem quero (até o teclado e a mesa por baixo do teclado estremeceram com pavor de uma súbita loucura marxisto-sindical minha).
E como hoje é dia de protesto, acabo também com um protesto: vade retro gente, ó gente com a fineza democrática de um Kim-il-sung, que no meu voto mando eu.
Maria João Marques n'O Insurgente

A greve geral do sector público e o sector privado

A greve no sector público. Por Pinho Cardão.
Uma greve política, pois tem como objectivo mudar o governo, como hoje os dirigentes sindicais muito têm referido. Mas é aos cidadãos que assiste o direito de mudar governos, em eleições, não aos trabalhadores do estado, fazendo greve.
Felizmente que há muito mais gente a trabalhar no sector privado. A trabalhar, pois a greve, salvo casos esporádicos, não passou por lá. São eles que ainda vão sustentando os grevistas e o país.
O Insurgente by André Azevedo Alves


E o Camarada Arménio não se demite?


O Camarada Arménio Estaline não avança com os números de adesão à greve geral. Na certa porque sabe que esta foi um fiasco. E de facto foi. Por isso, e por uma questão de coerência, Arménio Estaline devia demitir-se, pois é um dos que passa a vida a pedir a demissão do Governo por alegados fracassos. Numa democracia normal já haveria vozes a pedir a cabeça do líder dos trabalhadores portugueses, mas como se trata de Portugal ninguém se atreve a tal.


A angústia do guarda-redes no momento do penálti não é nada comparada com a do jogador depois de falhar o remate.

por A-24, em 28.06.13
Ganhou sete campeonatos, seis taças de Portugal, duas Supertaças, esteve em três finais europeias, mas esta sucessão de troféus e proezas nada pode contra a minha recordação de António Veloso naquela noite de Maio de 1988, em Estugarda, quando a voz de um fantasma húngaro lhe sussurrou que chutasse para o lado esquerdo, devagarinho. Naquela noite, tinha eu dez anos, lembro-me de ver o meu vizinho sapateiro todo vestido à Benfica, enrolado numa bandeira do clube e com um boné da águia. Nitidamente embriagado, chorava. Morreu poucos meses depois. Ao contrário de outros benfiquistas mais sanguíneos, não odeio António Veloso. Sinto uma compaixão amarga por um homem condenado a reviver aqueles breves e fatídicos segundos que deveriam ser apenas uma nota-de-rodapé de uma carreira de anos.
A quarta final pós-Béla Gutmann do Benfica foi disputada no Neckarstadion, contra os holandeses do PSV Eindhoven. O jogo foi tão mau que os únicos momentos de emoção foram proporcionados pela fraca aderência das chuteiras benfiquistas à relva alemã. Do onze inicial do Benfica constavam nomes como Chiquinho e Magnusson. Não se pode dizer que fosse uma equipa de sonho. Os noventa minutos chegaram com zero a zero e já se sabia que a única forma de haver um vencedor no final do prolongamento seria se uma das equipas caísse para o lado de tédio.

Penáltis! Elzo, Dito, Pacheco, Mozer e Hajry converteram os seus, respondendo à eficácia dos holandeses. Guilhaus marcou o sexto para o PSV. Veloso tinha a responsabilidade de manter o Benfica vivo. Arrancou timidamente para a bola, a gaguejar das pernas, e atirou para o lado direito de Van Breukelen, que já lá estava quando a bola chegou. Veloso falhou e os benfiquistas nunca mais se esqueceram.
Sou um adepto de futebol e de penáltis, mas mesmo quem não gosta muito de futebol, gosta de penáltis. A mecânica é irresistível de tão simples. Há uns anos, a FIFA, organização tentacular, quis acabar com essa forma de desempate em nome da justiça e do mérito. A ideia era substituir os penáltis pela invenção sinistra da “morte súbita”. Uma ideia lamentável que, felizmente, não durou muito. Há quem, para de alguma forma retirar o peso de cima dos ombros dos jogadores, lhes chame lotaria, como se o processo mecânico de retirar bolas de uma tômbola fosse comparável ao drama humano, à vibração um tanto masoquista que antecede a marcação de penáltis. Para mim, é o momento em que o futebol mais se aproxima do ritual, de uma encenação dramática, toureio imóvel entre avançado e guarda-redes.

Tomba-gigantes
Nem todos os jogadores resistem à tensão acumulada. Stuart Pearce, um daqueles jogadores ingleses com cara de delegado sindical dos estivadores falhou um penálti nas meias-finais do Mundial de 1990 e depois comparou o caminho do meio-campo até à grande área como uma tortura inventada por uma mente sádica. Em 2006, nos quartos-de-final do mundial, contra a selecção portuguesa, Steven Gerrard – aquilo a que se chama um exímio marcador de penáltis - também não conseguiu gerir as emoções. Diz ele que estava tudo preparado mas que o árbitro nunca mais apitava. Se virem as imagens, a espera é de poucos segundos. A Gerrard pareceram séculos. Essa ansiedade traiu-o e falhou.
Pearce e Gerrard são dois exemplos de uma tendência que só à falta de um Guttman-profeta não se chama de maldição. A Inglaterra é uma vítima crónica dos penáltis. Desde 1990, foi eliminada assim seis vezes em grandes competições internacionais, duas das quais contra Portugal.
De um ponto de vista literário eu preferia que as coisas ficassem por aqui, nos limites das tragédias pessoais, como a de Roberto Baggio no dia 17 de Julho de 1994, em Los Angeles. Depois de ter carregado com o seu talento uma Itália que, como sempre, parecia simultaneamente inofensiva e invencível, Baggio teve a oportunidade, à distância de 9,15m da linha de golo, de concluir de forma perfeita a sua história americana. Talvez o melhor jogador italiano da sua geração, Baggio falhou quando estava proibido de falhar.

Já se sabe que as capacidades técnicas, a habilidade, não são decisivas na altura de se marcar um penálti. Grandes jogadores falham e, talvez pelo seu estatuto, os seus falhanços ganham foros de lenda.
No momento em que pousam a bola na marca, não há Maradonas, nem Ronaldos, nem Messis. São todos potenciais Antónios Velosos a caminho do patíbulo.
Nesse aspecto, a história de José Carlos Nepomuceno Mozer, antigo central do Flamengo, Benfica, Marselha e da selecção brasileira, é elucidativa. Mozer nunca foi um tecnicista. Aliás, era mais uma espécie de carrasco dos tecnicistas, um “zagueiro” tão duro que, só de olharem para ele, os avançados deviam ter pesadelos com a sala de operações. Apesar dessa justa reputação, Mozer é digno de misericórdia. Perdeu duas finais da Taça dos Campeões nos penáltis, uma pelo Benfica (a de Estugarda) e a outra pelo Marselha, e das duas vezes concretizou a grande penalidade.

A ciência tenta explicar
Mas se um olhar literário se recusa a ver para além do lado dramático dos penáltis, a ciência faz questão de observar desapaixonadamente os factos. Será apenas sorte? Haverá alguma explicação lógica para a incrivelmente desastrada série de derrotas da Inglaterra nos penáltis? E por que é que a Alemanha vence habitualmente este tipo de desempates? Terá a ver com mentalidade, treino específico, capacidade de lidar com a pressão? Quais são os factores que influem decisivamente na marcação de penáltis?
Num estudo em que foram analisados todos os desempates por grandes penalidades em campeonatos do Mundo e da Europa desde 1978, o investigador Geir Jordet concluiu que factores como a pressão e o estatuto público da equipa (as expectativas dos adeptos) influenciam o estado dos jogadores. Aqueles que sofrem mais com a pressão tendem a marcar os penáltis duas vezes mais rápido (em relação ao apito do árbitro) do que os outros e essa “rapidez” é inimiga da eficácia, visto que os precoces tendem a falhar mais do que aqueles que sabem esperar. Os ingleses, de acordo com o estudo de Jordet, não sabem esperar. Ele aponta factores culturais relacionados com uma cultura individualista e que tanto precisa de heróis como de bodes expiatórios.
Stuart Pearce e Gareth Southgate, que falharam os respectivos penáltis no mundial de 1990 e no europeu (jogado em casa) de 1996, sentiram na pele o peso de ser o bode expiatório de uma nação que se orgulha de ser a pátria do futebol mas que não ganha uma grande competição nem sequer chega a uma final desde 1966. Não são apenas os falhanços nos penáltis que justificam essa longa travessia do deserto, mas talvez essa longa travessia do deserto, e o facto de a cada infeliz paragem ser necessário apontar o dedo a alguém, ajude a explicar a razão de a Inglaterra só ter ganhado 17% dos desempates por penáltis.

Outro dado curioso é que a pressão é muito maior quando um eventual falhanço significa a derrota do que quando um penálti convertido dá a vitória.

O medo de falhar é tão determinante que os jogadores raramente arriscam marcar para o local onde é quase impossível o guarda-redes chegar. E se não o fazem é porque é mais confortável chutar rasteiro para um dos lados (enviar a bola para o topo da baliza é tecnicamente mais complicado). Nesses casos, se falhar, a sua culpa é diluída no mérito do guarda-redes. Estes seguem uma lógica idêntica. Se ficassem parados no meio da baliza teriam mais hipóteses de defender o penálti (33%), mas quase sempre escolhem um lado para se lançarem, diminuindo as possibilidades de defesa. Atiram-se para darem a ideia de que tentaram tudo. Um guarda-redes estático talvez desmoralizasse os próprios companheiros.

Estes dados levam alguns a acreditar que é possível melhorar o desempenho dos jogadores neste tipo de situações. Como o confronto é sobretudo emocional é essa dimensão, e não a técnica, que deve ser trabalhada. Os guarda-redes, muito menos pressionados que os avançados, tentam desconcentrá-los ou fazer como o português Ricardo, que tirou as luvas para defender os remates dos pobres ingleses no Euro’04.

Ricardo nunca há-de esquecer esta defesa. O inglês Vassell muito menos. Foto: D.R.

Convém não menosprezar o efeito psicológico destas pequenas acções num contexto em que todos os envolvidos estão com a sensibilidade em alerta máximo, vulneráveis à mínima vibração. Não é esoterismo. Eis um exemplo: o ano passado, no Euro’12, após marcar um fantástico penálti à Panenka (é o único tipo de penálti que merece o adjectivo), o médio Andrea Pirlo explicou que ao ver que o guarda-redes inglês estava muito confiante quis rebentar com essa confiança. E rebentou. Inspirou os seus companheiros e infligiu severos danos na já debilitada constituição psicológica dos ingleses.

No entanto, ainda que os investigadores possam analisar comportamentos, calcular probabilidades, prever desfechos, subsiste nos penáltis uma teimosa imprevisibilidade. Insisto tanto em cultivar o meu fascínio primitivo que vejo os voluntariosos esforços da ciência como algo apenas ligeiramente menos nocivo que os já esquecidos planos da FIFA para acabar com os penáltis. O lado da tensão humana é tão determinante que qualquer tentativa de “melhorar” o desempenho dos jogadores me parece vã.

Stuart Pearce tem razão. Aquele autêntico corredor da morte que vai do meio-campo à grande área é o terreno de uma última caminhada sádica. A pressão no interior da cabeça do jogador deve ser tão grande e as suas reacções tão imponderáveis que o espírito se torna impermeável a ensinamentos prévios, imune ao incentivo das estatísticas. Naquele momento, para o jogador que avança para a marca da grande penalidade, não há nada a acontecer no exterior. Sabe que, o que quer que aconteça, daqui a pouco tudo será irrevogável, definitivo, o mesmo desfecho a repetir-se eternamente.

Revejo as imagens de António Veloso naquela noite de Maio. Prepara-se para marcar o penálti. Os olhos no chão. Sei que é inútil, que a história não se vai alterar, mas páro a imagem. Daqui a uns segundos, uma vez mais, aquele homem irá ficar preso no instante decisivo da sua carreira. De repente, a expressão “castigo máximo” nem sequer parece uma hipérbole.
Bruno Vieira do Amaral

Crónicas da corrupção em Portugal I

por A-24, em 28.06.13
Portimão. Município gastou 2,5 milhões a modernizar estádio

Obras foram feitas através de ajustes directos. Luís Carito, o vice-presidente detido na quarta-feira, foi sócio do director do Portimonense

A Portimão Urbis, empresa municipal da câmara com maior endividamento per capitado país, gastou 2,46 milhões a modernizar o estádio de futebol do Portimonense. Todos os contratos, adjudicados entre Agosto de 2010 e Outubro de 2011, foram celebrados sem qualquer concurso público. Ou seja, por ajustes directos. Luís Carito, vice-presidente socialista detido esta quarta-feira e que fica em prisão preventiva até ter uma pulseira electrónica, era à data dos factos membro do conselho de administração daquela empresa municipal e foi sócio do director do Portimonense - José Fernando Teixeira da Rocha - numa empresa. Os outros quatro detidos foram libertados na noite de sexta mediante caução e estão impedidos de comunicar uns com os outros. (...)

Esta é apenas uma peça de um puzzle que está a ser analisado e que leva a PJ e o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) a suspeitarem de corrupção, branqueamento, administração danosa e participação económica em negócio (aplica-se a funcionários que lesem os interesses públicos).

Como o i avançou ontem, está em causa um esquema que terá prejudicado a Portimão Urbis em milhões de euros e que envolve a Picture Portugal (empresa parceira da Cidade do Cinema), os seus administradores (Luís Varela Marreiros e Artur Curado) e dois autarcas do município algarvio (o vice-presidente e o vereador Jorge Campos).



Sim, sou um ultra-neo-liberal-capitalista-fássista-imperialista-militarista-atlantista

por A-24, em 28.06.13


Está um porta-aviões norte-americano em Lisboa, o USS Dwight Eisenhower. Amanhã vou visitá-lo, a convite da Embaixada dos EUA. Sim, para algumas mentes brilhantemente mentecaptas, sou um ultra-neo-liberal-capitalista-fássista-imperialista-militarista-atlantista, ou seja, um filho do Demónio. O mesmo é dizer que não me queixo hipocritamente do capitalismo que produz as armas que os moderninhos revolucionários de sofá tanto gostam de utilizar, e muito menos me indigno selectivamente e aplaudo alguns eleitos como Steve Jobs, embora não deixe de notar, como Chesterton, que o conceito de propriedade foi corrompido pelos grandes capitalistas e que estamos, como Tiago Caiado Guerreiro fazia notar há dias, a viver num sistema cada vez mais semelhante ao feudalismo em que a maioria das pessoas são meros servos da gleba. Afinal, não consta que os grandes senhores neo-feudais sejam propriamente defensores do liberalismo e do capitalismo que pugna pelo mercado livre, aquele onde as empresas (como os bancos) mal geridas vão mesmo à falência, não sendo resgatadas por dinheiro dos contribuintes obtido através de uma sempre crescente carga fiscal. Num tempo em que o debate político se deixa enredar pelo economês e as partes em contenda tendem a barricar-se em trincheiras com categorias pouco ou mal definidas e/ou que dificilmente correspondem às realidades que pretendem explicar, vale a pena citar José Adelino Maltez:

«Um liberal não precisa de ser anarco-capitalista para reconhecer que o Welfare State sofre de raquitismo, quando se admitiram estruturas adiposas de gordura sem adequado músculo e calcificada ossatura, que puseram em causa as articulações e a própria estrutura óssea do corpo social. Contudo, ao mesmo tempo que fala em menos Estado, relativamente aos intervencionismos anteriores, também clama por um melhor Estado, isto é, por uma nova intervenção da esfera pública em domínios como os da qualidade de vida, do ambiente e da descentralização, visando responder, com justiça, às novas questões sociais.
Ser liberal não significa ceder às forças reivindicadoras do capitalismo autenticamente selvagem e multinacional que, mantendo a justiça e a dimensão ética dentro dos respectivos espaços político-culturais, exportam, para os terceiros e quatros mundos, essas vias super-liberalistas para a construção de um laboratório do mercado da concorrência perfeita.
Mas esta não passa de um mero exercício mental daqueles ideologismos economicistas que não foram, nem serão, aplicados em qualquer lugar e em qualquer tempo, salvo nos exercícios de imaginação teórica dos modelos académicos e dos manuais pedagógicos, dado que os povos, feitos de homens concretos, de carne, sangue e sonhos, não podem ser cobaias de experimentação para tais tratamentos de choque.»
Samuel de Paiva Pires

A rua tem consequências anti-rua

por A-24, em 27.06.13
O problema dos protestos que originam cedências por parte dos decisores políticos, como os que se observam agora no Brasil, está na capacidade dos decisores em usarem poder para interferir directamente com exigências dos sectores.
Uns querem mais escolas, outros querem mais hospitais, outros querem ainda transportes gratuitos. Como se conjugam esses interesses com recursos finitos?
Com intervencionismo não se conjugam: o que é alocado para transportes não é alocado para educação e vice-versa. O crescimento da carga fiscal necessária para suportar mais e mais estruturas torna-se incomportável e o propósito artificial de redução de desigualdade, perversamente, apenas a acentua: mais e mais impostos são usados – retirando-os aos que podem criar emprego para suportar funcionários públicos, que não geram riqueza, como forma de suportar esse estado social – isto fazendo com os que têm menos recursos percam a possibilidade de os obterem com a única forma verdadeiramente eficaz de distribuição: através de salários.
O que estamos a assistir é o socialismo a engolir-se a si próprio. E é só a 765ª vez na história recente. A consequência disso é tornar-se necessário conter o descontentamento disperso, não liderado, ultra-revindicativo, com formas crescentemente repressivas. Não há nem nunca houve refeições gratuitas.

Rui Cunha

Michelle Brito bate Maria Sharapova em Wimbledon

por A-24, em 26.06.13

Dia histórico para o ténis nacional. Michelle Brito (apenas a 131ª no ranking WTA) bateu Maria Sharapova, actual nº3 do Mundo e antiga nº1 Mundial, em apenas 2 sets (6-3 e 6-4) na 2ª ronda de Wimbledon (até com relativa facilidade, ficou provado que se tiver consistência no seu jogo, principalmente ao nível do serviço a jovem portuguesa de 20 anos pode bater qualquer adversária). 
Um feito incrível, muito provavelmente o maior de sempre na modalidade em Portugal, nunca um tenista português bateu alguém com a reputação de Sharapova, a russa é a tenista mais mediática da actualidade (apesar de Serena ser a melhor), há duas semanas foi finalista em RG, já venceu os 4 Grand Slams, é a desportista feminina mais bem paga do Mundo, a que tem mais fãs no Facebook e era uma das grandes favoritas no mítico torneio inglês. E que poderá ser o clique necessário não só para a jovem tenista (precisava deste impulso para se afirmar entre as melhores do Mundo), como para o próprio ténis nacional (ainda há bem pouco tempo era impensável algum tenista luso chegar ao top80 quanto mais bater um ex-nº 1 do Mundo no auge da sua forma).
Visão de Mercado

O melhor da semana

por A-24, em 26.06.13

O dinheiro dos outros

Aquilo a que se chama ideologia não tem passado frequentemente de contar com o dinheiros dos outros. Tema do meu artigo de hoje no DE: : viver do dinheiro dos outros sai sempre caro ao povo que é quem paga a factura. Mas tem garantido boa parte daquilo a que em Portugal (e não só) se chama fazer política.
Helena Matos



Acho espantoso que tenham aceite pagar multas ao invés de deixar a coisa ir para tribunal. O efeito da coação legal e o medo da autoridade já estão tão entranhados que nem se contestam medidas policiais obviamente disparatadas e ilegais.

Gabriel Silva

Vocês [autarcas socialistas] vão primeiro, a seguir seremos nós. Foi assim, sem mais, que o líder socialista resumiu ao que anda. E o pior é que terá razão: depois de terem arruinado o país, os socialistas regressarão ao poder lá para 2014 ou 2015 a tempo de colherem os frutos dos anos de austeridade da coligação PSD/CDS. São beneficiados em toda a linha, não só porque não vão ficar 20 anos na oposição - que era o mínimo que se exigia depois do que fizeram - como irão encontrar o país em muito melhor estado do que deixaram. Para tudo isto contribuirá a gigantesca manobra de branqueamento da governação do PS, atualmente em vigor, como ainda a impressionante falta de memória e de discernimento do eleitor médio.

DL


E assim vai o mundo
Snowden, o homem do momento, anda em em trânsito entre a Rússia, Cuba e Equador, lugares pouco recomendáveis para jornalistas ou mesmo para quem gosta de dizer o que lhe vai na alma. A definir todos os seus cuidadosos passos está Baltasar Garzón, célebre juiz que, recorde-se, foi suspenso das suas funções por ter ordenado escutas ilegais às conversas entre um grupo de suspeitos em prisão preventiva e os seus advogados. Snowden, parece, está em luta pela liberdade de expressão e pelo direito à privacidade.
Carlos M. Fernandes


(...) onze jovens comunas foram levados para a esquadra por andarem a pintar um mural numa escola secundária do Porto. A comunistagem indignou-se: liberdade de expressão, constituição, direitos, etc. Aquelas coisas que a oposição grita quando é apanhada a pintar murais na Coreia do Norte, no Laos, na China. Os comunas acham que têm o direito de emporcalhar seja o que for. Não aprenderam nada com a javardice que fizeram, há uns anos, nas escadas monumentais em Coimbra. Acham que qualquer muro, parede deste país é propriedade colectiva e susceptível de consequente abandalhamento.
Joao Vaz
(...) É que a propriedade pública não é, ao contrário do que alguns marxianos de biberão pensam, um poiso para actos de vandalismo. Ou, pelo menos, não deveria ser.
João Pinto Bastos

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