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A-24

A Esquerda Lamechas

por A-24, em 21.05.13
Hoje foi anunciada uma recolha de alimentos para os trabalhadores da CARRIS. Mais, ficámos a saber, sem espanto, que os únicos empregos criados são de salários abaixo do salário mínimo, ou seja, o salário mínimo está a descer para algo em torno dos 300 euros de facto. Há 10% dos portugueses que trabalha mas não ganha o suficiente para viver – nos meios académicos na Europa a coisa começa a ser tão comum que onde trabalho já se cunhou o conceito - working poor, os que trabalham mas ganham abaixo do limiar de subsistência. Rui Mauro Marini chamou-lhe no Brasil há muitos anos «super exploração», isto é, a força de trabalho ao fim do dia não é reposta (não recebe o suficiente para no dia seguinte conseguir ir trabalhar) mas exaurida. O resto do salário é completado com o recurso à caridade que usa os fundos dos próprios trabalhadores (segurança social).
Estive nas últimas semanas em vários debates com Paulo Morais, membro do PSD, vice presidente da TI, onde em todos os debates, depois de uma exposição absolutamente brilhante, clara e etalhada sobre a corrupção (recordo que é investigador de matemática na FEUP), pede, entre outras medidas, a expropriação de todos os bens dos «cavalheiros que nos andaram a roubar» a exigência que as casas dos fundos imobiliários paguem IMI (seria quase 1% do PIB) e disse-o, para quem queria ouvir, o património não usado deve ser expropriado: use it or lose it. Disse mesmo que em vez de incomodar 3 milhões de pessoas o Governo tem que incomodar 3 pessoas – António Mota, Ricardo Espírito Santo e Vasco Melo, detentores de 95% das PPPs. Terminou a exposição explicando que no passado já tiveram que se cortar cabeças e que muitos peixes pequenos alimentam um peixe grande mas basta um peixe grande para dar alimento a muitos peixes pequenos. Tudo isto PM já o disse, sem rodeios e frases de pompa, na TV e nos jornais dezenas de vezes.

É totalmente inútil virem os militantes do BE e do PCP e do PS dizerem que há algo semelhante nos seus programas porque nos seus programas há de tudo, como na farmácia, dizia o velho ditado. A questão é, em que campanha se fixam estas organizações e se o fazem com um estilo ofensivo, aguerrido, que deixa esperança às pessoas ou se o fazem neste tom lamechas e de queixume que é o mote dos dirigentes políticos como Louçã e Jerónimo de Sousa. Este fado dos derrotados, que é óbvio que não estão convencidos que podem vencer e portanto não convencem ninguém que é possível ganhar. Um fado que me faz pensar se é só um problema de estilo ou se é Paulo Morais que foi para a esquerda enquanto a esquerda foi para direita.

Raquel Varela in 5 dias

Cavaco Silva, um político cobarde

por A-24, em 21.05.13

Henrique Raposo

No dicionário da língua portuguesa, com ou sem acordo, só há uma palavra para descrever a acção política desse grande presidente de junta chamado Cavaco Silva. A palavra é cobardia. Muitos políticos à esquerda, assim ao estilo de Alegre ou Arnaut, nem sequer percebem aquilo que se está a passar. As suas declarações têm o lastro da inconsciência. Com Cavaco Silva, o assunto muda de figura. O sôr presidente sabe que os problemas existem, mas não tem coragem para os enfrentar. Resultado? Na hora h, coloca-se sempre ao lado da reacção às medidas difíceis, toma sempre o lado do status quo que está a afundar Portugal. Pior: tem a presidencialíssima lata de legitimar essa posição reaccionária com um suposto patriotismo. Cavaco julga que fala em nome da pátria, ou melhor, julga que a pátria fala através da sua esfíngica figura. Lamento, mas os discursos de Cavaco Silva não são a tradução do estado da alma da pátria. Aliás, as declarações do Presidente Cavaco Silva representam, cada vez mais, a visão pessoalíssima do reformado Cavaco Silva.

Eu não acredito que Cavaco Silva não sabe como é que funciona o sistema de segurança social em Portugal . Portanto, quando diz que as pensões são intocáveis, o Presidente não está a negar o problema através da inconsciência. Está a negá-lo através da cobardia política. Cavaco não quer ficar com o ónus que resultaria da seguinte declaração: "caros reformados, lamento mas os sistemas de segurança social deixaram de ser sustentáveis e justos; dizer o contrário é estar a enganar as pessoas". No fundo, o inquilino de Belém não quer ser um dos mensageiros do mal, porque sabe que a maioria das pessoas vai odiar o mensageiro e fingir que o mal não existe. O que é uma pena. Este tempo delicado pedia um Presidente com uma coragem à Silva Lopes. Sim, o Presidente da República Portuguesa devia ter a coragem de dizer que as reformas mais altas têm de ser cortadas, porque a geração grisalha não pode continuar a asfixiar o presente e, acima de tudo, o futuro das gerações mais novas. Mas, lá está, Cavaco está mais interessado na sua popularidade. E - pior ainda - continua a dar a impressão de que está mais preocupado com a intocabilidade da sua pensão do que com a resolução do problema geracional da segurança social. 
Ainda por cima, o seu discurso recorre a um vago "grupo social", os "reformados". Com esta artimanha, Cavaco procura criar a imagem do pobre velhinho a sofrer um corte na reforma de 400 euros. Sucede que esta imagem não corresponde à realidade. Os cortes nos subsídios de férias que foram negados pelo TC abrangiam apenas 10% dos reformados, aqueles que recebiam uma pensão acima dos 1300 euros. E, agora, qualquer plano decente de cortes tem de obedecer ao princípio da progressividade. Por outras palavras, os grandes alvos dos cortes eram e continuam a ser as reformas de Cavaco Silva e demais reformados de luxo. O velhinho dos 400 euros não entra nesta história. Não entra, mas tem dado jeito à demagogia de Bagão Félix, Ferreira Leite e Cavaco Silva, o presidente dos Drs. Pinhais desta vida.