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A-24

A grande diáspora irlandesa

por A-24, em 19.01.13
Nos séculos XVIII e XIX, a fome não era novidade para os irlandeses. O flagelo tornara-se parte integrante da paisagem social e castigou ininterruptamente o país por quatro vezes: de 1725 e 1729; de 1740 a 1741; em 1836, 1837 e 1839; e, finalmente, de 1845 a 1849. Sua volta recorrente relacionava-se com o extraordinário crescimento demográfico. Com mais de 8 milhões de habitantes recenseados em 1841, a Irlanda era o país mais povoado da Europa. Considerando-se apenas as terras aráveis, sua densidade populacional ultrapassava a da China. Em 1824, uma comitiva de pesquisa da Câmara dos Comuns chamou a atenção para “a miséria espantosa, as doenças contagiosas que se espalhavam e o número considerável dos que morriam literalmente de fome”. Dez anos depois dessa análise, a situação não melhorou e o desemprego atingiu 2.385.000 pessoas.
Além dos problemas internos, a Irlanda sofreu com a crise generalizada que assolou a Europa. O fungo Phytophora infestans arrasou as colheitas de batata, enquanto as intempéries climáticas destruíram as de cereais. Na Bélgica, centenas de milhares de flamengos sofreram os efeitos da fome e do tifo, que fizeram mais de 16 mil vítimas na Silésia. Em todo o continente, a crise econômica sucedeu a agrícola. Como conseqüência das vultosas importações de cereais, mas também da especulação desenfreada nos setores metalúrgico e ferroviário, o dinheiro líquido tornou-se escasso, provocando fabulosas falências. A recessão e o desemprego atingiram ainda as economias inglesa, francesa e alemã.
Na Irlanda, a sobrevivência estava intimamente ligada à batata. “Os irlandeses viviam de batatas, como os chineses, de arroz”, escreveu Paul Dubois, autor de um estudo sobre a questão irlandesa, que se transformou em livro de cabeceira de Winston Churchill. “Se a colheita fosse ruim, haveria uma catástrofe”, analisou. E elas foram três consecutivas, não uma. No segundo semestre de 1845, em poucos dias o míldio, um fungo do bolor, destruiu três quartos da produção de tubérculos. Em 1846 e 1847, a perda foi total.
Desesperada, em pouco tempo a população não tinha outra alternativa a não ser emigrar ou morrer. Um milhão e meio de irlandeses cansados, famintos e doentes precipitaram-se rumo aos Estados Unidos e Grã-Bretanha, suscitando uma animosidade reforçada pela repulsa, em vez de compaixão. Alguns navios se tornaram verdadeiras sepulturas, que nunca chegaram ao porto de destino. “Se fosse possível fincar cruzes sobre a água, a rota dos emigrantes pelo Atlântico seria um imenso cemitério”, afirmou um comissário da imigração. Como era imperioso que a consciência da Inglaterra ficasse tranqüila, foi decidido que o povo irlandês tinha parte da responsabilidade nesse desastre. “O grande mal do qual temos de nos defender não é físico, é moral. Não é a fome, é o caráter orgulhoso, intratável e turbulento do povo irlandês”, declarou Charles Edward Trevelyan, secretário-adjunto do Tesouro inglês a partir de 1846.
 

A grande fome, ilustração do London News de 1889, último ano do flagelo
Assistencialismo

Mas a política do Reino Unido frente ao caos não foi um desastre completo. Ela variou conforme o regime, conservador ou liberal. A resposta conservadora foi pronta, judiciosa e de relativa eficácia. Para evitar a explosão dos preços agrícolas, o primeiro-ministro Robert Peel tomou para si a tarefa de comprar 100 mil libras esterlinas de milho nos Estados Unidos. Foi feito um seguro, e comissários encarregaram-se de formar comitês locais para reunir fundos necessários para a compra de gêneros alimentícios. O departamento irlandês de obras públicas criou empregos suplementares, por meio da realização de uma política de grandes construções. O governo britânico comprometeu-se em prover dois terços da assistência alimentar e se responsabilizou por metade das obras. O montante das subvenções imediatas atingiu 365 mil libras, e outra parte significativa foi concedida como empréstimo entre 1845 e 1846.
Apesar do caráter positivo e do alcance das medidas instituídas, o esforço do governo conservador não conseguiu fazer frente à dimensão do desastre. Era impossível alimentar vários milhões de pessoas famintas com os víveres disponíveis. Empreender grandes obras em distritos pobres, sem cultivo e pantanosos também pouco adiantava. Nas outras regiões, o salário de alguns pence por dia não era suficiente para os operários escaparem da miséria. Além disso, não se podia pretender melhorar a sorte das classes populares sem entrar em conflito com os landlords, grandes proprietários de terra. Com o direito inviolável e sagrado de dispor de seus bens como lhes aprouvesse, eles expulsavam os rendeiros que não correspondiam à sua avidez, sempre crescente. Para permanecer na terra, os camponeses atingidos pela fome cultivavam e exportavam cereais que não podiam consumir, temerosos de cair em uma penúria ainda maior. Com isso, durante todo o período, a Irlanda exportou grandes quantidades de trigo, cevada, aveia e gado, unicamente para obter renda fundiária.
O governo inglês foi acusado de ser co-responsável pela crise por não ter interrompido esse tráfico. Dubois utilizou os termos “fome em meio à abundância” e “fome artificial” para designar a situação. Já os historiadores contemporâneos reconhecem que, sozinhos, os cereais irlandeses não poderiam ter alimentado o país. 
A partir de 1847, a Irlanda importou cinco vezes mais grãos do que exportou. Mas no ano anterior, o espetáculo dos comboios armados carregando sacos de trigo para os portos irlandeses era absolutamente insuportável para a população faminta que vagava pelo campo: “Os navios deixavam Clonmel carregados de víveres uma vez por semana, escoltados ao longo do rio Suir até Carrick por um comboio que, na última terça-feira, era composto de 50 cavaleiros, 81 soldados e dois canhões”, relatou o intendente de Waterford, em abril de 1846.
Para enfrentar a situação, o primeiro-ministro apresentou um programa ambicioso: a abolição das corn laws, as leis protecionistas, e a implementação da livre importação de grãos. O projeto significou o sacrifício de sua carreira política. Enfrentando severa oposição tanto dos conservadores quanto dos liberais, não conseguiu se manter no poder.
Algumas famílias de landlords, como a retratada acima, ajudaram os famintos distribuindo comida
Com a queda de Peel, em junho de 1846, lorde John Russel assumiu a chefia apostando em um gabinete liberal, impregnado da filosofia livre-cambista da escola de Manchester. Apesar de insuficiente, era incontestável que a política conservadora procurou encontrar um remédio para os males da Irlanda. Os liberais, cegos pelo dogma do laissez-faire absoluto, caracterizaram-se pela mais completa imprevidência. 

Oportunismo e insensibilidade 

Charles Edward Trevelyan foi o pivô dessa nova política. Na qualidade de discípulo da filosofia de Manchester, ele detestava o intervencionismo humanitário de Peel e sonhava pôr fim a todas as operações de socorro, para liberar o terreno à livre-iniciativa privada e “impedir o povo de se habituar a depender do governo”, como declarou. Pura loucura: a colheita foi ainda mais desastrosa do que a do ano anterior e o terrível inverno de 1847 atingiu a todos. A ausência praticamente total de víveres levou bandos de pessoas famintas a mendigar o que comer. Elas percorriam o país parecendo mais lobos famélicos do que seres humanos. Exangues e descarnados, morriam às centenas nas cabanas e nos canteiros de obras e formavam verdadeiros depósitos de mendigos – dos quais Charles Dickens nos deixou horripilantes descrições. “Em vários pontos, as estradas são cemitérios. Os cocheiros já não saem sem encontrar cadáveres pelo caminho e, à noite, passam por cima deles”, relatou um religioso. Aqui e acolá, registravam-se casos de canibalismo. Corpos semi-roídos por ratos ou despedaçados por cães errantes eram um espetáculo corriqueiro. Já não havia registros de óbitos, cerimônias religiosas ou caixões: os mortos eram transportados às pressas em uma carroça de fundo basculante, de onde caíam diretamente numa vala comum.
O governo acabou se comovendo e organizou a distribuição das sopas populares, que veio reforçar oportunamente os organismos filantrópicos privados, como os Quakers, a associação Irish Relief e a associação britânica do barão Leonel de Rotschild. Em certos casos, a assistência revestia-se de cores de proselitismo, pois o acesso às sopas era prioritariamente reservado aos que aceitassem acompanhar a celebração do culto protestante. Poucos foram os católicos que cederam a essa chantagem cruel. A expressão souperism, carregada de desprezo, é ainda hoje sinônimo de suprema traição para os irlandeses.
Na primavera de 1847, a fome deixou de ser o único flagelo. Vieram se somar a ela as epidemias de tifo, febre intermitente, escorbuto e disenteria bacilar, além do terrível edema da fome, que se traduz por um inchaço hidrópico dos membros e, em seguida, do corpo.
 

No campo, os irlandeses sofreram com a obrigatoriedade da renda fundiária
A cruel Lei dos Pobres
Um cientista americano em visita a Skibbereen relatou ter visto pilhas de cadáveres cujo tamanho chegava ao dobro do normal, e um bebê de dois anos com as dimensões de um adulto, apesar de seus braços serem magros como caniços.
Não se sabe quantas vítimas a epidemia fez, mas estima-se que as doenças tenham matado mais gente do que a própria fome. Nem as classes abastadas foram poupadas: landlords, padres, médicos e funcionários também pagaram seu tributo. O governo agia conforme a inspiração do momento. Pela lei Fever Act, de abril de 1847, ele interveio na luta contra as epidemias. Em contrapartida, apesar das súplicas da população, canteiros de obras foram fechados e operários, despedidos, para impedir o duplo emprego com a ajuda em espécie.
Enquanto parte da população construía uma nova história nos Estados Unidos pós-Guerra de Secessão, a classe dos landlords anglo-irlandeses transformou-se em um conveniente bode expiatório, que o governo não tardou a indicar. Alvo da cólera da Irlanda e da execração da opinião britânica, alguns de seus membros realmente se comportaram de modo selvagem. Um nobre de sobrenome Walshe, magistrado da Coroa e proprietário de terras no distrito de Belmullet, expulsou os habitantes de três aldeias no auge do inverno e reduziu suas casas a um amontoado de ruínas. O governo que lhe forneceu ajuda do exército para a medonha tarefa, não foi acusado como responsável. 

Mas nem todos os landlords eram assim. Alguns, como Guinness, Stop-ford, Courtdown, Kingston, Shannon e os Colthurts, cuja recordação ainda hoje é cara aos irlandeses, deram prova de uma dedicação incansável a seus rendeiros e à população. Afinal, quaisquer que tivessem sido seus erros passados, naquela época eles estavam falidos: já não recebiam as rendas fundiárias, e a lei proibia que vendessem suas propriedades, cumuladas de dívidas. Em alguns condados, não havia um único proprietário fundiário solvente.
No primeiro semestre de 1847, o Parlamento britânico votou uma nova Lei dos Pobres para a Irlanda, que colocava os indigentes sob a responsabilidade dos contribuintes e, principalmente, dos proprietários de terras. Essa reforma criou uma situação inextricável contra a ascendancy, a aristocracia anglo-irlandesa beneficiária das bondades de Cromwell e de Guilherme de Orange. Para pagar a taxa dos pobres e reduzir a população de assistidos, os landlords foram obrigados a expulsar seus arrendatários ou exigir o reembolso do arrendamento. Ao mesmo tempo, os crimes agrários perpetrados pelos miseráveis famintos multiplicavam- se, enquanto os nacionalistas exaltados do movimento Jovem Irlanda desencadearam uma insurreição quimérica, que terminaria de modo lamentável em 28 de julho de 1848 em uma horta de Ballingary. A ação foi batizada com o nome de Revolução do Canteiro de Repolho.
O ano de 1849 foi o quarto e último da fome e, sem dúvida, o pior de todos. Vinte e duas organizações de assistência aos miseráveis estavam em dificuldades e cerca de 50 outras à beira da ruína. Muitos estabelecimentos de trabalho fecharam as portas, outros estavam com população extra, não oferecendo mais do que uma ajuda derrisória. Em fevereiro de 1848, 135 mil miseráveis se amontoavam nessas workhorses como podiam. Em junho de 1849, eles passaram a ser 215 mil. Para coroar tamanho infortúnio, uma epidemia de cólera se espalhou. E ela não suscitou nenhum movimento de solidariedade: o vice-rei, lorde Claredon, profundamente desencorajado por aquilo que não estava longe de ser uma política deliberada de extermínio, não ofereceu aos irlandeses mais do que a diversão mágica de uma visita da soberana britânica. Assim, a jovem rainha Vitória desembarcou na Irlanda em agosto de 1849, conquistando todos os corações com seu charme e simplicidade. Mas foi um sucesso pessoal, sem continuação no futuro. A Grande Fome, que chegava ao fim, havia destruído todas as sementes de acordo e reconciliação possíveis entre a metrópole britânica e a Ilha Verde.
Sem os registros oficiais de óbitos daquela época, ainda hoje é impossível dizer com exatidão quantas vidas o desastre custou. Em geral, estima-se que 1 milhão de pessoas morreram de fome e de doenças.
A Irlanda nunca se refez completamente daquele trágico sangramento. Com uma população estimada em 6 milhões de habitantes em 2005, a ilha inteira jamais voltou a atingir a marca de 8 milhões, população anterior à crise de 1845. Ao provocar a emigração, a fome sangrou o país, ao mesmo tempo que internacionalizou a “questão da Irlanda”. Dali em diante, a Inglaterra voltaria os olhos para América, segundo a predileção angustiada de um jornalista do Times: “Ainda haverá uma Irlanda, mas uma Irlanda colossal e uma Irlanda situa-da no Novo Mundo. O que fizemos foi expulsar o povo celta para Oeste: como ele já não estará mais prisioneiro, se espalhará entre Nova York e São Francisco. Devemos nos preparar para o combate, de modo a poder enfrentar a Nêmesis de sete séculos de mau governo”.
Pierre Joannon

Privatizem já

por A-24, em 19.01.13
O Brasil é conhecido pelas suas péssimas instalações prisionais, onde a sobrelotação, as miseráveis condições de alojamento dos presos e a insegurança são características dominantes do sistema. Em resultado disso, foi criado, há alguns anos, no Estado de São Paulo, o primeiro sindicato de presos – o PCC (Primeiro Comando da Capital) – que posteriormente se transformaria num verdadeiro sindicato do crime, que organizou a maior rebelião prisional do país, em 2006, e pôs a cidade de São Paulo a ferro e fogo, com actos de violência inauditos.
Perante este inequívoco fracasso das autoridades públicas, o que resolveram estas fazer? O óbvio: começaram a privatizar o sistema prisional brasileiro, tendo começado pelo Estado de Minas Gerais, para avançarem posteriormente para outros estados.
Assim, as novas prisões privadas são propriedade de empresas privadas que as constroem e administram, e que recebem os presos com base em contratos celebrados com os governos dos estados. Nesses contratos ficam definidas as condições de exploração do negócio, determinando-se a capacidade máxima do presídio, as condições de alojamento dos presos e as sanções pecuniárias aplicadas caso falhem as condições estipuladas, como, por exemplo, as exigências de higiene, o fornecimento de água e de luz por períodos prolongados de tempo, a sobrelotação das celas, sendo que, em contrapartida, o poder público não poderá enviar mais de 10% do número limite de presos fixado no contrato. Já a segurança das prisões privadas será necessariamente muito superior à das públicas: em caso de quatro fugas ou rebeliões bem sucedidas ocorridas num período de dois anos, a empresa será multada em 16 milhões de reais.
Fica aqui um bom exemplo para Portugal, onde não se pode privatizar a RTP porque o estado não pode deixar de ter um canal noticioso próprio…

Os melhores países para as mulheres

por A-24, em 19.01.13
A Islândia é o melhor país do mundo para mulheres. Pelo menos é o que diz o estudo "Global Gender Report" levado a cabo pela organização suíça sem fins lucrativos World Economic Forum. A organização examinou o nível de vida das mulheres em 135 países e comparou-o com o dos homens no mesmo país. A conclusão põe três países nórdicos no pódio: a Islândia em primeiro, seguida da Noruega e da Finlândia.


Para o ranking contaram indicadores como o grau de literacia, a proporção de mulheres em cargos elevados, o número de mulheres chefes de Estado nos últimos 50 anos e a taxa de mortalidade. Tudo em comparação com os homens. Também foram comparados os vários subsídios de gravidez e a duração da licença de maternidade e paternidade nos 135 países.
No mesmo ranking, a Suécia ocupa o quarto lugar, seguida da Irlanda, da Nova Zelândia e da Dinamarca. As Filipinas, o Lesoto e a Suíça também estão no top 10.
Portugal aparece no ranking em 35.o lugar, enquanto a vizinha Espanha ocupa o 12.o lugar.Segundo o estudo, o Iémen é o pior país para as mulheres, seguido do Chade, do Paquistão, do Mali e da Arábia Saudita.

O CASO PORTUGUÊS

No que diz respeito a Portugal, o estudo conclui que o crescimento populacional é de 0,09% e que as maiores desigualdades entre homens e mulheres estão na ocupação de cargos políticos, sem nenhuma mulher Chefe de Estado nos últimos 50 anos. Também no sector económico se notam algumas discrepâncias, com poucas mulheres na gestão de empresas.
O estudo calcula também que a taxa de desemprego feminino em Portugal seja de 10% contra 7% de desemprego nos homens. Em relação à educação, 80% dos professores primários são mulheres e 43% leccionam no ensino superior.
Em Portugal, as mulheres casam-se em média aos 26 anos e a taxa de fertilidade é de 1,40 nascimentos por mulher. Em cada 1000 adolescentes entre os 15 e os 19 anos, 17 são mães. Cerca de 67% das mulheres casadas usam métodos contraceptivos.
No Iémen, o país do fim da lista, as mulheres casam-se em média aos 22 anos, a poligamia é aceite e a taxa de fertilidade é de 5,2 nascimentos por mulher.