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A-24

Best of: Politica Nacional 2012

por A-24, em 31.12.12

Decidi fazer um top 10 dos acontecimentos que marcaram o 2012 político em Portugal. Se quiserem poderão sempre trazer mais contribuições à caixa de comentários.



 10. RTP, RTP, RTP
Com privatizações ou não privatizações, o que vale é que a nossa televisão nacional é um estouro! Até o coitado do director de informação se demitiu! Sempre pensei que a nossa televisão pública fosse composta por dois canais generalistas mas o conteúdo afinal é mais na ordem de comédia. 


9.  Secretário de Estado da Saúde e os portugueses maus que dependem demasiado do SNS


Até percebo o que o Exmo. Sr. Secretário quis dizer. Mas era desnecessário. Foi uma afirmação pouco feliz. E mais: acho que seria muito mais importante/relevante, o Ministério andar em cima das Administrações a perceber porque raios é que quando pago 20€ de taxa moderadora me prescrevem medicamentos que são incompatíveis com as minhas demais patologias e nem me fazem um diagnóstico ou exames; quando há médicos a ganhar balúrdios com horas extraordinárias, do que cortar a regra e esquadro porque gastamos e vamos muito ao Sr. Dr. 


8. Cândida Almeida e a caça às bruxas

Quando o BPN dá no que dá, o Mário Lino e o Sócrates andam por aí a passear (o último a fazer jogging em Paris), o processo Freeport foi um flopmas o contribuinte continua a gastar em processos crime por enriquecimento ilícito, corrupção e afins; que as poucas provas exibidas antes dos arguidos serem avisados e sucessivas contradições dos mesmos, convencem, pelo menos o contribuinte da mínima sujidade dos intervenientes; não percebo como é que se afirma que não existe corrupção em Portugal. Certamente que a visada mora num país diferente do meu.


7. O Povo e a Manif de 15 de Setembro

 É bom saber que os portugueses não estão a dormir. Independentemente de possíveis confrontos e manifestações de violência das manifestações que se seguiram, o ponto principal é que a soberania é do povo e nós não somos tão passivos assim. Não quer isto dizer que andemos a partir tudo para provarmos o que pensamos. Não obstante a ligeireza com que nos manifestamos, estamos lá para relembrar ao governo e aos deputados, que quem paga os seus salários são os contribuintes. E para tirar fotos bonitas, como é claro.


6. Há PS e PS's - Porque não te calas? vs. Mea culpa
A JSD esteve muito bem na resposta que deu a Mário Soares. Percebo que haja quem tenha ficado ofendido: afinal de contas, devemos ter clemência por quem tem Alzheimer e Tourette. Ah pois, mas não, não é o caso. É altura de sua Exca. olhar para o que fez, o que ainda faz e ser humilde. 
Mas, para compensar, Guterres esteve muito bem ao reconhecer que cometeu erros na sua Governação. Só por isso, o PS não acaba com a pontuação tão negativa (Seguro - 100; Soares -1000; Guterres +100; Burlão da ONU -2)

5. Bye-bye Louçã

Foi uma boa tentativa de golpe de asa dividir o poder no BE por duas pessoas. Tentou vender-se como algo de novo. Não é.

Será que vai resultar? Até agora parece ter deixado muitas dúvidas e ainda dará muito que falar.



4. Together forever? Portas e travessas, OE 2013 e afins

 Pois é, nuestros amigos de coligação estão a fazer desta governação uma aplicação prática dos ensinamentos d'O Último Tango em Paris. (quem viu o filme percebe de certeza a analogia -  para quem não viu, são precisos dois para dançar o tango e neste caso, também há um a levar por...tabela...). Ou estão on board, ou não estão.
E já agora, não querem fazer um saneamento ali ao Portas? É que o diz que não disse,não sei, sou inocente, já não funciona. 


3. Centralização e concentração ou Lisboa vs. Porto

 É um tópico novo nos media, mas anda por aqui há muito tempo. Com a remodelação da Administração pública e de muitos serviços ligados ao Estado, não é só o interior a penar com a crise, o Porto também sofre. E injustamente. Palmas a Paulo Rangel e a Rui Moreira por levantarem bem as suas vozes por quem se sente injustiçado. 


2. Equivalências de Miguel Relvas


A lata de um Ministro que afirmou que Sócrates devia ter vergonha, que não sai do governo e ainda se ri devido à sua impunidade, é um escândalo. Não fosse a gravidade da situação, até teria piada, mas só prova que a geração que nos governa, está preocupantemente mal preparada e formada. E pior do que isso, é não ser caso único. Sim, porque não foi culpa do Relvas que a situação tenha sido possível: foi do legislador e da universidade. Mas vá, estas falhas de preparação académica explicam a falta de conhecimento no que toca aos princípios da vida política, nomeadamente o facto que se fazemos pressão à imprensa, devemos fazê-lo com cuidado e de forma a não dar "cana". 


1. Os remates de Vítor Gaspar.
Para o bem e para o mal, a figura de 2012
O Governo, de facto, fez uma má contratação no que toca a Vítor Gaspar. É que parece mesmo que faz os remates todos, mas nenhum deles entra na baliza. Exemplos disso são a TSU e a tristeza que foi aquela hesitação; o corte dos subsídios aos funcionários a que o Tribunal Constitucional disse "not gonna happen"; ou, o último remate, a publicação de uma portaria que faz referência a um diploma que, aparentemente, não existe. Quando é que mandam este jogador para o banco? É que qualquer dia o país dá ao Governo um GAME OVER. 

(Via Psicolaranja)

Houve mais 16 mil funerais do que partos só no primeiro semestre

por A-24, em 31.12.12

Os que morrem são mais do que os que nascem em Portugal e os que saem também suplantam os que entram. Já não é novidade dizer que a população portuguesa está a encolher, mas em 2012 este fenómeno terá a maior expressão de que há memória.
Aos défices financeiros Portugal soma défices demográficos consecutivos. Se considerarmos apenas os seis primeiros meses de 2012, morreram quase mais 16 mil pessoas do que as que nasceram em Portugal, o que se justifica em parte devido ao pico da mortalidade verificado em Fevereiro e Março. É muito? Para alguns especialistas, é demasiado. A manter-se a tendência, será "preocupante". Em 2011, o número de funerais suplantou em cerca de seis mil o total de partos, e nessa altura já soaram campainhas de alarme. 
São várias as causas que justificam a tendência para o declínio da população, como o saldo migratório, mas a quebra da natalidade é normalmente a que mais preocupação gera. Os números mais recentes voltam a não deixar lugar para dúvidas: entre Janeiro a Novembro nasceram menos 6150 crianças do que no mesmo período de 2011 e, se este mês os nascimentos seguirem a tendência de Dezembro do ano passado, ficaremos pouco acima da barreira psicólogica dos 90 mil nados-vivos.
São dados do Programa Nacional de Diagnóstico Precoce ("teste do pezinho"), muito aproximados dos números finais por serem realizados nos primeiros dias de vida dos bebés. Nunca nasceram tão poucas crianças desde que este programa arrancou, há mais de três décadas, lamenta a directora, Laura Vilarinho, recordando que em 2011 já tínhamos ficado pouco abaixo da fronteira dos 100 mil, com cerca de 97 mil nados-vivos.

Bélgica acusa Igreja da Cientologia de ser “organização criminosa”

por A-24, em 30.12.12
Justiça belga quer estabelecer precedente internacional com uma condenação exemplar da Igreja da Cientologia, acusada de fraude, extorsão e exercício ilegal de medicina.

O Ministério Público federal belga vai avançar com um processo contra a Igreja da Cientologia. Suspeita de ser uma “organização criminosa”, esta enfrenta acusações de fraude, violação de privacidade, extorsão e exercício ilegal de medicina. A notícia foi ontem avançada pelo diário financeiro flamengo “De Tijd”, que adianta que “as intimações só agora foram enviadas para os cientologistas”.
O processo partiu de uma investigação que se prolongou por seis anos e que tem na sua base ofertas de emprego que terão sido feitas pela Igreja da Cientologia num esforço para recrutar voluntários e novos membros, infringindo as rígidas leis de trabalho belgas. O inquérito foi aberto depois de o instituto de emprego regional de Bruxelas ter denunciado à justiça suspeitas de falsificação e fraude em contratos de trabalho oferecidos aos voluntários e assalariados.
Os procuradores do Ministério Público estão ainda a investigar alegações de extorsão a alguns dos membros da igreja, práticas de “pseudo-medicina” e todo um arquivo de dados pessoais que viola a lei da protecção da vida privada.
Um porta-voz da sede europeia da igreja, situada em Bruxelas, citado pelo “The Telegragh”, reagiu entretanto à notícia, afirmando que “infelizmente não recebemos até ao momento nada do Ministério Público. A comunicação social foi informada, nós não”.
Fundada pelo escritor de ficção científica L. Ron Hubbard (1911-1986), que abre a primeira igreja em New Jersey, em 1953, a Cientologia foi desde então catapultada por uma intensa campanha alimentada pela exposição pública de vários dos seus membros, alguns dos quais grandes estrelas de Hollywood – sendo Tom Cruise a sua figura mais reconhecida e uma das mais empenhadas na divulgação da igreja.
A organização estabeleceu-se na Bélgica em 1974 e tinha já sido alvo de inquéritos nos anos 90 com alguns dos seus membros a serem investigados por alegações de fraude e exercício ilegal de medicina. Estes inquéritos, contudo, não resultaram em qualquer processo judicial. Em Abril de 2008, e já no âmbito do actual processo, a Igreja viu a sua sede em Bruxelas ser selada e alvo de buscas. Depois de uma reportagem da televisão belga sobre as falsas ofertas de emprego – com relatos de que a igreja exigia aos interessados que aderissem aos seus princípios – a organização reagiu denunciando a “má-fé” da justiça belga, com uma dirigente da organização, Myriam Zonnekeyn, a afirmar que tudo o que a igreja fez foi procurar “voluntários”.
Em Fevereiro deste ano, um tribunal francês condenou a Igreja da Cientologia por fraude, multando-a em 600 mil euros, tendo dado por provado que esta havia cobrado somas avultadas por testes de personalidade e terapias ilusórias. As autoridades belgas vão agora procurar uma condenação severa que sirva como precedente internacional. A negação por parte da igreja de várias das suas práticas pseudo-medicinais e técnicas de “audição” dos seus recrutas, que incluem a recolha de registos pessoais, têm por todo o mundo resultado em episódios de grande controvérsia.
A Igreja da Cientologia conseguiu ser reconhecida como uma religião não apenas nos EUA, mas em Itália, Espanha e Portugal (em 2008), mas noutros países euopeus como França, Alemanha, Bélgica e Grã-Bretanha, a organização não alcançou esse reconhecimento.

Uma opinião sobre a privatização da TAP

por A-24, em 30.12.12


O interesse nacional, crónica de Alberto Gonçalves no DN.
Após a British Airways ter sido totalmente privatizada, os britânicos deixaram de viajar pelos ares, a nação perdeu a razão de existir e o Reino Unido entrou em colapso. Após a Lufthansa ter sido quase totalmente privatizada, os alemães deixaram de viajar pelos ares, a nação perdeu a razão de existir e a Alemanha entrou em colapso. Após a Swissair ter aberto falência, os suíços deixaram de viajar pelos ares, a nação perdeu a razão de existir e a Suíça entrou em colapso. Etc.
Precedentes não faltam, e todos apontam o mesmo caminho: a TAP, bandeira, orgulho e estratégia, não pode ser desbaratada. Custe o que custar. Convém dizer que custa um bocadinho, e que, a acrescer à dívida acumulada de 1500 milhões, o Estado recentemente investiu 100 milhões na empresa. Em breve, haverá outros investimentos similares, financiados com prazer pelo contribuinte, o qual, com a dignidade e a ausência de alternativas que se lhe reconhecem, será o último a abandonar o navio, leia-se o avião, leia-se um símbolo maior das alturas a que conseguimos chegar.
Tudo somado, porém, é pequeno o preço da grandeza nacional. Entregar a TAP ao cuidado de estranhos equivaleria a privar-nos de uma das nossas principais referências identitárias, que como se sabe é das coisas que nos dá imenso jeito. Além disso, para efeitos estritamente aeronáuticos ficaríamos entregues à vontade de esquemas concorrenciais, ao desnorte dos mercados, talvez até às companhias low-cost, cujas tarifas baixíssimas e ausência de patrocínio fiscal não podem augurar nada de bom.
De resto, mesmo os materialistas de serviço podem sossegar: a TAP, conforme inúmeras vozes esclarecidas se fartaram de avisar, é facilmente rentável. Decerto é por isso que, em obediência aos mistérios da economia aplicada, ninguém a quer comprar. E é por isso que nunca a deveremos vender. Por enquanto, a recusa da proposta do sr. Efromovich livrou-nos de semelhante desdita. Mas importa permanecermos atentos a futuras tentativas de alienação do património público, da TAP à ANA, da CP aos CTT, da RTP à CGD, da REN às Águas, da maternidade Alfredo Nãoseiquantos à Empresa Geral do Fomento. O indispensável é que o interesse nacional não acabe em mãos privadas e devotadas ao sinistro lucro. O interesse nacional é o prejuízo.

Adolescente violada na Índia suicida-se sem ter conseguido apresentar queixa

por A-24, em 29.12.12
Rapariga indiana foi aconselhada pela polícia a desistir do caso. Governo quer criar registo público de condenados por crimes sexuais.
É mais um caso a ilustrar a impunidade da violência contra as mulheres na Índia. Dez dias depois de uma violação brutal num autocarro em Nova Deli, uma adolescente suicidou-se no Punjab, após ter sido pressionada pela polícia a desistir da queixa contra os seus agressores. Foi aconselhada a casar com quem a violou ou a aceitar uma compensação financeira.
A história, ao contrário do que seria habitual, teve direito a destaque na imprensa nacional, numa altura em que as autoridades não conseguiram calar a revolta desencadeada pela violação de dia 16 de Dezembro. A violação terá ocorrido durante um festival em Novembro, na região de Patiala, e, desde então, a adolescente, de 17 anos, tentou várias vezes apresentar queixa, sempre sem sucesso. “Um dos polícias tentou convencê-la a desistir do caso”, admitiu à AFP o general Paramjit Singh Gill, inspector da polícia local.
A jovem acabou por ser encontrada morta, na quarta-feira à noite, alegadamente depois de ter engolido veneno. A irmã da vítima, que não foi identificada, contou à televisão NDTV que “a polícia começou a pressioná-la a chegar a um acordo financeiro com os agressores ou a casar com um deles”.
Só depois do suicídio a queixa foi registada e foram feitas detenções: dois suspeitos da violação e uma alegada cúmplice. Gill confirmou que um polícia foi demitido e um outro está suspenso até à conclusão da investigação.
O caso é um dos muitos noticiados nos últimos dias e que expõe não só a violência sistemática contra as mulheres na Índia – segundo números oficiais, 228 mil dos mais de 256 mil crimes violentos registados no ano passado na Índia foram contra mulheres, mas os números reais serão muito maiores – como a indiferença com que os casos são tratados pelas autoridades.
Pressionado a agir, o Governo indiano desmultiplica-se em promessas. A última passa pela criação de um registo com os nomes, fotografias e moradas de quem foi condenado por crimes sexuais contra mulheres. A medida começará por ser aplicada em Nova Deli e o registo, garantiu o ministro do Interior, RPN Singh, será publicado no site da polícia da capital. Apesar de polémica, a medida conta com o apoio de activistas dos direitos das mulheres. “É verdade que há o risco de linchamento, mas, neste momento, é a vítima quem tem de sofrer a vergonha e o desprezo da sociedade”, disse ao Guardian Ranjana Kumari, directora do Centro para Pesquisa Social de Deli.
A jovem de 23 anos que também foi vítima de violação, na capital, há duas semanas, e que foi transferida para o hospital de Singapura, continua a “lutar pela vida”. Além dos múltiplos ferimentos e infecções, que poderão obrigar a transplante de órgãos, sofreu “danos cerebrais significativos”. A vítima, que apanhou o autocarro na companhia de um amigo, foi violada durante uma hora por vários homens dentro da viatura. Foram ambos espancados e atirados do veículo em movimento, acabando por ser encontrados por um transeunte. O Governo prometeu punições exemplares, mas nas ruas da capital indiana continua a exigir-se a pena de morte para os violadores.

China: Inaugurada a maior linha de TGV do mundo

por A-24, em 27.12.12
A China inaugurou esta quarta-feira a linha ferroviária de alta velocidade mais extensa do mundo. Com mais de dois mil quilómetros, liga Pequim à cidade de Guangzhou, no Sul.
O primeiro comboio a percorrer a nova linha deixou a capital chinesa na manhã desta quarta-feira, dia em que se comemora o aniversário do líder chinês Mao Tsetung. A velocidade dos comboios será de 300 quilómetros/hora, inicialmente, o que leva a que uma viagem que antes demorava 22 horas se faça agora em apenas dez. 
Ao longo dos 2298 quilómetros de extensão da linha há 35 estações, e o Governo chinês tem um projecto para continuar a expandir a sua rede de linhas de alta velocidade por todo o país, construindo ao todo cerca de 16 mil quilómetros de linhas até 2015, diz o site Bloomberg. 
Este enorme investimento, e construção em ritmo acelerado, tem tido os seus percalços. No ano passado, 40 pessoas morreram num acidente com um comboio de alta velocidade perto da cidade de Wenzhou, no Leste do país. Esta linha tinha sido inaugurada dois anos antes, com grande fanfarra, no âmbito das comemorações dos 60 anos da Revolução Chinesa (1949-2009).

Abaixo: Top ten fastest trains in the world

do Facebook

por A-24, em 27.12.12
Henrique Monteiro

Entrei nesta coisa do facebook e adoro estar em contacto com os meus amigos de há muitos anos, mas horrorizam-me e repugnam-me todos os dias as ladainhas sobre a corrupção do governo e as afirmações saudosas e desgraçadas d' "o Salazar é que era" e d' "a Nossa Senhora é que nos guia".
Ora eu acho que o Salazar era um anormal e um crápula, a Nossa Senhora não existe e o problema de Portugal não são os governos: são os portugueses. O governo somos nós. Estes energúmenos foram todos eleitos e reeleitos.
Hoje um amigo meu meteu um artigo - acho que d'O Público - de uma jornalista muito suspirosa a dizer que os cientistas se vão embora porque não há apoios, etc.
Eu fugi de Portugal há quase 15 anos, mas não foi por causa do governo nem dos políticos: foi por causa dos portugueses. Fugi de ser maltratado, desautorizado e humilhado: por exemplo, o homem das facturas fazia-me esperar em pé, no corredor do IPPAR, horas a fio e eu ouvia-o através da porta a calhandrar ao telefone. Uns dez anos mais tarde encontrei o meu ex-chefe e ele disse-me que o centro do qual eu tinha fugido tinha implodido "por minha culpa": "desde que eu tinha saído ele nunca mais tinha conseguido que se fizesse nada!" 
Fugi porque me fartei de ouvir dizer que tinha de ter respeitinho pelos chefes. Eram uma data deles, parece que todos importantíssimos. O IPPAR era um antro de irresponsabilidade e desperdício, onde a pequena corrupção imperava e era a alegria dos calhandreiros. O desgraçado que recebia uma percentagem das compras e que toda a gente sabia quem era, o que tinha um arranjinho com a garagem onde mudavam o óleo aos carros, o que arranjou um emprego para o sobrinho, que veio da tropa, coitadinho e que - eu vi - no primeiro dia de trabalho desatou a fazer fotocópias "para a prima" e a telefonar "para o estrangeiro". Os que achavam que o estado lhes pagava mal e iam para a praia de manhã a partir de Maio. Os chefes que chegavam ao meio dia e iam almoçar e voltavam às quatro. O desprezo total e absoluto pelos prazos, pelos cidadãos, pelos empreiteiros e pelo património. Os melindres e as retaliações contra quem se queixava. As facções. O tribalismo. As honras ofendidas de quem era apanhado com a boca na botija. As vinganças contra quem identificava os problemas.
Os portugueses estão-se nas tintas uns para os outros e não acreditam num modelo de sociedade democrática, em que a responsabilidade é de todos. E o governo... aqueles desgraçados que aparecem na televisão - são portugueses. Roubam mais do que a maioria porque têm acesso a mais dinheiro e baldam-se mais porque podem.
Um antropólogo chamado George Foster escreveu um artigo nos anos sessenta que explicava que em certas sociedades rurais as pessoas têm um sentido do "bem" como uma coisa finita e limitada, que não cresce e portanto cada vez que é consumido se reduz. Para estas pessoas torna-se mais importante que ninguém goze do que que haja uma repartição equitativa do bem. O sucesso é um crime e a mobilidade social uma ameaça. Trabalhar, cooperar e tornar o "bem" numa coisa que cresce e pode ser partilhada, está fora de questão. São estas pessoas que podem passar anos sem fazer nada mas se levantam às quatro da manhã, se organizam e colaboram com uma energia prodigiosa cada vez que alguém tenta fazer alguma coisa.

Portugal em 1870 - Portugal em 2012

por A-24, em 27.12.12
Há 142 anos atrás no jornal A Lanterna, Maria Luísa Guerra assinava o seguinte artigo de opinião:


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Qualquer semelhança com a realidade actual é mera coincidência. (via Caleidoscópio)

Britânicos já são oficialmente uma minoria em Londres

por A-24, em 27.12.12
"... até ao fim dos anos 1950 era possível viver uma vida inteira em Londres sem nunca ver um rosto negro ou moreno."- Tony Judt.
 Cinquenta anos depois é o que se vê. Seja em Londres seja nas demais cidades da Europa Ocidental, sejam grandes ou pequenas.
 A partir da década de sessenta a decisão de importar mão-de-obra do terceiro mundo para baixar os salários mudou radicalmente a paisagem social da Europa. Os capitalistas e políticos traidores e genocidas esfregaram as mãos enquanto a população nativa se confrontava com estes novos invasores, em nada dispostos a adaptarem-se à cultura que os acolhia.
 As fronteiras permeáveis fizeram o resto e hoje o que temos é uma Europa completamente descaracterizada. Até porque, se África é dos africanos, a Ásia dos asiáticos, a Europa é de todos. É a rameira de serviço, tornada prostituta pelos proxenetas que fizeram dela o que é hoje, com zonas ocupadas e completamente tomadas de assalto e uma alegre mestiçagem que faz as delícias dos cosmopolitas e internacionalistas, dos filhos dos anos sessenta, da cáfila neo-marxista. Acerca desta notícia.
João Vaz

Reações ao caso Baptista da Silva

por A-24, em 27.12.12
O “caso” Artur Baptista da Silva diz muito acerca deste país: a crer na cobertura noticiosa do dito, em Portugal importa mais o facto de ele ser ou não ser não sei o quê na ONU, do que a validade ou sua ausência do seu argumento.
Bruno Alves

Desagravo. Por Francisco Seixas da Costa.
A minha pergunta é muito simples: como é possível alguém ter o topete de qualificar o Professor Baptista da Silva como um “impostor” quando, nos últimos meses – eu diria mesmo, nos últimos anos! – muitos dos economistas portugueses, seus eventuais colegas, nos encheram os ouvidos e os dias com coisas bem menos bem articuladas? Não me venham dizer que esses economistas são todos uns impostores! Acredito mais rapidamente no Pai Natal do que nisso, desculpem lá!

Meditação sobre Baptista da Silva. Por António Araújo.
Mas havendo por aí tanto observatório, por que não teria também Baptista, sendo português e da Silva, direito ao seu posto remunerado de contemplação do mundo? Fraude não é o Baptista, mas quem o consente e autoriza. Quem lhe dá voz e palco, a ele e a outros tantos. Em face disso, é absolutamente irrelevante determinar se o senhor é ou não funcionário da ONU. Se fosse realmente consultor do Banco Mundial, o que disse teria mais valia e interesse? Porquê? Calem-se, portanto, os que agora o condenam e apedrejam. Baptista é serviço público. É espelho de nós, síntese do colectivo pátrio. Figura nacional de 2012. Ao contrário do que alguns gritam por esses táxis fora, Portugal não precisa de dois ou três salazares. Necessitamos, isso sim, de mais baptistas da silva. Artur Baptista da Silva, o homem que mostra a verdade dizendo a mentira. Lembremos palavras de outro malogrado líder, o imortal Fitzgerald Kennedy: Ich bin ein Baptister. Baptista, sempre!

André Azevedo Alves

Uma aldrabice que chegou à Reuters

A figura do ano de 2012 - Artur Baptista da Silva

Em Portugal há sempre um potencial "Baptista da Silva" em cada esquina. Este tem o enorme mérito relativamente à consistência do discurso revelado. Quanto ao resto, tem ainda muitíssimo a aprender com João Vale e Azevedo. Juntos, todavia, derrubariam Merkel! Mas, como produto genuinamente nacional, irá seguramente ser acarinhado e sairá mesmo como herói de tudo isto. Desenganem-se os jornalistas que pensam o contrário!
Baptista da Silva personifica, no fundo, o português que anseia dar nas vistas, ir à televisão, afrontar os poderosos, "gozar o prato". Ele é o insconsciente colectivo a funcionar. Se vivesse nos EUA, depois de cumprir pena, o sucesso em Hollywood era garantido.
Depois da fase da condenação, descoberto o logro, surgirá a da (re)aproximação por parte dos media. Este Baptista da Silva ainda vai dar muito que falar... Cuidem-se governantes!
E eis como, a escassos 6 dias do fim de 2012, ARTUR BAPTISTA DA SILVA se transforma, por artes mágicas, na figura do ano luso. Qual Passos Coelho, qual Cavaco, qual Troika. A figura está escolhida. Isto é Portugal.
Pedro Quartin Graça

Artur Baptista da Silva burlou quem? A mim que ouvi a entrevista que concedeu à TSF tudo aquilo que ele disse pareceu-me igualzinho ao que diariamente dizem e escrevem dezenas de pessoas em Portugal. Artur Baptista da Silva só burlou aqueles que pensam como ele e que ficaram horrorizados quando perceberam que o seu guru não era funcionários das Nações Unidas. O alegado burlão (se os assassinos são alegados os burlões tb são gente) dizia aquelas frases redondas com que rádios e televisões nos matraqueiam os ouvidos de manhã à noite. Ele dizia as burlas convenientes. Foram os jornalistas ansiosos por colocar aquilo que pensam na boca de um especialista que lhe fizeram a fama. Como se escreve no 31 da Armada: Os jornalistas «Ávidos de publicarem informação que esteja de acordo com a sua própria narrativa, construída ao longo de editoriais ou de peças mais ou menos politicamente orientadas, embarcam facilmente em qualquer teoria, seja ela esburacada ou não, para fortalecer a sua agenda. Quantas vezes não lemos opiniões nos media, em assuntos que dominamos, que passam completamente ao lado da questão? Eu como não sou especialista neste assunto em particular, fui lendo as tais notícias sobre o responsável da ONU que defendia a tal renegociação da dívida com naturalidade. Afinal de contas, vários colunistas e políticos alinhados à esquerda têm defendido o mesmo. E, como sabemos, as pessoas gostam de se associar alguém com reputação para defender as suas ideias. Neste caso seria um poderoso observatório da ONU e um reputado economista, e por isso, andava meio mundo mediático a citar o especialista. »
Helena Matos

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