A Transnístria, região separatista da Moldávia, vai eleger o seu presidente em 11 de dezembro, num escrutínio que faz parte de um estranho acordo entre o seu protetor russo e a Alemanha, e que visa resolver um conflito que se arrasta há 20 anos.
Até agora, as eleições na Transnístria, um estado não reconhecido por qualquer país do mundo, não tinham nenhum interesse: há 20 anos que Igor Smirnov as ganhava invariavelmente. Mas agora tem concorrência [o Gabinete Central Eleitoral registou seis candidatos] e as pessoas estão todas excitadas.
Smirnov aparece em segundo lugar nas sondagens, atrás de Anatol Kaminsky, presidente do Soviete Supremo [Parlamento Local], apoiado por Moscovo.
Ali, o apoio de Moscovo é mais do que cartazes de Vladimir Putin ou estátuas de Lenine. A Rússia paga os salários dos funcionários públicos e complementos de reforma.
O dinheiro circula em malas, um sistema primitivo, quase medieval, de comprar almas. Recentemente, as pensões complementares passaram a ser diretamente distribuídas pelo Soviete Supremo.
Não é muito – mas para uma pensão de cerca de 38 euros por mês, um extra de 11 euros é significativo. E isso reflete-se nas sondagens.

Berlim exigiu provas de boa vontade

Moscovo tentou impedir Igor Smirnov de concorrer, na esperança de que a remoção do velho serviçal mudasse a imagem do país: a de um bastião soviético.
Os russos encetaram negociações com os alemães para uma nova configuração da segurança na Europa [com um estatuto especial para a Transnístria e a resolução do conflito latente contra a liberalização de vistos para os russos na UE].
Mas Berlim exigiu provas de boa vontade: se a Rússia quer ser um parceiro credível, tem, pelo menos, de demonstrar a sua vontade em resolver o conflito na Transnístria.
Isso não vai acontecer, mas pode enganar os alemães, levando-os a pensar que está a tentar. O sacrifício de Smirnov pareceu-lhe um método eficaz.
Só que este fingiu não perceber, e teve de levar a cabo uma investigação na Rússia contra o seu protegido, que terá desviado cinco milhões de dólares [3,7 milhões de euros] do dinheiro enviado pelo Kremlin para o território.
O poder russo apoia Kaminski. Mas se Smirnov permanecer no lugar, pode argumentar para os europeus (leia-se: os alemães): veem, tentámos substituí-lo, mas o povo da Transnístria apoia-o, não controlamos a situação.
Se Kaminski ganhar, o Kremlin vai dizer: pronto, colocámos um tipo mais jovem e mais reformista em Tiraspol, falem com ele. A questão é que Smirnov e Kaminski têm posições semelhantes: independência em relação à Moldávia e nem pensar em reintegrar a Rússia.

Moscovo ganha de qualquer maneira

A pressão alemã, forte desde o início de 2011, deu frutos, pelo menos formalmente. Pela primeira vez desde 2006 [quando foram suspensas, por imposição de Tiraspol, as conversações no formato 2+5: Moldávia e Transnístria, e ainda UE, Rússia, Estados Unidos, Ucrânia e OSCE], as negociações formais entre Chisinau e Tiraspol foram retomadas em Vilnius, em 30 de novembro deste ano.
Mas essas sessões parecem uma espécie de encenação com comissários políticos soviéticos: finge-se discutir e pode ser que os europeus acreditem nisso.
Mas não é possível acreditar. Veja-se este número: um défice orçamental de 70%. A Transnístria vive totalmente dependente de Moscovo. Quando a Moldávia soviética rompeu com a URSS, em 1991, 40% da indústria ficou na Transnístria, com apenas 10% da população.
As fábricas funcionam com gás russo, cujos pagamentos em atraso se acumulam, chegando a dívida a cerca de dois mil milhões de euros. No caso de se dar uma reunificação da Moldávia, num modelo federativo, a Rússia iria exigir o pagamento da dívida. Moscovo ganha de qualquer maneira.
A economia da Transnístria é artificial: energia russa gratuita e exportações para a Europa, graças aos esforços e às negociações lideradas por Chisinau com a UE (750 empresas da Transnístria estão registadas em Chisinau e exportam para a UE sem pagar impostos ao Estado moldavo).
Se a Rússia quisesse realmente alterar a situação, bastava-lhe cortar o gás gratuito – e a pseudo-economia da região sucumbia em poucos meses. Mas porque havia de fazê-lo? Para já, ganha com qualquer dos eleitos em Tiraspol, enganando facilmente os alemães.

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