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A-24

Sporting falha final da Liga Europa

por A-24, em 27.04.12
Em cima da linha da meta, o Athletic bateu o Sporting por uma nesga (3-1). Não foi preciso recorrer ao photo-finish, porque Llorente provou em San Mamés que é um avançado de Liga dos Campeões, em “estágio” na Liga Europa.
O seu sétimo golo na competição abriu aos bilbaínos as portas da segunda final europeia, depois de 1976-77, provocando a queda dos portugueses na penúltima estação da viagem até Bucareste.
Estava tudo do lado do Athletic. A responsabilidade (porque jogava em casa e tinha um resultado adverso para virar), o apoio ensurdecedor da afición (38.000 vozes em uníssono), a estatística (em nove jogos disputados em Espanha para as provas europeias, o Sporting não tinha ganho nenhum). Tudo menos a pressa.



À imagem do treinador, os jovens espanhóis foram pacientes. Foram circulando a bola, como tão bem sabem, esperando que o adversário saísse das trincheiras. Foram tentando desposicionar a defesa e o meio-campo, com tabelas, com passes longos para contornar a primeira linha de pressão “leonina”. E tanto procuraram que descobriram uma brecha. Insúa estava em noite não e o lado esquerdo da defesa do Sporting funcionou como mel para as abelhas mais talentosas dos bascos.

Primeiro tentou Susaeta, com o apoio de Iraola na rectaguarda, depois Ibai Gómez, depois ainda Muniaín. Schaars, que disputou todos os jogos desta Liga Europa como titular desde a fase de grupos, não foi o pronto-socorro de que Insúa precisava. E o sonho começou a ruir aos 17’, numa recuperação de bola de Javi Martínez: Muniaín cruzou, Llorente, perspicaz, amorteceu de peito e Susaeta atirou, enrolado, para o 1-0.
As bancadas tremeram, o Sporting nem tanto. Nos minutos seguintes, Capel, sempre de olhos na bola, foi tentando sacudir a pressão com explosões individuais. Uma delas foi ter direitinha até ao segundo poste e à cabeça de Pereirinha, claramente um peixe fora de água na hora de finalizar. Por esta altura, só a velocidade do extremo e a clarividência de André Martins prometiam fazer mossa no adversário. Matías perdia-se em decisões infelizes, Wolfswinkel transformava em nada tudo o que tentava fazer. Foi assim até aos 44’, altura em que Iraizoz sacudiu a bola para fora da área e permitiu o remate de André Martins. No ressalto, o avançado holandês acertou em cheio, de pé esquerdo, e fez o sexto golo na prova.

A classe de Llorente

Era o melhor que poderia ter acontecido aos portugueses, a um minuto do intervalo. Faltava, porém, ainda demasiado tempo, como fez questão de provar Ibai Gómez, após uma assistência perfeita de um Llorente tão sagaz quanto altruísta. O goleador basco puxou a bola atrás e tirou um central do caminho antes de isolar o companheiro, que teve a frieza de fazer voar a bola sobre Rui Patrício.
Contador novamente a zero na eliminatória. Sá Pinto deixou Matías no balneário e fez entrar Carriço para segurar as pontas à frente da defesa. André Martins passou a pegar na batuta. O jogo estabilizou, os espaços encurtaram e o Athletic deixou de se espraiar pelas alas. Marcelo Bielsa olhava calmamente para o jogo e os jogadores copiavam-lhe a toada, jogando sem precipitações.

Com poucas soluções de parte, com as equipas encaixadas como um Lego, só um rasgo individual ameaçava mexer com o jogo. Iturraspe, tão trabalhador quanto discreto, tentou de meia distância, Insúa fez o mesmo na cobrança de um livre que acabou na base do poste esquerdo. E foi quase tudo o que de relevante aconteceu no segundo tempo em matéria de lances de perigo.
Quase por causa daquele lance que matou o jogo, aos 87’. Cruzamento largo para o segundo poste e controlo de bola perfeito de Ibai Gómez. Depois, um nó cego em João Pereira e uma assistência milimétrica para Llorente desviar de pé direito com reflexos dignos de um guarda-redes. A equação invertia-se: Ibai retribuía a Llorente o convite que lhe tinha feito para o 2-1.
Voltaram a entrar em cena os adeptos espanhóis e o Sporting não mais se levantou. Não tinha resultado a troca de Pereirinha por Jeffren, nem a de André Martins (justamente ovacionado) por Carrillo. Não tinha resultado a estratégia de contenção que tem sido a imagem de marca de Sá Pinto. Nas bancadas gritava-se “reviravolta em San Mamés” e os stewards foram-se aproximando das linhas laterais para conter um eventual excesso dos adeptos.
Não foi preciso. Os milhares de “athleticzales” que durante a tarde encheram as ruas e se juntaram, na Catedral, para o “encontro de amigos” da praxe souberam estar à altura da equipa.
Em Maio, Llorente e companhia terão duas oportunidades de ouro para adicionar um capítulo nobre à história do clube. Uma na sua prova-fétiche, a Copa do Rei, a outra na final a que sonhavam voltar há mais de 30 anos. O Estádio de San Mamés não pode queixar-se da noite em que disse adeus à Europa. Nem esquecer-se do jogo em que os seus próprios adeptos terminaram a gritar o nome do Sporting.

POSITIVO
Ibai e Llorente
Uma dupla que funcionou na perfeição. O primeiro fez um golo e uma assistência, o segundo superou-o: um golo e dois passes decisivos.
André Martins
Começa a afirmar-se como um todo-o-terreno de primeira linha. Recuperou bolas, assegurou as transições ofensivas, segurou e libertou sempre que necessário. Um caso de classe pura.
Adeptos
Os do Athletic, porque nunca deixaram cair a equipa. Os do Sporting porque acreditaram sempre.

NEGATIVO
Insúa
Foi pelo seu lado que nasceram os dois primeiros golos e mais um par de boas ocasiões. Se defendesse tão bem como ataca...

Ficha de Jogo
Athletic Bilbau, 3
Sporting, 1

Jogo no Estádio San Mamés, em Bilbau

Espectadores Cerca de 40.000

Athl. Bilbau Iraizoz, Iraola, Javi Martínez, Amorebieta a54’, Aurtenetxe, Herrera (Pérez, 90’+4’), Iturraspe, Muniain (Ekiza, 90’), Susaeta, Llorente e Ibai a76’ (Toquero, 90’+3’). Treinador Marcelo Bielsa.

Sporting Rui Patrício, João Pereira, Polga, Xandão a90’+4’, Insúa, Schaars, André Martins (Carrillo, 83’), Pereirinha (Jeffren, 63’), Matías Fernández (Carriço, 46’ a59’), Capel e Wolfswinkel a10’. Treinador Sá Pinto.


Árbitro Martin Atkinson, de Inglaterra. Amarelos Wolfswinkel (10’), Amorebieta (54’), Carriço (59’), Ibai (76’), Xandão (90’+4’), 
Golos 0-1, por Susaeta, aos 17’; 1-1, por Wolfswinkel, aos 44’; 2-1, por Ibai, aos 45’+1’; 3-1, por Llorente, aos 88’.


Bayern de Munique na final da Champions. Real Madrid caíu no Barnabéu

por A-24, em 26.04.12
Real Madrid chegou a estar a vencer com dois golos de Ronaldo, mas permitiu o empate da eliminatória e não suportou os penáltis.
O sonho de José Mourinho conquistar três Ligas dos Campeões por outros tantos clubes foi ontem, mais uma vez, adiado. A jogar em casa, o Real Madrid chegou a ter o mundo a seus pés com dois golos de Cristiano Ronaldo no primeiro quarto de hora, mas depois assistiu-se a uma reacção surpreendente do Bayern Munique. Os alemães marcaram, empataram a eliminatória e levaram a discussão para prolongamento e depois para grandes penalidades. Ronaldo falhou, Kaká imitou-o, com José Mourinho a assistir de joelhos. Os alemães desperdiçaram também duas grandes penalidades, mas Sérgio Ramos deitou tudo a perder com um remate disparatado. Tudo o que Schweinsteiger não fez. O Bayern será o adversário do Chelsea, na final, dia 19 Maio.
O minuto seis parecia oferecer a Ronaldo, Mourinho e companhia uma caminhada tranquila rumo às portas do céu. A estrela portuguesa aproveitou uma grande penalidade e colocou o Real Madrid na fente da eliminatória. Mas não se ficou por aqui. Özil, aos 15", teve um passe fantástico e Ronaldo surgiu entre os centrais a definir a jogada de uma forma que só está ao alcance dos melhores. Concluiu o lance com um remate que fez a bola entrar junto ao poste direito.
Neste quarto de hora, as exibições sublimes de Özil e Cristiano pareciam destroçar sem apelo o Bayern. Mas a qualidade de Cristiano e Özil foi directamente proporcional aos disparates defensivos da equipa, à incapacidade de pressionar as segundas linhas do Bayern e ao desastre que foi, mais uma vez, Di Maria. E o que parecia ser uma noite tranquila, transformou-se num semi-pesadelo. Com Robben, Mario Gómez e Ribery a justificarem as dores de cabeça de um estádio cheio de adeptos e com Pinto da Costa na tribuna.
Com este trio a formação alemã nunca poderia ser vulgar. Conseguiu manter sempre o jogo vivo. Soube tirar partido de algumas deficiências do sector recuado dos espanhóis e teve sempre em mente o caminho da final. Robben teve o golo nos pés, depois de um passe de Alaba - Marcelo (que substituiu Coentrão) esqueceu-se de acompanhar o holandês e o falhanço foi inacreditável. Mas Robben não falhou (27") uma grande penalidade, numa falta de Pepe sobre Mario Gómez. Um lance que deixou dúvidas (como deixou dúvidas a mão de Alaba, em queda, depois de um cruzamento de Di Maria, que permitiu o primeiro golo do Real). Casillas não defendeu o disparo de Robben e estava feito o empate da eliminatória.
A partida foi frenética. Sem um verdadeiro dono. Com as oportunidades a dividirem-se de parte a parte. Benzema ameaçou, aos 47". Respondeu um minuto depois Mario Gómez. O Bayern conseguiu impor o seu ritmo. Trocou bem a bola. E, aos 67", foi mais uma vez Casillas a defender um disparo de Robben. Notava-se o esforço que os espanhóis tiveram dias antes no confronto com o seu eterno rival Barcelona e alguns jogadores passaram ao lado da partida. Como Di Maria, que acabou substituído por Kaká aos 75 minutos. O argentino esteve muito distante daquilo que pode e sabe fazer. 
E foi a equipa alemã a mostrar mais capacidade para evitar o prolongamento. Esteve mesmo a um passo com uma grande jogada, aos 86". Mais uma vez pelos pés de Robben, mas Gómez não teve o descernimento necessário para concluir rapidamente o cruzamento do holandês, permitindo a Ramos chegar a tempo de tapar o remate. Tremeram as bancadas do Santiago Bernabéu. O prolongamento foi inevitável. Com o Real a assumir novamente o domínio do jogo. Mas Ronaldo já não tinha a capacidade que se lhe reconhece para causar desequilíbrios. Os seus temíveis remates já não tinham a mesma eficácia. Tudo se decidiu nos penáltis e a favor dos alemães.
Texto do Público (Imagens de Marca.com)

(Itália) Berlusconi vítima da máfia siciliana

por A-24, em 25.04.12
O ex-primeiro-ministro de Itália, Sílvio Berlusconi, terá pago “elevadas somas” de dinheiro à máfia siciliana na década de 70, afirmou um tribunal italiano, que qualifica o ex-chefe de governo como uma vítima da Cosa Nostra.
O antigo chefe de governo, que é ligado há vários anos à máfia, é descrito pelo tribunal como “uma vítima que agiu por necessidade” de se proteger a si próprio e à sua família num período de violência e instabilidade em Itália.
Sílvio Berlusconi “pagou elevadas somas de dinheiro pela sua proteção e da sua família”, disse o tribunal, numa decisão hoje publicada pela comunicação social italiana.
O documento com 146 páginas que foi divulgado esta terça-feira explica a decisão do tribunal em março de revogar a condenação de um dos colaboradores mais próximos de Berlusconi, o senador Marcello Dell’Utri, por associação ao crime organizado.
O colaborador terá “mediado” a relação entre Berlusconi e o crime organizado, diz o tribunal.
Marcello Dell’Utri foi “o autor de um acordo de proteção e colaboração entre Berlusconi e a máfia”, disse o tribunal.
Este pacto com a Cosa Nostra terá também levado Berlusconi a contratar um famoso gangster, Vittorio Mangano, para alegadamente trabalhar num estábulo da sua villa em Arcore na década de 70.
Mangano foi mais tarde condenado por homicídio.
Jornal I

Barcelona e o fim de um reinado

por A-24, em 25.04.12
Fernando Torres recebe a bola no meio-campo e corre isolado para a baliza, passa por Valdés e marca o golo que confirma o Chelsea na final. Há uns meses esta frase dava uma boa anedota. Chelsea a eliminar o Barcelona nas meias-finais da Liga dos Campeões? Impossível. Torres a pôr a cereja no topo do bolo? Inventem outra, que essa não pega. Mas tudo isto é verdade. A equipa das revoluções de balneário contra o treinador ultrapassou a equipa do respeito total pelas ideias do mestre. E ainda vingou a meia-final de 2009.
A máquina do tempo pegou em parte do Inter de 2010 e trouxe-o de volta a Camp Nou. Nela veio um cartão vermelho, que há dois anos foi para Motta (aos 28’) e desta vez acabou à vista de Terry (37’, por agressão a Alexis). Em ambos os casos seria à partida uma condenação a um fracasso que não se confirmou. Em 2010, José Mourinho transformou Samuel Eto’o e Diego Milito em escravos da defesa. Di Matteo fez o mesmo com Drogba, que passou mais de metade do jogo a fazer de lateral esquerdo e direito. O Chelsea perdeu Terry, mas também ficou sem Cahill (lesionado, aos 12’). Sem centrais no banco, o treinador improvisou: Ivanovic e Bosingwa no meio, Ramires à direita.
Parecia impossível resistir. O Barcelona já tinha marcado um golo, na primeira vez que a defesa dos blues ficou descompensada. Cuenca cruzou atrasado e Busquets apareceu a rematar (35’). Oito minutos depois já havia 2-0: Messi assistiu Iniesta e o médio fez o mais fácil, desviar de Cech. Depois apareceu a primeira surpresa, quando Ramires – o lateral – puxou da arte para fazer um chapéu a Valdés. Pela segunda vez na eliminatória, o Barcelona sofria um golo nos descontos da primeira parte. O mesmo é dizer que a equipa de Guardiola tinha 45 minutos para marcar o que faltava: mais um golo.
Não foi isso que aconteceu. Como o Inter, em 2010, o Chelsea cerrou os dentes e lutou com dez jogadores encostados à área. Quando a defesa cedia estava lá Petr Cech para defender. Quando Cech não conseguia fazer mais nada estava lá o poste. Logo no início da segunda parte, Drogba fez falta sobre Fàbregas. O penálti resolvia todos os problemas, mas criou um ainda maior. Messi, que em oito jogos não marcou um golo ao Chelsea, atirou à barra. Falhou a melhor oportunidade para apurar o Barça e perdeu a alegria que lhe restava. Ficou com um ar perdido, derrotado. Aos 83 minutos rematou à entrada da área e viu a bola bater na base do poste, depois de um ligeiríssimo desvio de Cech.
Sem alternativas ao argentino – falta um David Villa, um Eto’o para partilhar a responsabilidade dos golos – os catalães esgotaram as ideias. Tinha sido assim no sábado, com o Real Madrid, também em Camp Nou. Mas o pior estava para vir. O golpe fatal, outra vez nos descontos, através de um dos homens mais odiados do futebol. Torres entrou para jogar numa espécie de médio-defensivo e acabou por receber a bola a meio-campo só com Valdés pela frente.
O golo deu o empate no jogo, a vitória certa na eliminatória. Significou uma reviravolta no mundo do futebol. Messi, o adorado, fracassou. Torres, o detestado, triunfou. E festejou como quem pede desculpa por uma maldade. Roman Abramovich é perito em gastar fortunas com treinadores, que colecciona como brinquedos. Mas na verdade o Chelsea chega à final da Liga dos Campeões nas duas épocas em que mudou de técnico principal: em 2007/08 passou de José Mourinho e Avram Grant; agora foi de André Villas-Boas a Di Matteo. Em Munique não vai ter Terry, Ramires, Meireles nem Ivanovic – todos castigados.
Das 55 equipas que já defrontou na era Guardiola, o Barcelona só não ganhou ao Chelsea. Agora vive o pior momento desde que Pep é treinador. Em quatro dias perdeu a Liga e a Liga dos Campeões. E no fim da época ainda pode ficar sem o treinador. O futebol está a mudar.
Jornal I

Surpresa no Brasil, choque em Portugal

por A-24, em 25.04.12
João Carlos Espada

Quem lê a imprensa portuguesa, ouve as nossas rádios e vê as nossas televisões vive num mundo paralelo onde se chora, a cada segundo, a falta de mais socialismo.
É por isso que é interessante ler quem pode ir lá fora respirar outros ares. Como sucede neste texto de João Carlos Espada, ontem, no Público (sem link). Leiam e depois pensem em como se poderá mudar isto:

Surpresa no Brasil, choque em Portugal

Quando se chega a uma certa idade, pensamos que já nada nos vai surpreender. Esse era certamente o meu estado de espírito quando há precisamente duas semanas aterrei em Porto Alegre, no estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Não era a primeira vez que visitava o Brasil, embora fosse a primeira visita a Porto Alegre, e não havia motivo para esperar grandes surpresas. Mas enganei-me redondamente e, ainda agora, no rescaldo da viagem, tenho dificuldade em ordenar o turbilhão de impressões que esta viagem me deixou.
Não foi o samba, nem o Carnaval, nem as praias de que habitualmente se fala – e que, aliás, não vi. Foi uma sociedade civil vibrante, em perpétuo movimento, com uma energia empreendedora que só tem paralelo nos EUA (e talvez na China e na Índia, mas devo admitir que não senti aí a mesma energia).

Assisti a um congresso de dois dias com 5200 pessoas. Era a 25.ª edição do Fórum da Liberdade, promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais, e que teve lugar na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Parecia que estávamos em Nova Iorque ou Washington. Uma organização ultraprofissional, amaciada pela incrível simpatia brasileira. Milhares de pessoas aprumadas, devidamente vestidas, pontuais, alegres e bem-educadas. Uma universidade com 30 mil alunos, num único campus, uma verdadeira cidade, que não recebe um real do Estado.
E, sobretudo, o que diziam, era inacreditável o que diziam. Celebravam a democracia e a liberdade, os direitos da pessoa humana e, por essas razões, o livre empreendimento, a limitação do Estado, o combate à corrupção e ao compadrio promovido por dinheiros públicos. Enalteciam a livre concorrência, não pediam subsídios ao Estado, combatiam os subsídios do Estado e o favorecimento pelo Estado de umas empresas em detrimento de outras. Exigiam impostos baixos e concorrência no fornecimento dos serviços públicos, sobretudo na educação e na saúde.

Era bom de mais para ser verdade. Mas era verdade. Simultaneamente, estas pessoas não mostravam qualquer sinal de arrogância. Exprimiam o maior apreço por Portugal, embora os seus antepassados não fossem apenas portugueses, mas também polacos, italianos, alemães e japoneses, além de índios e africanos, entre muitos outros. Um verdadeiro melting pot, com uma matriz portuguesa que todos enfatizavam. Ouvi vibrantes elogios aos descobridores portugueses, ao seu espirito de tolerância, maior do que o dos anglo-saxónicos, disseram-me, e sempre, repetidamente, à língua de Portugal.

Estas pessoas, ou algumas delas com quem falei demoradamente, querem reforçar a competitividade do Brasil no mundo e regulam os seus padrões pelos da América do Norte. Mas querem reforçar os laços com Portugal. Surpreendem-se por ser mais fácil obter dupla cidadania com Itália do que com Portugal. Gostariam que houvesse um mercado único entre Brasil e Portugal, semelhante ao que existe na União Europeia. Preconizam o mútuo reconhecimento imediato de diplomas escolares e de empresas. Gostariam de ter mais facilidade em investir aqui e de trabalhar aqui. “Há 190 milhões de falantes de português no Brasil”, explicaram-me, “que têm apreço por Portugal. Muitos gostariam de educar os filhos em Portugal, de investir em Portugal, de passar parte das suas reformas em Portugal. Não será este um mercado excitante para os portugueses?”

Parece-me que sim, eu pelo menos saí do Brasil contagiado pela energia criativa e empresarial do Rio Grande do Sul. Mas, quando aterrei em Lisboa, tive o primeiro choque lusitano, depois da agradável surpresa brasileira. Na primeira banca de jornais, uma revista de grande circulação titulava na capa: “Precisamos de um novo 25 de Abril?” Não pude acreditar. Temos uma democracia e perguntam se precisamos de um golpe de Estado? Terei chegado por engano à Guiné?

Não foi engano. Passa-se os olhos pelos jornais e vê-se uma cacofonia de reclamações igualitárias, reclamações de mais Estado, mais subsídios, mais garantias. O pobre Governo debaixo de fogo pelas tímidas medidas reformadoras que tem tomado – em vez de lhe reclamarem uma drástica descida dos impostos e um vigoroso convite ao investimento externo. Os nossos jovens fogem para o estrangeiro em busca de oportunidades, e os que ficam querem enterrar ainda mais o país, atacando os mercados, um inexistente neoliberalismo, os alemães e outros europeus empreendedores que viraram bodes expiatórios da nossa paralisia.
Pobre país, receio ter de dizer. Mas amanhã regresso à Polónia, cujo Presidente, aliás, nos acaba de visitar com grande sucesso. Lá reencontrarei a confiança na livre iniciativa que me surpreendeu no Brasil – e cuja ausência é simplesmente chocante em Portugal.

Comentário de um anónimo:

A perspectiva que o doutor João Carlos Espada mostra é certeira e é a mesma que eu partilho quando lá fui, o Brasil hoje goza de uma estabilidade monetária projectada pelo Fernando Henrique Cardoso que leva a estabilidade económica que associada a uma mentalidade concorrencial que há na sociedade brasileira e ao protecionismo gera os seus frutos, que o PT tem sabido gerir, embora não consiga combater uma certa especulação de preços que se têm acentuado. O Brasil sempre vibrou e sempre acolheu bem as pessoas do exterior que entendem que lhes criam valor, é reparar como bem trataram o Agostinho da Silva, o Champalimaud e todos os outros anónimos portugueses que fizeram crescer Portugal passando pelo Brasil.
O Novo Mundo tem uma postura da aprendizagem, do bem comum, da camaradagem, da troca de ideias, das liberdades que a Velha Europa de uma forma geral perdeu ao apostar numa concepção igualitária, numa economia proto-estatizada, feita pelas elites, com pretensão de superioridade moral, através do Estado que não trouxe o retorno humano, humanista, financeiro e económico. Hoje vivemos numa “austera, apagada e vil tristeza” e olhamos para o Brasil sem tirar as devidas ilações de fundo apenas nos focamos no dinheiro que de lá pode pingar para aqui termos mais do mesmo.
Em Porto Alegre a não perder entre outras coisas a Fundação Iberê Camargo com projecto de edifício feito por um português, o Siza Vieira com um gabinete de engenharia português do Porto.

Ecos do 25 de Abril - Blasfémias

por A-24, em 25.04.12
"Não tem havido revolução ou esta tivesse sido dominada?
Sem 25 de Abril, o mundo não evoluiria de forma muito diferente. A guerra colonial teria de ter uma solução política, sob pena de o país acentuar a sua situação de pária à escala internacional. A então CEE e os gringos derrotados no Vietname, mas a não quererem perder a África Austral para a órbita soviética, constituiriam o isco e a pressão à negociação política. Uma evolução política à espanhola seria incontornável.
Evitaríamos Vasco Gonçalves e as suas ruinosas nacionalizações; as imbecilidades de Otelo e de toda a restante tropa fandanga; o socialismo na Constituição e o Estado Social criado por decreto; o endividamento galopante e, quiçá, os resgates pelo FMI.
A alternativa ao 25 de Abril seria essa, não a perpetuação do regime. E hoje estaríamos indiscutivelmente melhor, sem ter de aturar estes patéticos rituais beatíficos das comemorações. E afinal para comemorar o quê???"

In Blasfémias

Ecos do 25 de Abril - Jumento

por A-24, em 25.04.12
Visto numa perspectiva histórica o 25 de Abril só faz sentido porque somos um  país onde uma rainha teve de fazer o milagre de fazer aparecer rosas em Janeiro para enganar o rei porque andava a dar pão aos pobres, algo que neste país ainda é pecaminoso ao ponto de os pobres terem ousado comer pão a mais durante um par de anos.
É um absurdo histórico um povo europeu que durante séculos esteve na liderança do mundo estivesse em finais do século XX prisioneiro no seu próprio país por um regime político que a direita insistiu em manter muito para além do que qualquer direita inteligente acharia razoável.
É um absurdo que os portugueses só tenham conquistado direitos elementares, como o direito a férias, em finais dos anos 70 e que para se assegurarem de que esses direitos não lhes seriam retirados foi necessário garanti-los numa constituição. Mais de trinta anos depois percebemos que a direita nunca aceitou esses direitos e de pouco serve ao país uma constituição e um Tribunal Constitucional, nesta democracia tudo e todos estão à venda.
É um paradoxo que aquilo que em toda a Europa foi um processo lógico de desenvolvimento social por cá tenha sido necessário um golpe de Estado e mesmo assim, passadas mais de três décadas, a direita ainda se recusa a aceitar que o país dedique ao Estado social uma parte da riqueza criada exigindo que esse dinheiro alimente um sistema económico onde os ricos ficam com a maior parte da riqueza gerada.
É uma aberração manter um império colonial quase no virar do século XX e depois de reposta a normalidade ainda se discutiu durante vinte anos a forma como foi feita a descolonização, os que nunca a quiseram fazer porque queriam manter um colonialismo burro para continuarem a explorar os africanos transformaram-se em campeões da descolonização inteligente.
O 25 de Abril só sucedeu porque a direita portuguesa é burra e por aquilo que se tem vistos nos últimos tempos não melhorou grande coisa. E só há tanta gente a questioná-lo porque por oposição à cobardia os militares que impuseram a democracia à direita foram generosos. Podiam ter julgado os pides, os governantes e os empresários que usaram apolítica política como instrumento de gestão dos recursos humanos, mas não o fizeram. Podiam ter impedido o regresso dos que fugiram do país com receio das suas consciências, mas deixaram-nos regressar.
   
Mais do que pelo upgrade de meio século de um país que a direita poupadinha, rigorosa nas contas públicas e pouco dada a keynesianismos obrigou a parar no tempo o 25 de Abril deveria ser comemorado pela generosidade face à cobardia, pela inteligência face ao obscurantismo, pela alegria face ao cinzentismo. As grandes novidades do 25 de Abril não foram a descolonização, a democracia ou o Estado Social, isso há muitas anos que era a regra na Europa, no que os militares de Abril foram superiores à direita portuguesa foi na generosidade, na superioridade moral e ética, no dar sem exigir nada em troca.
Hoje parece que a direita não aprendeu a lição, continua fora do tempo, desajustada da Europa, burra como sempre foi, sem grandes princípios éticos e a não respeitar quaisquer valores de ordem humana no momento de ir ao pote. O País parece que precisar de inventar rosas no Inverno quando se pretende dar pão aos pobres ou de voltar a desrespeitar a legalidade instituída para que exista em Portugal o que é elementar existir em qualquer país desenvolvido.
(Talvez por isso os que fizeram o 25 de Abril para que depois um Cavaco desse prioridade a um pide na atribuição de pensões deviam ter deixado tudo na mesma, Cavaco estaria sua (antiga) vivenda Mariani a gozar dos lucros da bomba de gasolina e da reforma do BdP, Marcelo estaria à beira de ceder o lugar no governo, Passos Coelho seria médico algures em África, Miguel Relvas estaria a gerir a sua mercearia. Se calhar era mais digno lutar pela democracia contra ditadores com alguma classe do que debater o país com gente idiota.)
In Jumento

A deriva populista da argentina Kirschner

por A-24, em 25.04.12
Público
Só quem esteve distraído durante a campanha eleitoral na Argentina, e não ouviu os discursos da Presidente Cristina Kirchner, reeleita com uma votação histórica, poderá ficar admirado ou surpreendido com a deriva populista, nacionalista e proteccionista do seu Governo. Da campanha para a anexação das ilhas Malvinas – Falkland para os britânicos, que detêm a soberania do território – à confiscação de 51% do capital da petrolífera YTF, expropriada da parcela de 57% da espanhola Repsol, a Presidente tem vindo a assumir um tom de confronto com os seus aliados e parceiros para obter vitórias políticas internas.
A ameaça do isolamento internacional não a demove nem detém: na última cimeira das Américas, na Colômbia, Kirchner foi repetidamente “admoestada” pelos vizinhos e alertada para as possíveis consequências “nefastas” para a Argentina se não mudasse de rumo – especula-se que uma “desqualificação” do G20, grupo das vinte economias mais industrializadas do mundo, poderá estar iminente.
Mas em Buenos Aires, Kirchner interpretou a reprimenda como a prova de que o seu Governo trabalha sem medo de represálias dos “predadores estrangeiros” para defender os interesses dos argentinos. “As Malvinas são da Argentina, tal como a YPF”, dizem as novas T-shirts envergadas pelos seus apoiantes.
A explicação é só parcialmente ideológica. O populismo é a raiz do seu projecto político, uma variante do peronismo das décadas de 1940 e 1950, mas muitas das medidas recentes da Casa Rosada devem-se mais a um “estado de necessidade” do que a uma deliberada promoção da estatização da economia.

A culpa é dos outros
Fragilizada pelo escândalo de corrupção que afecta o vice-presidente, Amado Boudou, e com a popularidade em queda por causa da inflação galopante, Cristina Kirchner precisava de recuperar a iniciativa política. E, lembram todos os observadores internacionais, na Argentina, quando se trata de justificar os falhanços internos, não há nada mais eficaz do que responsabilizar os agentes externos.
Apesar dos resultados catastróficos das últimas re-nacionalizações levadas a cabo pelo Governo de Buenos Aires – casos das companhias de águas e electricidade, dos fundos de pensões ou das Aerolíneas Argentinas –, a esmagadora maioria da população apoia a decisão da Presidente. “Esta foi a melhor notícia que tivemos nos últimos tempos”, disse à Reuters Alicia Muzio, uma apoiante de Kirchner.
“Obrigado, Cristina”, diz o porteño Julio Olaz. “Já era mais do que tempo de recuperarmos o que é nosso. A Argentina pertence à Argentina, não aos estrangeiros”, sublinhava à Reuters, numa récita quase perfeita das palavras da Presidente, que ao anunciar a desapropriação dos títulos da Repsol declarou que “as empresas que operam na Argentina são argentinas, mesmo que os seus accionistas sejam estrangeiros. Ninguém se esqueça disso”.

Como com tudo o que faz, a Presidente creditou o seu falecido marido e ex-Presidente, Nestor Kirchner, pela decisão. “Ele sempre sonhou em recuperar a YPF para o país”, declarou Cristina, uma alegação que os jornais argentinos puseram em causa ao revelar documentos que demonstravam o apoio explícito dos Kirchner à privatização da petrolífera. Mas o volte-face de Cristina não é o único: o actual senador Carlos Menem, que foi o Presidente responsável pelo processo de privatização, será um dos votos a favor, quando hoje o projecto de expropriação da empresa à Repsol for votado no Senado. “As circunstâncias são outras, o cenário é bem diferente”, justificou.

“Tudo feito de improviso”
Como notava o comentador do Wall Street Journal Alen Mattich, a operação que envolve a petrolífera YTF oferece uma sombria conclusão: quando os países não conseguem financiar a sua economia nos mercados internacionais (de crédito), acabam por arranjar vias alternativas para satisfazer as suas necessidades domésticas.
Essa poderá ter sido a lógica da Argentina, que, dez anos depois do default da dívida, continua incapaz de se financiar – embora fontes do Governo citadas na imprensa internacional sob o anonimato tenham criticado a política económica pouco ortodoxa e convencional de Kirchner. “Não há nenhum plano, é tudo feito de improviso”, lamentava um dirigente ao Financial Times.Além da “recuperação da soberania”, Kirchner justificou a nacionalização da YPF com a necessidade de equilibrar a balança comercial argentina. O país, que se debate com uma taxa de inflação que economistas independentes estimam ultrapassa já os 20%, precisa de reduzir a sua factura energética.
Para a analista Graciela Romer, o apoio à nacionalização de empresas nos sectores vitais da economia explica-se pelo “falhanço espectacular” das reformas para a liberalização da economia nos anos 90. “A sociedade argentina pagou essa experiência com maior desigualdade e pobreza. Quando agora se viram outra vez para o Estado, fazem-no por pragmatismo, porque acham que essa será a única maneira de melhorar a qualidade de vida”, disse à Reuters.

Ainda sobre Miguel Portas

por A-24, em 25.04.12
“É da pessoa querer saber como parte: de cara lavada ou de cara pintada. Prefiro de cara lavada.” Prático e directo, Miguel Portas falava, assim, há nove meses numa entrevista ao “Expresso”, sobre o que pretendia levar daqui “lá para onde for”. Com o desassombro próprio de quem, como ele, já tinha dado de caras com a “precariedade da vida”: um tumor maligno no pulmão, que combatia desde Abril de 2010. Até ontem. Miguel Portas morreu às seis da tarde, rodeado pela família, num hospital em Antuérpia. Fazia 54 anos a 1 de Maio.
Político, jornalista, escritor, economista de formação. “Uma vida intensa”, descreveu o Bloco de Esquerda quando ontem comunicou oficialmente o óbito de um dos seus fundadores. A entrega às causas da sua família política foi absoluta, como bem mostra o seu perfil público no Facebook. Ainda no sábado Miguel Portas se indignava com a resolução do Parlamento Europeu contra a nacionalização da petrolífera argentina filial da Repsol: “Tesourinhos deprimentes: o Parlamento Europeu ficou do lado da Repsol.” Foi também ali que deixou o último alerta público ao seu Bloco de Esquerda, congratulando-se com os 40% de votos de uma lista alternativa ao “aparelho” do partido, na Concelhia de Lisboa, aconselhou uma interpretação “devida” dos resultados aos dirigentes.
Há pouco menos de um ano, numa entrevista ao i, defendia que a renovação do Bloco passasse pela saída dos quatro fundadores. “Mais que ajustar contas com os resultados eleitorais [caíram muito nas legislativas] é preciso traçar o caminho para a frente”, disse então. Sempre crítico, mas fiel ao partido que criou com Luís Fazenda, Fernando Rosas e Francisco Louçã em 1999. Ao “Expresso” disse que o Bloco de Esquerda é o “legado político” que deixa. “Incentivou--nos da cama do hospital”, disse ontem Louçã. Conheciam-se desde os 13 anos.
Foi mais ou menos por essa altura que Miguel despertou para a política. Aos 15 começou a militar na União de Estudantes Comunistas (UEC) e chegou a ser detido pela PIDE durante uma assembleia de estudantes na Faculdade de Medicina, em Dezembro de 1973.
MISSA E PCP Provocador no liceu, foi mudando de escola ao sabor de reprimendas de professores – do São João de Brito, para o Passos Manuel e daí para o Pedro Nunes. Aos 12 zangara-se com a mãe, Helena Sacadura Cabral. Queria ir à missa, ela não deixava. Deixou-lhe um bilhete e fugiu. “Era um miúdo bastante católico e gostava particularmente das missas da Igreja de Santa Isabel, que tinham música e canto”, contou em entrevista à “Visão”. A zanga passou, mas acabou por ir viver com o pai, o arquitecto Nuno Portas. O irmão Paulo (têm uma meia-irmã, Catarina Portas), hoje ministro dos Negócios Estrangeiros, ficou com a mãe. Apesar disso, foram sempre inseparáveis, à prova de divergências políticas: um fundador do Bloco, outro líder do CDS. Ontem de manhã, Paulo Portas abandonou os Açores, onde estava para o encerramento das Jornadas Parlamentares do CDS, para estar com o irmão.
Saiu do PCP em 1989. “Não tenho dúvida nenhuma de que a minha formação foi muito marcada pelo PCP. Foi metade da minha vida activa!”, dizia ao “Expresso” em Julho. Tinha “um problema”, disse-lhe um dia um dirigente comunista: “Traços de personalidade.” Apesar de respeitar a disciplina do partido, sempre se viu como um “heterodoxo” e fazia uma relação curiosa entre o PCP e o catolicismo: “A convicção que tinha [como católico] acabou por ser transportada para o comunismo que não é mais do que uma religião laica.”
Mas a sua carreira política continuou. Cinco anos depois criou a Política XXI que juntamente com o PSR e a UDP deram origem ao Bloco. Em 2004 foi o primeiro eurodeputado eleito pelo BE, foi reeleito em 2009 com 10% dos votos, um valor histórico para o partido que nessa altura elegeu três eurodeputados (hoje só restavam Miguel e Marisa Matias, depois da ruptura de Rui Tavares).
Inserido no grupo da Esquerda Unitária, Miguel Portas foi autor, na primeira legislatura, do relatório sobre a integração dos imigrantes na Europa e na legislatura actual foi o relator sobre o financiamento e funcionamento do Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização.
Licenciou-se em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão de Lisboa, mas foi ao jornalismo que foi parar. Dirigiu a revista “Contraste” (1986), trabalhou no “Expresso” (1988), onde foi editor da revista. Foi também director do semanário “Já” (1995). Era esta que dizia ser a sua profissão. À política chamava “comissão de serviço”.
A doença não o levou de volta ao catolicismo, “nem um bocadinho”, disse. A aproximação que fez neste par de anos foi aos dois filhos adolescentes que viviam com ele em Bruxelas. “Ninguém se reaproxima dos filhos para compensar o tempo que não esteve com eles. Reaproxima-se para ver se está algum tempo com eles”, afirmou ao “Expresso” quando admitiu que nesse campo sentia alguma necessidade de reparo.
Deixou de fumar mal lhe foi diagnosticado um tumor maligno no pulmão direito, num check up de rotina no Parlamento Europeu. O tumor e parte do pulmão foram retirados, numa cirurgia no Instituto Português de Oncologia. Por essa altura festejava no seu mural do Facebook: “Vai um mês que não fumo, daqui a nada fará um ano e um pouco mais lá adiante uma década.”
 Jornal I

Miguel Portas (1953-2012)

por A-24, em 24.04.12
Economista, durante vários anos jornalista, foi, ainda antes do 25 de Abril de 1974, militante e depois dirigente da União de Estudantes Comunistas. Foi activista contra a ditadura desde jovem, tendo sido preso quando tinha ainda 15 anos.
Já em adulto foi militante do PCP a partir de 1974, de onde saiu em 1989.
Miguel Portas integrou então, desde 1989, a Terceira Via, grupo de militantes comunistas que se opunham à direcção e onde pontificavam figuras como Joaquim Pina Moura e Barros Moura. Após o golpe de Estado na União Soviética a 20 de Agosto de 1991, a maioria dos elementos que integravam a Terceira Via rompe e abandona o PCP, entre eles Miguel Portas, em protesto com o apoio que a direcção do partido deu aos golpistas. Neste processo seriam expulsos do PCP figuras como Barros Moura, Raimundo Narciso, Mário Lino, tendo José Luís Judas abandonado o PCP para evitar a expulsão e preservar a CTGP de que era dirigente.
Durante os anos 90 pertenceu ao grupo Plataforma de Esquerda, que integraria o MDP/CDE, partido que então muda para o nome Política XXI e que virá a integrar a formação do Bloco de Esquerda (BE).
Miguel Portas cumpria actualmente o segundo mandato como eurodeputado pelo BE. Foi eleito pela primeira vez nas europeias de 2004. Tinha sido cabeça de lista já em 1999, nas primeiras eleições em que o movimento foi a votos, mas não conseguira qualquer eurodeputado.
Segundo informação do BE, o eurodeputado faleceu por volta das 18h desta terça-feira, no Hospital ZNA Middelheim, em Antuérpia.
“Encarou a sua própria doença como fazia sempre tudo, da política ao jornalismo: de frente e sem rodeios. Teve uma vida intensa e viveu-a intensamente”, recorda o partido em comunicado. Durante o período em que esteve doente “continuou sempre a cumprir as suas responsabilidades e estava, neste preciso momento, a preparar o relatório do Parlamento Europeu sobre as contas do BCE”.
Miguel de Sacadura Cabral Portas nasceu em Lisboa a 1 de Maio de 1958. É filho do arquitecto Nuno Portas e da economista Helena Sacadura Cabral e é irmão de Paulo Portas e de Catarina Portas.
Durante a sua carreira de jornalista, foi director da revista cultural Contraste e depois redactor e editor internacional do semanário Expresso. Fundou o semanário e a revista Vida Mundial, dos quais foi director. Também foi cronista no Diário de Notícias e no semanário Sol. Actualmente tinha ainda uma crónica semanal na Antena 1.
É autor dos livros E o resto é paisagem, Líbano, entre guerras, política e religião e Périplo. Estes dois últimos resultaram do seu fascínio pela região do Mediterrâneo, por onde fez diversas viagens.
Périplo - Histórias do Mediterrâneo começou por ser um documentário em quatro episódios realizado por Camilo Azevedo e escrito e apresentado por Miguel Portas. Filmado em 2002 e 2003 em longas viagens pelos países da bacia mediterrânica, acabou por só ser transmitido pela RTP em 2005, dando depois origem ao livro com o mesmo nome. A dupla tinha já feito em 2000 o documentário Mar das Índias, uma co-produção entre a RTP e a Comissão dos Descobrimentos que recebeu o Prémio Bordalo de melhor trabalho televisivo do ano, atribuído pela Casa da Imprensa.

Miguel Portas tinha sido operado a um cancro no pulmão em 2010.
Público