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A-24

As ligações entre o futebol e a política na Rússia

por A-24, em 07.03.12
Vladimir Putin foi eleito presidente da Rússia neste domingo e Dmitri Medvedev, o seu antecessor, será o próximo primeiro-ministro russo. Os dois políticos têm protagonizado, nos últimos 12 anos, uma dança de cadeiras que permitiu a Putin contornar a lei e manter-se no poder. Mas o que é que isso tem a ver com o Zenit, que hoje defronta o Benfica no Estádio da Luz? A resposta é simples: São Petersburgo e Gazprom.
Tanto Putin, como Medvedev nasceram na antiga Leningrado e desde meados da década de 90, quando Putin era vice-presidente da segunda principal cidade russa, trabalham juntos. Com a eleição do ex-agente do KGB como presidente da Rússia, em 2000, Medvedev mudou-se para Moscovo e, dois anos depois, foi nomeado presidente do conselho fiscal da Gazprom, a maior exportadora de gás natural do mundo.
Com a chegada de Medvedev à Gazprom demorou pouco para que este gigante energético, detido maioritariamente pelo governo, comprasse 95% das acções do Zenit, o clube do coração de Medvedev. A injecção de dinheiro da Gazprom — o orçamento para esta época do Zenit é de 126 milhões de euros — permitiu ao adversário do Benfica assumir o controlo do futebol russo e, em 2007-08, a equipa de São Petersburgo tornou-se no segundo clube da Rússia a ganhar uma prova europeia (Taça UEFA).
A 1900 quilómetros de Moscovo a influência de Putin também se faz sentir. No longínquo Daguestão, uma república russa recentemente definida pela BBC como o “lugar mais perigoso da Europa”, onde os turistas são espécie rara, o oligarca Suleiman Kerimov, proprietário da companhia petrolífera Nafta Moskva, está apostado em colocar o modesto Anzhi no mapa do futebol europeu. O multimilionário, amigo pessoal e membro do partido de Putin, diz-se disposto a investir mil milhões de euros no clube da cidade de Makhachkala e pagou, em Agosto, 25 milhões por Samuel Eto’o, que recebe 20 milhões por ano — mais do que Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi. Um dos projectos de Kerimov é construir a “Anzhi City”, um complexo que incluirá um estádio com capacidade para 50 mil espectadores, campos de treino e hotéis de cinco estrelas.
As ligações do Kremlin, de Putin e da Gazprom ao mundo de futebol não se ficam pela Rússia e estendem-se a outras repúblicas da ex-URSS. Rinat Akhmetov é um dos homens mais ricos do mundo e gere o fornecimento de gás à Ucrânia feito pela Gazprom. Com os seus milhões colocou o Shakhtar Donetsk no topo do futebol ucraniano e, tal como o Zenit, ganhou uma prova europeia (Taça UEFA em 2008-09).
 

David Andrade in Público


"O corpo esmagador, poderoso e enigmático da Rússia continua vivo"

por A-24, em 04.03.12
No metro de Moscovo, uma boa parte dos dez milhões de passageiros diários vai a ler. Não livros, nem jornais, mas tablets. Raramente ipads. Quase sempre modelos mais baratos, kindle, ou outros. Há quem diga que estes gadgets são o símbolo da nova classe média russa.
O metro de Moscovo é um prodígio de funcionalidade, apesar do ar barroco. É um organismo vivo, apesar de pré-histórico. As suas 12 linhas com mais de 300 quilómetros abarcam a cidade inteira, uma das maiores do mundo. À superfície, é impossível apanhar um táxi. Mas no "palácio subterrâneo", como o metro é conhecido, tudo desliza com incrível rapidez e facilidade. As estações bem podem ser decoradas com mármores antigos, lustres e estátuas: não há tempos de espera e nada atrapalha o tráfego. Os comboios de azul baço chegam pontualmente com intervalos de 90 segundos. As multidões avançam em rebanhos disciplinados pelos corredores e pelas intermináveis escadas rolantes. Tudo está organizado e indicado.
À excepção da circular que cruza todas as linhas, as outras seguem de forma radial e quase rectilínea do centro para a periferia. Dentro das carruagens, uma voz anuncia cada estação e a seguinte. Mas para que nenhum passageiro tome o comboio no sentido errado, é uma voz de homem que se ouve nos altifalantes das composições que circulam no sentido do centro, e uma voz de mulher nos que se dirigem para a periferia da cidade. A voz masculina representa o trabalho, a feminina o lar, inspirando os passageiros que viajam para o emprego, ou para casa.

A Rússia vai hoje escolher como e por quem quer ser governada. Há cinco candidatos à Presidência, mas o favorito é Vladimir Putin. O seu partido, Rússia Unida, sofreu uma quebra nas eleições legislativas de 4 de Dezembro, mas tudo indica que o líder continua a ter o apoio da grande maioria dos russos. Mesmo entre os que castigaram o seu partido nas urnas, e até entre os que saíram para as ruas protestando contra a falta de justiça e transparência das eleições.
Putin consegue ser um símbolo do que há de pior no país, e também do melhor. Para a oposição política, e para o movimento contestatário, Putin representa a corrupção, a falta de democracia e a estagnação económica. Para os outros representa a estabilidade, a unidade, o progresso e a moralidade possível num país dominado por oligarcas, milionários em promiscuidade com os políticos e estruturas de autoridade corruptas.
Mas vamos aos factos. A Rússia nunca foi tão próspera como é hoje. Vários factores contribuíram para isso, entre eles o aumento dos preços do petróleo e a estabilidade política e social garantida pelos 12 anos de consulado de Putin.

A economia do país cresceu, ainda que os analistas sejam unânimes em reconhecer que ela se baseia muito na exploração de matérias-primas, e pouco na diversificação industrial. Alguns sectores, como o bancário, desenvolveram-se vertiginosamente, o que deu emprego a muitas pessoas. Hoje, um jovem que termina os seus estudos não tem dificuldade em encontrar trabalho. Nasceu uma classe média.
Slava Voronin, de 30 anos, é um exemplo dessa classe de pessoas que aufere um salário razoável (o equivalente a mil ou 1500 euros por mês), pode ter um carro, um empréstimo para um apartamento, uma família, hobbies de fim-de-semana e férias. "Eu adoro o meu trabalho. Todos os dias venho fazê-lo com prazer", disse Slava, que, desde que terminou o curso, já teve cinco empregos. Agora trabalha num banco, 12 a 14 horas por dia, como é normal na nova classe média. Vive longe do centro da cidade, demora uma hora a chegar ao trabalho, de metro. Restam-lhe portanto 8 horas de descanso, "que mal dão para comer e dormir".
Se continuar a progredir, o que implica mudar muitas vezes de empresa, em breve poderá ter uma posição como a do seu colega Ilia Laputin, de 33 anos, que é gestor de Produto no mesmo banco (depois de passar alguns anos a saltar de empresa a empresa), trabalha as mesmas 12 ou 14 horas, mas ganha 10 mil dólares por mês.Entre um caso e outro situa-se a classe média, que representa entre 20% e 35% da população da Rússia, e tem aumentado a um ritmo de 5% a 6% ao ano.
Segundo Natalia Tikhonova, directora na Academia das Ciências da Rússia, esta nova classe média é portadora de uma nova mentalidade. "A meritocracia é o sistema que lhes convém. Querem que haja igualdade perante a lei", disse Natalia. A corrupção não interessa a esta nova classe de profissionais que quer vencer pelo talento e trabalho.
É por isso que muitos deles estão presentes nas manifestações pela justiça e transparência, e que esse movimento de contestação não vai desaparecer.
A Rússia mantém um sistema educativo de elevado nível, herdado do regime comunista, embora tenda hoje a tornar-se cada vez mais elitista. Os russos que lêem Tolstoi nos seus tablets têm também por hábito ir ao teatro, a espectáculos de música e de dança. Em Moscovo, há centenas de peças de teatro em exibição por dia, e as salas estão todas cheias. É verdade que o bilhete para um bailado no Bolchoi pode custar mil euros. Mas num pequeno teatro de bairro, onde a qualidade é alta, custa 5 ou 10 euros.




A nova classe média tem hábitos culturais, mas também neste capítulo a sociedade ainda não responde às suas necessidades. Qualquer pessoa cita Pushkin ou Tchekov, mas se perguntarmos por um autor contemporâneo, quase ninguém é capaz de nomear um.
É como se estes cerca de 50 milhões de russos que dominam a nova sociedade estivessem ávidos de um mundo que as preencha. Não que vivam deprimidos. A euforia é evidente. Ao contrário do que sucede na Europa Ocidental, na Rússia não se fala de crise.
"Os trabalhadores russos são altamente motivados", disse Vladimir Medinski, ex-deputado da Duma pelo partido Rússia Unida e professor de História na Universidade de Relações Internacionais de Moscovo. "Em que país da Europa se encontram pessoas dispostas a trabalhar 12 horas por dia? Na China, por exemplo, as pessoas só trabalham a chicote, quando têm um superior imediato que as obriga. Na Rússia, trabalham porque têm vontade."
Não se trata apenas de vontade de trabalhar. Nasceu também, na Rússia, um equivalente do american dream, ainda mais forte do que o original. Os elementos mais bem sucedidos da nova classe média têm um bom conhecimento do mundo financeiro, e investem o seu dinheiro. Alguns em negócios próprios. O facto é que todos conhecem alguém que enriqueceu em pouco tempo. Há a sensação de que, para ganhar biliões, é necessário ter altas ligações com as autoridades. Mas fazer um milhão está ao alcance de qualquer um. Ou pelo menos estaria, se a corrupção não fosse tão generalizada.

As mudanças de Putin

A Rússia está em acelerado crescimento económico, e pacificada, depois de Putin ter resolvido à sua maneira o problema da Tchetchénia. "Em vez de lutar contra os tchetchenos, pô-los a lutar uns contra os outros", explicou Vladimir Medinski.
É um sistema periclitante, porque depende muito das boas relações políticas (e financeiras) com o actual presidente regional em Grozni, Ramzan Kadirov (ex-rebelde). Mas funciona, pelo menos enquanto Putin estiver no poder.
A crescente imigração de populações do Cáucaso e várias ex-repúblicas soviéticas da Ásia central é percebida como um problema por grande parte da população russa, muito devido à questão demográfica. Os casais russos raramente têm mais de um filho ou dois, enquanto a taxa de natalidade entre os imigrantes, muitos deles muçulmanos, é elevada. Essa é uma das razões para o crescente nacionalismo russo, que se tornou ideologia dominante tanto entre os sectores conservadores como na própria oposição mais radical.No entanto, o que os russos identificam como o principal problema é a corrupção. Admite-o Medinski, que é insuspeito, porque foi, durante oito anos, deputado pelo partido de Putin.
Ela existe em todos os níveis da sociedade, mas onde é mais grave é na Polícia e nos tribunais, além das empresas do Estado. Segundo Medinski, 80% dos polícias são corruptos. Aceitam subornos de todos, o que origina o chamado sistema katcheli (de balancé). Ou seja, se uma parte dá dinheiro, a outra tem de dar mais, e assim sucessivamente, como num leilão.
Com os tribunais é o mesmo. "Se uma parte dá ao juiz um milhão, a outra tem de oferecer dois milhões. Se o juiz for honesto, devolve o milhão à parte que vai perder."
Todo este sistema se faz através dos advogados, cujos escritórios mais bem sucedidos e bem pagos são os que "se especializaram não em encontrar buracos na lei, como seria normal, mas buracos no tribunal, por onde entrem os subornos".
Uma vez, quando era deputado, Medinski perguntou a um ex-general da Polícia o que faria ele se Putin lhe pedisse para acabar com a corrupção na instituição. Ele respondeu: "Eu obedeceria, e teria êxito, com quatro condições: que o Presidente me assinasse, em branco, cem ordens de despedimento de altos funcionários; a garantia de eu não ser despedido; um esconderijo para toda a minha família no estrangeiro; um esconderijo para eu viver isolado, rodeado de segurança militar 24 horas por dia."
Ou seja, só alguém com uma autoridade imensa poderia combater a corrupção, e esse alguém, acredita a maioria dos russos, é Putin.
"Quero ter um líder que sei que toma decisões", disse Andrei Sidorov, doutor pelaLondon School of Economics e professor de História da Rússia. "Há vários tipos de liderança. Obama tem pouco poder nos EUA, não toma decisões sozinho. Ieltsin não tomava decisões sozinho. Putin toma decisões sozinho." A Rússia precisa de um líder assim. "Sempre que não o teve, entrou em decadência e desagregação."
Depois do longo período soviético, a Rússia precisa de reencontrar uma identidade nacional, explicou Sidorov. "E isso só será conseguido com um líder forte e através da cultura e da religião. A Rússia sempre foi um império. A sua identidade reconhece-se aí. Terá de voltar a ser um império. Ao contrário da Europa Ocidental, que vive um período liberal e pós-cristão, a Rússia terá de voltar-se para os seus valores espirituais, para renascer. Daí o interesse que as pessoas estão a mostrar pela História", disse o professor, com lágrimas nos olhos.
E não é pelo facto de estar nos antípodas deste pensamento que artista plástica Marika Maiorova deixa de concordar que o liberalismo económico será o desastre da Rússia. Organizou uma exposição, intitulada No Comment Art, que monta nos locais onde há manifestações anti-Putin. Fez o mesmo em Nova Iorque, há meses, no meio dos manifestantes do Occupy Wall Street.
"Os artistas russos têm-se ocupado a trabalhar sobre a realidade circundante. É impossível ignorá-la", disse Marika. "E a realidade é que as pessoas vivem mal, não têm acesso a nada, o sistema está em colapso."
Na perspectiva dos artistas contemporâneos, a classe média, que os desconhece, não passa de um mito, e o discurso eufórico sobre a nova Rússia é pura mentira.
No metro, os bancos são longitudinais, dispostos frente a frente, e as pessoas olham-se nos olhos. Os caracteres cirílicos acesos no ecrã podem ter sido escritos por Tolstoi, Dostoievski ou Gogol, as mulheres usam mini-saias e saltos altos, apesar de, na rua, a temperatura ser negativa e o piso gelado e escorregadio, a decoração dos sumptuosos átrios e galerias é quase sempre alusiva à ditadura do proletariado, as multidões correm, atropelam-se, raramente falam, apesar de não trazerem crispação nos rostos, nem qualquer agressividade nos gestos, como se fossem personagens de um baile sonâmbulo. É esse ar quente do "palácio subterrâneo", impregnado de sedução, muito leve, que sustenta, para lá das abóbodas, o corpo esmagador, poderoso e enigmático da Rússia.As reportagens na Rússia são financiadas no âmbito do projecto PÚBLICO Mais. Clique aqui.
Paulo Moura in Público

James chegou a tempo de resolver o clássico no Estádio da Luz

por A-24, em 03.03.12
Chegou a Lisboa às 8h30, depois de uma extenuante viagem dos EUA para Portugal. Juntou-se aos seus companheiros às 9h15. Descansou o resto do dia. E ainda teve força para resolver um encontro fundamental para o FC Porto no campeonato. James Rodríguez saltou do banco aos 58’, numa altura em que o Benfica vencia e dominava o clássico, empatou o encontro seis minutos depois e, aos 87’, cobrou o livre para o golo da vitória dos “dragões”. O Sp. Braga pode neste sábado alcançar os “encarnados” no segundo lugar da Liga.
Para o clássico, Jorge Jesus optou pelo desenho táctico mais conservador dos “encarnados” na presente temporada (4x2x3x1), apostando no equilíbrio e estabilidade no meio-campo, com Witsel ao lado de Javi García, antes do trio mais adiantado. 
No lado contrário, Maicon voltou ao flanco direito da defesa, com Otamendi a acompanhar Rolando no miolo. Djalma foi a escolha (previsível) de Vítor Pereira para o lado esquerdo do ataque portista (face à lesão de Varela e ao condicionamento de James, regressado apenas nesta sexta-feira de um jogo particular da selecção, nos EUA, frente ao México), numa linha que incluía Hulk na direita e Janko no centro.
As pedras estavam lançadas e ninguém saiu defraudado com a primeira metade do clássico. Um golo a abrir, outro a fechar os primeiros 45’ e, pelo meio, uma mão cheia de oportunidades das duas equipas. Um primeiro tempo frenético, nem sempre bem jogado, mas inegavelmente intenso.
Pouco afectado com o ambiente “infernal” na Luz, o FC Porto entrou determinado no encontro. Bem organizado colectivamente, com as suas linhas bastante subidas e apostando numa pressão alta, com constante circulação de bola, os “dragões” condicionaram drasticamente a primeira linha de construção do Benfica, que perdeu os primeiros 20’ do jogo.
E a desorientação da equipa da casa foi reforçada logo aos 7’, com um grande golo de Hulk, ao seu estilo. Com espaço, ultrapassou facilmente Emerson, na direita, flectiu para dentro da área e atirou uma “bomba” só travada pelas redes “encarnadas”.
O Benfica demorou a acordar, mas quando o fez criou estragos ao adversário e levou ao erro a defesa menos batida do campeonato. O protagonista da reacção foi Cardozo que, em apenas 18’, sintetizou a relação de amor-ódio que mantém com os adeptos da Luz. Primeiro veio o fel, com o avançado a falhar o golo, aos 23’, quando, sozinho perante Helton, permitiu a defesa do guarda-redes portista. Depois veio o mel, com o paraguaiu numa posição parecida a não falhar.
Mas entre estes dois lances contrastantes, os “dragões” desperdiçaram três grandes oportunidades para chegar ao 2-0. Mérito de Artur que, com duas defesas consecutivas travou os remates de Janko e Álvaro Pereira (36’), numa altura em que os visitantes voltaram a acelerar no encontro. De livre frontal, Moutinho fez ainda a bola cheirar a barra (38’).
Se os portistas precisaram de sete minutos para inaugurar o marcador no primeiro tempo, aos lisboetas chegaram três para inverterem o resultado no segundo. Mais uma vez mérito de Cardozo, que bisou, mas também de Aimar que cobrou o livre directamente para a cabeça do paraguaio.
A perder, Vítor Pereira arriscou tudo (ou quase). Chamou James para o lugar de Rolando (amarelado), puxou Maicon para o seu lugar natural no centro da defesa e adaptou Djalma a defesa direito. E teve resultados. Aos 64’, num contra-ataque conduzido pelo colombiano, este tabelou com Fernando, e recebeu para empatar. O Benfica, que se ressentiu da saída de Aimar, lesionado, aos 52’ (rendido por Rodrigo), não soube reagir. A expulsão de Emerson, aos 78’, por acumulação de cartões amarelos complicou ainda mais a situação.
Vítor Pereira acreditou que podia sair de Lisboa com três pontos chamou Kléber (para o lugar de Moutinho), apostando numa dupla de pontas-de-lança e instantes depois, a sua equipa chegaria ao terceiro golo. James cobra um livre para a área e Maicon (que partiu de posição irregular) aproveitou uma saída em falso de Artur, garantindo o triunfo visitante.
POSITIVO
James
Foi uma semana frenética para o colombiano, mas não podia ter terminado melhor. Jogou 80’, na quarta-feira, na Flórida, frente ao México, e teve forças para decidir o clássico.
Hulk
Apontou o seu primeiro golo em 2012. E que grande golo a abrir o espectáculo.
Cardozo
Dois golos do paraguaio fizeram o Benfica sonhar muito alto, mas acabaram por ser curtos para a vitória.

NEGATIVO
Emerson
Teve culpas no golo de Hulk e a sua expulsão condicionou os “encarnados”.
Jesus
Foi o quarto jogo consecutivo sem vencer 
e poderá ter sido fulcral para 
as aspirações no campeonato.
Artur
Maicon até partiu em 
fora-de-jogo, mas Artur 
teve uma saída em falso no lance do 2-3.




Ficha de Jogo

Benfica, 2
FC Porto, 3

Jogo no Estádio da Luz, em Lisboa.
Assistência 58.222 espectadores.

Benfica Artur, Maxi Pereira, Luisão, Garay (Miguel Vítor, 71’), Emerson, Javi García (Nélson Oliveira, 90’), Witsel, Gaitán, Aimar (Rodrigo, 51’), Nolito e Cardozo. Treinador Jorge Jesus.
FC Porto Helton, Maicon, Rolando (James Rodríguez, 58’), Otamendi, Álvaro Pereira, Fernando, Lucho González, João Moutinho (Kléber, 86’), Hulk (Sapunaru, 90’+3’), Janko e Djalma. Treinador Vítor Pereira.

Árbitro Pedro Proença, de Lisboa. Amarelos Rolando (21’), Álvaro Pereira (24’), Djalma (29’), Cardozo (45’+1’), Emerson (63’ e 77’), Helton (90’+1’), Hulk (90’+2’) e Maxi Pereira (90’+4’). Vermelho Emerson (77’).

Golos 0-1, por Hulk, aos 7’; 1-1, por Cardozo, aos 41’; 2-1, por Cardozo, aos 48’; 2-2, por James Rodríguez, aos 64’; 2-3, por Maicon, aos 87’.

Os filhos de Vladimir Putin agora voltam-se contra ele

por A-24, em 02.03.12

Querem o fim da corrupção e um novo modelo social. Saíram para a rua para forçar as mudanças e para dizer que não há líderes indiscutíveis
Num sofá do café Chocolatniza, em frente ao monstruoso edifício do Banco VTB24, Ilia Laputin toma um "latte". Nas mesas, todas ocupadas, do Chocolatniza, uma das cadeias russas de cafetarias concorrentes do Starbucks, mulheres jovens de mini-saias, saltos altos e casacos de pele, e homens jovens de fato brincam com os seus gadgets. Em mais do que uma mesa se pode ver, alinhados como matrioscas electrónicas, um laptop Apple, um ipad e um iphone
Ilia, de 33 anos, veste fato cinzento e usa o cabelo louro penteado em franja sobre o rosto redondo. "Gosto do meu trabalho", diz ele. "É criativo e variado. Detestaria ficar sentado a uma secretária a desempenhar uma função rotineira". No banco onde está empregado, tem como função contactar com investidores estrangeiros e gerir um produto financeiro. Como Product Manager do VTB 24, um dos maiores bancos da Rússia (de capital maioritariamente público), trabalha muitas horas, mas não se queixa do salário. Está no banco de 10 a 14 horas por dia, por vezes mais. Ao fim-de-semana descansa, se não houver nenhuma emergência.
Ganha 10 mil dólares por mês (120 mil por ano), dos quais paga 13% de imposto sobre o rendimento, como todos os trabalhadores russos. Tem direito a um seguro de saúde, vive com a mulher (que também é funcionária num banco) num apartamento não longe do centro de Moscovo, nas imediações da primeira circular da cidade (o Anel dos Jardins), zona onde as rendas custam sempre para cima de 3 mil dólares por mês.

De casa ao trabalho, usando o metro, demoraria 30 minutos (20 no metro e outros 10 a pé). Mas Ilia precisa de pelo menos uma hora de viagem, porque preferem deslocar-se no seu carro. "Eu e a minha mulher nunca andamos de transportes públicos".

Aos fins-de-semana, o casal descansa numa das suas duas "datchas" (casas de férias). A de Inverno fica perto de Moscovo, a de Verão 300 quilómetros a sul, numa região onde Ilia pode nadar e andar de bicicleta de montanha, os seus hobbies. Nas férias viajam para o estrangeiro. No ano passado visitaram a Austrália.

Ilia Laputin nasceu em Podolsk, uma cidade industrial a 40 quilómetros de Moscovo. Nos anos 90, depois da queda da União Soviética, a zona tornou-se numa das mais perigosas do país, com um surto de criminalidade e actividades das novas máfias. Ilia veio para Moscovo estudar, numa altura em que o ensino ainda era gratuito. Como os pais eram artistas (o pai pintor e a mãe curadora de museus), ele, para contrariar, decidiu estudar ciências. Licenciatura em Física e pós-graduação em tecnologias de laser, na Universidade Russa da Amizade entre os Povos, um estabelecimento que, nos tempos comunistas, era frequentado por estudantes estrangeiros.
Enquanto terminava a pós-graduação, Ilia arranjou, através de um amigo, trabalho em part-time num banco, o Unicredit. A sua função relacionava-se com remote banking, ou seja, cartões de crédito e transferências de capitais. Não se relacionava em nada com a sua área de especialidade, a tecnologia laser. Como também nada tinha a ver com laser o seu segundo emprego, no banco francês Societé General, iniciado mal terminou a pós-graduação, em 2003.
Mas eram os empregos disponíveis, numa altura em que a actividade bancária cresceu rapidamente. Havia tantos que era normal saltar de uns para os outros, consoante as oportunidades. Ilia não tardou a mudar para o italiano Intesa, para onde foi ganhar o dobro, e depois para o VTB24. Sempre por convite, já que os bancos não deixavam os seus créditos por mãos alheias, em termos de caça aos cérebros.
Hoje, Ilia não mudaria de emprego tão facilmente, porque se habituou a uma certa estabilidade. "Já não sou tão jovem, e este é um emprego seguro. Vou aguentar-me aqui mais uns três ou cinco anos. Mas não mais do que isso. Não me imagino a trabalhar no mesmo sítio mais de nove anos".
Quanto à situação social e política na Rússia, o que deseja é o mesmo: estabilidade. "O problema da Rússia não é Putin", diz ele, que ainda não decidiu se, nas eleições de domingo, vai ficar em casa, ou votar no multimilionário Mikhail Prokhorov. "Putin é estável. Com ele, sabemos que continuará a haver vida depois de 2012. E ainda não há uma oposição credível. Serão precisos mais uns cinco anos, até que uma verdadeira oposição se organize".Será precisa "uma evolução", não "uma revolução". Para já, o que é necessário alterar, pensa Ilia Laputin, é o sistema da corrupção. "As decisões, em toda a administração pública, têm de depender de regras, não podem estar totalmente nas mãos de indivíduos, que tenderão a aceitar subornos".

Estagnação da economia

Natalia Tikhonova, directora do Departamento de Ciências Sociais e Económicas da Academia das Ciências da Rússia, explicou ao PÚBLICO por que razão a nova classe média da Rússia tem todo o interesse em combater a corrupção. "São pessoas que são remuneradas de acordo com o seu capital humano, as suas capacidades intelectuais. Por isso é do seu interesse que os cargos sejam atribuídos aos indivíduos com talento, e não a quem tem um amigo próximo do poder. A meritocracia é o sistema que convém à nova classe média. Querem que haja igualdade perante a lei".

Os jovens com empregos bem remunerados, como Ilia Laputin, "pretendem a mudança do modelo social", explica Natalia. "Eles querem respeitar as autoridades. Para um trabalhador não especializado, é suficiente ter um bom salário. Um elemento da nova classe média quer ver as autoridades como parceiros. Até hoje, as autoridades empregam a classe média. A partir de agora, a classe média acha que ela é que emprega as autoridades, que vivem dos seus impostos".
Nos últimos 12 anos (desde que Putin está no poder), a estabilidade política e social, o aumento dos preços do petróleo, o investimento estrangeiro, e crescimento do sector bancário e financeiro, provocaram o surgimento da nova classe média russa. Hoje, os cidadãos que se podem definir como classe média representam entre 20% e 35% da população.
São, de certa forma, os filhos de Putin, embora agora se voltem contra ele. A sociedade estável que lhes permitiu prosperar já não corresponde hoje às suas necessidades de desenvolvimento. Segundo alguns economistas, a classe média cresceu em número até meados da década passada. Desde então, os seus salários têm subido, mas não o seu número. Isso deve-se à estagnação do modelo económico, que se baseia na exploração de matérias-primas, e não diversificou a produção industrial.
"A nova classe precisa que a economia encontre novas áreas de desenvolvimento, para que haja uma maior procura de especialização. Que a Rússia deixe de ser apenas exportadora de matérias-primas, e que se lance noutras esferas da economia". Profissionais como Ilia Laputin querem poder trabalhar nas áreas para as quais estudaram, e não apenas no sector bancário ou afins. O sistema educativo russo continua a garantir um alto nível de qualidade em muitas áreas de especialização, que não são aproveitadas, numa economia pouco diversificada.

É por isso que a nova classe média tem estado presente nas manifestações anti-Putin, "não porque se interesse por política", porque sabe que os candidatos alternativos não dão garantias de melhor comportamento. Mas para forçar as mudanças. "É um diálogo com o poder", explica Natalia. "As manifestações são a única forma que as pessoas têm de ser ouvidas. Para que Putin sinta que não é um líder indiscutível. As pessoas querem-no na Presidência, mas sabem que se ele tiver 70% dos votos cumprirá apenas 10% das suas promessas. Se tiver apenas 50% talvez cumpra um terço delas".

Cachimbo - Eleições na Rússia

por A-24, em 01.03.12






As ideias-chave do programa de Putin para a Defesa e Segurança Nacional foram anunciadas num artigo publicado na semana passada no jornal “Rossiiskaya Gazeta”. Alguns pontos a reter:
23 triliões de rublos (770 biliões de USD) para inovação e modernização da indústria militar e de defesa nos próximos 10 anos.
Equipar todos os Ramos das Forças Armadas com armas e tecnologias de última geração. Nos próximos 10 anos desenvolver um arsenal de mais: 400 mísseis balísticos intercontinentais, 50 navios de guerra, 8 submarinos estratégicos, e cerca de 20 submarinos multifuncionais, mais 2300 tanques, mais de 600 aviões modernos, incluindo caças de quinta geração, mais de mil helicópteros, 28 sistemas de defesa anti-aérea S-400, 38 complexos de defesa anti-aérea Vitiaz, 10 sistemas de lança-mísseis Iskander-M.
Restabelecer o prestígio das Forças Armadas e desenvolver a sua profissionalização.
Aumentar as pensões, salários e benefícios sociais dos elementos das Forças Armadas.
Projectar o poder militar russo, nomeadamente em exercícios navais no Árctico (onde há disputas fronteiriças e ainda muitos recursos energéticos para explorar).


Estes valores de investimento não comparam com os de nenhuma outra área do programa apresentado.

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