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A-24

Prisão perpétua para o "Anjo Loiro da Morte"

por A-24, em 31.10.11
O antigo oficial da Marinha Alfredo Astiz foi condenado a prisão perpétua por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura militar na Argentina (1976-83).
Astiz era conhecido como o “Anjo Loiro da Morte” e foi considerado culpado de tortura, assassínio e sequestros. Entre as suas vítimas estavam duas freiras francesas e fundadores do grupo de direitos humanos Mães da Praça de Maio.
A alcunha de Astiz vem do seu aspecto quase angélico. Mas este antigo capitão da Marinha, agora com 59 anos, foi um dos principais responsáveis pelo desaparecimento de quase cinco mil opositores que foram detidos e torturados na Escola Superior de Mecânica da Armada (ESMA). 
Este foi um dos maiore
s processos judiciais de direitos humanos na Argentina, onde se estima que tenham morrido 30 mil pessoas vítimas da ditadura. E foi também a primeira vez que 16 elementos deste centro de torturas compareceram perante a justiça. 
Doze, incluindo Astiz, foram condenados pelo Tribunal Federal número 5, na noite de quarta-feira (madrugada de quinta-feira em Lisboa), a passar o resto da vida na prisão. Entre estes está Jorge Acosta, com a alcunha de “O Tigre”, que argumentou durante o julgamento que “as violações aos direitos humanos são inevitáveis durante uma guerra”. Os outros quatro receberam penas entre os 18 e os 25 anos de cadeia.
Nenhum outro local se tornou tão emblemático da repressão militar argentina como a ESMA, situada em plena capital, recorda o “El País”. Dali saíram largas centenas de pessoas para aviões que depois sobrevoavam o rio da Prata, para onde eram lançadas vivas, num grotesco ritual semanal. Muito poucos – talvez duas centenas – sobreviveram à passagem pela Escola.
Esta era apenas uma das prisões clandestinas da ditadura, mas era a mais conhecida – e em 2007 abriu as portas ao público como memorial dos direitos humanos.
Em 1998, Astiz gabou-se durante uma entrevista que era “o melhor homem da Argentina a matar jornalistas e políticos”. Depois do golpe de estado de 1976, tornou-se rapidamente um dos membros do grupo 3.3.2, responsável por sequestros, torturas e desaparecimentos da ESMA, onde entrara em 1968. “Não lamento nada”, afirmou. 
Infiltrou-se em grupos de direitos humanos cujos membros foram depois sequestrados, como as Mães da Praça de Maio que lutavam por saber o paradeiro de filhos desaparecidos; foi condenado na Europa à revelia pela morte de duas freiras francesas e uma sueca detidas na ESMA por acolherem familiares de desaparecidos.

A justiça foi feita
A sala de audiências estava cheia e centenasde pessoas juntaram-se à porta, na rua, alguns com fotografias das vítimas dos homens que estavam a ser julgados, refere e Reuters. A leitura de cada sentença era aplaudida pela multidão. Quando chegou a vez da decisão sobre Astiz a multidão gritou: “Filho da puta!”. No fim das sentenças, ouviu-se música, houve dança e abraços na rua.
“Podemos finalmente ficar em paz, sabendo que a justiça foi feita”, disse uma mulher à televisão local. “A justiça é a base da democracia”, comentou à AFP Geneviève Jeaningros, sobrinha de uma das freiras, que veio à Argentina para assistir ao veredicto. “Todos os que deram a sua vida não o fizeram em vão”. 
Com o fim da ditadura militar, em 1983, houve processos por crimes contra os direitos humanos contra membros da junta, mas os detidos foram depois amnistiados e postos em liberdade. A amnistia seria depois revista pelo Tribunal Supremo, em 2005, a pedido do então Presidente Nestor Kirchner (marido da actual chefe de Estado, Cristina Fernandez Kirchner), e desde então que os tribunais condenaram várias figuras do regime.
O julgamento da ESMA, como ficou conhecido, durou dois anos e por lá passaram 160 testemunhas, incluindo 79 sobreviventes que relataram as torturas que sofreram, refere ainda o “El País”. No final, formaram-se 86 acusações por crimes contra a humanidade.
Astiz tentou levar uma vida normal e foi fotografado em clubes nocturnos de Buenos Aires ou em locais de férias, adianta a Reuters. Em todo o caso, por várias vezes foi atacado em público e nunca deixou de ser um símbolo dos abusos da ditadura.

"Sair para não mais voltar"

por A-24, em 28.10.11
O desemprego fê-la emigrar. Foi para a Austrália tirar um curso e arranjou emprego em menos de um mês. Regressar? "Preferia ir trabalhar para o Afeganistão", diz Helena Santos
Público
Foi jornalista durante 10 anos, até ao dia em que a empresa decidiu fazer cortes por causa da crise. Durante meio ano, Helena Santos enviou currículos todos os dias, para todos os lados: jornais e televisões primeiro, depois empresas de assessoria, mais tarde banca, "call centers", supermercados e restaurantes. Respostas? Zero.
Uma licenciatura e uma pós-graduação não eram suficientes. E Helena decidiu investir mais na educação: “Sempre pensei em fazer um mestrado e depois de ficar sem emprego o meu marido teve a ideia de o fazer na Austrália”. Era o momento certo.
Um amigo tinha-lhe falado da Information Planet, uma agência que ajuda pessoas a viajar para a Austrália, e foi lá que procurou informações: “Sabia que queria qualquer coisa relacionada com economia, mas não sabia o que era”, diz a jovem, de 32 anos.

Ir é fácil, ficar é mais difícil
Aterrou em Sydney no dia 8 de Fevereiro deste ano. No dia 23 já tinha um emprego para ajudar a sustentar a vida na Austrália: trabalha num café da Macquire University, onde está a fazer um mestrado em International Business, e com 40 horas de trabalho quinzenais ganha entre 800 e 1000 dólares. Na TVI, onde trabalhava, ganhava 902 euros por mês.
Queria ficar na Austrália para sempre, mas sabe que não será fácil: “O país é muito bom e eles sabem disso, por isso todos os anos redefinem as quotas de imigração”. Há uma lista de profissões desejadas no país – “A minha profissão não está na lista e o meu curso é de menos de dois anos, o que me impede de pedir a residência”, explicou ao P3, a partir de Sydney.
A ideia de voltar a Portugal deixa-a doente. “Estou preparada para arranjar emprego em qualquer parte do mundo”, garante. Não há meias palavras: “Só volto a Portugal se não tiver mais nenhuma hipótese. Preferia ir trabalhar para o Afeganistão. Se tiver de regressar não descanso enquanto não sair outra vez”.

Sydney, uma cidade para todos
A mágoa pelo país é óbvia – “Se pudesse, tornava-me cidadã australiana amanhã” - e Helena Santos garante que, tal como ela, existem muitos portugueses com a mesma vontade: “Não quero contribuir com nem mais um cêntimo para a economia desse país”, assegura.
A Austrália apagou “o medo de sair da zona de conforto” e a paixão por Sydney foi imediata: “É uma cidade gigantesca, mas ao mesmo tempo não se sente o rebuliço”. Há pessoas de todo o mundo e a sociedade aprendeu a viver com isso de forma que garante ser exemplar: “Não se sente xenofobia em lado nenhum, ninguém nos trata de forma diferente por termos um ‘accent’ diferente”.
O investimento que está a fazer é grande: o mestrado custa 39 mil dólares. O trabalho que arranjou na Austrália serve para o resto - habitação, alimentação e livros. Em Junho do próximo ano, quando terminar o curso, há-de fazer tudo para ficar por Sydney. "Até ao último dia do meu visto vou tentar", conclui. 


7 bilioes

por A-24, em 27.10.11
Há cerca de 2000 anos, a população mundial era de apenas cerca de 300 milhões e foram necessários mais de 1600 anos para este valor duplicasse. Atualmente, porém, segundo o relatório da ONU sobre a Situação da População Mundial em 2011 hoje apresentado em Lisboa, 7 mil milhões de pessoas habitam o planeta. 
Uma das questões que o rápido crescimento demográfico coloca é até quando a Terra terá capacidade para sustentar tantas pessoas.

Algumas tendências são notáveis, refere o relatório das Nações Unidas. Atualmente, existem 893 milhões de pessoas acima de 60 anos em todo o mundo, mas em 2050 os sexagenários já serão 2,4 mil milhões.


Juventude, o novo poder global
Já as pessoas com menos de 25 anos compõem quase metade da população mundial. Há cerca de 1,2 mil milhões nas faixas etárias entre 10 e 19 anos.

Esse percentual já é uma realidade em alguns dos maiores países em desenvolvimento. Considerando que os jovens podem ser “uma força poderosa para o desenvolvimento económico”, a ONU recorda que essa oportunidade de “bónus demográfico” é passageira e deve ser aproveitada rapidamente, ou então perder-se-à.
Paralelamente, verifica-se que o segmento populacional entre os 10 e os 24 anos começou a declinar em vários países e não apenas nas nações industriais desenvolvidas, 
No México, por exemplo, onde a fecundidade decresceu de modo significativo nas últimas décadas, a pirâmide populacional tem encolhido regularmente na base, com a faixa etária de 0 a 14 anos a passar de 38,6% do total nacional a 29,3% em 2010. Como consequência, em duas décadas a idade média do país subiu de 19 para 26 anos. 

A ONU chama a atenção para os reflexos do desenvolvimento económico e social sobre a juventude na Índia, onde a taxa de fecundidade de 2,5 filhos por mulher ainda está bem acima do nível de reposição da população (2,1), e há mais de 600 milhões de pessoas na faixa de 24 anos ou menos. 
Com 1,2 mil milhões de jovens, fenómeno que tem atraído o interesse de muitos demógrafos, a Índia está em vias de suplantar a China, considerada a nação mais populosa do mundo, com 1,3 mil milhões de pessoas, segundo o último recenseamento.

Gigantes populacionais
De acordo com as projeções da Divisão de População do Departamento de Economia e Assuntos Sociais das Nações Unidas, em 2025 a Índia, com 1,46 mil milhões de pessoas, terá superado a China (1,39 mil milhões). 
Com base na variante média da projeção da ONU, a população chinesa irá declinar para 1,3 mil milhões em 2050. A Índia, por sua vez, continuará a crescer, devendo atingir os 1,7 mil milhões em 2060, antes de começar a descer.
O continente asiático, onde vive atualmente 60% da população mundial, vai continuar a ser o mais populoso no século XXI. Mas África, que já detém 15% dos atuais 7 mil milhões de cidadãos mundiais, caminha a passos largos para mais do que triplicar a sua população, que cresce a uma taxa de 2,3% ao ano, ou seja, mais do dobro da Ásia 1%).
Assim sendo, enquanto os africanos passarão a ser pelo menos 3,6 mil milhões em 2100 (contra os atuais mil milhões), a população asiática (4,2 mil milhões) atingirá os cerca de 5,2 mil milhões em 2052. Será o seu recorde, começando a declinar gradativamente a partir daí.
Todas as outras populações (Américas, Europa e Oceânia) perfazem 1,7 mil milhões em 2011, e a previsão é que alcancem quase 2 mil milhões em 2060, para então começarem a declinar muito lentamente – embora permaneçam muito próximas desse valor no virar do século. Prevê-se ainda que a população europeia atinja o ponto mais alto por volta de 2025, com 740 milhões de pessoas, para só então começar a declinar.

80 milhões de bebés por ano
O rápido crescimento populacional teve início em 1950, com as reduções de mortalidade nas regiões menos desenvolvidas, o que resultou numa população estimada em 6,1 mil milhões no ano 2000. Ou seja, quase duas vezes e meia a população de 1950. 
De um ponto de vista, o facto de termos chegado aos 7 mil milhões pode ser encarado como um sucesso. Mas, refere a ONU, “nem todos beneficiam dessa conquista ou da maior qualidade de vida associada a esse crescimento. Há grandes disparidades entre e dentro dos países”.

Muito desse aumento populacional deve-se às altas taxas de fecundidade dos países mais pobres, dos quais 39 se situam em África, 9 na Ásia, 6 na Oceânia e 4 na América Latina.

Noutras regiões, ao contrário, a taxa de fecundidade declinou drasticamente desde 1950 até hoje. Na América Central, era de 6,7 filhos. Sessenta e um anos depois, essa taxa caiu para 2,6, ou seja, meio ponto percentual acima do “nível de reposição de 2,1 filhos, sendo um deles rapariga. 

Já no Leste asiático, a taxa era de 6 filhos por mulher em 1950. Atualmente, é de 1,6, bem abaixo do nível de reposição. 
Em África, porém, a queda foi mínima: a taxa de fecundidade atual é de 5 filhos por mulher.

A despeito do declínio das taxas de fecundidade globais, cerca de 80 milhões de pessoas nascem a cada ano, número equivalente ao da população da Alemanha ou da Etiópia.
Publico

Na Coreia do Norte, onde "não há nada a invejar", seis milhões aguardam ajuda alimentar

por A-24, em 27.10.11
As águas dos poços estão contaminadas. Alguns campos podem estar verdes, mas sem bagos de arroz, que não chegaram a nascer. Só raramente se encontra carne ou peixe. Há hospitais sem ambulâncias, há camas com mais de um paciente. Ainda assim, no orfanato de Haeju, no Sul do país, 28 crianças sentam-se no chão para cantar: "Não temos nada a invejar."

A música faz parte de um hino à juche, a ideologia de independência e auto-subsistência da Coreia do Norte que contribuiu para o seu enclausuramento. Mas aquilo que testemunharam os jornalistas da AlertNet (a agência de notícias humanitária da Thomson Reuters Foundation) foi tudo menos a capacidade de o país responder às necessidades da sua população. E é o próprio Governo norte-coreano quem pede ajuda.
A verdade é que "a Coreia do Norte não conseguirá alimentar a sua população num futuro próximo", constatou na segunda-feira a chefe das operações humanitárias da ONU. Valerie Amos avisou a comunidade internacional que está na hora de pôr a política de lado e estender a mão a uma população que corre o risco de não resistir à fome.
"Não julgamos as pessoas [que precisam de ajuda] com base no ambiente político em que vivem", declarou em Seul, uma semana depois de ter visitado o país especificamente para avaliar a sua situação alimentar.

Pior que na Somália

Amos foi autorizada a ver tudo o que pediu para ver. Voltou da viagem de cinco dias com vários números: o país tem um "fosso alimentar" de um milhão de toneladas entre os 5,3 milhões de toneladas pedidas nos últimos anos. As estimativas da ONU referem que mais de seis milhões de norte-coreanos necessitam urgentemente de alimentos (na Somália são quatro milhões). Mas os apelos feitos pelo Programa Alimentar Mundial foram satisfeitos em apenas 30%, com a Rússia e a União Europeia a encabeçar a lista dos principais dadores. "Vi que aonde chegava [a ajuda] fazia uma grande diferença", adiantou.
Praticamente todos os anos, desde a grande fome da década de 1990, que terá morto cerca de um milhão de pessoas (numa população de 24 milhões), surgem notícias de carências alimentares agudas. A situação parece estar a agravar-se porque em 2008 os Estados Unidos e a Coreia do Sul suspenderam a ajuda alimentar: por um lado, devido à insistência de Pyongyang no programa nuclear, por outro, por falta de controlo na distribuição dos alimentos enviados.
Em Junho, um relatório do Congresso americano acrescentava que também a China tinha parado a ajuda. Acontece que estes três países (para além do Japão) contribuíam com mais de 80% da ajuda alimentar destinada à Coreia do Norte entre 1985 e 2009. Foi a redução do seu auxílio que gerou grande parte do défice de um milhão de toneladas.
Apesar dos tufões e das inundações, este não foi um ano particularmente mau para as colheitas - correu até ligeiramente melhor do que 2010 (razão pela qual o Programa Alimentar Mundial da ONU afirmou há um mês que a situação não era assim tão grave). Mas este ano simplesmente não aumentou o "fosso alimentar" referido por Amos. O regime é incapaz de alimentar sozinho a sua população, "mesmo nas melhores condições meteorológicas", cita a AFP.
O problema tornou-se crónico porque faltam terras aráveis, abundam sementes de má qualidade e a agricultura não está suficientemente mecanizada, explicou a responsável da ONU.
Entretanto, os efeitos de duas décadas de malnutrição não param de aumentar. "No Norte [do país], uma em cada duas crianças sofre de malnutrição crónica", adiantou Amos. "Uma enfermeira disse-me que o número de crianças malnutridas no hospital dela aumentou 50% desde o ano passado".

Arroz, couves e milho

No cenário geral, um terço das crianças com menos de cinco anos sofre de malnutrição crónica. A alimentação faz-se à base de arroz, couves, milho e pouco mais; a falta de proteínas e produtos ricos em nutrientes é gritante, com consequências físicas e intelectuais. Os norte-coreanos vivem em média menos 11 anos do que os seus vizinhos do Sul.
"Cada vez mais crianças vão para o hospital com doenças de pele ou outras relacionadas com malnutrição, e agora que o Inverno se aproxima as doenças respiratórias vão tornar-se mais frequentes", continua Amos. Muitas vezes não é no hospital que o problema é resolvido. Faltam medicamentos, meios "e os equipamentos estão completamente obsoletos".Alguns especialistas sustentam que o país sobreviveria melhor às intempéries se adoptasse mais políticas de mercado. Algumas trocas comerciais começaram a ser autorizadas, ou pelo menos toleradas, e várias famílias dependem agora das hortas cultivadas nos seus quintais e mesmo nas varandas, como testemunhou a AlertNet.
O regime tem seguido a orientação de "o Exército primeiro" e alguns críticos da ajuda alimentar acusam as autoridades de desviar o auxílio para os quartéis, ou armazená-lo para enfrentar o endurecimento das sanções, diz a Reuters. Mas, mesmo assim, a fome também chegou aos soldados. As fardas começam a ser mais pequenas, ou ficam largas; a altura mínima para ingressar na carreira militar teve de ser reduzida em dois centímetros.

Cinco coisas que nunca agradecemos como devíamos

por A-24, em 25.10.11

Quando passam noventa anos sobre a sua fundação, convém recordar cinco coisas que não agradecemos como devemos à União Soviética (como se faz aqui): direitos da mulher; legislação laboral; a vitória na Segunda Guerra Mundial; o caminho anticolonial e o progresso científico. Não se devem exclusivamente à URSS, mas esta para eles contribuiu muito.

in Esquerda Republicana

Muammar Khadafi: O fim do coronel

por A-24, em 20.10.11
O "Mad Dog do Médio Oriente", como lhe chamou Ronald Reagan, deixara de ser revolucionário anti-imperialista para se tornar aliado do Ocidente contra o terrorismo. Hoje foi capturado e morto.

Segundo a Al-Jazira o cadáver do coronel, que governou a Líbia com "punho de ferro" durante 42 anos, foi levado para uma mesquita de Misurata; de acordo com a Al-Arabyia o corpo está numa zona comercial daquela cidade, já há vários meses sob o controlo das forças revoltosas no país.
"Anunciamos ao mundo inteiro que Khadafi foi morto às mãos das forças revolucionárias", declarou oficialmente ao início desta tarde o porta-voz do Conselho Nacional de Transição líbio (CNT), Abdel Hafez Ghoga, numa conferência de imprensa em Bengasi, sede do poder. "É um momento histórico, é o fim da tirania e da ditadura. Khadafi encontrou o seu destino", regozijou-se.
Ghoga explicou ter recebido a confirmação da morte do coronel pelos "comandantes [militares] no terreno em Sirte" – "os mesmos que capturaram Khadafi, que tinha sido ferido na batalha" naquela cidade esta manhã, insistiu. "Temos também informações de que uma coluna motorizada foi bombardeada pela NATO e na qual ele estaria em fuga de Sirte. Algumas informações ainda dão conta que os filhos de Khadafi estavam nessa caravana, o que estamos a tentar confirmar", avançou.
A agência noticiosa britânica Reuters revelou entretanto ter recebido um vídeo em que se pode ver o filho de Khadafi Moutassim deitado numa cama, coberto de sangue, "ferido mas claramente vivo no momento em que as imagens foram feitas".
Fonte militar do CNT anunciou porém que Moutassim foi morto por combatentes das forças de transição quando tentou "resistir". A sua morte foi depois confirmada à Reuters pelo ministro da Informação do governo de transição líbio, Mahmoud Shamman. “Moutassin está morto, posso confirmá-lo”, disse. E quando lhe perguntaram onde estava este filho de Khadafi respondeu “com o pai”. 
Mais tarde a estação de televisão Al Arabiya noticiou a morte de outro filho de Khadafi, Saif al-Islam, considerado o braço direito do coronel. A informação não foi inicialmente confirmada, e ocorreu enquanto a Interpol e o Tribunal Penal Internacional apelaram à rendição de Saif al-Islam Khadafi. Chegou a ser referido que este foi cercado quando tentava fugir de Sirte numa pequena coluna motorizada. 
Comandantes de topo do CNT tinham relatado que Khadafi morreu devido aos ferimentos sofridos durante a batalha pela conquista de Sirte contra os últimos combatentes que lhe permaneciam leais. "[Khadafi] foi ferido nas pernas e também na cabeça. Houve muitos tiros contra o grupo em que ele estava e ele morreu", descreveu Abdel Majid Mlegta à Reuters. Esta mesma fonte relatara um par de horas mais cedo que o coronel tinha sido ferido quando tentava fugir, de madrugada, numa coluna de veículos que foi atacada por aviões da NATO.
Da NATO veio já a confirmação oficial de que os seus aviões atacaram uma coluna motorizada à saída de Sirte, pelas primeiras horas da manhã de hoje, mas sem admitir nem rejeitar que Khadafi se encontrava em algum dos veículos atingidos no raide aéreo.
A televisão líbia Al-Ahrar difundiu uma imagem como sendo do cadáver de Khadafi, com o tronco e cabeça ensanguentados e os olhos abertos, rodeado por outras pessoas. Outras imagens, de uns seis segundos de vídeo, obtidas pela agência Getty e transmitidas pela CNN, mostram o corpo a ser retirado de uma camioneta de caixa aberta, virado da posição de bruços no chão para cima e, aparentemente, sendo-lhe tirada a túnica ou camisa, ensanguentada, que vestia.
Um outro dos comandantes das forças envolvidas na tomada da cidade natal do "Mad Dog" ("cão raivoso") afirmara cedo de manhã que Khadafi tinha sido "gravemente ferido mas ainda respira”. Esta fonte, que integra as unidades que combateram na zona oeste de Sirte, afirmou ainda à agência noticiosa francesa AFP ter visto o deposto líder “com os próprios olhos” e descreveu que vestia uma túnica e um turbante.
Um combatente do CNT relatou por seu lado à Reuters que Khadafi estava escondido “num buraco” de onde saiu a gritar “não disparem, não disparem”. A CNN mostrou imagens de combatentes das forças de transição a mostrarem uma enorme conduta dupla de água, dois largos túneis de cimento no chão, por onde alegadamente Khadafi estaria a tentar escapar-se quando foi capturado.Segundo a televisão Líbia Livre, o coronel foi capturado junto com o seu filho Moutassim, o antigo chefe dos serviços de segurança Mansour Daou e o ex-chefe dos serviços secretos Abdallah Senoussi.
Uma televisão pró-Khadafi desmentiu entretanto, no seu site, "a captura ou morte" de Khadafi. "As informações divulgadas pelos lacaios da NATO sobre a captura ou morte do irmão líder Muammar Khadafi não têm fundamento", é sustentado, com a garantia de que o coronel "está de boa saúde".
Os Estados Unidos e a NATO sublinharam não terem de momento meios para confirmar nem negar a captura de Khadafi, cujo regime caiu simbolicamente com a conquista da capital, Trípoli, a 21 de Agosto, pelas forças militares do CNT, a única “autoridade legítima” actualmente reconhecida na Líbia pela generalidade da comunidade internacional.
A confirmar-se de forma independente a morte ou a captura de Khadafi, tal ocorre sete meses após o início dos raides aéreos da NATO, mandatados pelas Nações Unidas para “proteger os civis líbios”, e oito meses depois do eclodir do movimento de rebelião no país, em que as primeiras manifestações foram reprimidas violentamente pelo regime.

Notícia actualizada às 18h40 (e corrigida: "Mad Dog" era a alcunha de Khadafi, que se traduz por "cão raivoso" e não "raposa do deserto")

Um "ditador chique" com vários estilos e nomes

por A-24, em 20.10.11
Muammar Khadafi era uma figura enigmática, que a Vanity Fair descreveu como "vilão da moda", com influências de Lacroix, Liberace, Phil Spector (no cabelo), Snoopy e Idi Amin. Mas se parece fácil catalogar os diferentes estilos das suas vestes, o seu nome permanece um indecifrável mistério.

A Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, por exemplo, regista 32 grafias diferentes: (1) Muammar Qaddafi, (2) Mo'ammar Gadhafi, (3) Muammar Kaddafi, (4) Muammar Qadhafi, (5) Moammar El Kadhafi, (6) Muammar Gadafi, (7) Mu'ammar al-Qadafi, (8) Moamer El Kazzafi, (9) Moamar al-Gaddafi, (10) Mu'ammar Al Qathafi, (11) Muammar Al Qathafi, (12) Mo'ammar el-Gadhafi, (13) Moamar El Kadhafi, (14) Muammar al-Qadhafi, (15) Mu'ammar al-Qadhdhafi, (16) Mu'ammar Qadafi, (17) Moamar Gaddafi, (18) Mu'ammar Qadhdhafi, (19) Muammar Khaddafi, (20) Muammar al-Khaddafi, (21) Mu'amar al-Kadafi, (22) Muammar Ghaddafy, (23) Muammar Ghadafi, (24) Muammar Ghaddafi, (25) Muamar Kaddafi, (26) Muammar Quathafi, (27) Muammar Gheddafi, (28) Muamar Al-Kaddafi, (29) Moammar Khadafy, (30) Moammar Qudhafi, (31) Mu'ammar al-Qaddafi, (32) Mulazim Awwal Mu'ammar Muhammad Abu Minyar al-Qadhafi.

Em 1986, o coronel respondeu a uma carta enviada por uma escola do Minnesota (EUA), clarificando que a maneira correcta de escrever o seu nome é Moammar El-Gadhafi. A dúvida ficaria resolvida se o seu “site” oficial não o identificasse como Muammar Al Gathafi.

Geert Wilders visto ao espelho

por A-24, em 18.10.11


No Cachimbo de Magritte, há quem se entusiasme («grande homem», diz-se) com o extremista holandês Geert Wilders.
Vejamos. Wilders defende que não se construam mais mesquitas, que não entrem mais muçulmanos na Holanda e que os que lá estão saiam, e que se proíba o Corão. E é elogiado por alguns. Mas se Wilders defendesse que não se construíssem sinagogas na Holanda, que não entrassem mais judeus na Holanda e que saíssem os que lá estão, e que se proibisse a Torá, seria considerado um anti-semita e um filo-nazi.
Wilders é uma resposta a um genuíno problema contemporâneo: o fascismo islâmico. Mas é a resposta errada. Não se responde a um fascismo com outro fascismo.

Esquerda Republicana

Salário mínimo aumentou apenas 88 euros nos últimos 37 anos

por A-24, em 16.10.11
O salário mínimo nacional teve um acréscimo de apenas 88 euros desde 1974, enquanto as pensões mínimas de velhice e invalidez aumentaram apenas 38 euros nos últimos 36 anos, segundo dados da Pordata.
A propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinala amanhã, a base de dados sobre Portugal contemporâneo da Fundação Manuel dos Santos divulgou alguns dados estatísticos relativamente à situação económica e social do país. Comparando a evolução do salário mínimo e das pensões mínimas de invalidez e velhice desde 1974 até 2010, e descontando o efeito da inflação, constata-se que hoje os beneficiários desses apoios sociais auferem apenas mais 88 euros e 38 euros respectivamente.
Nesse mesmo ano (2010), correspondia a 15% da população portuguesa o número de pensionistas de invalidez e velhice da Segurança Social com pensões inferiores ao salário mínimo. Significa que perto de um milhão e meio de pessoas estavam nessa situação. Além disso, mais de meio milhão de pessoas recebiam o Rendimento Social de Inserção, quase metade (47%) dos quais com menos de 25 anos.
Em 2009 (últimos dados disponíveis), Portugal era o quarto país da UE com maiores desigualdades entre ricos e pobres, sendo que o rendimento dos mais ricos era seis vezes superior ao dos mais pobres (a média europeia era de cinco). No mesmo ano, mesmo após as transferências sociais, quase uma em cada cinco pessoas (17,9%) era pobre, sendo que 37% dos agregados constituídos por um adulto com uma ou mais crianças viviam em situação de pobreza.
Em quatro anos (de 2005 a 2009), Portugal passou do 17.º para o 9.º país com a taxa de risco de pobreza mais alta da UE, isto apesar de essa taxa, após transferências sociais, ter diminuído. Sem as transferências sociais, o risco de pobreza em Portugal seria cerca do dobro do que é actualmente, revela ainda a Pordata. Em Portugal é pobre quem vive com um rendimento mensal (por adulto) próximo dos 400 euros.

Tribunal iraniano confirma condenação do cineasta Jafar Panahi

por A-24, em 15.10.11
Um tribunal de recurso iraniano confirmou a condenação a seis anos de prisão do cineasta Jafar Panahi, que fica também proibido de realizar filmes durante vinte anos, viajar ou dar entrevistas. 
Há vários anos que o Irão figura nas listas de países onde se registam maiores níveis de censura estatal à actividade online dos seus cidadãos, a par com nações como a China, Arábia Saudita, Síria, Cuba, Vietname, Turquemenistão e Uzbequistão. 
Precisamente para tornar agilizar este trabalho de censura, o regime iraniano está a desenvolver uma rede paralela de Internet para os seus cidadãos, em vez de se limitar a bloquear sites como o Facebook e sobretudo blogues reaccionários.
A nova rede já começou a ser experimentada nas escolas públicas. “A rede interna vai fortalecer o país e preservar a nossa sociedade e a ameaça das invasões culturais”, disse o Presidente Mahmud Ahmadinejad recentemente.
Actualmente, o acesso à Internet é dificultado: os utilizadores precisam de pedir permissão estatal ou pagar preços incomportáveis pela ligação.
Apesar destas dificuldades, as estimativas dão conta que quase 40 por cento dos habitantes do Irão estão ligados à Internet. O Irão foi, aliás, o primeiro país islâmico a ligar-se à Internet no Médio Oriente e o segundo da região, depois de Israel. Porém, desde a chegada à presidência do país de Ahmadinejad que a censura tem vindo a aumentar.
De acordo com o “The Wall Street Journal”, as autoridades estão a explicar aos cidadãos que com a adopção desta rede paralela e interna, estes pagarão menos pela Internet e continuarão a salvaguardar os princípios islâmicos da revolução.
Em Fevereiro, enquanto os protestos se estendiam pelo mundo árabe exigindo mais democracia, o director das telecomunicações do Irão, Reza Bagheri, anunciou que em breve 60 por cento dos lares do país e das empresas teriam acesso à nova rede interna de comunicação e que, dentro de dois anos, esta estaria disseminada por todo o país.
O OpenNet, que monitoriza a censura online no mundo, também já reconheceu que o Irão produziu tecnologia própria para filtrar e bloquear os conteúdos de Internet no país.
No seu mais recente relatório, este instituto adverte para o crescente protagonismo dos Guardiães da Revolução (que velam pela pureza religiosa do país) neste domínio.
Durante as eleições presidenciais de 2009, o regime bloqueou as páginas dissidentes.
Alguns media locais dão igualmente conta que o país terá o seu próprio sistema operativo, em vez de usar o omnipresente Windows, da Microsoft, e que está igualmente a arranjar alternativas aos serviço de correio electrónicos mais usuais, nomeadamente o Gmail, Hotmail e Yahoo.

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