A rejeição do pedido de adesão de Bucareste e Sofia ao espaço Schengen, por causa do veto dos Holanda, deveria ser motivo de regozijo para os habitantes dos dois países. De facto, estima o De Volkskrant, foi uma coisa que os vai encorajar a lutar mais contra a corrupção e o crime organizado.
É raro romenos e búlgaros receberem boas notícias. No entanto, a 22 de setembro, isso aconteceu. O Conselho de Ministros da União Europeia decidiu adiar, sem marcar data, a entrada da Roménia e da Bulgária na zona Schengen de livre circulação de pessoas.
Em Bucareste e em Sofia, esta decisão vai dar azo certamente a algumas objeções: depois da adesão dos dois países à UE, em 2007, o alargamento da zona Schengen é um objetivo prioritário. A decisão, dos Holanda, de vetarem (com o apoio da Finlândia) a eliminação dos controlos fronteiriços com a Bulgária e a Roménia, não foi muito bem recebida.
Foi possível tomar esta medida na fronteira romena. Desde 17 de setembro que vários camiões de tulipas holandesas ficaram bloqueados. Segundo a alfândega, podem conter uma bactéria perigosa. Alguns veículos pesados já foram reenviados para trás. É provável que as reações não se fiquem por esta “guerra das flores”: o ministro búlgaro dos Negócios Estrangeiros já anunciou represálias.
Não se sabe se búlgaros e romenos vão concentrar-se nos protestos contra os respetivos governos. Uma sondagem recente revela que não veem grande inconveniente no veto neerlandês. Um búlgaro em cada três compreende a justificação do adiamento da entrada no espaço Schengen, mesmo que a Bulgária já satisfaça as condições de acesso. Compreendem o raciocínio dos Holanda, que argumentam que Sofia e Bucareste têm de registar primeiro progressos na luta contra a corrpção e o crime organizado.
Haia responsável por tarefas domésticas em Bruxelas
Não é a primeira vez que Haia assume uma tarefa ingrata em Bruxelas em vez de outros Estados-membros. Os Holanda já bloquearam a adesão da Sérvia à UE, porque Belgrado se recusou a colaborar na detenção de criminosos de guerra. Sabemos que estas pressões permitiram, nestes últimos anos, a captura de todos os que eram procurados.
No caso da Roménia e da Bulgária, os resultados não serão necessariamente piores. Mas é agora ou nunca que é preciso intervir. Assim que os dois Estados-membros mais pobres da UE ganharem a batalha, deixarão de dar ouvidos a Bruxelas.
Para todos os que se preocupam com a situação dos búlgaros e dos romenos, o veto neerlandês é forçosamente uma boa notícia. Tenho a certeza de que, na Bulgária e na Roménia, o controlo de fronteiras é menos assustador do que a corrupção e o crime organizado.
Há uns anos, Lidya Pavlova, jornalista búlgara, recebeu o prémio Courage in Journalism porque se atreveu a escrever sobre os mafiosos da sua cidade. Uma atitude que pagou cara. Ficou com o carro destruído e o filho foi atingido gravemente e foi parar duas vezes ao hospital.
Muitas coisas mudaram desde então. O calvário desta jornalista durou vários anos, mas os dois chefes da máfia local acabaram por ser presos, mesmo que a cidade ainda não seja completamente segura. Quando a tentei entrevistar, há um mês, Lidya Pavlova arranjou uma desculpa. “Não quero ter problemas”, respondeu. “Já me partiram doze vezes os vidros do carro.” E assim como Lidya Pavlova se preocupa com os vidros do carro, também eu sou a favor da manutenção do controlo de fronteiras.
A força política, nascida após o estabelecimento do primeiro Partido Pirata na Suécia, prometia crescer já desde as últimas legislativas. Mas nada fazia prever os 8,9% de há uma semana nas eleições da cidade-estado. Tanto que todos os integrantes da lista (15 em 149 deputados estaduais) foram eleitos: se tivessem ganho mais votos, ficariam com lugares por preencher.
O que querem os piratas? Na primeira conferência de imprensa, os novos deputados foram bombardeados com perguntas. Um jornalista perguntou mesmo se o grupo seria apenas um “bando caótico de arruaceiros”. Desajeitados perante as câmaras, tentaram escudar-se atrás dos computadores portáteis abertos.
Os seus principais cavalos-de-batalha são a legalização das cópias privadas, a protecção de dados online e a luta contra a censura, embora defendam também mais transparência dos processos de decisão política e dos concursos públicos.
Para Berlim, fizeram ainda propostas como a criação de uma rede de Wi-Fi gratuita em toda a cidade e transportes públicos grátis, propondo ainda um salário mínimo.
Os piratas assumem o seu amadorismo nas questões de processo político – que os analistas não se cansam de dizer que é caracterizado por grande complexidade e burocracia – mas querem impor um novo paradigma: a “democracia líquida”. Tudo com base na interactividade da Internet, que daria mais poder aos cidadãos no processo político – e legislativo.
O mesmo para a orientação política, ainda indefinida. A pergunta foi posta pelo próprio partido no seu fórum oficial, conta o jornal Die Zeit. “Somos de direita ou de esquerda?”
O líder parlamentar, Andreas Baum (escolhido por sorteio), admitia que os piratas têm de ir “experimentando”. “Não temos nenhum grande plano estratégico, ainda temos de pôr os resultados numa tabela de Excel”, disse, citado pela revista Stern.
Os novos Verdes?
O Partido Pirata, actualmente com 12 a 13 mil membros, tem desencadeado uma avalanche de comparações com os Verdes no seu início. Também são um partido de “causa única”, apresentada com irreverência, e o modo como se vestem sublinha esta imagem – na tomada de posse alguns usavam sweatshirts com capuzes, fazendo lembrar Joschka Fischer, dos Verdes, que tomou posso nos anos 1980 no estado federado de Hesse com ténis brancos e um blazer desajeitado.
Os slogans dos piratas são provocatórios e bem-humorados: “Pergunta aos teus filhos por que deves votar nos piratas” ou “Nós temos as perguntas, vocês têm as respostas” ou ainda “Não acredites no que lês nos cartazes de campanha – informa-te”.
Os Partudo Pirata obteve dois por cento dos votos nas últimas eleições parlamentares. Tal como os Verdes em 1980, não conseguiram superar os cinco por cento necessários para entrar no Parlamento federal. Mas os Verdes conseguiram-no três anos depois – e dez anos após a representação parlamentar chegaram ao Governo, em coligação com os sociais-democratas de Gerhard Schröder. Hoje, os Verdes são considerados o partido que poderá decidir as eleições de 2013, e poderão ser cortejados até, dizem analistas, pela própria Angela Merkel.
Os piratas gostam da comparação, mas sublinham a mudança nos Verdes. “Acho que os Verdes são agora um partido conservador”, criticou Sebastian Schneider, um dos membros do grupo de deputados berlinenses do partido. “Ainda não decidiram se se juntam ao lado negro da força”, comentou, numa alusão mista ao Star Wars e a uma possível coligação com a CDU, partido cuja cor é o preto.
Os piratas poderiam ser uma “excentricidade berlinense”, uma cidade onde “sempre houve mais pessoas que escolhem partidos não-convencionais para expressar descontentamento”, diz Holger Liljeberg, do instituto de sondagens Info, à Reuters. Mas há quem recuse esta abordagem: “Se a situação no país não fosse tão grave, poder-se-ia atribuir o sucesso dos piratas a uma “especificidade berlinense” – as coisas são sempre um bocadinho diferentes na capital”, dizia o diário Rhein Zeitung. “Mas a vitória dos piratas expõe os partidos tradicionais ao ridículo. Ninguém mais deveria celebrar esta eleição, muito menos o FDP”, que só conseguiu 1,8%.Aliás, Liljeberg nota que os piratas podem convencer parte do eleitorado “clássico” do Partido Liberal Democrata (FDP) ao defender menos intervenção do Estado nas vidas dos cidadãos. “Estão a falar de tópicos superliberais, enquanto o FDP tem negligenciado a sua matriz liberal”.
Algumas polémicas
Mas apesar da curta existência, o Partido Pirata já teve polémicas. A primeira surgiu com a entrada do deputado social-democrata Jörg Tauss, investigado por posse de material pornográfico infantil. Na altura, era discutida uma proposta de lei que obrigaria as empresas fornecedoras de Internet a bloquear o acesso a sites com pornografia infantil – os piratas argumentavam que apagar o material seria mais eficaz e que esta lei é um precedente que poderá deixar o caminho livre para o Governo bloquear outro tipo de sites. A entrada de Tauss deu aos piratas um deputado no Bundestag, mas a relação nem chegou a um ano porque Tauss foi condenado e saiu do partido em Maio de 2010.
Outra controvérsia teve a ver com uma alegada ligação aos neonazis: líderes partidários deram entrevistas ao Junge Freiheit, um semanário de extrema-direita, e aceitaram como membro um antigo neonazi – embora depois de rebentar a polémica o partido se tenha assegurado de que se tratava de um arrependido.
Foi a vez da Suécia. A onda xenófoba que inunda a Europa, de Leste a Oeste, atingiu o país-modelo da Escandinávia, laboratório do "Estado social europeu". Nas eleições de domingo, o partido Democratas Suecos (SD) alcançou 5,7 por cento dos votos e entrou pela primeira vez no Parlamento. Dirigido por Jimmie Akesson, de 31 anos, o SD centrou a campanha na denúncia da imigração como factor de risco para a identidade nacional e fonte de criminalidade. Depois de ter tentado dar alguma respeitabilidade ao partido, acabou a mobilizar o núcleo duro dos militantes apresentando o islão como "a maior ameaça estrangeira à Suécia desde a II Guerra Mundial". O diário sueco Dagens Nyehter desenha o retrato-robot do seu eleitor: "Jovem, masculino, trabalhador manual, residente no Sul do país, onde a pressão estrangeira é mais forte. Muita desta gente votava social-democrata até estas eleições. Hoje, descobre o medo do outro."
Síndrome de Estocolmo
Estas eleições têm um duplo significado: a irrupção xenófoba e aquilo que a Economist definiu como "a estranha morte da social-democracia sueca". O Partido Social-Democrata, que após 1932 governou a Suécia durante 65 anos, teve a pior votação desde 1914, com 30,8 por cento dos votos. É ainda o maior partido, mas dá sinais de declínio e falta de ideias. "Os sociais-democratas deixaram de simbolizar o modelo sueco. Perderam a magia e já não sabem como escrever a história do modelo", diz à AFP o politólogo Stig-Björn Ljunggren. Quando os analistas definem estas eleições como "o fim de uma época", assinalam sobretudo o ocaso da social-democracia sueca, com evidentes reflexos na social-democracia europeia. A coligação do centro-direita, Aliança para a Suécia, do primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt, ficou nos 49 por cento, o que significará a perda da maioria absoluta. Mas, faltando contar os votos por correspondência, nenhum cenário pode ser excluído. Reinfeldt manter-se-á no poder. Se tiver de formar um Governo minoritário, fará recair sobre a oposição o ónus da estabilidade, impondo-lhe acordos pontuais. "Com um partido xenófobo no Parlamento, é necessário ser aberto a negociações transideológicas", escreve em editorial o Dagens Nyheter. Não se repetirá em Estocolmo o exemplo dinamarquês, em que um executivo minoritário da direita liberal é sustentado pela extrema-direita xenófoba, que passou a condicionar a agenda governamental. Mas a perspectiva de estabilidade política não reduz o impacto da ascensão do SD, qualificada como "um terramoto". Bem pelo contrário, pois, no caso sueco, não há o álibi da crise económica. Ainda há um ano em recessão, como efeito da crise internacional, é hoje a economia que mais fortemente cresce na Europa Ocidental. Eleito em 2006, o Governo Reinfeldt lançou uma reforma eficaz do "Estado social". Reduziu algumas prestações consideradas excessivas e impôs um maior controlo dos abusos, assegurando a sustentabilidade do modelo de protecção social, que continua a ser um dos mais generosos e eficazes do mundo. Reduziu a a pressão fiscal sobre os trabalhadores. Fez algumas privatizações. O PIB deverá crescer 4,5 por cento este ano e o desemprego, na casa dos oito por cento, começa a diminuir. O factor imigração parece jogar em estado puro. Os estrangeiros representam hoje 14 por cento da população total, número-recorde na Europa. A imigração decorre mais do asilo do que de razões económicas. Na cidade industrial de Södertälge - a da Scania e da Astra-Zeneca - onde o SD teve uma das maiores votações, os estrangeiros representam 44 por cento dos habitantes. Houve sucessivas vagas: primeiro turcos e sírios, depois bósnios, a seguir iraquianos, afegãos ou somalis, ao sabor das crises e guerras. No caso dos refugiados, o Estado assegura um subsídio, alojamento e protecção social. Uma parte da opinião pública acusa os imigrantes de não se integrarem e ameaçarem a prosperidade sueca. Esta atitude não é um fenómeno novo na Suécia. Em 1991, com uma percentagem muito mais baixa de imigrantes, o fantasma do "estrangeiro" permitiu o sucesso efémero de um partido xenófobo, a Nova Democracia.
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Eu não pago o buraco da Madeira enquanto os portugueses da Madeira ostentarem os privilégios da "insularidade". Até porque em 2011 a questão da insularidade é altamente questionável. A Madeira é mais isolada do que Trás-os-Montes? Não, não é, até porque é difícil atracar um paquete em Bragança. O mesmo pode ser dito sobre o Alentejo interior. Pedir a um alentejano que pague a "insularidade" da Madeira é quase um insulto. Além disso, a Madeira já é uma das regiões mais ricas de Portugal. A solidariedade devia partir dos madeirenses e não dos alentejanos, transmontanos ou beirões. A Madeira devia ajudar partes do continente, e não o inverso.
Eu não pago o buraco da Madeira enquanto os madeirenses viverem à custa dos meus impostos, dos nossos impostos "cubanos". A Madeira retém os seus impostos locais (ou seja, não dá um cêntimo ao resto do país) e depois - como já vimos - paga impostos nacionais a taxas inferiores. Adivinhem quem paga a diferença? Claro, os idiotas dos "cubanos". A Madeira ainda recebe um subsídio de "insularidade" de 300 milhões e a sua dívida foi perdoada várias vezes. Por quem? Pelos idiotas dos primeiros-ministro "cubanos". Como se tudo isto não fosse suficiente, a Madeira voltou a endividar-se e, pior, escondeu a fatura de forma ilegal. Não há como fugir à questão: Alberto João Jardim fugiu à lei, ou seja, a sua governação foi conduzida à margem da lei. E fez isto num momento de altíssimas dificuldades financeiras para o país. Moral da história? A autonomia tem sido a desculpa para a impunidade. Ora, esta brincadeira tem de acabar. Portugal é só um. Portugal é uma nação. Nesta altura de crise, não pode haver enteados "cubanos" e filhos madeirenses. Todos têm de pagar a conta de forma igual.
A João Paulo Peixoto, não falta nenhum carimbo no passaporte e, há pouco, em Israel, completou uma lista de 204 países, o que faz dele um dos mais viajados portugueses, se não o mais viajado. Já esteve preso em África, teve que pagar subornos para seguir viagem, escapou a um terramoto. Por estas e por outras, sabe que é "um homem de sorte".
"Ninguém me ouve dizer que sou o português mais viajado do mundo. Não uso desses rótulos, porque isto são coisas que os viajantes guardam para si e podem haver outros na mesma situação que eu, sem ninguém saber. O que eu digo é que acabei o mundo. Estabeleci uma meta, dediquei-me a ela vários anos e agora cumpri-a". É assim que João Paulo Peixoto explica a importância que atribui ao facto de, nos seus inúmeros passaportes, contabilizar carimbos relativos a 204 países - 193 reconhecidos pela Organização das Nações Unidas e 11 ditos independentes.
Se a sua primeira viagem foi a Vigo, para comprar caramelos e chocolates que não tinham importância maior do que adoçarem-lhe a infância, a última foi a Israel e selou esse projecto tardio, que começou a delinear-se apenas há oito anos, mas já se deu por cumprido agora em Agosto. Razão para querer conhecer todos os países do mundo? Mais do que a curiosidade natural de quem gosta de viajar, para João Paulo Peixoto tratou-se de uma manifestação de orgulho: "O meu primo Jorge Sequeira tinha viajado muito mais do que eu - devia ter visitado uns 80 países quando eu só tinha ido a 50 - e eu quis ter mais países do que ele. Disse-lhe 'Vais ver se não te ganho!' e a partir daí comecei a levar aquilo a sério."
A pressão foi sendo evitada com "metas pequeninas": primeiro, o objectivo era apenas superar o político Mário Soares, que tinha visitado 130 países; depois, a missão passou a ser a de ultrapassar o Papa João Paulo II, que na sua lista tinha 150; e apenas em 2006 é que não restava alternativa que não fosse "viajar pelo mundo todo" e avançar para "a escolha cirúrgica, chata, de escolher apenas os países que faltavam".
Aos 47 anos de idade, este economista e professor de Gestão não revela como geriu a sua vida pessoal, profissional e financeira para concretizar aquele que é um sonho inalcançável para a maioria das pessoas, mas garante que consegui-lo "não é tão difícil quanto se pensa" e recomenda sobretudo método e "interesse pelo outro". "É que eu não sou um turista", realça João Paulo Peixoto. "Sou uma pessoa que gosta de viajar, de contactar com os locais, de se inserir no seu mundo e de conhecer o ambiente real das coisas."
Em termos práticos, isso vem implicando rigor a vários níveis, começando pela "definição de um roteiro com base na pesquisa realizada não só em guias, mas também em conversas com pessoas que já estiveram nesses destinos, o que é decisivo no caso dos países mais complicados e ajuda muito na questão das burocracias".
O passo seguinte é a bagagem: "Leva-se o mínimo imprescindível, de acordo com a duração da viagem". A mais longa foi de seis semanas no Pacífico - com paragens em Tonga, Tuvalu, nas Ilhas Salomão, em Kola e em Futuna - e a mais curta foi de quatro dias na Guiné Equatorial - onde João Paulo Peixoto só conseguiu visto de entrada depois de uma empresa local lhe garantir contrato de trabalho. Mas qualquer que seja o prazo da estadia, o português tem sempre consigo uma câmara de fotografia e vídeo, roupa velha que não lamente estragar "se tiver que dormir no chão do aeroporto ou em sítios piores", e "folhas de papel soltas" em que possa escrever as suas impressões sobre a viagem.
Também obrigatório é que metade da mala parta vazia. "Preciso desse espaço para as coisas que trago sempre, de todos os sítios onde vou", explica. "Quero sempre um CD ou DVD com música tradicional, um livro de receitas culinárias, um ou mais livros de fotografia sobre o país, uma ou mais peças de artesanato, às vezes uma t-shirt engraçada com referência ao local e ainda a colecção completa de todas as notas e moedas que lá têm em circulação."
"Se há viagens em que se quer companhia, há outras em que se gosta de ir sozinho". As preferidas são as "viagens épicas", como a Rota da Seda, o comboio Transiberiano e todos os grandes percursos que se possam fazer de carro, mas, na maioria das vezes, "metade do tempo passa-se a pensar no trabalho que fica à espera em Portugal", pelo que a volta se quer sempre às sextas-feiras, para "dois dias de descanso a sério antes do regresso à vida normal".
Já em casa, João Paulo Peixoto admite que fica desanimado se lhe faltam os mimos de boas-vindas. Gosta de acompanhá-los com "grandes jantaradas entre amigos" e, porque a maior parte dos CD e DVD que traz consigo raramente chegavam a ser ouvidos, os seus filhos têm agora direito a "dias temáticos, em que ficam a conhecer tudo o que exista lá em casa sobre determinado país".
Acabado o mundo, resta ao professor descobrir novos detalhes ao hemisfério e partilhar com os outros aqueles que já conhece. Para isso, a tarefa que tem em mãos é escrever um livro sobre as coisas que "Só sabe quem lá vai" e dá-las a ler numa edição multimédia, em que as imagens que recolheu por esse mundo fora passem a ter mais sorte do que até aqui. Afinal, o economista diz não notar a inveja natural que as suas viagens possam despertar em quem o rodeia, mas é ao considerar a hipótese que parece descobrir a explicação para uma tristeza recorrente: "Será por isso que os meus amigos nunca querem ver os meus vídeos?"
Esse é, no entanto, um desgosto menor. João Paulo Peixoto já esteve preso em África, viu-se obrigado a pagar cinco subornos consecutivos para prosseguir viagem pelo Congo e receou o pior nas Seychelles, quando o obrigaram a despir-se integralmente perante polícias com luvas de látex. Mas o facto é que deixou as Ilhas Salomão "dois dias antes de um terramoto enorme"; saiu do Hotel Intercontinental, no Iraque, "seis meses antes de os talibãs lá terem ido chamar os hóspedes estrangeiros para os matarem a todos"; e abandonou um autocarro marroquino onde não tinha lugar vago, pouco antes de o ver despistar-se numa ravina, provocando 39 feridos e a morte de nove portugueses.
"Sei que sou um homem com sorte", reconhece o viajante. "Se às vezes não reparava nisso, depois de Marrocos não me esqueço mais."
As viagens de eleição
Índia, 2002
"Se alguém quiser verificar se tem realmente espírito de viajante, é pela Índia que deve começar." Não foi o caso de João Paulo Peixoto, que só aí chegou em 2002, mas ele esclarece: "Quem tem filhos, sabe que eles despertam o melhor que há em nós. A Índia funciona da mesma forma - desperta o melhor de cada viajante. Pela forma de estar na vida dos indianos, pela forma como se relacionam e pela sinceridade com que o fazem, comprovam que Rousseau tinha razão quando dizia que todo o Homem nasce naturalmente bom".
Irão, 2005
Se a ideia que se tem do Irão é de "violência, perigo e mulheres maltratadas", o mais viajado português garante que "a realidade não é nada disso". Em 2005, rendeu-se à simpatia e hospitalidade dos iranianos, que, "embora ostracizados, não sentem ódio nenhum pelos americanos ou europeus", denunciando "elevação de espírito" suficiente para "distinguirem entre os políticos e os povos".
Iémen, 2011
João Paulo Peixoto esteve este ano preso no Iémen, onde as autoridades desconfiaram da extensa lista de carimbos do seu passaporte, mas a situação resolveu-se após uma noite de cárcere e o que "na altura não tinha graça nenhuma" é agora "uma boa história para contar". A essa há que acrescentar, contudo, vários relatos sobre a arquitectura local, as ilhas do país, a "fantástica simpatia árabe", a "comida fabulosa" e até a Kalashnikov que o português aprendeu a manusear para participar na salva de tiros de um casamento iemenita.
Birmânia, 2009
"Temos a mania que nos países autocráticos toda a gente vive infeliz, mas na Birmânia as coisas são ainda piores do que no Irão e as pessoas estão bem, tranquilas e seguras", garante João Paulo Peixoto, que lá esteve em 2009, quando se rendeu à cultura e monumentalidade do país, e também à vivência "tradicional e pura" das suas gentes.
Paquistão, 2010
"Muito parecido com a Índia", o Paquistão de João Paulo Peixoto é o das cheias de 2010, o que lhe permitiu um contacto mais profundo com a comunidade local. Ajudou os refugiados com trabalho físico, apoiou algumas famílias com dinheiro que um ancião distribuiu por quem mais precisava e gravou e fotografou "tudo, como se fosse um jornalista". "Com 50 euros eles sobreviviam um mês", recorda, "e foi a intensidade daqueles dias que me marcou".
Carimbo mais desejado
"Não há." Depois de visitados os 193 países reconhecidos pela ONU e ainda os 11 considerados independentes, João Paulo Peixoto quer apenas "repetir os carimbos" daqueles em que já esteve, mas onde ainda tem "muito mais para conhecer".
Bilhete de identidade
João Paulo Seara Sequeira do Vale Peixoto nasceu em Braga, a 23 de Março de 1964. Muitos conhecem-no como o português mais viajado; alguns chamam-lhe "A Besta" - desde que, há uns anos, enviou do Montenegro uma mensagem de telemóvel em que dizia isto aos amigos: "Hoje sinto-me como uma besta e vou dar cabo desta cidade." Pai de duas meninas de 16 e 13 anos, tem também um rapaz com 15 e outro mais novo, com cinco, que, em homenagem ao país onde foi "concebido", esteve quase para chamar-se "Pedro de Brunei", não fossem as "esquisitices selectivas" do Registo Civil.
A sua primeira viagem foi a Vigo, para compras; depois muitas a França, para onde o seu tio se mudara depois de "fugir à tropa"; e daí seguiu-se a Bélgica, onde o mesmo tio acabou por casar. Só depois é que os destinos começaram a diversificar-se, de forma que, aos 30 e poucos anos, João Paulo Peixoto acumulava já a visita a uns 50 países, entre os quais os Estados Unidos e a China ressaltam como os mais frequentados.
Alegrias em viagem, o economista diz ter duas: ser convidado para casamentos e rebentarem-lhe os sapatos ao caminho - "porque isso é sinal de que os levei até ao fim", explica. Mas também gosta de arranjar tempo para conhecer animais e o seu favorito é o dragão de Komodo, "que só se encontra em duas ilhas da Indonésia e faz lembrar o tempo dos dinossauros". Ainda assim, também fala com carinho dos ursos polares brancos do Canadá, dos pandas da China, do diabo da Tasmânia, "que existe mesmo e não é só nos desenhos animados", e dos gorilas do Ruanda, "que se aproximam para tocar nas pessoas, sem medo, e um dia destes deixam de existir".
De paladar, gosta de experimentar tudo e nas comunidades árabes aprendeu até a seguir o regime de "pureza" do Ramadão, que agora diz cumprir todos os anos, onde quer que esteja, "porque tem razão de ser e faz bem ao corpo". Os muçulmanos são, aliás, o seu povo de eleição. "Há muitas ideias erradas sobre eles, mas são quem melhor sabe distinguir entre o bem e o mal." (link)
Não é sadismo, é egoísmo. Egoísmo deles, que se afastam dos países resgatados como de leprosos. Egoísmo nosso, que vemos no contágio uma saída para o degredo. Com "isto" da Itália, Portugal já não será expulso do euro. Os políticos europeus vão deixar de se comportar como homens das cavernas. E resolver o problema.
A Europa levou nos últimos dias um par de chapadas: uma foi o corte do "rating" de Portugal para lixo; a outra foi a alucinação destrutiva de ontem nos mercados. Já ninguém acredita em soluções nacionais para a crise de dívida soberana do euro. Só há solução europeia. Política acima da austeridade. Não em vez dela, mas acima dela. Portugal sofreu o dano colateral dessa mensagem enviada pela Moody's, como disse ontem Maria João Rodrigues. Ninguém crê mais no modelo de resgate dos países europeus. Nem os mercados, nem os credores, nem as agências de "rating". Acreditam os líderes da Alemanha e da França. Merkel é o Sócrates da Europa: em negação até à ruína. Daí o cinismo: obrigado, Berlusconi. Obrigado pela birra com um ministro das Finanças credível, cuja possibilidade de saída colocou os holofotes na terceira maior economia da Zona Euro. Ontem foi um dia horrível nos mercados, mas teve essa vantagem. A de deixar claro que não é possível conter o problema de Grécia e de Portugal, e da Irlanda, atrás de cercas imaginárias. A quarentena não evita o contágio.O maior medo de Portugal é ser expulso do euro. Esse cenário existe entre os que querem "purificar" a Zona Euro: exterminar as células contaminadas, expulsar a Grécia e Portugal. Portugal pode, desde ontem, perder o medo. Um corpo pode viver sem dois braços, mas não se lhe pode amputar o coração. A Itália é grande de mais: se falha, cai o euro. Então, o que fazer? O curioso é que não faltam soluções. Uma delas é defendida pelo próprio ministro italiano das Finanças, Giulio Tremonti: obrigações europeias. Outra foi proposta na semana passada por Stuart Holland, de retirar a dívida pública até 60% do PIB dos países europeus dos mercados, e assim também do alvo das agências de "rating". Outra ainda foi discutida em Março, no mesmo dia em que Portugal anunciou o PEC 4 e lançou uma crise política suicida: a flexibilização do fundo de emergência, que passaria a comprar dívida pública dos países acima de uma determinada taxa de juro (relativamente à Alemanha). Nenhuma destas soluções foi aprovada, basicamente porque a Alemanha, acompanhada da França, não quer. Não apenas porque a pressão das suas opiniões públicas o dificulta. Mas também porque querem envolver os credores privados no prejuízo.
Daí que Sarkozy tenha proposto renovações garantidas dos empréstimos bancários. Mas as agências de "rating" já vieram classificar a manobra como "default" selectivo. E "default" é a palavra proibida para oBCE, que diz que as consequências de um incumprimento são imprevisíveis. Há uma música arrepiante de Laurie Anderson, chamada "From the air", em que um comandante de um avião comunica aos passageiros, pelo intercomunicador, que o avião se vai despenhar. Com a calma de um louco, diz: "não há piloto, vamos todos cair, saltem do avião, ah, ah, ah". Esta é a imagem da Europa: os comandantes a mais estão a discutir na cauda do avião de quem é a culpa da queda, e deixaram a cabina vazia. O pânico nos mercados, a dívida portuguesa a 20% a três anos, as acções a derreterem, o stress com a banca europeia, a Grécia a falhar: tudo isso é o pânico de ver descontrolado este avião que é a União Europeia. Quem está cá em baixo já nem quer saber dos passageiros, o que quer é que o avião não lhe caia em cima.
A tenista australiana Samantha Stosur, nona cabeça de série, conquistou neste domingo, pela primeira vez, um torneio do Grand Slam, ao derrotar a norte-americana Serena Williams, 28.ª, na final do Open dos Estados Unidos.
Frente a uma adversária que parecia recuperar a forma que já lhe rendeu 13 provas do Grand Slam, Stosur foi mais forte e precisou de apenas 1h13s para vencer a sua segunda final de um “major”. Em 2010, a australiana, de 27 anos, tinha perdido a final de Roland Garros para a italiana Francesca Schiavone. Em 1997, Samantha Stosur disse aos pais que não ia para a escola enquanto não terminasse de ver pela televisão a final do Open dos EUA em que actuava o compatriota Patrick Rafter. Passados 14 anos, Stosur não desperdiçou uma segunda oportunidade para conquistar um título do Grand Slam. Contrariando o favoritismo de Serena Williams, que jogava em casa - e, horas antes, anunciara querer vencer para dedicar a vitória aos familiares das vítimas do atentado de 11 de Setembro -, a australiana de 27 anos realizou uma exibição sólida, para ganhar o derradeiro encontro em Flushing Meadows, por 6-2, 6-3. “Foi um dos meus melhores dias num local onde sempre gostei de jogar. Era um sonho meu estar aqui um dia. Não sei bem o que dizer o que sinto, mas é mais ou menos o que esperava que iria sentir”, afirmou Stosur, antes de receber o troféu e o correspondente cheque de 1,2 milhões de euros. O público que encheu o Arthur Ashe Stadium recuperou do choque de ver Serena ser dominada pelo ténis agressivo de Stosur, que se tornou apenas na segunda australiana a triunfar no Open dos EUA, sucedendo a Margaret Court, em 1973. Serena foi penalizada pela enorme ansiedade de querer dar o título aos norte-americanos numa data tão importante para os EUA. E isso revelou-se no início do segundo set quando insultou a árbitra de cadeira depois de esta, correctamente, lhe ter retirado um ponto, por ter gritado antes do ponto ter terminado.
As consequências políticas de uma fragmentação de uma zona monetária são muito sérias. Aos efeitos monetários e económicos associar-se-ão provavelmente um de dois resultados: "Ou se caminha para uma resposta mais autoritária de governo para conter ou reprimir a desordem social - um cenário que tenderá a exigir uma mudança de governo democrático para autoritário ou militar -, ou, em alternativa, a desordem social se misturará com fraturas na sociedade para dividir o país, redundando em guerra civil".Estes cenários são apresentados num relatório de choque do banco UBS, da autoria de Stephane Deo, Paul Donovam e Larry Hatheway, a que o Financial Times e o Business Insider tiveram acesso.
Apesar do cenário negro, o relatório admite que a zona euro acabará por evoluir, mesmo que lentamente (o ministro das Finanças alemão falava hoje no Financial Times dos alemães serem adeptos de "pequenos passos") e muito dolorosamente, para a integração orçamental e a governação económica.
Mas as conclusões para que o relatório aponta merecem reflexão no detalhe:
1- A zona euro não pode continuar com esta estrutura e com estes membros atuais. "Ou a estrutura atual muda, ou os membros terão de mudar". Mas a fragmentação ou liquidação da zona monetária única tem um custo ainda mais elevado.
2- O custo para um "periférico" ronda os 40 a 50% do seu produto interno bruto (PIB) no primeiro ano depois da saída do euro. Para cada cidadão do país que sai, o custo dessa saída rondará os 9500 a 11500 euros no primeiro ano e entre 3000 a 4000 euros por ano nos anos subsequentes.
3- No caso de um país do "núcleo duro" da zona euro, uma saída do euro implicaria uma bancarrota de empresas de referência, a re-estruturação do sistema bancário e o colapso do seu comércio internacional. O impacto, no caso da Alemanha, por exemplo, seria de 20 a 25% do PIB.
4- Em termos comparativos, para o caso germânico, a saída do euro implicaria para cada alemão um custo de 6000 a 8000 euros no primeiro ano e entre 3500 a 4500 euros por ano nos anos subsequentes, enquanto que um resgate completo da Grécia, Portugal e Irlanda, em caso de bancarrota, custaria, apenas, 1000 euros de uma só vez.
5- Mas o custo económico e monetário deve ser "a última das preocupações dos investidores". Porquê? Porque as consequências políticas são mais gravosas ainda: "Merece a pena salientar que quase nenhuma união monetária moderna se dissolveu sem alguma forma de governo autoritário ou militar, ou guerra civil".
Acresce ainda um outro detalhe que não é referido pelo relatório. Para além das consequências políticas de regime ou de guerra civil, a turbulência nos países "periféricos" da atual zona euro traria consequências geopolíticas, em situações de caos político e desagregação do estado e da sociedade. Estes países encontram-se no que se designa em geoestratégia de zonas de embate (shatterbelt) entre grandes potências, frequentemente sujeitas, ao longo da história, a serem palcos de disputas diretas ou indiretas de terceiros próximos ou longínquos.
A fábrica do mundo é a China, o centro de serviços é a Índia, os Estados Unidos são o centro comercial, e a Europa é um museu. Ouvi esta definição há meia dúzia de anos e ela parece-me cada vez mais pertinente. Com uma nuance: na altura ainda podia parecer agradável viver num museu, hoje está a revelar-se insuportável. Como tem resultado evidente durante esta crise das dívidas dos países periféricos. Pelo menos desde que Oswald Spengler publicou, em 1917, A Decadência do Ocidente, que se discute o fim da hegemonia europeia ou, se preferirmos, da hegemonia atlântica para podermos incluir os Estado Unidos. Ainda ontem o historiador britânico Timothy Garton Ash voltou ao tema no Guardian, Lembrando Spengler, num texto sintomaticamente intitulado “Os Estados Unidos e a Europa empenhados numa competição pela decadência”. Nessa crónica punha o dedo na ferida: “De ambos os lados do Atlântico temos vivido acima das nossas possibilidades”. Até à crise de 2008 as formiguinhas do mundo – na alegoria com que abri esta peça, os chineses e os indianos – iam trabalhando o suficiente para sustentar o desvario consumista dos americanos e o conforto adormecente dos estados de bem-estar europeus. Agora esse tempo acabou, e não deixa de ser significativo que Europa e Estados Unidos tenham chegado, ao mesmo tempo, à beira do precipício. Ou que os dilemas que enfrentam sejam, sobretudo na Europa, dilemas que desafiam não só modos de vida a que nos habituámos, como instituições que levámos décadas, ou mesmo séculos, a construir. Vale pois a pena perceber o que está a acontecer para vermos como é fácil, em nome da economia e de construções utópicas, minar hábitos democráticos e equilíbrios institucionais. Quem quer que tenha folheado os jornais ou ouvido televisão por estes dias não conseguiu fugir à explicação autorizada da origem de todas as dores europeias. Primeiro que tudo, faltariam líderes à Europa, pois ninguém no Velho Continente se ergueria à altura dos “deuses” da construção europeia. Depois disseram-se que, na Alemanha, mora uma bruxa má que, parece, quer destruir o legado dos seus antepassados visionários. Por fim, repetiu-se por todo o lado que a única solução para a crise passaria por uns famosos eurobonds ou algo equivalente, ou seja, por um mecanismo que levaria as economias sólidas do centro da Europa a garantir as dívidas dos mal-comportados da periferia. Explicaram-nos até por que razão a Alemanha está condenada a ter de voltar a assinar o cheque, pois fá-lo-á “em nome do seu próprio interesse”. Não deixa de ser curiosa a forma como, neste mantra repetido a toda a hora, se invertem os valores morais: a culpa da crise das dívidas, por exemplo, deixa de ser de quem se endividou para passar a ser de quem cumpriu as regras. Pior: ao mesmo tempo que, em abstracto, se protesta contra “os bancos”, em concreto entra-se em alvoroço quando os bem-comportados solicitam, com absoluta legitimidade, que se divida com esses mesmos bancos alguns dos ónus associados à operação de resgate de quem gastou irresponsavelmente o que não tinha nem podia gastar.
O mais grave nestes raciocínios é a forma perversa como continuam a olhar para o processo de construção europeu, mantendo-se fiéis ao que podemos designar como a “agenda oculta” dos pais fundadores: manietar a Alemanha mantendo “a bicicleta em movimento”, isto é, aproveitando todas as crises para aprofundar a integração e a federalização da Europa. A moeda única, recorde-se, foi uma concessão arrancada por Miterrand à Alemanha para aceitar a sua reunificação. Agora, em nome da “não desintegração” dessa moeda única, quer-se impor à Alemanha a aceitação de um laxismo que esta tentou impedir com o Tratado de Maastricht. Mas não só. Apesar de os povos europeus se terem sempre oposto – sempre que foram consultados – a novas transferências de poder para o centro da União Europeia, não falta quem, em nome da crise, queira impor uma subversão dos tratados que passará pela existência de mais poder federal e por novos mecanismos de transferência de recursos financeiros entre Estados. Robert Schumann e Jean Monnet, dois dos pais-fundadores da Europa unida, imaginaram que, em cada crise, forçando o caminho para mais integração se iria também forçando a própria realidade, e a verdade é que esse mecanismo funcionou até agora, como recordava John Kay esta semana no Financial Times. No entanto o processo implicou sempre riscos e, desta vez, chegámos a um ponto que foi bem sintetizado por Jeremy Warner no Daily Telegraph, pois o “economicamente insustentável” – o euro na sua forma actual – entrou em choque com o “politicamente inaceitável” – a união fiscal necessária para o salvar. Velhos discípulos dos pais fundadores, como o grupo de europeístas encabeçado por Jacques Delors que assinou um texto no Le Monde, mantêm-se na linha de forçar a realidade: “a necessidade fez a lei”, escreveram para saudar o que vêem como novos instrumentos de “governação económica”.
Desta vez, porém, a Alemanha tem resistido o mais que pode, e compreende-se porquê. Primeiro porque, como lembrava Geoffrey T. Smith no Wall Street Journal, “todos os governos alemães desde 1991 prometeram aos contribuintes que estes nunca teriam de honrar dívidas contraídas por outros países”, razão por que os eleitores aceitaram uma década de austeridade. Depois porque um sistema em que as dívidas dos países incumpridores são garantidas pelas boas contas dos países cumpridores é um estímulo ao incumprimento. Logo uma receita para desastre futuros.
Durante mais de cinco décadas foi possível gerir este mecanismo da “bicicleta” – ou da fuga em frente face a cada crise – porque, apesar das previsões de Spengler, a Europa manteve-se não apenas como uma região de bem-estar, mas também como um dos motores da economia global. Hoje perdeu esse papel e o estrondoso fracasso da famosa “estratégia de Lisboa” não permite qualquer optimismo face ao futuro. Como se isso não fosse suficiente, a Europa é, a par com o Japão, uma região do mundo em processo de acelerado envelhecimento, tendo perdido o dinamismo demográfico e confrontando-se com a necessidade de ter de cuidar de cada vez mais idosos. A alegoria do museu é, neste domínio, especialmente certeira.
Ora uma região do mundo que enfrenta este tipo de problemas não pode pensar que, face ao precipício, basta tomar balanço e saltar para o outro lado. Pelo contrário. Necessita de rever não só o seu modo de vida – e não de pedir aos alemães para consumirem mais, como estava na moda fazer há apenas um ano… – como de questionar as suas instituições. A austeridade não corresponderá a um período transitório após o qual se regressará à folia dos anos de boom, antes terá de permitir uma revisão em baixa dos padrões de vida, encontrando equilíbrios ao mesmo tempo mais justos e mais sustentáveis. A crise nas instituições europeias também não deve estimular mais integração, pois ela não corresponderia ao nível de integração das diferentes identidades europeias e não seria servida por instituições realmente democráticas (as instituições europeias não cumprem os mínimos em termos de requisitos democráticos, é bom reconhecer).
Talvez no curto prazo, para evitar males maiores nesta fase de turbulência financeira, seja necessário encontrar mecanismos europeus mais integrados do que os actuais. Será até inevitável. Porém gostaria de encontrar líderes europeus que, em vez de continuarem a sonhar com utopias federalistas e de falaram da “sua” Europa, equacionassem a melhor forma de fazer marcha-atrás em todas as áreas onde isso se revele necessário. Alguém capaz de dizer, com José Régio: “Sei que não vou por aí!”
Membros do grupo afirmam, num registo em vídeo, que esta decisão foi tomada há meses, "para pôr em marcha um processo democrático".
A organização separatista já antes declarou por duas vezes tréguas, ambas abandonadas. Não é de resto claro, avança a BBC, se esta declaração agora feita é de um fim das acções armadas a termo temporário ou definitivo.
Este vídeo surge numa altura em que a ETA está sob enorme pressão, tendo sido presos vários líderes do grupo separatista a par de uma cada vez mais clara tomada de posição por parte dos partidos políticos bascos pressionando a organização a declarar cessar-fogo.
Enquanto o vídeo está a ser analisado pelo ministério do Interior, e pela presidência do Governo espanhol, o diário "El Mundo" dava conta do "profundo cepticismo" de José Luís Rodriguez Zapatero.
O chefe do executivo espanhol terá comentado que o gesto da ETA parece insuficiente. "A ETA deve saber que não está em condições de propor condições", afirmaram fontes próximas de Zapatero. "Tudo o que se espera dela é o abandono definitivo às armas."
O ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, contactou os grupos políticos e o Governo basco, para falar do alcance e da resposta ao comunicado da organização separatista basca, segundo fontes do ministério ao "El País".
Fontes do Governo espanhol tinham expressado ao diário "El País", numa primeira reacção ao comunicado, que se trata de "um passo mais da ETA", mas que aquilo que o grupo terrorista tem que fazer é entregar definitivamente as armas.
Uma opinião semelhante foi espressada por fontes da luta antiterrorista no país, que disseram ao mesmo jornal, também sob anonimato, que este passo fica aquém do que era esperado por parte da organização separatista: "Não anunciam nem a entrega das armas nem o fim da violência; não é suficiente".
As autoridades em Espanha já deixaram muitas vezes claro que só depois da renúncia à violência por parte da ETA é possível abrir a porta a negociações.
A campanha violenta da ETA pela independência do País Basco causou a morte de mais de 820 pessoas ao longo das últimas quatro décadas.