Christopher Nolan é um génio. É um senhor que já nos demonstrou o seu talento e mestria, especialmente em The Dark Knight, que revolucionou completamente o cinema. É impressionante a evolução de Nolan, está constantemente a superar-se a si próprio, proporcionando-nos filmes cada vez mas fantásticos, complexos e densos. Em Inception, não desilude e volta a mostrar-nos que estamos perante um grande realizador, através de um filme que nos mantém vidrados de início ao fim devido à sua genialidade e complexidade. O realizador "arquitectou" um filme interessante, brilhante e multifacetado (literalmente), tanto na narrativa como na própria temática do filme, em que exige dos espectadores absoluta atenção e concentração para que seja possível perceber-se na íntegra. A mínima desconcentração pode fazer com que se perca o fio à meada, mas apesar da complexificação de Inception ser inegável, considero-o, e tenho a certeza que muitos irão concordar comigo, como dos melhores filmes de 2010. Ou pelo menos, nenhum filme é capaz de suplantá-lo em termos de originalidade.
Nolan conseguiu o improvável, pois fazer um filme como Inception, em que a dicotomia entre percepção e realidade está tão bem explorada e aprofundada, e em que se cria labirintos enigmáticos que nos fazem questionar as nossas próprias concepções do que é o real, não é algo que se faça com facilidade. Isto porque filmes sobre sonhos e subconsciente são usualmente categorizados como "estranhos", e são de difícil concretização. Só prova mais uma vez o indiscutível talento de Nolan, não só porque teve a ideia, mas porque também foi capaz de concretizá-la. Como a personagem Cobb bem diz "What is the most resilient parasite? An Idea!". A premissa de Inception tem várias camadas de complexidade, e o facto de Nolan ter conseguido executá-la na perfeição, é fenomenal. Mas como referi, não é um filme fácil de se perceber de início, mas sendo merecedor da vossa atenção total, não se tornará assim tão complicado, e ao fim dos 148 minutos de filme, ficarão totalmente perplexos, maravilhados e satisfeitos.
Não vou sequer tentar explicar a fundo o enredo, pois é dotado de imensas e inteligentes reviravoltas, e como já devem ter percebido, é simplesmente difícil fazê-lo devido à sua elaborada história. Até o próprio Nolan nunca revelou muito da história até à sua estreia... Deve concordar comigo, pois na minha opinião, sem dúvida que a melhor maneira de se visionar o filme é mesmo a saber pouco e tendo uma mente aberta. O impacto será muito maior.
A temática do filme não é nova, a questão do real e dos sonhos e a exploração dos mecanismos da mente, mas a original abordagem de Christopher Nolan, coloca Inception num nível completamente acima dos demais. É importante realçar outro ponto muito positivo. O filme está envolvido numa magnífica banda sonora por Hans Zimmer! Eu penso que um bom filme tem sempre que ter uma fantástica banda sonora. O som é algo que inevitavelmente atrai, e em Inception, está mesmo qualquer coisa de extraordinário.
E ainda para mais, quando o filme tem o elenco que tem - Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Lewitt, Cillian Murphy, Michael Caine, e Marion Cotillard -, é impossível questionar-se a qualidade do filme. Os actores são, de facto, outra mais-valia que contribui para seu grande sucesso. Pois verdade seja dita: Um filme pode ter as cenas de acção mais espectaculares de sempre, mas quando as personagens são mázinhas, interpretadas por actores mauzinhos, o filme perde o interesse todo. Felizmente, isso não acontece em Inception. Temos personagens muito bem construídas, diferentes umas das outras, e grandes actores a interpretá-las. Leonardo DiCaprio teve um grande ano, e soube mesmo escolher os papeís. É um grande actor. Sinceramente não percebo porque não foi reconhecido individualmente pela Academia, começo a considerar que o problema poderá ser pessoal! Marion Cotillard está absolutamente genial, proporcionando-nos a melhor interpretação do filme.
Como poderei concluir? É um filme obrigatório de se ver que nos faz pensar, é assustadoramente belo! Recomendadíssimo. (Depois do Cinema)
O Governo holandês quer apertar as regras de trabalho para a imigração proveniente dos países da UE. Primeiras vítimas: os polacos, presentes em grande número no país. Mas isso pode sair caro à economia local, adverte o Gazeta Wyborcza.
A mão de obra barata da Polónia, Roménia, Lituânia e Bulgária faz mover milhares de empresas holandesas e setores de atividade inteiros, como a agricultura. Dos 160 mil a 200 mil imigrantes radicados na Holanda desde 2004, a maioria é polaca. Para o holandês médio, os polacos bebem em demasia, estacionam mal os carros, adoram fazer festas à noite e, para cúmulo, não falam holandês. O problema é que, se não forem eles, não há ninguém para escolher tomate, construir casas ou plantar tulipas.
A presença dos nossos compatriotas é particularmente problemática em grandes cidades como Roterdão, Utrecht, Amesterdão e Haia. Marnix Norder, um dos vereadores da Haia, usou o termo "tsunami polaco" para descrever a presença polaca naquela cidade, avaliada entre 20 e 30 mil pessoas. Apesar da reação da Embaixada da Polónia, o termo foi retomado pelos políticos.
A campanha contra os imigrantes atingiu o auge com a intervenção do Partido para a Liberdade, formação xenófoba liderada por Geert Wilders, que apoia o Governo do primeiro-ministro Mark Rutte. Isso com o consentimento da sociedade holandesa, cada vez menos favorável à integração europeia.
O "turismo dos subsídios"
Infelizmente, esse clima de xenofobia, atiçado pela Comunicação Social, alcançou o poder. Em fevereiro passado, Henk Kamp, ministro dos Assuntos Sociais e do Emprego, declarou ao diário holandês De Telegraafque os imigrantes da Europa Oriental sem residência e sem emprego fixo deviam ser devolvidos aos países de origem, ou mesmo expulsos se se recusassem a sair por sua iniciativa.
No início de abril, o mesmo ministro apresentou ao Parlamento uma lista de propostas supostamente mais capazes de regular a situação neste setor do mercado de trabalho. Kamp diz pretender acabar com os intermediários fraudulentos que não respeitam a lei e sujeitam os imigrantes a trabalhos forçados. As propostas visam igualmente aquilo que é conhecido em Amesterdão e na Haia, por "turismo dos subsídios". Polacos, romenos e búlgaros vão para a Holanda em busca de uma vida melhor, mas, se perdem o emprego (ou não o encontram), ficam sem teto e passam a viver de subsídios.
Agora, o ministro sugere que, sem meios de subsistência, ao fim de três meses, os imigrantes de países da UE devem perder o direito a residir na Holanda. Assim, polacos, romenos, mas também alemães e franceses, desempregados há mais de três meses, devem despedir-se da terra dos moinhos de vento e das tulipas.
Além disso, todos os trabalhadores imigrantes de países da UE deverão sujeitar-se a registo nos serviços de imigração. As autoridades locais passariam então a ser responsáveis pela verificação das suas condições de alojamento (hoje, às vezes, vinte imigrantes polacos e romenos vivem amontoados num único apartamento). Os empregadores que explorem os imigrantes com propostas de “cama e mesa” a preços inflacionados devem ser severamente punidos. Kamp pretende também que o acesso às prestações sociais seja reservado a pessoas que dominam a língua do país.
Polónia recusa "leis discriminatórias"
Com grande número das propostas do ministro holandês a raiarem a discriminação, o Governo da Polónia foi rápido a reagir. "Temos uma posição crítica e esperamos que leis discriminatórias não entrem em vigor no Reino da Holanda. Esperamos também que a Comissão Europeia esteja muito atenta a este assunto", disse recentemente o porta-voz do ministério polaco dos Negócios Estrangeiros, Marcin Bosacki.
O ministério enviou ainda a Haia uma carta oficial, informando que a ideia de deportar os polacos desempregados da Holanda põe em causa uma das liberdades fundamentais da UE, a da livre circulação de pessoas. Neste ponto, Varsóvia conta com o apoio de Bruxelas. No final de fevereiro, Viviane Reding, vice-presidente da Comissão Europeia responsável pela Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, alertou a Haia contra qualquer tentativa de violar as regras comunitárias.
A atitude dos holandeses irritou as organizações de polacos a viver na Holanda. Malgorzata Bos-Karczewska, responsável do portal da comunidade polaca Polonia.nl e presidente da Associação de Peritos Polacos na Holanda, publicou no prestigiado diário NRC Handelsblad um artigo crítico sobre a hipocrisia holandesa. Com o título "Trabalhem ou desapareçam!", aconselha os polacos a trabalhar na Holanda a irem para a Alemanha, que abre em maio de 2011 o seu mercado de trabalho.
Os produtores do sul da Holanda manifestam a sua consternação. Alertam para que não haverá ninguém para colher morangos e maçãs, pois os holandeses não estão dispostos a sujar as mãos.
Entre 1991 e 1994, países nórdicos como a Noruega, a Suécia e a Finlândia passaram por traumáticas crises económico-financeiras. Anteriormente a esse período, estes países tinham um sistema de taxa de câmbio fixa e uma moeda sobrevalorizada, resultado de uma taxa de inflação alta, maior do que no núcleo de países do Sistema Monetário Europeu. Essa inflação e a sobrevalorização da moeda tiveram como causa a expansão do crédito bancário e a desregulação do mercado de capitais na segunda metade dos anos 80. Os mercados de capitais estavam desregulados na altura, aumentando assim a oferta de crédito, provocando o incremento da dívida do sector privado, da procura interna e dos activos e conduzindo ao agravamento do défice de conta corrente da balança de pagamentos.
Passados sete anos, na Islândia, outro país nórdico, os bancos também estavam desregulados - um cenário ideal para a acumulação de dívida no sector bancário. A crise desencadeou-se em 2008, quando os bancos islandeses se tornaram incapazes de refinanciar as suas dívidas de curto prazo. Historicamente, o colapso bancário da Islândia é o maior sofrido por qualquer país em relação ao tamanho de sua economia. Antes do colapso do sistema bancário, a dívida dos três maiores bancos da Islândia (Glitnir, Landsbanki e Kaupthing) excedia aproximadamente seis vezes o seu produto interno bruto (€14 mil milhões).
Sendo um mercado interno de pequena dimensão (a Islândia tem apenas 318 mil habitantes), os bancos islandeses financiavam a sua expansão através do mercado de empréstimos interbancário e através de depósitos no exterior. Esta situação, em conjunto com o endividamento das famílias e com as práticas de impressão de moeda do Banco Central da Islândia, conduziu ao agravamento da taxa de inflação. As altas taxas de juro (relativamente ao Reino Unido e à Zona Euro) encorajaram os investidores estrangeiros a efectuar depósitos em moeda islandesa, sobre-estimando o seu valor real - no início de 2007, a Coroa islandesa(ISK) era uma das moedas mais sobrevalorizadas do mundo.
O caso islandês, anterior à crise da dívida soberana na Zona Euro, veio demonstrar que o processo de globalização exige uma grande capacidade de adaptação à mudança, havendo ganhadores e perdedores, tanto entre estados-nação, como no interior destes. Mesmo nos países mais desenvolvidos, as desigualdades sociais acentuam-se, visto que os sistemas económicos globais necessitam apenas do sucesso de uma minoria da população.
Não é por acaso que, nos países nórdicos, existe atualmente uma opinião pública contrária a resgates financeiros do sistema bancário, pois não é compreensível como o Estado pode injetar biliões de euros no sistema financeiro, em detrimento da aplicação de fundos em áreas sociais e ambientais que necessitam de urgentes investimentos.
A questão que se pode colocar é a de que como pode ser preservado o essencial do "modelo nórdico" - e em especial a Islândia, com as suas características próprias - no que diz respeito à sua filosofia de sólidos mecanismos coletivos de partilha de riscos. Ao dizer não à garantia sobre a dívida aos ingleses e holandeses no último referendo nacional, o eleitorado islandês está a dizer que as dívidas privadas não devem ser colocadas em cima dos ombros dos contribuintes, que, de facto, nada tiveram a ver com o assunto. Na verdade, os mercados financeiros tomam decisões que podem dramaticamente afectar milhões de contribuintes não participantes nas suas transações e que não foram contabilizados nos preços de mercado.
E como sempre, numa crise deste género, emerge o confronto entre a opção de uma forte intervenção do Estado no sistema dos mercado financeiros e a visão "free market" de não interferência com as forças naturais do mercado. Ambas as táticas terão provavelmente sérios custos para a economia. A primeira poderia induzir uma recessão económica não tão intensa, mas muito prolongada no tempo - uma provável estagnação económica durante muitos anos sob atenta supervisão governamental. A segunda opção poderia ser mais intensa, conduzindo a uma uma severa recessão ou depressão, mas poderia permitir uma recuperação económica mais rápida.
Dada a relativa rapidez com que os islandeses estão a sair da sua grave crise financeira e económica (2008-2011), tendo sobrevivido ao colapso total do seu sistema monetário, começa a fazer algum sentido acreditar numa solução política que combine uma "destruição criativa" com uma forte participação cívica e democrática onde se faça ouvir a voz do povo, contrabalançando o caráter antidemocrático das instituições financeiras.
"O Bloco de Esquerda e o PCP são como os dois velhos dos Marretas:a única coisa que sabem fazer na vida é mandar bocas a partir do primeiro balcão e criticar o que se está a passar em palco. Em momento algum lhes passa pela cabeça levantarem o rabo das cadeiras, deitarem mãos à obra e mostrarem como se deve fazer. PCP e BE são muito bons a organizar festas do Avante, a promover desfiles na Avenida da Liberdade, a apoiar greves, a vender boinas do Che Guevara e a pendurar cartazes. Agora, pedir--lhes um compromisso político ou esperar o mais vago arremedo de pragmatismo é a mesma coisa que colocar um belo prato de carne de porco à frente de um judeu ortodoxo e esperar que ele coma alegremente.
O Bloco e o PCP são os dois partidos mais inúteis da política portuguesa– basta ver a forma como recusaram participar nos encontros com a troika do dinheiro, preferindo abdicar de expor as suas opiniões sobre a melhor forma de retirar Portugal do monumental buraco em que está enfiado. É certo que as suas opiniões poderiam provocar um ataque de riso entre os membros da troika e atrasar o resgate do país, mas ainda assim ficar em casa amuado e a soltar comentários dignos da padeira de Aljubarrota ("este é um processo que constitui uma inaceitável atitude de submissão nacional", disse Jerónimo de Sousa, enquanto sonhava com tiros de zagalote capazes de afastar os ímpios do Terreiro do Paço) seria cómico se não fosse tão trágico.
Se Sócrates se mantém na casa dos 30% nas sondagens, tal deve-se não só ao seu charme de caudilho e às incompetências do PSD, mas também ao facto de um eleitor de esquerda ser obrigado a optar entre o PS e o deserto.Muitas das desgraças de Portugal podem ser atribuídas a esta esquerda inimputável, para a qual a política se esgota na ponta da língua."
E não é que ele disse exatamente o que eu penso sobre esses dois partidos?! Parabéns pela clarividência.
Em 1 de dezembro de 2001 a Argentina foi à bancarrota. O default atingiu 81,2 mil milhões de dólares (cerca de €91 mil milhões, ao câmbio da altura) de dívida, o maior da história até à data, e os juros vencidos não pagos aos credores ascenderam a 25 mil milhões de dólares (€28 mil milhões). E foi acompanhado por uma desvalorização do peso que deixou de ter paridade com o dólar americano e caiu para 1/4 do valor.
Uma crise bancária estoirou e os bancos tiveram de ser entaipados e guardados por polícia com metralhadoras e coletes à prova de bala para não serem destruídos por uma população em fúria, inclusive milhares de cidadãos da classe média que invadiram as ruas de Buenos Aires e outras cidades do país das Pampas em cacerolazos (bater em panelas) ensurdecedores. Os mais concorridos deram-se a 12, 19, 20 e 28 de dezembro na capital, por vezes seguidos de apagões gerais à hora de jantar.
A bancarrota doméstica afetou brutalmente de um dia para o outro os aforradores e depositantes que viram as contas emagrecer para 1/4 no valor no extrato que chegava a casa. Além do mais foram proibidos de reaver o que lhes pertencia com a célebre medida do corralito, que restringia os levantamentos bancários. Quem pôde colocou o dinheiro (em notas verdes, os dólares) fora do país. O povo sentiu-se literalmente pilhado.
Com o desaparecimento do dinheiro de lei, as províncias e algumas cidades inventaram uns papéis aflitos que valiam como dinheiro com os nomes mais bizarros para os estrangeiros: patacón na província de Buenos Aires, porteño na própria capital, lecor na província de Córdoba, petrom na província de Mendoza, entre outros. Até o governo federal criou o lecop.
Milagre na carteira
Os turistas e homens de negócios estrangeiros, ou a classe alta ou empresarial dólarizada com contas e cartão de crédito domiciliado no estrangeiro, subitamente, sentiram-se noutro mundo: os dólares ou euros que traziam na carteira passavam a valer quatro vezes mais em pesos. Um lauto jantar em Puerto Madero ou na Recoleta ou uma milonga tanguera em San Telmo, para só falar de Buenos Aires, passava a ficar ao preço da chuva.
A partir de 19 de dezembro e da saída do Presidente De la Rua e do ministro das Finanças, Domingo Cavallo, tido como um mago das contas públicas nos anos 1990, sucederam-se dois presidentes provisórios até final do mês. A crise política e social atingiu o auge. Finalmente a 30 de dezembro, o parlamento consegue eleger Eduardo Duhalde que iniciou um processo de aprofundamento da bancarrota: a depreciação do peso continuou e procedeu-se à “pesificação” (passagem da denominação em dólares para pesos) de todos os ativos e encargos. O sector não-financeiro foi muito penalizado.
Recessão brutal
Apesar de um “programa de estabilização” a partir de abril de 2002, a contração que se seguiu foi brutal. O produto interno bruto caiu 10,9% nesse ano e a inflação mensal disparou, nesse abril, para 10,4%. Em termos acumulados ao longo da crise o vento de recessão destruiu 30% da riqueza nacional.
O país do tango não era virgem nestas andanças. Desde a independência em 1816 já vivera 6 episódios deste tipo, o mais longo de todos entre 1827 e 1857, e o mais conhecido o de 1890 a 1893 ligado à crise do banco House of Baring na City londrina que desencadearia uma crise financeira global que, também, bateria à porta de Portugal.
Nos três anos seguintes à bancarrota desordenada deixada por Domingo Cavallo no final do ano de 2001, o governo argentino recusou-se a negociar a reestruturação da dívida soberana. Só em 2005 resolveu avançar com um plano que oferecia as piores condições possíveis à esmagadora maioria dos detentores dos títulos da dívida: o repúdio dos juros em atraso e uma troca de títulos oferecendo entre 25% e 35% do valor original e com um reescalonamento dos prazos. A dívida argentina levou um “corte de cabelo” (“hair-cut”, na designação em inglês) brutal. E o governo disse cruamente aos credores que era “pegar ou largar”.
A reação de um quarto dos credores foi negativa – não aceitavam a proposta. O governo argentino resolveu repudiar pura e simplesmente as suas obrigações em relação a esse grupo. “Um ato sem precedentes na história da dívida soberana”, frisaram Robert Shapiro e Nam Pham, autores de um estudo realizado pela American Task Force Argentina, um lóbi apoiado por um fundo soberano de Nova Iorque. Os americanos, no entanto, nem eram os maiores credores.
A prioridade de pagamento foi dada à dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que acabou por ser liquidada em janeiro de 2006, com manifesta satisfação do espanhol Rodrigo Rato que era, então, diretor-geral do FMI.
Os custos globais diretos e indiretos do processo de default e depois de reestruturação atribulada entre dezembro de 2001 e dezembro de 2007 elevaram-se a 155 mil milhões de dólares, segundo o cálculo realizado por Robert Shapiro e Nam Pham. Os prejudicados foram os detentores de títulos de dívida (sobretudo italianos, espanhóis, alemães e japoneses), os contribuintes e os investidores em ativos na Argentina. O Global Committee of Argentina Bondholders, criado em Roma, envolveu mais de 500 mil investidores e mais de 100 entidades de todo o mundo representando quase metade da dívida declarada em default.
O processo conturbado só começou a aliviar graças à alta dos preços das commodities que permitiram ao país crescer a 9% ao ano em média entre 2003 e 2005. O azeite de soja, uma das exportações em que a Argentina é líder, foi um dos salvadores, mais do que as políticas económicas saídas da Casa Rosada, o Palácio presidencial em Buenos Aires.
Sem luz ao fundo do túnel
Poderia ter sido de outro modo?, interrogar-se-á o leitor. Alguns analistas responderão “poderia se” – mas os “se” em história são, apenas, ficção retroativa.
Um dos maiores especialistas sobre este tema, o economista Barry Eichengreen, professor na Universidade de Berkeley na Califórnia, esteve na Argentina uns meses antes do colapso e escreveu, então, um balanço sobre o impasse.
Eichengreen falava que alguns economistas em Buenos Aires e em Washington DC defendiam uma estratégia radical, mas em ordem, que batizaram de “quádruplo D” – do inglês devaluation (desvalorização de uma só assentada), dollarization (adoção legal do dólar como moeda, substituindo o peso), deposit write-down (revisão dos valores dos depósitos na mesma dimensão da desvalorização) e debt restructuring (reestruturação da dívida soberana).
Mas todos a rejeitaram, diz o professor de Berkeley – o governo em Buenos Aires (que acabaria, depois, por fazer um default desordenado), o FMI com dúvidas de última hora e o próprio governo americano (sob Administração Bush que não se disponibilizou para avançar com mil milhões de dólares para o processo de dolarização).
Mas há lições que possam ser tiradas? Rui Esteves, do departamento de Economia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, conclui sobre a situação que levou ao colapso de dezembro de 2001: “Os erros do governo argentino foram tentar resolver o problema do défice público cortando despesas quando a economia já estava em recessão profunda. A que se junta o erro do FMI, que proporcionou uma linha de financiamento para ajudar o governo a cumprir este objetivo irrealista, depois de já ter aprovado no ano anterior um outro pacote de ajuda, que nada resolveu e acabou em mais fugas de capitais para o exterior”.
Eichengreen saiu da Argentina sem que vislumbrasse, nas suas próprias palavras, “luz ao fundo do túnel”. O governo prometia que o “crescimento regressaria miraculosamente”.
Rating lixo, mas membro do G20
Só em agosto de 2010 se atingiu 92,6% da reestruturação da dívida. Apesar deste longo processo, a Argentina continua a ser considerada um dos dez países de mais alto risco de bancarrota. Tem um lugar cativo nesse “clube” desde 2001.
Hoje, devido à predominância da crise na zona euro, baixou para 6º lugar no TOP 10 mundial dos de maior probabilidade de incumprimento da dívida. Está em melhor situação do que a Grécia, que lidera esse “clube”, Portugal que está em 4º lugar e Irlanda que ocupa a 5ª posição.
O rating da República Argentina está classificado em B com perspetiva “estável”, segundo a Standard & Poor’s, o que significa que a notação da dívida soberana ainda está na zona do “especulativo”, vulgo “lixo”.
Mas as reviravoltas da geopolítica transformaram a Argentina num dos países do G20, o novo “clube” dos poderosos do mundo, algo dificilmente imaginável para De la Rua ou Domingo Cavallo há uma década atrás.
A vitória frente ao Marítimo consagrou o FC Porto como o segundo campeão invicto da história do futebol português e proporcionou aos portistas a entrada num restrito lote de equipas europeias que atingiram esse feito nas respectivas Ligas.
O triunfo por 2-0 na Madeira, a contar para a 30.ª e última jornada da Liga portuguesa, culminou na melhor época de sempre dos “dragões”, que contabilizaram 27 vitórias e três empates.
O registo sem derrotas não só possibilitou que os novos campeões nacionais igualassem o rival Benfica (em 1972/73) como únicos vencedores invictos da competição, como os tornou, igualmente, na 31.ª equipa entre os principais campeonatos europeus a atingir a marca histórica.
Num grupo do qual fazem parte equipas como Ajax, Milan, Arsenal, Benfica, Real Madrid ou Steaua de Bucareste, os “dragões” conseguem superar outros “poderosos” do futebol europeu, como, por exemplo, Manchester United, Barcelona ou Bayern Munique, que nunca foram campeãs sem desaires.
Numa análise à história das 20 Ligas europeias mais importantes na primeira década do século XXI (2001-2010), de acordo com a Federação de História e Estatística do Futebol (IFFHS), contam-se 31 campeões invictos espalhados por 17 Ligas, sendo que apenas Alemanha, França e Rússia nunca tiveram um campeão sem derrotas.
O alemão Bayern de Munique (1986/87), o francês Nantes (1994/95) e o russo Spartak de Moscovo (1994) estiveram próximos de inscrever o seu nome nesta galeria e proporcionar o pleno das 20 Ligas, mas Bayer Leverkusen, Estrasburgo e Alania, respectivamente, impediram que o trio alcançasse a invencibilidade.
Se o FC Porto é a última equipa a figurar neste “passeio da fama”, a primeira emergiu ainda no século XIX, quando o Preston North End, durante a temporada 1888/89, venceu a primeira edição da Liga Inglesa com 18 vitórias e quatro empates, nos 22 jogos disputados.
Deste grupo de campeões invictos, apenas sete conseguiram atingir o feito por mais de uma vez: Union Saint-Gilloise (Bélgica), Dínamo Kiev (Ucrânia), Sparta de Praga (Checoslováquia/República Checa), Steaua de Bucareste (Roménia), Rapid Viena (Áustria), CSKA Sófia (Bulgária) e Maccabi Telavive (Israel).
No entanto, se a proeza dos portistas já é digna de registo entre as 20 principais Ligas, maior se torna se apenas se limitar a contabilidade ao novo século, onde o FC Porto sobressai como o sexto clube a consegui-lo.
Desde 2001, apenas cinco equipas tinham conseguido acabar os respectivos campeonatos de forma invicta: Shakhtar Donetsk (2001/02), Arsenal (2003/04), Dínamo Kiev (2006/07), CSKA Sófia (2007/08) e Sparta de Praga (2009/10).
A Agência japonesa de segurança nuclear elevou hoje para o nível 7, o máximo, o acidente nuclear da central de Fukushima 1, na escala de eventos nucleares e radiológicos, colocando-o no mesmo patamar da catástrofe de Tchernobil.
Desde 18 de Março que as autoridades nipónicas consideravam o acidente de Fukushima como sendo de nível 5, na escala INES (International Nuclear and Radiological Event Scale) - que só reflecte as emissões para a atmosfera e não para o mar -, o mesmo do acidente em Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979.
A Agência de Segurança Nuclear decidiu aumentar o nível para 7 – o mesmo do acidente na central de Tchernobil, na Ucrânia, em 1986 – baseada numa estimativa de que já foram lançados para a atmosfera materiais radioactivos que excedem os critérios para o nível 7. Ainda assim, a agência garante que esta contaminação em Fukushima é menor do que a de Tchernobil, nomeadamente cerca de dez por cento, avança hoje a agência de notícias japonesa Kyodo.
Mais precisamente, aquela agência informou que os reactores 1, 2 e 3 da central de Fukushima 1 libertaram para a atmosfera entre 370 mil e 630 mil terabecquerels de materiais radioactivos, nomeadamente de iodo-131 e césio 137.
Segundo explicou esta manhã ao PÚBLICO José Marques, investigador do Instituto Tecnológico e Nuclear, em Sacavém, e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, este aumento para o nível 7 não quer dizer que a situação na central se agravou. "A radiação já foi libertada. O que aconteceu foi que as autoridades japonesas deixaram de avaliar as emissões de cada reactor em separado e decidiram juntar as emissões dos reactores 1, 2 e 3. Esse acumular de radioactividade é que justifica o nível 7". Na sua opinião, esta "reavaliação é realista".
De acordo com Kenkichi Hirose, conselheiro na comissão governamental para a segurança nuclear, "as estimativas sugerem que a quantidade de materiais radioactivos libertados para a atmosfera subiu a pique a 15 e 16 de Março, depois de problemas detectados no reactor 2", explicou citou a agência Kyodo. "Desde então, a quantidade de radioactividade tem vindo, gradualmente, a subir. Mas acreditamos que o nível actual de emissões é significativamente baixo". Esta comissão estima que esteja a ser libertado 1 terabecquerel por hora.
"Mesmo antes desta decisão já consideravamos que o acidente era muito sério. Nesse sentido, não haverá grandes alterações à forma como estamos a lidar com a situação", explicou um responsável da agência de segurança nuclear, citado pela agência Reuters.
Autoridades japonesas lembram que Tchernobil foi diferente
O porta-voz do Governo, Yukio Edano, pediu desculpas "aos moradores da zona de Fukushima, ao povo do Japão e à comunidade internacional" por causa deste acidente nuclear, originado depois do sismo e tsunami de 11 de Março.
Também a operadora da central, a Tepco (Tokyo Electric Power Company), pediu desculpas por não ter conseguido estancar a fuga de radiação. A empresa admitiu mesmo a possibilidade de o total de emissões de substâncias radioactivas poder, eventualmente, ultrapassar as emissões do acidente de Tchernobil, segundo a Kyodo.
Ainda assim, as autoridades japonesas lembram que Fukushima é muito diferente de Tchernobil. Segundo Hidehiko Nishiyama, porta-voz da agência de segurança nuclear, em Fukushima ninguém morreu por causa da exposição à radiação e acrescentou que os próprios reactores não explodiram como aconteceu em Tchernobil. "Mesmo que alguma radioactividade continue a escapar dos reactores e dos seus vasos de contenção, eles não ficaram totalmente destruídos e estão a funcionar", salientou.
Recuperação dos reactores de Fukushima será "extremamente lenta"
A crise nuclear na central de Fukushima, com seis reactores, começou a 11 de Março, há mais de um mês. "Hoje, a situação é melhor do que, por exemplo, há duas semanas", comentou José Marques, referindo um "período mais calmo" no complexo. Apesar disso, a "recuperação será extremamente lenta".
"Os funcionários vão continuar a arrefecer os núcleos [dos reactores]. Quando, e se, conseguirem pôr a funcionar bombas de circulação de água mais potentes, a situação poderá ser resolvida no espaço de dias", acrescentou. O problema é "que não podemos saber o que ficou danificado" na central. Além disso, os trabalhos têm vindo a ser interrompidos pelas fortes réplicas do sismo de 11 de Março.Hoje, o Japão foi abalado por um sismo de magnitude 6,0 às 14h07 (06h07, hora portuguesa), com epicentro a pouco mais de dez quilómetros de profundidade, segundo o Serviço Geológico norte-americano (USGS, sigla em inglês). A central nuclear de Fukushima foi evacuada, por precaução. “Não detectámos nada de anormal na alimentação eléctrica exterior da central”, garantiu um porta-voz da Tepco.
Desde 11 de Março foram sentidas mais de 400 réplicas com magnitude 5 e superior na região Nordeste do Japão.
Realizaram-se hoje os últimos jogos do Campeonato Nacional.
Saiu vencedor, merecidamente, o Foot-Ball Club do Porto, que tam brilhante e notavel comportamento afirmou durante toda a competição. Não é vulgar que o vencedor de uma prova o seja tam justamente como foi o grupo da Constituição. Ainda no seu ultimo encontro disputado hoje, no Campo das Amoreiras, o fatídico campo para os campeões nacionais, esse brilhantismo foi demonstrado. Efectivamente, o excelente comportamento tecnico com que o clube nortenho sempre brindou o publico (...)»
O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou esta quarta-feira estar disponível para entrar pelaterceira vez em Portugal, depois de intervenções em 1977 e 1983.
A primeira vez que o FMI "aterrou na Portela", como ilustrou o cantor José Mário Branco numa das suas obras mais emblemáticas, justamente chamada "FMI", foi em 1977, quando Ramalho Eanes era Presidente da República e Mário Soares era primeiro-ministro do primeiro Governo Constitucional.
Então, com uma taxa de desemprego superior a sete por cento, bens racionados, inflaçãocrescente, conflitualidade política e o escudo desvalorizado, o FMI interveio pela primeira vez desde que Portugal aderiu à instituição, em 1960.
Na bagagem trouxe "pacotes" que se traduziram em redução de salários e subida de impostos, entre outras medidas.
Em 1983, Mário Soares era novamente primeiro-ministro, desta vez à frente do governo do Bloco Central, com o PPD-PSD de Mota Pinto.
Com o desemprego acima dos onze por cento e uma dívida externa galopante devido à subida das taxas de juro internacionais, o FMI emprestou 750 milhões de dólares e novamente impôs cortes nos salários da Função Pública, aumentos de preços, travão ao investimento público e cortes nos subsídios de Natal, entre outras medidas.
O primeiro-ministro anunciou hoje que o Governo português fez um pedido de assistência financeira à Comissão Europeia, decisão que adiantou ter sido comunicada ao Presidente da República.
O Fundo Monetário Internacional já se manifestou “pronto para ajudar” Portugal, se a ajuda vier a ser solicitada, disse hoje à Lusa fonte oficial da instituição financeira internacional.
“Vimos as declarações do primeiro ministro José Sócrates e do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, sobre a intenção de Portugal pedir a ativação de mecanismos de apoio financeiro”, disse à Lusa a porta-voz do FMI em Washington, Estados Unidos.