Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

A-24

Junta militar dissolvida na Birmânia

por A-24, em 30.03.11
A Birmânia tem a partir de hoje o seu primeiro Governo civil em quase meio século. O generalíssimo Than Shwe dissolveu a junta militar e retirou-se para passar o poder a um novo Presidente.

Mas não se esperam caras novas na elite que governa o país. A começar por Thein Sein, que era até agora primeiro-ministro e se demitiu de general para poder assumir a presidência deste próximo Executivo – a última fase de um processo de transição para uma “democracia disciplinada” traçado pela junta.
Hoje, o Conselho do Estado para a Paz e o Desenvolvimento (nome da junta) foi extinto, noticiou a televisão estatal. De seguida, Thein Sein tomou posse como Presidente de um Governo com 30 ministros, a maior parte deles generais na reforma ou ainda no activo que já faziam parte do poder. 
O general Min Aung Hlaing terá assistido à cerimónia como novo chefe das Forças Armadas, posto que seria o último cargo oficial de Than Shwe, adianta a AFP. “Ainda não sabemos se ele já assumiu as suas funções”, ressalvou um responsável birmanês, numa declaração que a agência francesa interpretou como um sinal da incerteza que continua a pairar sobre o futuro daquele que dirige o país com mão-de-ferro desde 1992. Ninguém imagina ver Than Shwe a abandonar a política: ainda que não tenha nenhum cargo específico, o generalíssimo tem todos os instrumentos para continuar a influenciar a governação nos bastidores.
“O grande público não se deixa enganar por estas mudanças cosméticas”, comentou Maung Zarni, da London School of Economics. O analista birmanês no exílio na Tailândia Aung Naing Oo argumenta: “Não vimos nenhuma forma de democracia nestes últimos 50 anos por isso isto parece-se mais com uma experiência”.
A libertação em Novembro passado da Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, ao fim de sete anos de prisão domiciliária, criou alguma expectativa de que algo poderia estar prestes a mudar no regime político birmanês. Mas não foram enviados quaisquer sinais de abertura depois disso. A Reuters salienta que dezenas de leis foram aprovadas secretamente, e desencadeou-se um gigantesco e opaco processo de privatizações, permitindo lançar as bases para que nenhum mudança significativa possa ocorrer e o país continue a ser dominado pelos generais e os empresários seus aliados.
O boicote da Liga Nacional para a Democracia nas eleições legislativas realizadas dias antes da libertação da líder da oposição – as primeiras em duas décadas, consideradas fraudulentas pela comunidade internacional – significa a ausência total do partido de Suu Kyi na assembleia.