A tenista belga Kim Clijsters, vencedora do Open da Austrália, subiu ao segundo posto do ranking mundial feminino, que continua a ser liderado por Caroline Wozniacki.
A dinamarquesa caiu nas meias-finais do Open da Austrália mas mantém a liderança da tabela WTA. Kim Clijsters venceu na final do torneio frente à chinesa Li Na e ultrapassou a russa Vera Zvonareva na segunda posição do ranking. Francesca Schiavone, que era sétima da hierarquia, subiu três lugares e surge esta segunda-feira na quarta posição, seguida pela australiana Samantha Stosur, quinta. Venus Williams, obrigada a desistir no Open da Austrália por lesão, perdeu um lugar e é sexta. Li Na, a primeira chinesa a chegar à final de um Grand Slam, subiu quatro posições e entrou no top-10, ocupando o sétimo lugar do ranking. Jelena Jankovic, Victoria Azarenka e Agnieszka Radwanska completam o top-10 da tabela WTA. A checa Petra Kvitova, que atingiu os quartos-de-final no Open da Austrália, subiu dois lugares e entrou no top-20, ocupando a 18.ª posição do ranking. Já Serena Williams, que não esteve presente na Austrália, perdeu oito lugares na hierarquia e surge na 12.ª posição. Quem também não pára de cair é a russa Dinara Safina. A ex-número um mundial foi eliminada na primeira ronda do Open da Austrália por duplo 6-0, a tenista russa caiu 42 lugares, da 75.ª posição para 117.ª. Michelle Brito, que ocupava o 208.º posto da tabela WTA, melhorou oito lugares e subiu para o 200.º lugar do ranking, continuando a ser a melhor tenista portuguesa no circuito.
Marcado pelo temporal de Fevereiro e pelos incêndios florestais de Agosto, 2010 foi, de facto, o annus horribilis para a Madeira. Situações não ultrapassadas, antes agravadas, levaram a que muitos madeirenses, incluindo milhares de tradicionais votantes do PSD, depositassem na urna das presidenciais o voto de protesto e descontentamento em nome do seu conterrâneo candidato que, ao obter uma surpreendente votação, coloca a região em 2011, como no calendário chinês, sob o signo do Coelho.
1. Maior desemprego de sempre
A Madeira registava, no final de 2010, um número recorde de desempregados, exactamente o triplo do existente quando Jardim provocou eleições antecipadas em 2007. Em Dezembro passado, estavam inscritos no Instituto de Emprego um total de 15.648 desempregados, dos quais a maioria tinham residência no Funchal (40%), em Santa Cruz (14,8%) e Câmara de Lobos (16%), ou seja, 70 por cento dos desempregados residiam nos três concelhos que representam 70 por cento da população da ilha. Coelho ganhou naqueles dois primeiros e no concelho de Machico, onde está instalada a Zona Franca que, contrariando expectativas, não constitui a mola impulsionadora de emprego.
2. Insatisfação social
Passado quase um ano, continuam bem presentes os efeitos dos temporais de Fevereiro, sobretudo nas famílias das vítimas mortais, em número nunca clarificado, e dos que perderam as suas casas ou terrenos agrícolas. Nos dois concelhos mais afectados pelas intempéries, cujas populações desesperam pela prometida reconstrução, o candidato apoiado pelo partido governamental foi punido nas urnas: Cavaco Silva perdeu no Funchal para José Manuel Coelho (38,6 contra 41,5%) e na Ribeira Brava teve a sua maior queda regional em relação a 2006 (de 72,3 para 52,6%), apesar de ter visitado a freguesia por duas vezes no espaço de um ano, a primeira como Presidente da República, logo depois da catástrofe, e, no final da pré-campanha, no entanto, sem contacto directo com a descontente população.
Coelho venceu nas freguesias das zonas altas do Funchal, onde são também mais notórios os sinais de pobreza, o maior flagelo social da região para o qual Jardim não encontrou resposta em mais de três décadas, apesar de atingir 55 mil madeirenses, um quinto da população.
3. Descalabro financeiro
A Madeira atravessa uma situação de falência técnica e política. Ao desastre das contas públicas, cujas responsabilidades atingem 6000 milhões de euros, junta-se o descalabro financeiro das Sociedades de Desenvolvimento com mais de 600 milhões em dívida; o das autarquias, com mais de 300 milhões; o das pequenas e médias empresas, aflitas com o atraso no pagamento da facturação ao sector público; o dos estabelecimentos de educação e ensino, sem dinheiro para cumprirem o seu projecto educativo; o do sistema de saúde, descapitalizado com dívidas às farmácias e aos fornecedores em geral.
4. Recorde de insolvências
A Madeira registou um número recorde de insolvências em 2010, quase quatro vezes mais que em 2007, ano das últimas eleições regionais. Depois do sucesso em termos de criação de empresas, verificado sobretudo nas décadas de 80 e 90, a região vê-se envolvida pelo cenário de crise generalizado que, só em 2010, levou ao encerramento de 122 empresas por dificuldades financeiras.
5. Escandalosas concessões
Alimentando suspeitas de favorecimento, algumas concessões a grupos económicos que nasceram e floresceram no jardim da Madeira Nova têm sido publicamente criticadas por - como denunciou Coelho, que fez desta questão uma das raras bandeiras da campanha -, indiciarem corrupção, nalguns casos investigada mas não condenada pelos tribunais por insufici- ência de provas.
A exploração da Zona Franca por uma entidade detida maioritariamente por um grupo privado (também beneficiária da prorrogação do concessão do jogo de casino, sem concurso); o monopólio das operações portuárias e das ligações marítimas com o Porto Santo; ou a exclusividade da exploração dos parques de estacionamento e centro de inspecção automóvel, sem concorrência, ou concessão da exploração das principais rodovias da região a construto- ras dominadas por figuras do PSD.
O mural está desbotado. As cores do mapa de Portugal com a frase "25 de Abril Sempre" parecem ainda mais pálidas, agora que o edifício da Câmara Municipal de Avis está em obras de remodelação. Mais abaixo, a sigla do PCP surge numa parede da praça que agora é parque de estacionamento de carros e entulho das obras.
Os dois murais mostram os sinais da passagem dos anos. Mas o restauro em curso vai mantê-los. Pelo menos o primeiro será restaurado. Tal como as votações no PCP durante as eleições. Nas presidenciais, venceu o candidato apoiado por aquele partido, Francisco Lopes, com mais de 44 por cento dos votos. E desde 1976 que os comunistas ganham as corridas eleitorais no concelho. Sejam elas autárquicas, legislativas, europeias ou presidenciais.
O voto no PCP está "arreigado" em Avis, reconhece o actual presidente da câmara, o (obviamente) comunista Manuel Coelho. Devia ter dito enraizado. Como as plantações que a Cooperativa Primeiro de Maio levou a cabo nos anos quentes que se seguiram ao 25 de Abril. Avis foi território de uma das mais importantes Unidades Cooperativas de Produção do país, a Primeiro de Maio, que, apesar de já não existir, ficou gravada na memória da terra.
João Feio, "Passita" de alcunha, é desses tempos. Agora "mal reformado", 73 anos, vai compondo o bolso com uns biscates de carpintaria. Esteve ligado à reforma agrária "através da organização do partido". É dos que acreditam que as actuais votações do PCP no concelho se explicam com o "papel fundamental nas ocupações e na orientação das medidas a tomar". Manuel Coelho, o autarca, é muito mais novo mas vai mais atrás. Lembra que os comunistas foram os únicos ao lado dos trabalhadores quando, antes do 25 de Abril, se lutava por terra e contra a fome.
A cooperativa Primeiro de Maio é hoje apenas memória. Extinta em 1986, foi das maiores e mais importantes do género que nasceram dos anos quentes do 25 Abril. "No concelho recebíamos muitas delegações entrangeiras, e não eram só do Bloco de Leste", recorda Leonor Xavier, actual responsável concelhia do PCP.
Apesar do fracasso da experiência, os avisenses não culpam o PCP. Estão convencidos de que não os deixaram sequer tentar o sucesso. João Feio regressa ao passado para dar um exemplo que traz consigo. Nesses tempos trabalhava na cooperativa de construção civil que existia em Avis. E recorda como a Cimpor a asfixiava. "Eles recusavam passar guias de levantamento de cimento às cooperativas", afirma.
Manuel Coelho explica que os tempos das cooperativas marcaram muito a terra e as pessoas. E outras coisas vieram por arrasto: "Não foi uma transformaçãozinha. Avis, durante esse período, viu as terras a produzir, praticamente não havia desemprego. Conseguiu-se um conjunto de conquistas sociais. Só para lhe dar um exemplo, antes havia duas ou três mercearias. E eu lembro-me que foi nessa altura que apareceu o primeiro supermercado, onde as pessoas podiam comprar carne, peixe, roupa."
Por arrasto vieram também as creches, lembra Manuel Coelho, que acolhiam os filhos dos trabalhadores das cooperativas e até de outros.
As creches também saltam da memória de Leonor Xavier. Ao olhar para algumas fotografias dos tempos da reforma agrária, encontra um retrato de uma dessas instalações. Com um sorriso vai reconhecendo algumas das crianças. "Esta agora tem um supermercado", aponta, antes de reconhecer outra menina agora emigrante.
Leonor Xavier fixou-se em Avis em 1981. Já era funcionária do PCP antes disso e foi essa qualidade que lhe permitiu assistir aos anos das ocupações. Hoje em dia é a responsável concelhia do partido.
Desses tempos, guarda recordações fortes. "Por muitas contradições que lhe possam apontar, foi quando o concelho teve mais trabalho. Só não trabalhava quem podia, nem quem era quem não queria."
Mas segundo os responsáveis comunistas, não é só no passado que se encontram as explicações para as vitórias eleitorais. Leonor Xavier considera "essencial" a "ligação às pessoas": "Tudo o que fazemos é aberto a participação de todos." Sessões, reuniões e até o bar da sede concelhia, cujas paredes ostentam retratos de Álvaro Cunhal e até bucólicas paisagens russas de Inverno. "Quem quer entra no bar da sede, quando está aberto ao fim-de-semana."O autarca garante que os plenários e sessões "não são momentos chatos". Discute-se a situação política, económica e social. Leonor Xavier acrescenta que aí qualquer um pode intervir directamente. "Não é como no Prós e Contras [programa televisivo de debate], aquilo ali é só prós...", comenta. E além das reuniões, há as festas do partido. E a forma como os comunistas fazem campanha. "Nesta fizemos porta a porta. Tivemos 25 pessoas na rua. Dos outros, só se viu uma faixa do Manuel Alegre lá em baixo (na zona baixa da vila)", assevera Manuel Coelho. Uma forma de operar antiga. O peso do PCP no concelho sempre foi relevante.
... ou um controlo eficaz?
Roberto Grilo, presidente da secção de Avis do PSD, reconhece que o PCP lucrou com os "líderes carismáticos" que teve no passado. Cita os exemplos de Correia da Silva e do antigo autarca António Bartolomeu. Em seu entender, isso ajuda a explicar porque é que num distrito em que o PSD tem eleitos em 10 das 15 câmaras, aqui não há nenhum. Mas há outras razões. Grilo afirma que o PCP faz o "controlo muito eficaz do voto", através da concessão de postos de trabalho na câmara e afins. Diz que os responsáveis trabalham no sentido de "manter tudo na dependência da câmara". Dá um exemplo: "A câmara tem o parque de campismo na sua mão e não o concessiona." A autarquia é, portanto, o maior empregador do concelho. "Os jovens, ou se convertem em votantes, participantes, ou então não têm espaço para trabalhar", resume, depois de criticar a falta de aposta no desenvolvimento de condições para o aparecimento de iniciativa privada. "O concelho é a câmara municipal, a Misericórdia e a Dardico", afiança. Esta última, no negócio dos produtos agrícolas, fundada por "pessoas de fora". Os tempos são agora outros. Resiste a Cooperativa 29 de Julho na freguesia de Aldeia Velha, já sem a pujança dos anos 70 do século passado. Aguenta-se graças a "duas ou três famílias" que olham por aquilo, como conta João Feio. "Uns restos de cooperativas", resume. A agricultura deu lugar ao turismo. A unidade hoteleira AvisAqua, recentemente inaugurada, é apresentada como um caso de sucesso no seu nicho de mercado. A Albufeira do Maranhão passou a ser o orgulho dos responsáveis autárquicos. Falam das inúmeras selecções olímpicas de remo que ali estagiam durante o Inverno. Inglaterra, Dinamarca, Noruega, até a Nova Zelândia. Mas para os mais velhos, deve custar passar pela casa onde era a creche da Primeiro de Maio. O que antes era de todos passou a ser só de uns. Aquela casa é agora da actual ministra da Cultura do Governo socialista de José Sócrates. Que lá por ser vizinha de fins-de-semana não tem por isso direito a mais votos em Avis. Isso fica para o PCP.
O tenista sérvio Novak Djokovic, "número três" mundial, conquistou hoje pela segunda vez o Open da Austrália, ao derrotar na final o britânico Andy Murray, quinto jogador do “ranking”, por 6-4, 6-2 e 6-3.
O número três mundial Novak Djokovic conquistou este domingo pela segunda vez o Open da Austrália, ao derrotar na final Andy Murray, quinto jogador do “ranking”, por 6-4, 6-2 e 6-3, em duas horas e 39 minutos. Dois anos depois da primeira vitória em Melbourne e quatro meses após disputar a final do Open dos Estados Unidos, o sérvio impôs-se claramente ao escocês, aumentando para quase 75 anos a “seca” de títulos britânicos de singulares masculinos em torneios do “Grand Slam”. Murray, por seu turno, sofreu a terceira derrota em finais de um dos quatro “majors”, após ter perdido com o suíço Roger Federer nos encontros decisivos do Open dos Estados Unidos de 2008 e do Open da Austrália de 2010. Para conquistar o segundo “Grand Slam” da carreira -- sempre em Melbourne -, Djokovic teve de passar obstáculos de peso, incluindo Federer nas meias-finais, mas sai da Austrália como o primeiro grande vencedor do ano, dois meses depois de conduzir a Sérvia ao primeiro triunfo na Taça Davis. “Conhecemo-nos há muito tempo. Esta noite foi difícil”, disse Djokovic sobre Murray após a final, citado pelas agências internacionais. O jogador sérvio admitiu que o nono jogo do “set” inicial “talvez tenha sido o ponto de viragem” de todo o encontro, adiantando: “Fui um pouco afortunado. Antecipei bem, percebi as suas intenções e tive algumas grandes pancadas e grandes momentos”. Djokovic esteve imparável durante a quinzena na Austrália, cedendo apenas um “set” na segunda ronda frente ao desconhecido croata Ivan Dodig. No ano passado, Murray não escondeu as lágrimas após a derrota na final com Federer, mas hoje elas não foram visíveis, apesar de não ter ganho um único “set” a Djokovic. A sua ambição continua, no entanto, a ser tornar-se o sucessor de Fred Perry como vencedor britânico na prova de singulares masculinos de um “Grand Slam”: Perry foi o último a consegui-lo na edição de 1936 do Open dos Estados Unidos, desde então disputaram-se mais de 270 “majors”. “Foi melhor do que no ano passado. Penso que Novak jogou incrivelmente bem. É duro, mas temos de lidar com isso”, afirmou Murray, que diz ter “mais hipóteses no futuro” para vencer um “Grand Slam” e no final ouviu o público gritar “Andy, Andy”. Murray e Djokovic têm ambos 23 anos, nasceram com uma semana de diferença, em Maio, são bons amigos e muitas vezes treinam juntos. No final do encontro trocaram um abraço, antes de o sérvio lançar a raqueta, a camisola e os sapatos para a multidão.
Cavaco Silva consegue um resultado histórico no distrito de Setúbal, ganhando nos 13 concelhos. A disputa mais renhida foi em Alcácer do Sal onde teve apenas um voto de vantagem sobre Francisco Lopes (1528-1527). Neste antigo bastião do PCP, onde ainda resistem algumas autarquias de maioria comunista, Cavaco já havia ganho globalmente em 2006, mas em alguns concelhos Jerónimo de Sousa tinha sido o mais votado.
Vila Real passou a ser o novo “Cavaquistão”
Vila Real foi o distrito onde Cavaco Silva obteve a maior percentagem nas eleições de ontem – 65,49 por cento. No outro distrito transmontano (Bragança), o actual presidente consegue um resultado semelhante, mas ligeiramente inferior 65,11 por cento. De resto, numa análise distrito a distrito, é a Norte e no interior na Região Centro (Viseu e Guarda, nomeadamente) que Cavaco arrasa.
Mais de 80 por cento dos votos em Alvaiázere
É o concelho de Alvaiázere, no distrito de Leiria, que dá percentualmente no território continental a votação mais expressiva a Cavaco Silva – 80,76 por cento. O actual presidente consegue também neste distrito outros resultados próximos dos 80 por cento, como aconteceu no município de Pedrógão Grande. A percentagem global neste distrito (61,64 por cento) não é maior sobretudo por causa dos antigos bastiões comunista (Marinha Grande) e socialista (Nazaré).
Boliqueime não desiludiu
Dos 2011 eleitores que votaram na freguesia de Boliqueime (Loulé), terra natal de Cavaco Silva, 1401 preferiram o filho da terra, dando-lhe cerca de 75 por cento dos votos expressos. Alegre, o segundo mais votado, teve aqui menos de dez por cento.
Alegre consegue melhor resultado em Beja, mas atrás de Lopes
Manuel Alegre foi a desilusão da noite. Mesmo com o apoio do PS e do BE, obteve pouco mais de 800 mil votos, menos de 20 por cento, ou seja, pior do que há cinco anos. A nível distrital conseguiu o seu melhor resultado em Beja (25,4 por cento) e nos Açores (25,13). O pior resultado foi na Madeira (7,68 por cento), mas em Viana do Castelo também obteve apenas 13,17 por cento, provavelmente por causa do resultado neste distrito de Defensor Moura (10,65 por cento).
Vitória em apenas dois concelhos: Alandroal e Castro Verde
Manuel Alegre só conseguiu ficar em primeiro em dois concelhos do continente: Alandroal, no distrito de Évora, com 30,35 por cento dos votos, e Castro Verde, no distrito de Beja, com 34,66 por cento.
Esmagado na terra natal
Mesmo Águeda, o concelho de origem de Manuel Alegre, o resultado não foge da média nacional, conseguindo aqui 21,01 por cento no concelho (Cavaco teve 61,25 por cento) e na cidade Alegre esteve um pouco melhor com 24,67 por cento.
Fernando Nobre em alta no eleitorado urbano
Os distritos de Lisboa e Setúbal foram aqueles que melhor acolheram as propostas de Fernando Nobre, conseguindo aqui percentagens superiores a 16 por cento. O contraponto foi na Madeira, região onde o médico da AMI teve pouco mais de seis por cento. Também nos distritos do Norte (Viana, Vila Real e Bragança), Nobre não consegue atingir os 10 por cento. Porto (com 14,99), Faro (com 15,96), Santarém (15,25), Coimbra (14,48) e Leiria (14,46) estão acima da média nacional, o que indicia claramente que Nobre marcou pontos sobretudo no eleitorado urbano.
Francisco Lopes ganha em oito concelhos
O candidato apoiado pelo PCP obteve a maioria em oito concelhos do país - quatro do distrito de Beja (Cuba, Aljustrel, Mértola e Serpa) e outros tantos no distrito de Évora (Arraiolos, Montemor-o-Novo, Mora e Portel). Foi em Serpa, com 40 por cento dos votos, que obteve o melhor resultado. No distrito de Beja, Lopes ficou em segundo lugar, enquanto em Évora foi terceiro atrás de Alegre.
Coelho consegue mais de 38 por cento na Madeira
José Manuel Coelho é um dos vencedores da noite eleitoral de ontem. Pelo menos, na Madeira. O candidato conseguiu a maior votação de uma candidatura da oposição na ilha (mesmo tendo em conta eleições legislativas e regionais) ao obter cerca de 39 por cento dos votos. Ficou apenas a cerca de cinco pontos percentuais de Cavaco Silva, consagrando-se assim como um verdadeiro “Tiririca” da Madeira. A performance de José Manuel Coelho tem também aspectos curiosos no continente: consegue bater Francisco Lopes em três distritos (Viseu, Vila Real e Viana do Castelo), ficando, assim, em quarto lugar. E obtém a sua maior percentagem em Castelo Branco, com 4,49 por cento.
Viana valeu um oitavo dos votos a Defensor Moura
Não conseguiu os 50 por cento dos votos no concelho de Viana do Castelo como pretendia, mas foi graças aos votos dos seus antigos munícipes que o resultado ainda não foi mais catastrófico. Nesta autarquia, por ele presidida durante 16 anos, Defensor Moura obteve 8246 votos, que representam uma percentagem de 20 por cento e o segundo lugar na tabela, logo atrás de Cavaco. Defensor teve em Viana um oitavo dos votos que conseguiu em todo o país. O distrito também não o tratou mal: mais de dez por cento, a poucos votos de Alegre, que foi o segundo.
O resultado em votos de Cavaco Silva é, por outro lado, o mais baixo de uma eleição presidencial em democracia. Até hoje o mais baixo fora o de Jorge Sampaio, com 2.401.015, na sua reeleição.
Já Manuel Alegre atingiu 19,75%, quando há cinco anos teve 20,74%. Fernando Nobre, um dos vencedores da noite, atingiu 14,10%. Francisco Lopes teve 7,14%, José Manuel Coelho 4,5% e Defensor Moura 1,57%.
Os votos em branco foram na ordem dos 4,26% e os nulos de 1,93%.
Uma das novidades desta eleição são os números da abstenção. Atingiu 53,37%, a maior abstenção em eleições presidenciais democráticas. O valor mais elevado tinha sido atingido precisamente numa reeleição, a de Sampaio em 2001, em que a abstenção chegou aos 50,29%. Valores de abstenção elevados apenas ultrapassados pelos das eleições para o Parlamento Europeu, em que os 64,46% foram o recorde atingido em 1994.
Resultado mais baixo
A vitória de Cavaco é uma vitória pouco expressiva. Com 2.230.104 votos, fica algo longe da eleição de Jorge Sampaio que há dez anos atingiu os 55,55% e 2.401.015 votos, com uma abstenção recorde de 50,29%, e muito longe de Mário Soares, que há 20 anos foi reeleito com 70,35%, tendo então o apoio do PS e do PSD e uma abstenção de 37,84%.
A sua vitória é, porém, clara. Cavaco conseguiu atingir uma percentagem de votos superior àquela que os partidos que o apoiaram atingiram nas últimas legislativas. O PSD ficou-se pelos 29,11% dos votos, enquanto o CDS teve 10,43%, somando então os dois 39,54%.
Os cerca de dez por cento dos votos que Cavaco arrecada são a eventual transferência de votos do PS. Isto porque o segundo candidato mais votado, Manuel Alegre, viu-lhe fugir uma parte substancial do eleitorado do seu partido de origem, o PS, que o apoiou em conjunto com o BE.
Há cinco anos, quando se candidatou contra o candidato Cavaco Silva, mas também contra o candidato do PS, Mário Soares, e contra o candidato do BE, Francisco Louçã, Alegre atingiu 20,74%, com 1.138.297 de votos. Agora os 19,75% ficam muito aquém do que era expectável se, de facto, os apoios partidários do PS e do BE tivessem levado os eleitores a votarem esmagadoramente neste candidato. E obtém apenas 831.959 votos.
Comparando com os resultados do PS e do BE nas legislativas de 2009, verifica-se a enorme diferença. Assim, o PS teve 36,56% e o BE atingiu os 9,81%, num total de 46,37%, ou seja, mais do dobro da percentagem atingida agora por Alegre.
Derrota de Sócrates
Esta derrota de Alegre é também uma derrota do PS e do primeiro-ministro, José Sócrates, que se envolveu pessoalmente na campanha. Mas dentro do PS, os grandes derrotados são os representantes da ala esquerda do partido que, desde 2004, quando Alegre se candidatou a primeira vez a secretário-geral, tem apoiado a sua acção política. Mas há uma parte da esquerda do PS, nomeadamente os soaristas, que nunca se reviu nesta candidatura. O balanço interno entre os socialistas. E o ajuste de contas entre tendências será feito em breve já que o Congresso do PS está previsto para o final de Fevereiro.
Mas a derrota de Alegre atinge também o BE. Este partido aceitou dar o braço ao partido do Governo e isso poderá ter sequelas internas, no pós-eleições.
A grande surpresa desta eleição é o resultado atingido por Fernando Nobre: 14,09% e 593.142 votos. Um candidato sem apoios e sem máquina partidária, que lutou com alguma falta de meios, mas que conseguiu mobilizar apoios e capitalizar com o voto do protesto contra o sistema político. Atinge quase 15%, superando o que lhe davam as sondagens.
Já Francisco Lopes, com 7,14% fica em casa e aguenta a percentagem do PCP nas últimas legislativas que foi de 7,86%. Com uma campanha para solidificar posições internas, o candidato comunista cumpriu os objectivos. Mas é penalizado também e perde votos ficando apenas com 300.840 votos.
Sucesso também enquanto candidato anti-sistema teve José Manuel Coelho. Apostou numa campanha de caricatura dirigida contra Cavaco e veio a capitalizar 4,5 por cento e 189.340 votos. E conseguiu bater Cavaco na Região Autónoma da Madeira, de onde é originário, e a cujo parlamento regional já foi deputado pelo PND. Já Defensor Moura teve o pior resultado e falhou o seu objectivo de contribuir para uma segunda volta. Teve apenas 66.023 votos e 1,57 por cento.
A votação atingida por Cavaco Silva foi possível pela votação expressiva que atingiu a Norte do país.
José Manuel Coelho é, depois de Alberto João Jardim, o político madeirense mais conhecido dentro e fora da ilha nos últimos tempos. Têm por denominador comum a frontalidade e o populismo. Figuras do circo mediático da política regional, são as duas faces da mesma medalha, o jardinismo. De um lado Jardim, do outro, o anti-Jardim.
Não é por acaso que Coelho faz parte, com Jardim, dos cinco nomeados para a eleição de "Os Mais de 2010", por votação dos leitores do Diário de Notícias do Funchal, nas categorias de "Político" e de "Cromo do ano". Neste caso, a distinção recai sobre "aquele que nos fez rir ou chorar, que não nos sai da cabeça ou nos faz perder a cabeça".
Numa recente sondagem feita pelo semanário Tribuna da Madeira, publicada a 18 de Dezembro, Coelho, 58 anos, destacou-se como a figura pública que "teria mais hipóteses de derrotar Alberto João Jardim nas eleições regionais de 2011", com 28 por cento dos votos. À frente de um dos principais candidatos do Partido Social Democrata (PSD) à sucessão, o presidente da Câmara do Funchal, Miguel Albuquerque (17 por cento), dos líderes do maior partido da oposição, o Partido Socialista (PS), Jacinto Serrão (nove por cento), e do Partido Popular (CDS/PP) regional, José Manuel Rodrigues (oito por cento).
Coelho desvaloriza os resultados destes inquéritos online. "Não têm base científica, não são para levar a sério", diz ao P2. "Resultam do apoio da malta jovem que lida bem com os computadores e está descontente com a classe política." Para esses descontentes, como observa o empresário Miguel Freitas, "votar Coelho é mostrar um cartão vermelho" aos outros candidatos e partidos apoiantes.
Isso pode explicar, em parte, a surpreendente adesão não só de jovens, mas de desempregados e idosos que subscreveram a propositura de Coelho a candidato à presidência. E também o facto de a sua entrevista à RTP ter ultrapassado, no número médio de telespectadores (889 mil), Cavaco Silva (869 mil), ficando em segundo depois de Fernando Nobre (908 mil).O madeirense foi aquele que, de entre todos os entrevistados, conseguiu a melhor fatia dos espectadores que nesse momento viam televisão (23,3 por cento).
Coelho está consciente de que o seu atrevimento, irreverência e humor não o vão levar a trocar a modesta casa em Gaula pelo Palácio de Belém. Aliás, não é esse o seu objectivo, nem dos impulsionadores da sua candidatura que, admitem, funciona como preparação para as eleições regionais previstas para Outubro próximo, o que provoca apreensão nos directórios dos outros partidos, a começar pelo que está no poder.
"[O PSD-Madeira] está assustado com o avolumar da adesão popular à minha candidatura e à nossa luta", diz Coelho. O candidato apoiado pelo Partido Nova Democracia (PND), de que é deputado único à Assembleia da Madeira, explica que este partido constitui "uma "barriga de aluguer" para receber democratas de vários partidos descontentes com o cenário político regional, com a própria inoperância dos partidos da oposição e que se juntaram num grupo heterogéneo com um único objectivo: combater o jardinismo e instaurar um regime democrático na Madeira, o 25 de Abril que nunca chegou".
Baltazar Aguiar, líder do PND e cunhado do seu fundador, Manuel Monteiro(que já não está no partido), explica a estratégia: "Os partidos são palcos institucionais montados, [cujas] estruturas possibilitam a entrada de pessoas." A ideia de aproveitar esta sigla partiu de Aguiar, do também advogado António Fontes, do ecologista Gil Canha e de Eduardo Welsh, membro de uma das mais abastadas famílias inglesas radicadas na ilha, constituindo-se como os "quatro cavaleiros do apocalipse" madeirense. "Somos todos de direita e centro-direita, por isso procurámos alguém de esquerda que viesse equilibrar as coisas", diz Aguiar.
É aqui que, em 2007, entra um pintor da construção civil. "Estava na redacção do Garajau,quando entra um indivíduo desconhecido, com a camisa toda ensanguentada, a queixar-se da brutalidade de uma busca policial à sua casa. Procurou-nos, porque a imprensa regional não quis dar eco à sua queixa", conta Gil Canha, então director daquele mensário satírico de combate ao jardinismo. Era José Manuel Coelho, então alvo de investigação por suspeita de distribuir o panfleto periódico Democratas de Gaula, com denúncia de casos de alegadas corrupção e promiscuidade em Santa Cruz, município que teve um dos dois presidentes de câmara (Luís Gabriel), entre 11 existentes no arquipélago, condenados a pena de prisão efectiva por crimes de corrupção e peculato. Desde então Coelho e os três principais mentores do Garajau (Aguiar, Canha e Welsh) uniram-se, sob a bandeira do PND, com o objectivo de "podar o jardim" - slogan usado nas regionais antecipadas de Maio de 2007 - e contribuir para a alternância política na Madeira. Concorreram pela primeira vez nessas eleições, quando Jardim, a pretexto da entrada em vigor da nova lei que regulava com maior rigor o relacionamento financeiro entre o continente e a região, se demitiu. Com dois mil votos (2,08 por cento), menos de um terço dos subscritores da candidatura, Coelho tornou-se depois deputado regional, substituindo Baltazar Aguiar, que abandonou o Parlamento quando Jardim, em vésperas da visita oficial do Presidente da República à Madeira, chamou "bando de loucos" à oposição, cujos representantes Cavaco Silva recebeu no hotel, em breves audiências não incluídas no programa, de que não constou a tradicional sessão de boas-vindas na Assembleia Regional.
As cenas protagonizadas por Coelho nos três anos de actividade parlamentar (2007-2010) deram-lhe projecção nacional e regional. Depois de uma campanha eleitoral feita num carro funerário, usado para "sepultar a corrupção", tornou-se conhecido como o "deputado do relógio" ou da bandeira nazi, por ter exibido estes elementos em protesto contra a redução dos tempos de intervenção dos deputados oposicionistas no plenário ou contra o "regime ditatorial" na Madeira, situação que levou o PSD a expulsá-lo do Parlamento. Para repudiar o exagerado financiamento partidário na região feito sob forma de subvenção parlamentar, distribuiu aos idosos o dinheiro recebido pelo PND. Provocou também a ira dos sociais-democratas quando propôs uma caricatural estátua ao "grande líder Jardim" e quando telecomandou o "zeppelin" que foi abatido a tiro quando tentava sobrevoar a festa anual do PSD no Chão da Lagoa. E, numa comemoração do 25 de Abril, fez de Salgueiro Maia, no simulacro de ocupação da Quinta Vigia, residência oficial do presidente do governo regional, para reclamar "a liberdade e a democracia que tardam a chegar à Madeira".
Coelho diz que, se fosse deputado à Assembleia da República, não levaria a bandeira nazi e o relógio ao pescoço, porque "não se coloca o mesmo problema antidemocrático da Assembleia da Madeira". Pela mesma razão, utiliza na campanha realizada na ilha a "guerra subversiva" (que define como um conjunto de acções "espectaculares" para alertar as instituições nacionais para a situação antidemocrática) e, nas acções a realizar no continente, a "guerra convencional", para expor os propósitos da candidatura: "Denunciar e combater a corrupção, eliminar as regalias dos políticos e moralizar a justiça."
As críticas de Jardim
Na opinião de Alberto João Jardim nada disto é "histórico", representa "um fenómeno de pura e mera palhaçada política". Coelho, disse o governante no Parlamento regional em Dezembro, "é pago pela extrema-direita, principalmente por algumas famílias que foram poder na Madeira e que exploraram o povo madeirense e que agora lhe pagam para através da palhaçada denegrir o sistema de autonomia política, denegrir o regime democrático e fazer ataques pessoais".
Jaime Ramos, líder parlamentar do PSD, subscreve esta opinião sobre Coelho. "Está instrumentalizado por capitalistas que beneficiaram do sistema, antes do 25 de Abril, e continuam a beneficiar", explicou ao P2. "Diz que é comunista, agora está num partido de extrema-direita. É uma mistura curiosa. Só pode ser para gozar."Eduardo Welsh, cujos bem familiares têm sido objecto de polémicas expropriações decretadas pelo governo regional, nega estar a financiar a campanha deCoelho. "Ficaria mal se não fizesse um donativo, mas antes tenho de pagar as custas judiciais de um processo que me foi movido pelo vice-presidente do governo [Cunha e Silva]."
"Sempre fui e sou comunista", defende-se o deputado do PND. "Este é um partido de direita, mas daquela direita que é hostil ao poder, porque a direita do poder, a do grande capital financeiro, está personificada no PSD e no PS. Estou a aproveitar uma oportunidade para ajudar a democracia", diz Coelho.
Depois de Jardim, o líder parlamentar do PSD - Coelho chama-lhe "o nosso amigo Jaime Ramos" - e o seu filho Jaime Filipe são os alvos predilectos do agora candidato presidencial no Parlamento: "Eles representam a oligarquia do regime jardinista."
Coelho rejeita os epítetos de "palhaço" ou "Tiririca da política portuguesa" que habitualmente lhe aplicam comentadores e cidadãos anónimos. "Sou um homem sério, um lutador que não está refém de ideologias e, embora deputado, considero-me um pintor da construção civil", profissão que ultimamente só exerceu em regime de trabalho comunitário a que foi condenado num processo por difamação da juíza Joana Dias. Por prática de idêntico crime na pessoa do vice-presidente do governo e de autarcas do PSD, em julgamentos em que foi acusado pelo Ministério Público como distribuidor do panfleto clandestino Democratas de Gaula ou como director do Garajau, de que também é ardina, foi condenado a indemnizar os ofendidos e a pagar custas judiciais com parte do salário.
Salário penhorado
Até Março próximo receberá mensalmente cerca de 700 euros e a partir daquele mês, por ordem do tribunal, volta a ter penhorado, para indemnizar a juíza ofendida, um terço do seu único rendimento (o de deputado da Assembleia regional). À conta destas condenações, em Dezembro recebeu apenas 470 euros, quase metade da indemnização que lhe foi paga por um funcionário do governo regional condenado em 2006 por crime de ofensa à integridade física, depois de o ter agredido por distribuir folhetos a denunciar casos de corrupção. "Na Madeira, vive-se um clima de coacção. Estas pessoas, influenciadas pelos caciques do PSD, agridem e batem por motivos políticos. Isto tem que ser punido para restaurar o Estado de direito nesta parcela do território nacional", defende.
"Ele é boa pessoa. Amigo do povo e contra os seus opressores, por isso é atacado", diz Carmina Marujo, sua vizinha no sítio Ribeiro dos Louros, no alto de Gaula. "Se não fosse ele, não teríamos esta estrada que tanto reclamou na câmara."
Casado, com duas filhas, nasceu a 22 de Julho de 1952 na freguesia de Gaula, em Santa Cruz. É filho de Isabel Mata, ex-freira da Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, e de José Vieira Coelho, 85 anos, membro activo da Igreja Adventista do Sétimo Dia, poeta popular que vendia pela ilha os seus livros-de-cordel (com as histórias do Assalto ao Santa Maria e O pai que matou a filha) à mistura com o Borda d"Água.
Coelho foi baptizado na Igreja católica, herdou do pai a religião adventista e a persuasão de ardina, que lhe valeu uma viagem à antiga URSS, em 1981, como prémio de melhor vendedor do Avante!, jornal oficial do Partido Comunista Português, a que aderiu em 1977 (e do qual é ainda militante). Com o 12.º ano de escolaridade, concluído após o serviço militar cumprido em Angola, foi autarca em Santa Cruz, eleito pela Aliança Povo Unido (APU) e depois pela União Democrática Popular (UDP), e, após diferendo com a direcção regional do PCP, aceitou candidatar-se à Assembleia da Madeira pelo PND. Candidato extra-sistema, é o primeiro madeirense a disputar a Presidência da República, cargo já exercido por dois açorianos, Manuel de Arriaga e Teófilo Braga.
O grande enciclopedista francês do Século das Luzes, Denis Diderot, escreveu na entrada "Enciclopédia" da sua célebre Encyclopédie que o objectivo da colossal obra que ele e Jean d"Alembert publicaram em 1751 era "recolher todo o saber que se encontra agora disperso à face da Terra, dar a conhecer a sua estrutura geral aos homens entre os quais vivemos e transmiti-lo aos que vierem a seguir".
E a entrada correspondente na Wikipédia (wikipedia.org) - a grande enciclopédia online da era da Internet, que esta semana celebra o seu décimo aniversário - explica que, mais do que como um simples dicionário, "Diderot via a enciclopédia ideal como um índice de ligações". Clicando no link que aparece neste artigo, podemos confirmar a informação: dois cliques e vamos parar ao texto original de Diderot, onde descobrimos uma frase que começa assim: "Através da organização enciclopédica, da universalidade do saber e da frequência das referências, as relações crescem, as ligações partem em todas as direcções." Referências. Relações. Ligações. Mais do que uma proposta, o texto de Diderot parece uma genial premonição. A enciclopédia ideal de que fala o filósofo está a ser construída hoje e chama-se Wikipédia.
Muitos irão objectar que a informação contida na Wikipédia não é suficientemente fidedigna, que não é "100 por cento fiável" e que por isso não é séria e nunca poderia ser equiparada a um trabalho erudito como o das enciclopédias tradicionais (em papel) - e, em particular, com a "rainha" do género, a Encyclopaedia Britannica.
Mas, tal como a enciclopédia de Diderot pretendia ser mais do que um simples dicionário, a Wikipédia quer ser mais do que uma simples enciclopédia (em papel): "A Wikipédia não é uma enciclopédia em papel", lê-se no artigo Wikipedia:What Wikipedia is not. E, no entanto, é algo parecido com o que Diderot, salvaguardando as distâncias (ele não tinha Internet), terá sem dúvida vislumbrado. Explica ainda a mesma entrada da Wikipédia que ela é "uma enciclopédia online e, enquanto meio para atingir um fim, uma comunidade online de pessoas interessadas em construir uma enciclopédia de alta qualidade num espírito de respeito mútuo". Descubra as diferenças!
André Barata, filósofo, investigador da Universidade da Beira Interior, aponta uma: "Enquanto enciclopédia falta-lhe o ponto de vista global que tradicionalmente a deveria enquadrar", disse ao P2 por email. "Com efeito, as enciclopédias tradicionais, desde D"Alembert e Diderot à Britannica, dispunham de um pressuposto comum, de ilustração e sistematicidade do saber. (...) O saber não é, no essencial, um enorme arquipélago de dados, informação e ilhas de conhecimento apenas linkadas, mas não realmente ligadas." Mas a seguir acrescenta: "Em contrapartida [a Wikipédia] é epistemicamente liberal e tolerante, experimental. Está menos a defender um corpo de saber da barbárie do que a gerar espontaneamente um corpo para o saber."
Cérebro fora-de-bordo
É um facto que a Wikipédia que temos não é perfeita, nem muito menos completa, nem muito menos isenta de erros, sejam eles involuntários ou não. Já foi alvo de vandalismo, a qualidade dos seus artigos não é uniforme, a qualidade das suas versões nas diversas línguas também não. Mas os factos também abonam em seu favor: um estudo publicado na revista Nature em 2005 mostrava que os artigos científicos da Wikipédia e da Encyclopaedia Britannica eram comparáveis em termos de rigor. Diga-se de passagem que a Wikipédia não foi construída do nada: a edição de 1911 da Britannica, hoje no domínio público, foi um dos seus pilares iniciais, lê-se na Wikipédia.
De resto, quando ouvimos ou lemos aqueles que usam a Wikipédia e conhecem as suas qualidades e defeitos, ficamos com a nítida impressão de que talvez tenha chegado a altura de admitirmos que é ela mesmo muito boa e que (quase) todos a usamos e precisamos dela. Dos escritores aos filósofos, dos historiadores aos jornalistas, dos estudantes aos professores. Como declarava em 2009 um post num blogue da Wired.com, a Wikipédia tornou-se "o cérebro fora-de-bordo mundial".A Wikipédia foi formalmente lançada a 15 de Janeiro de 2001 pelos norte-americanos Jimmy Wales (empresário da Web) e Larry Sanger (filósofo), utilizando o conceito e a tecnologia wiki (palavra que em havaiano significa "rápido"), cujo pioneiro foi o informático norte-americano Howard Cunningham. Wales e Sanger tinham começado por lançar, um ano antes, a Nupedia, uma enciclopédia online escrita e editada por especialistas. Mas a lentidão do processo de produção exasperava os seus fundadores.
A 10 de Janeiro, faz hoje dez anos, a Nupedia decidiu lançar o seu wiki, cuja intenção inicial era acrescentar "uma pequena funcionalidade à Nupedia", nas palavras de Sanger, e acelerar o seu crescimento. Mas o recém-nascido, rebaptizado Wikipedia logo a 11 de Janeiro, rapidamente eclipsou o seu progenitor e passou a ser a enciclopédia "que todos podem editar".
Dez anos volvidos, lê-se na actualização de Novembro de 2010 da factsheet da Wikipédia que este é o quinto site mais popular a nível mundial. Está disponível em mais de 270 línguas, tem a participação de mais de 80 mil editores voluntários, a versão em inglês contém 3,4 milhões de artigos e o total das suas edições nas várias línguas soma 17 milhões de entradas. Em Setembro de 2010, teve quase quatrocentos milhões de visitantes únicos. A Wikipedia é gerida, desde 2003, pela Wikimedia Foundation, entidade sem fins lucrativos que vive de donativos
Sessenta e seis jornalistas e outros trabalhadores dos media morreram durante o exercício das suas actividades profissionais em 2010. O México e o Paquistão emergem como os dois países mais perigosos para o exercício das funções jornalísticas. As conclusões são da World Association of Newspapers and News Publishers (WAN-IFRA).
Quer no México quer no Paquistão morreram durante o ano passado dez jornalistas. No primeiro caso as mortes estiveram praticamente todas ligadas à cobertura de temas relacionados com os cartéis de droga. No segundo caso trata-se de mortes de jornalistas que cobriam a guerra contra o terrorismo que se desenrola no país. Em 2009 tinham morrido nove jornalistas no México e oito no Paquistão.
As Honduras ocupam o terceiro posto nos destinos mais perigosos para os jornalistas, tendo ocorrido no país oito mortes durante 2010. Muitos outros profissionais assumem receber ameaças de morte frequentes enquanto tentam escrever sobre crime organizado, tráfico de droga e disputas territoriais. Neste país os jornalistas foram igualmente apanhados na violenta divisão política entre os apoiantes e os opositores do golpe de Estado ocorrido no país em Junho de 2009.
As estatísticas de 2010 - apuradas depois de uma investigação às potenciais mortes nos media internacionais - são, ainda assim, inferiores às dos anos anteriores: 99 em 2009, 70 em 2008, 95 em 2007, 110 em 2006 e 58 em 2005.
Para além dos crimes cometidos em situações de conflito, os jornalistas de muitos países estão a ser alvo de liquidações estratégias quando investigam assuntos relacionados, por exemplo, o crime organizado, o tráfico de droga e a corrupção. Muitas vezes estes jornalistas são assassinados com total impunidade, refere o relatório da WAN-IFRA.
“Matar jornalistas é a forma derradeira de censura e um ataque directo à sociedade enquanto todo. Ainda acontece demasiadas os responsáveis por estes crimes nunca enfrentarem a justiça”, indicou Christoph Riess, o director-executivo da WAN-IFRA.
“Estes assassinos deverão ser trazidos à justiça e julgados de forma exemplar. Os jornalistas deverão poder exercer os seus direitos de liberdade de expressão sem sentirem medo ou violência”, disse o mesmo responsável, citado no mesmo relatório enviado às redacções.
Lista do número de jornalistas e outros trabalhadores dos media mortos em 24 países em 2010 (por ordem alfabética):
Chamam-lhe casamento. Mas não é. É a prova legislada de que Portugal é um país onde práticas discriminatórias se tornam lei. O que a Esquerda parlamentar aprovou é o absurdo. De facto e de jure diz aos homossexuais que podem fazer tudo como "os outros". Menos cuidar de crianças. Porque aí o partido de Sócrates "ainda" tem reservas. Pelo menos nesta legislatura. E por isso as cautelas com o bem-estar das crianças foram vertidas em forma de diploma. Porque o Partido Socialista tem reservas quanto aos homossexuais como educadores de infância. Porque "os superiores interesses das crianças" têm de ser salvaguardados. Logo, não estão salvaguardados com estes casamentos. Se tivesse confiança nos homossexuais para cuidar de crianças, Sócrates não fazia uma lei a dizer que não tinha.
E foi o que fez. E por força dessa lei de Sócrates, os homossexuais ficarão obrigados a usar nesta República centenária uma braçadeira branca com um triângulo cor-de-rosa a clamar pederastia. E ainda outra. No outro braço. A advertir que por isso, logo por causa disso, a República não lhes confiará crianças. Porque a república de Sócrates não confia que pais
homossexuais possam cuidar devidamente de crianças.
A lei de Sócrates coloca braçadeiras nos homossexuais que caiam no logro de se incriminarem. Depois, esteriliza-os. Impedindo-os de constituir família pelo único meio que podem. Porque se o mundo dos afectos é complexo, o da biologia é impiedoso. Por isso, o partido de Sócrates vai ter de legislar mais para manifestar as suas "reservas" sobre a procriação medicamente assistida em casais homossexuais. Senão a sua "lei" ainda é mais absurda. Ou então vai ter de legislar e dizer que se enganou. Que é o que vai acontecer. E que afinal os homossexuais podem ser bons pais e boas mães. Mas só para a próxima legislatura. Quando o seu aparelho estiver a esgravatar outra vez votos. E então o slogan será: trouxemos aos homossexuais a felicidade do casamento. E agora vamos trazer-vos a da paternidade. Ou da maternidade. Porque, dirá o slogan, os homossexuais portugueses, afinal, são gente de bem que passaram a prova de idoneidade que Sócrates lhes impôs. Venceram o período probatório e podem tirar as braçadeiras.
Deu muito trabalho a trazer isto para Portugal, dirá Sócrates em campanha. Mas o trabalho liberta. Mais uma legislatura e deixam de ser assimilados a cônjuges. Passam a ser de jure cônjuges. Até lá, a República não pode entregar as suas crianças aos cuidados de homossexuais.
O estranho é que a Esquerda (quase) toda se deixou levar por (mais) esta manifestação do insuportável tacticismo a que consegue chegar o aparelho partidário que Sócrates capturou.
O país devia ter-se pronunciado sobre tudo isto. Sobre o que fizeram aos homossexuais e ao casamento. De facto, vai ter de se pronunciar. Isto foi longe de mais.