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A-24

Suíços aprovam iniciativa para facilitar expulsões de imigrantes condenados

por A-24, em 28.11.10
De acordo com os números finais, 52,9 por cento dos suíços concordam com a proposta do UCD, o partido de extrema-direita que se tornou nos últimos anos no maior da Suíça. Nos cartazes do UDC aparecia um grupo de ovelhas brancas que pontapeava para fora da bandeira helvética uma ovelha negra.
Só os eleitores de cantões de maioria francófona não disseram “sim” ao texto.
A deportação de estrangeiros condenados já é possível no país segundo determinadas condições, mas o novo projecto de lei prevê a expulsão automática sem ter em conta a gravidade dos delitos. 
A contra-proposta lançada pelo Governo, que visava precisamente que se tivesse em conta a gravidade dos crimes e o tempo da pena a que cada estrangeiro seja condenado na decisão de expulsão, foi rejeitada pela maioria dos eleitores.
O Governo teme que a nova legislação abra mais fissuras nas relações com a União Europeia, para além de poder entrar em choque com tratados internacionais anti-descriminação. As críticas à proibição da construção de minaretes, votada há exactamente um ano pelos suíços, ainda estão bem presentes na memória dos dirigentes.
A Suíça não é membro da UE, mas aceitou várias determinações comuns aos Vinte e Sete e permite aos cidadãos de todos estes países residirem na federação sem autorizações especiais.

“Portugal, Grécia e Irlanda podem não estar no euro daqui a cinco anos"

por A-24, em 25.11.10
O agudizar da crise da dívida soberana europeia poderá não deixar outro caminho que não uma restruturação da união monetária. “Daqui a cinco anos, podemos ter uma composição diferente da zona euro. Grécia, Portugal e Irlanda poderão não pertencer ao euro”, afirmou ontem Keith Wade, economista-chefe da Schroders, uma das maiores gestoras de activos financeiros do mundo. “A questão não é a Grécia entrar em incumprimento, mas sim Portugal, Espanha e Irlanda. Se a Irlanda pedir ajuda, a seguir será Portugal.”
Segundo o analista, os países periféricos da zona euro estão numa encruzilhada difícil de ultrapassar. Presos ao euro e sem flexibilidade monetária que lhes permita aumentar a competitividade da economia, será muito complicado resolverem os seus desequilíbrios orçamentais e regressarem a crescimentos económicos sólidos. “Com o euro, estes países deixaram de ter vantagens competitivas. Com o fim do boom do consumo, tornou-se difícil crescer”, explicou durante uma conferência internacional da Schroders, em Londres. “Como é que o Reino Unido se aproximou da competitividade alemã? Desvalorizando a libra.” Uma opção que não está disponível para os países da zona euro.
Keith Wade referiu que a tarefa que a Alemanha está a exigir a estes países é praticamente impossível de concretizar sem uma desvalorização monetária. “Mesmo depois dos pacotes de ajuda, o crescimento destes países não será suficiente. Quando a Grécia regressar ao mercado, por exemplo, deverá pagar taxas de juro próximas de 10%. Com uma dívida de 150% do PIB e um crescimento económico muito baixo, é matematicamente impossível pagar esses 10%”. Na prática, e para Wade, existem dois cenários possíveis: ou estas economias continuam a ser altamente apoiadas durante bastante tempo ou têm de sair da zona euro para resolverem os seus problemas.
Outros oradores referiram a rigidez monetária dos países periféricos da zona euro não só como o problema central a abordar daqui para a frente, mas como principal responsável pelo actual impasse. Alan Brown, chief investment officer, também concorda que é provável que se assista a uma alteração dos membros da zona euro, admitindo mesmo o fim da união monetária. “Não é assim tão raro. Desde a Segunda Guerra Mundial já foram extintas 69 uniões monetárias”, diz, embora faça questão de acrescentar que “enquanto continuar a existir vontade política, o euro continuará a existir”. O problema, segundo o economista, é que estão a ser pedidas correcções orçamentais gigantescas aos países com problemas de dívida que, segundo o próprio, poderão durar uma década. Um cenário que poderá enfraquecer a vontade política de manter a união monetária. “Temo que Portugal também tenha de passar por esse processo. Parece-me certo a seguir à Irlanda”, adiantou ao i, no final da sua intervenção.
Lógica de matilha? Nos últimos meses tem sido questionado se existem realmente razões para a subida asfixiante das taxas de juro, tendo sido referido por alguns economistas que se trata de uma onda especulativa de investidores que estão a ganhar muito dinheiro com a crise. Massimo Tosato, vice-presidente da Schroders, admite que alguns investidores têm lucrado, mas não aceita que seja esse o problema. “Fazemos dinheiro onde vemos que é possível. A especulação não é o problema. O problema são os desequilíbrios orçamentais. Simplesmente há quem esteja a aproveitar isso para fazer dinheiro”, afirmou ao i, à margem da conferência.
Recuperação e guerra de divisas Os cortes radicais nas taxas de juro e a inundação do mercado com liquidez podem ter prevenido uma recessão mais profunda, mas não deram origem a uma recuperação sólida como se chegou a esperar. Actualmente, com os estados a cortarem no investimento e as famílias mais avessas a gastar, de onde virá o crescimento? Para Keith Wade, terão de ser as empresas a puxar pela economia. E têm condições para o fazer. O economista-chefe da Schroders referiu que os lucros das empresas têm disparado, principalmente devido a um pico de rentabilidade, sustentado nos ajustes de custos que a crise obrigou a fazer, nomeadamente com pessoal. “Esperamos que as empresas voltem a contratar. É um processo que já está a acontecer.”
Durante a sua intervenção, o economista adiantou que não espera uma subida das taxas de juro nos EUA e na zona euro durante 2011, nem que se confirme um cenário de nova recessão. No entanto, expressou bastantes dúvidas em relação à estratégia do governo norte-americano de injectar uma nova enorme quantidade de liquidez no mercado, que terá como consequência a desvalorização do dólar, beneficiando as exportações dos EUA. Uma intenção que a administração Obama tem negado. “É uma treta quando dizem que não é para o dólar. É para o dólar. Se os EUA desvalorizarem a moeda, será muito difícil para a China manter o yuan subvalorizado. Se não o deixarem valorizar, terão problemas de inflação e criação de bolhas. Parece-me que assistiremos a uma valorização progressiva [da moeda chinesa].” Público

Afectos e rupturas de um líder revolucionário

por A-24, em 22.11.10
"Não te escrevo mais porque não admito que a carta de uma mãe para um filho seja lida por outras pessoas." Esta mensagem de ruptura de relação está inscrita na última carta que Mercedes Barreirinhas Cunhal escreveu, em 1950, para o seu filho, Álvaro Cunhal, preso na Penitenciária de Lisboa desde 1949, e revelada na obra Álvaro Cunhal - Retrato pessoal e íntimo, da autoria do jornalista Adelino Cunha, e hoje lançada pela editora A Esfera dos Livros.


A carta, que permanece na posse de Eugénia Cunhal, irmã de Álvaro, é o último contacto estabelecido com o seu filho por Mercedes Cunhal, que veio a falecer em 1971. Já numa anterior carta, Mercedes assumia: "Álvaro, eu já não tenho forças para te ir ver à prisão".
Era o desgaste de uma mãe que não aceitava a opção de vida do filho. "A minha mãe perdeu dois filhos e ver o Álvaro a viver na clandestinidade, a passar fome, a ser preso e torturado, significava perdê-lo também", diz Eugénia. Prossegue Adelino Cunha: "Mercedes não aceita que uma pessoa com as suas qualidades humanas e intelectuais esteja condenado ao contínuo sofrimento numa prisão interminável" (pp. 265/268).

Mesmo antes de mergulhar na clandestinidade, aos 22 anos, a mãe de Cunhal já se opunha às actividades políticas do filho e a relação fortíssima do ponto de vista afectivo existente entre ambos viveu essa permanente tensão. A caracterização desta relação é um dos aspectos bem conseguidos desta obra, que Adelino Cunha foi construindo ao longo dos últimos três anos e que aposta em trazer à luz do dia os afectos e as rupturas afectivas de um dos principais líderes políticos portugueses e um dos principais dirigentes comunistas a nível mundial no século XX, Álvaro Barreirinhas Cunhal (10/11/1913 -13/06/2005).
Contando com uma inédita colaboração da irmã de Cunhal, Eugénia, da filha do líder comunista, Ana Cunhal, da mãe desta, Isaura Moreira, e de dirigentes comunistas históricos, como Cândida Ventura, Carlos Costa, Jaime Serra, Joaquim Gomes, Margarida Tengarinha e Sofia Ferreira, Adelino Cunha consegue revelar, pela primeira vez, aspectos e facetas da intimidade e da afectividade do homem que insistiu em apenas revelar ao mundo o seu perfil de líder político e de ícone revolucionário.

Testemunhos orais

Álvaro Cunhal - Retrato pessoal e íntimo é um trabalho bem conseguido, que não esquece também o perfil e o percurso político do líder político, se bem que Adelino Cunha tenha a inteligência de não tentar sequer ser exaustivo neste aspecto, em que rivaliza com a obra de investigação que Pacheco Pereira tem publicado sobre Cunhal (Álvaro Cunhal, uma biografia política, da qual já foram publicados três volumes pela Temas & Debates). Mas este Retrato pessoal e íntimo não deixa de fazer também uma incursão narrativa na história política do século XX e não ignora aspectos fulcrais da vida do Partido Comunista Português (PCP). Sempre escrita de uma forma que atrai, de fácil leitura e num registo claramente jornalístico, como assumiu o autor ao P2.

Foi, aliás, a opção por um texto fácil de ler que levou Adelino Cunha à questionável decisão de não incluir notas ao longo do livro, indicando de onde retirou os factos e as afirmações que cita. "É uma decisão só minha, para não complicar a leitura. Com notas o livro ficava muito denso, muito grande. Foi uma opção prática. Admito que prejudica a credibilidade científica por ser um registo jornalístico. Se for reeditado, tentarei pôr notas", argumentou Adelino Cunha ao P2, clarificando também que foi escolharecorrer sobretudo a fontes orais, ou seja, aos depoimentos de dirigentes comunistas ainda vivos, o que o leva a desvalorizar e a quase ignorar a dimensão de figuras como Sérgio Villarigues e Octávio Pato na história do PCP. 


É de sublinhar, contudo, que, pelo facto de ter feito uma biografia de Cunhal bastante dependente dos testemunhos orais que recolheu de pessoas próximas do líder histórico, Adelino Cunha não cola a sua visão de Cunhal à imagem idolatrada. E é possível ver exposta a dureza das críticas que Cunhal fez ao seu principal adversário interno, Júlio Fogaça, que com ele rivalizou pela liderança. Bem como ver apontados erros a Cunhal, como quando tentou que fosse atribuída a uma falha organizativa de Militão Ribeiro a prisão de ambos e de Sofia Ferreira no Luso, em 1949.

Havia na prisão uns bichos

Numa obra cuja grande aposta e importância é a revelação de aspectos pessoais e íntimos, é assim possível perceber não só a relação tensa e profunda que ligava Cunhal à mãe, bem como a absoluta cumplicidade que manteve com o seu pai, Avelino Cunhal, que o defendeu sempre em tribunal. E também a fraterna e intensa ligação entre os dois irmãos, Eugénia e Álvaro.
Em 1953, recorda Adelino Cunha, durante o atroz período de 11 anos da sua terceira e última prisão (1949-60), na Penitenciária de Lisboa e em Peniche, Cunhal beneficia de um regime de visitas mais tolerante. "A alteração do regime de visitas permitiu finalmente ver o pai, a irmã, o sobrinho-afilhado. Avelino e Eugénia reencontram-no pela primeira vez sem barreiras de vidro entre ambos. "Já podíamos tocar-lhe as mãos, abraçá-lo, dar-lhe beijinhos. O Álvaro era muito terno e carinhoso. As pessoas quando gostam precisam de se tocar"", conta Eugénia Cunhal. (p. 271)
Uma relação que marcou Eugénia Cunhal, desde que muito nova vive a primeira prisão do irmão, em 1937. "Lembro-me do corredor por onde tínhamos de passar e da rede que havia entre nós. Ele estava do outro lado. Muito pálido, muito magro, com o cabelo todo cortado. Fiquei muito impressionada por ver o meu irmão assim. Ainda hoje tenho o cheiro do Álvaro, a memória daquele cheiro impressiona-me imenso e há coisas que ficam para sempre", revela Eugénia Cunhal a Adelino Cunha. Prossegue o autor: "Recorda-se de a mãe lavar em casa a roupa ensanguentada que levaram do Aljube. "Fiquei muito nervosa quando vi o sangue e a minha mãe tentou tranquilizar-me dizendo que havia na prisão uns bichos que mordiam o meu irmão. O sangue era da pancada que ele levava."" (p. 127)
A dureza do regime prisional e a noção exacta de que a PIDE não o libertaria levam Álvaro Cunhal a tentar negociar, em 1957, com o Governo de Salazar a sua libertação para o exílio no México, que foi, por sua vez, autorizado por Moscovo. "Cunhal negociou com o Estado Novo o regresso à liberdade após ter cumprido oito anos de prisão. A proposta de compromisso implicava o abandono de Portugal e o exílio no México. Os detalhes deste processo foram directamente comunicados ao responsáveis soviéticos para solicitar aprovação e ajuda do movimento comunista internacional. Moscovo aprovou a negociação da libertação condicionada ao exílio", escreve Adelino Cunha. E acrescenta: "A publicação de "escritos clandestinos" posteriores à prisão de 1949 e a ausência de garantias claras quanto ao seu comportamento em liberdade" foram os motivos alegados pelo regime para não o libertar. (p. 332) 
Anos de clandestinidade e um regime prisional violento, mais as quebras afectivas mudam Cunhal: "Quando conheci o Álvaro, era uma pessoa de uma enorme modéstia e de respeito no trato com os outros e criticava os que se comportavam de forma altiva dentro do partido (...). Depois da fuga de Peniche, mudou", afirma Cândida Ventura a Adelino Cunha. (p. 417)
A tensão no relacionamento afectivo com a mãe reproduz-se anos depois com a sua filha, Ana Cunhal, que optará por não viver na sombra da imagem de líder e de ícone do pai. "Os que queriam fazer de mim um exemplo acabaram por desistir", diz Ana Cunhal, que cedo deixou Portugal, vivendo na Bélgica, primeiro, e actualmente nos Estados Unidos. (p. 521)
Embora recuse conviver e depender da vida política do pai, tal como a sua avó Mercedes fizera décadas antes, Ana Cunhal tinha uma ligação afectiva profundíssima e uma relação forte de cumplicidade com o pai, que transparece com elegância no livro de Adelino Cunha.
Ana Cunhal, nascida em Dezembro de 1960, só viveu com o pai os primeiros anos da sua vida, em Moscovo (os pais separaram-se em 1965, e Ana e a sua mãe, Isaura Moreira, foram para Bucareste). É, aliás, Isaura Moreira que relata a Cunha: "Deu -lhe sempre muita atenção. (...) Fazia tudo para que ela fosse feliz." (p. 432)
Mas a vida afectiva, pessoal e íntima de Álvaro Cunhal que Adelino Cunha consegue fazer transparecer abrange também as suas relações amorosas, isto é, as suas mulheres. Adelino Cunha humaniza o ícone e o líder revolucionário que gostava de se apresentar ao mundo esculpido na pedra. Afinal, Cunhal era feito de carne e osso e de prosaicos pecados, como todos os homens e todas as mulheres.
As suas relações são conhecidas, pelo menos algumas, mas surgem neste livro na sua quase plenitude. Desde Fernanda Barroso, a última mulher, de quem Adelino Cunha diz: "Ana Cunhal guarda a memória dessa relação como um "tesouro"." (p. 616) Até Isaura Moreira, com quem o líder teve a única filha. E que conheceu depois da fuga de Peniche, ao recolher-se na casa clandestina preparada pelos pais de Isaura.
"Os pais de Isaura Moreira receberam instruções para abandonarem a casa de Runa e foram instalar um novo ponto de apoio no Penedo para receber o líder do PCP. A serra de Sintra devia servir apenas como mais um ponto de apoio para os preparativos do exílio de Cunhal em Moscovo, mas acabou por se transformar no cenário de uma relação amorosa com Isaura Moreira. A paixão, ao fim de uma década de prisão, gerou rapidamente a única filha do líder comunista. Conheceram-se em Março e foram pais em Dezembro. O carisma do chefe supremo estava a solidificar-se, quando conheceu esta jovem idealista de 19 anos." (p. 365)
Cunhal e Isaura foram para Moscovo em 1961, depois de Cunhal ser formalmente eleito secretário-geral do PCP, e aí viveram até 1965. É o período em que Cunhal volta a ter uma vida familiar estável. Em apartamentos próximos ao seu viviam Francisco Miguel, dirigente histórico do PCP que mais fugas de prisão teve e que foi o último prisioneiro a sair do Tarrafal, por um lado, e, por outro, Margarida Tengarinha e a filha Margarida Tengarinha Dias Coelho, que tem mais um ano do que Ana Cunhal - as duas crianças, a "Anita" e a "Guidinha", foram criadas juntas. E diz Isaura Moreira: "Tínhamos uma vida normal. Passeávamos, íamos às compras, aproveitávamos para ir ao teatro, aoballet e ao cinema." (p. 424)
Quando se separa de Isaura Moreira e esta vai com a filha para Bucareste, onde já está Margarida Tengarinha, Cunhal fica em Moscovo a viver com a irmã mais nova de Isaura, Dorília, e é com ela que viverá nos arredores de Paris, a partir de 1965, até virem para Portugal após o 25 de Abril (p. 499). Uma revelação sobre a vida de Cunhal que pela primeira vez aparece escrita.
Ao P2 Adelino Cunha explicou que não escreve preto no branco que ela foi sua companheira, porque não conseguiu falar com Dorília. "Assim, não posso garantir em absoluto que ficou com a cunhada como companheira, mas ela acompanha-o. Não fui capaz de esclarecer, não consegui falar com ela e Isaura Moreira não foi mais longe. Mas quando ele mandou a mulher e a filha para Bucareste, fica com a cunhada. E vão juntos para Paris. E vivem juntos ainda quando vêm para Portugal. A minha percepção é que sim, que foi companheira. E houve quem mo dissesse. Mas como não consegui falar com a própria, ficou assim implícito."
Adelino Cunha desenvolve também a história do namoro de Cunhal, nos anos 40, com Aura Vieira, com quem tem um romance em Bucelas, onde estava clandestino. Uma história já abordada por Pacheco Pereira, mas que agora é relatada com todos os pormenores. Ela muda-se para Lisboa. Cunhal estava enamorado. Para não perder o contacto com a jovem, que conheceu numa aldeia da zona de Bucelas, onde vivia clandestino com Sérgio Villlarigues, pede-lhe para ela deixar um papel com a morada no escritório do seu pai. Ela assim faz. E quando a PIDE, em 1945, invade o escritório de Avelino Cunhal, encontra a morada e chega à zona de Bucelas como reduto do PCP. A sorte para os clandestinos é que já não havia casas lá e a falha de Cunhal não teve maiores consequências.
E é Cândida Ventura - que com ele namorou em jovem e no início da vida política e da militância de ambos e com quem Cunhal manteve uma amizade forte e cúmplice para sempre, apesar das insanáveis divergências políticas - quem afirma a Adelino Cunha: "O Álvaro foi um homem como outro qualquer na sua vida sexual. Apesar de querer passar pelo homem que não se interessava por essas coisas e que não prevaricava, prevaricou. Prevaricou como as outras pessoas, homens e mulheres, prevaricam." (p. 160)

Ajuda a Dubcek

Cândida Ventura é a primeira mulher a ascender ao secretariado do PCP, em 1944, e nos anos 50 opõe-se às orientações de Júlio Fogaça. Foi acusada pela direcção de "trabalho fracionário" e, pouco depois, estava presa pela PIDE. ""Houve denúncia de alguém da direcção do PCP. Desconfio de quem possa ter sido", afirma a própria Cândida Ventura a Adelino Cunha. (p. 301)
Doente, consegue ser libertada e ir tratar-se a Londres, em 1964. Daí segue para Moscovo. "No ano seguinte, Cunhal escolheu Cândida Ventura para representante do PCP na Checoslováquia", conta Adelino Cunha. "Aceitou, apesar da ruptura interior com o comunismo. Tornou-se agente dupla na Checoslováquia e uma apoiante incondicional da resistência checoslovaca após a invasão dos tanques soviéticos. Abandonou o PCP após o 25 de Abril." (p. 301)
E é na Checoslováquia que Cândida Ventura protagonizará uma história inacreditável em que serve de veículo consciente de Cunhal para proteger Alexander Dubcek. Cândida Ventura conhecia bem a resistência checa e "travara conhecimento com Alexandre Dubcek em 1965, tendo sido apresentada por Michael Sabolcik, membro da direcção do PCC. É uma fase decisiva da relação entre Cunhal e Cândida." E esta conta um encontro entre os dois: "Queria saber da minha boca o que eu achava sobre o que se tinha passado e sobre o que se podia estar a passar." (p. 482)
Cunhal admite então que a contenção da revolta e do clima anti-soviético na Checoslováquia pode passar pela eliminação física de Dubcek. Uma "inconfidência" que Adelino Cunha garante ao P2 que não é um deslize inconsciente de Cunhal, mas sim um aviso que fez, porque quis e porque sabia que Cândida Ventura o iria fazer chegar ao destino.
No livro, Adelino Cunha escreve: "Cândida Ventura encontra-se pouco depois com os líderes da resistência nesta estância termal perto de Praga e revela a inconfidência de Cunhal. O facto de a informação partir de um dirigente internacional com contactos permanentes com os soviéticos justifica que sejam tomadas medidas imediatas. A informação chega até Dubcek, na altura a viver em Bratislava, e este começa a ser protegido por seguranças pessoais em permanência." (p. 483) E Cândida Ventura afirma: "A verdade é que, depois deste aviso de Cunhal, ele começou a andar com segurança pessoal e morreu precisamente numa viagem quando estava somente com o motorista." (p. 482) Mais uma vez foi o afecto de Cunhal que determinou o laço e a mensagem. Desta vez, o afecto entre ele e Cândida Ventura que, apesar das divergências profundas entre ambos, a política não quebrou.

EUA tinham planos para invadir os Açores em 1975

por A-24, em 22.11.10

Por Nuno Simas

A suspeita existia há anos entre os historiadores e era um dos aspectos obscuros do papel dos Estados Unidos durante a Revolução portuguesa (1974-76). Teriam os Estados Unidos pensado invadir os Açores, onde tinham e têm uma base nas Lajes? Finalmente, há uma resposta. E é sim: o Departamento de Defesa tinha planos para “ocupar” as ilhas se o país caísse sob controlo dos comunistas ou da esquerda radical.A existência dos planos é revelada num memorando de conversação entre o secretário de Estado, Henry Kissinger, e o secretário da Defesa, James Schlesinger, em Janeiro de 1975. Esse documento histórico foi desclassificado, publicado pelo National Security Archive e resulta de uma investigação do historiador William Burr, autor de um livro The Kissinger Transcripts, sobre as negociações do chefe da diplomacia norte-america com a URSS e China, nos anos 70. A 22 de Janeiro de 1975, num pequeno-almoço na Casa Branca entre Kissinger e Schlesinger, Portugal era o primeiro tema de conversa, escassos dez meses passados sobre a Revolução dos Cravos que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano. Kissinger comentou que era necessário ter “um programa” para Portugal. Razão: “Há 50 por cento de hipóteses de perder” o país. Perder Portugal para os comunistas, entenda-se. É então que o secretário da Defesa afirma que os Estados Unidos “têm um plano de contingência para ocupar os Açores”. Apesar de isso “estimular a independência dos Açores” – por essa altura a posição formal de Washington era de “neutralidade” quanto aos independentistas dos Açores. A transcrição, breve, da conversa é feita por William Burr no blogue do National Security Archive, com sede em Washington, associada à George Washington University, e que se dedica à desclassificação e divulgação de investigação histórica da História dos Estados Unidos. Segundo Burr, os planos de contingência não são conhecidos e estarão arquivados no Pentágono. O historiador norte-americano conclui que os receios de Henry Kissinger, que comparou Mário Soares, fundador e líder histórico do PS, a Kerensky, provaram ser exagerados. Depois de meses de revolução nas ruas, de golpes e contragolpes, Portugal tornou-se uma democracia representativa. Em 1976, o PS ganhou as eleições legislativas.

Sobre o Tea Party - Pacheco pereira in "Abrupto"

por A-24, em 21.11.10
Obama foi eleito com tanto esplendor que a chama iria obscurecer alguém. A curto prazo foi McCain e os republicanos, a médio (o médio cada vez mais curto que o encolher do tempo mediático gera) foi o próprio Obama a vítima. É que a sua presidência tem sido pouco mais do que entre o medíocre e o suficiente, enredada em promessas irrealistas e em esperanças exageradas. Como diz um provérbio com base na física popular, tudo o que sobe tem que descer. A gravidade é uma coisa muito séria.
Mas quem iria imaginar que a Nemésis da vitória pessoal de Obama iria ser não uma pessoa mas um movimento colectivo? Com a história é sempre a aprender… Há muitos lunáticos no Tea Party mas o movimento é do mais puramente americano que há. Mário Soares chama-lhe “movimento de extrema-direita”, com o mesmo radicalismo com que no Tea Party há quem ache que Obama é comunista. Mas o Tea Party derrotou esmagadoramente um Obama que há um ano parecia invencível e pode estar aí para durar. Pode, mas não é certo.
Movimento populista, grosseiro nas críticas, como é típico na chamada vox populi, fundamentalista religioso nalguns sectores, mas liberal-libertário noutros, o Tea Party exprime a desconfiança face ao estado, ao big government que é genética na democracia americana. Só o afastamento dos democratas e de Obama dessa fonte original, querendo fazer política “à europeia”, explica muito do radicalismo das suas críticas.
O individualismo também lá está, mas é o individualismo que Stuart Mill descreveu nestes termos: “apenas a parte da conduta de cada um que se reflecte na sociedade diz respeito a outros. Na parte que apenas diz respeito a si próprio, na sua independência é absoluta. Sobre si próprio, sobre o seu corpo e a sua mente, o individuo é soberano”. Claro que para muita gente que vai para a rua e votou nos candidatos apoiados pelo Tea Party, este individualismo é genuinamente contraditório, por um lado são contra a liberdade nas condutas sexuais, por outro não querem o governo a decidir a que médicos podem ir, quando podem.

Adrian Newey: O engenheiro genial é a chave do sucesso da Red Bull

por A-24, em 21.11.10
Ter dinheiro e bons pilotos é fundamental, mas não é suficiente para vencer um Campeonato do Mundo de Fórmula 1. É sempre obrigatório ter um bom carro. Esse factor foi ainda mais decisivo no campeonato que terminou no domingo, porque os pilotos da Red Bull cometeram alguns erros que podiam ter custado caro. Valeu-lhes a superioridade do monolugar criado por Adrian Newey, um engenheiro que ganha tanto como um bom piloto (oito milhões de euros por ano) e que é considerado um génio da Fórmula 1.
"Adrian Newey foi o homem-chave deste Mundial e o facto de ser pago ao nível de um piloto de ponta justifica o investimento", diz ao P2 Luís Vasconcelos, o único jornalista português que acompanha ao vivo o Mundial de Fórmula 1. "Um piloto tem altos e baixos. O Newey não tem baixos."
Newey não é um desconhecido na Fórmula 1. Em 30 anos de carreira transformou-se no mago do design e, desde a década de 1990, ajudou a ganhar sete campeonatos de pilotos, apenas menos um do que Ross Brawn, o homem que acompanhou Schumacher na Benetton (1994 e 1995) e na Ferrari (2000 a 2004) e Button na Brawn (2009). Depois de ter sido campeão na Williams e na McLaren, Newey repete agora a façanha na Red Bull, igualando Ross Brawn como campeão em três equipas diferentes.
O mérito de Newey nos triunfos de Sebastian Vettel e da Red Bull é ainda maior se tivermos em conta que a equipa austríaca apenas foi criada em 2005. Em pouco tempo, este engenheiro e os seus companheiros transformaram uma novata em campeã do mundo. 
É por isso que esta é também a vitória mais pessoal de Newey. Na Williams, ajudou nos títulos de Nigel Mansell (1992), Alain Prost (1993), Damon Hill (1996) e Jacques Villeneuve (1997), mas era o "número dois" de Patrick Head. Na McLaren, criou o carro que deu o bicampeonato a Mika Hakkinen (1998 e 1999), mas na equipa britânica "não há individualidades", como destaca Luís Vasconcelos.
Agora, a Red Bull foi construída à sua imagem. "A Red Bull era uma folha de papel em branco. Muita gente disse a Adrian Newey que ele era louco em vir para cá, mas ele provou que estavam errados", disse ao diário britânico TheGuardian Christian Horner, chefe da equipa, elogiando a "tremenda criatividade e o olho para o detalhe" do engenheiro que é também director técnico.
Mas, afinal, o que distingue Newey de outros engenheiros da Fórmula 1? "É um génio. Ele nasceu para aquilo", responde Domingos Piedade, um profundo conhecedor da F1 e amigo do britânico. "Ele encontra soluções sensacionais para tornar os carros mais rápidos. Muitas vezes os outros copiam, mas não sabem por que funciona. Mas ele sabe", completa Piedade.
"Adrian é o último dos génios que nos restam", acrescenta Luís Vasconcelos, sublinhando como ele criou este ano um carro muito superior aos da concorrência. Tão superior que foi capaz de resistir aos erros dos pilotos, a azares mecânicos (com os motores Renault) e também a algumas más decisões estratégicas da equipa.

O homem do lápis
Nascido em Stratford-upon-Avon, Adrian, 51 anos, é filho de um cirurgião veterinário e começou muito cedo a andar nos karts - ainda hoje gosta de pilotar, participando em corridas de clássicos e até nas 24 Horas de Le Mans, sendo conhecido por alguns acidentes aparatosos. Além, provavelmente, de alguma falta de jeito, Adrian nunca teve muito sucesso nas corridas porque não tinha dinheiro. À falta de meios, o miúdo entreteve-se então a arranjar karts velhos e a encontrar maneiras de os melhorar.
Começou assim a paixão pela mecânica, transformada depois num saber. Formou-se em aeronáutica e astronáutica na Universidade de Southampton, Reino Unido, e fez uma tese sobre o efeito-solo, um tema que atraiu imediatamente a atenção das equipas de Fórmula 1.
Mal saiu da universidade, Newey foi trabalhar para a March e passou a década de 1980 entre as corridas de F1 e as competições de carros nos EUA, antes de em 1990 se mudar para a Williams, onde começou a construir a sua lenda.
Uma lenda que o apresenta hoje como o dinossauro do design. Tudo porque recusa desenhar os seus carros no computador. Usa antes o papel e o lápis. "Talvez seja o último dinossauro", confessou o próprio Newey ao Guardian. "Mas tenho sorte. Sou o último de uma geração de engenheiros em que o automobilismo era pequeno e podíamos estar envolvidos em diferentes áreas."

O mais rápido
Esse conhecimento transversal é também um dos segredos do sucesso deste engenheiro, cuja genialidade se manifesta mais quando há mudanças radicais de regulamentos, como aconteceu em 2009. É nessas alturas que ele consegue descobrir mais depressa do que os outros as soluções mais eficazes. A Red Bull só não foi campeã no ano passado porque a Brawn encontrou uma lacuna no regulamento e construiu um difusor traseiro duplo, que todos os outros julgavam ser ilegal.
Mas este ano Newey aperfeiçoou o carro de 2009 e criou algo inalcançável para os rivais. Um monolugar em que depositou muito trabalho, até porque tem fama de ser workaholic. O próprio confessa que, às vezes, acorda a meio da noite com ideias e as transforma em desenhos. E Domingos Piedade - que partilha com ele a admiração por Ayrton Senna e o gosto por pins do mítico piloto brasileiro - lembra que Newey é conhecido por, antes das corridas, passar o tempo de olhos no chão, a avaliar os outros monolugares:"Está continuamente a olhar para os outros carros, vê a altura do chão, a aerodinâmica. Os olhos estão a filmar tudo."
O gosto de Newey por desafios e a sua aversão à rotina geraram muitos rumores sobre a sua partida para outras áreas, até porque é conhecido o desejo de um dia desenhar um iate para vencer a Taça América em vela. Mas Luís Vasconcelos acredita que esse objectivo será adiado. "Este Mundial garante mais cinco anos de Adrian Newey na F1", diz o jornalista do Autosport sobre um homem que considera genial e que tem, como todos os génios, algumas peculiaridades. Na McLaren, pintou as paredes do seu escritório de azul e no ano passado festejou de uma forma sui generis a "dobradinha" da Red Bull na Grã-Bretanha: usou um Ferrari California para fazer piões no jardim de Christian Horner, o chefe da Red Bull. Agora ficamos todos à espera de saber como terão sido os festejos de mais um título mundial.

Cronologia dos recordes de transferências

por A-24, em 20.11.10

Cronologia dos recordes de transferências

AnoJogadorPaí sPosVendedorCompradorValor
2009Cristiano RonaldoPORAManchester UnitedReal Madrid94.000.000 €
2001Zinedine ZidaneFRAMJuventusReal Madrid73.500.000 €
2000Luí s FigoPORMBarcelonaReal Madrid61.500.000 €
1999Christian VieriITAALazioInternazionale45.300.000 €
1998DenilsonBRAMSão PauloBétis30.000.000 €
1997RonaldoBRAABarcelonaInternazionale27.000.000 €
1993Alan ShearerINGABlackburnNewcastle25.300.000 €
1992Gianluigi LentiniITAATorinoAC Milan25.000.000 €
1990Roberto BaggioITAAFiorentinaJuventus13.100.000 €
1987Ruud GullitHOLAPSVAC Milan10.900.000 €
1984Diego MaradonaARGMBarcelonaNápoles7.300.000 €
1982Diego MaradonaARGMBoca JuniorsBarcelona7.200.000 €
1975Giuseppe SavoldiITAABolonhaNápoles865.000 €
1973Johan CruiffHOLMAjaxBarcelona360.000 €

Somália é o país do mundo em maior risco de atentados terroristas

por A-24, em 16.11.10
A Somália suplantou o Iraque, o Afeganistão, o Paquistão e a Colômbia e tornou-se a capital mundial do terror, indica o Índice de Risco de Terrorismo (TRI) elaborado pela empresa britânica Maplecroft.
Para além da Somália, o Paquistão, o Iraque, o Afeganistão e os territórios palestinianos ocupados são agora os que se encontram em maior risco de sofrer ataques terroristas, disse aquele grupo que estuda os riscos políticos, económicos, sociais e ambientais que podem afectar as oportunidades de negócio, especialmente nos mercados emergentes.
Depois surgem a Colômbia, a Tailândia, as Filipinas, o Iémen e a Rússia, todos estes países de risco extremo, tal como Israel, que aparece no lugar 14. A Grécia está no 24 e a Espanha no 27, sendo estes dois últimos os países da União Europeia considerados mais atreitos a ataques terroristas.
Os dados coligidos referem-se ao período de Junho de 2009 a Junho de 2010, tendo concluído que a maior ameaça para a Somália é constituída pelo grupo islamista Al Shabaab, que tem reivindicado diversos atentados bombistas cometidos por suicidas, incluindo um que matou 11 soldados do Burundi integrados num contingente da União Africana.
Portugal é tido como um país de baixo risco de ataques terroristas, tal como o Canadá, o Brasil, a Irlanda, os escandinavos, a Bélgica, a Alemanha e a Itália. Os Estados Unidos, a França e o Reino Unido aparecem na classe de risco médio. Para além da Grécia e da Espanha, também a Turquia e a Nigéria aparecem nos de risco elevado. 

Vettel é o mais jovem campeão mundial

por A-24, em 14.11.10

O alemão Sebastian Vettel venceu neste domingo o Mundial de Fórmula 1 de 2010, sagrando-se o mais jovem vencedor de sempre, aos 23 anos, quatro meses e 12 dias.
Vettel venceu a corrida em Abu Dhabi, à frente de Lewis Hamilton. Fernando Alonso, que era o grande favorito, não foi além do sétimo posto e Mark Webber, outro dos grandes candidatos, terminou em oitavo. Alonso e Webber perderam na estratégia, tendo ido demasiado cedo às "boxes".
Ao vencer a sua quinta corrida da temporada, Vettel assegurou o seu primeiro título mundial, batendo também o recorde de juventude de Lewis Hamilton, que, em 2008, foi campeão aos 23 anos e 300 dias.
Na partida, Vettel segurou o primeiro lugar, à frente de Hamilton, enquanto Alonso perdeu um lugar para Button, mantendo-se, no entanto, à frente de Mark Webber.
Nas primeiras 15 voltas, Alonso esteve sempre como virtual campeão, rodando no quarto lugar, enquanto Vettel era primeiro.
Nesta última prova ainda havia quatro candidatos, mas na prática a luta resumiu-se a Vettel e Alonso.
O momento decisivo da corrida aconteceu à 15.ª volta. Alonso fez a primeira paragem nas “boxes”, o que se viria a revelar demasiado cedo, e regressou fora dos pontos.
O espanhol não mais conseguiu estar em situação de vencer o título, terminado em sétimo lugar. No fim da corrida, Alonso protestou mesmo com Petrov (Renault), que o impediu de chegar ao sexto lugar.
Já Vettel fez a corrida perfeita. Só não esteve em primeiro enquanto Button liderou a corrida (por ainda não ter ido às “boxes”), mas controlou sempre a prova.
Lewis Hamilton, que só tinha possibilidades de ser campeão se algo acontecesse aos rivais, foi segundo, à frente de Jenson Button. Curiosamente, o pódio de Abu Dhabi recebeu os três últimos campeões mundiais: Vettel, Hamilton e Button.
Nico Rosberg (Mercedes), Robert Kubica (Renault) e Vitaly Petrov (Renault) fizeram também uma excelente corrida, terminando, respectivamente, nos 4.º, 5.º e 6.º lugares.
Estes três pilotos acabaram por ser decisivos na atribuição do título, já que relegaram Alonso para o sétimo posto. Com a vitória de Vettel, o espanhol precisava de ficar em quarto para ser tricampeão.
Vettel terminou, assim, o Mundial com 256 pontos, mais quatro do que Alonso e mais 14 do que Marke Webber. A Red Bull já tinha assegurado, na semana passada, o título de construtores.

CLASSIFICAÇÕES

Grande Prémio de Abu Dhabi

1.º Sebastian Vettel (ALE/Red Bull-Renault)1h39m36,837s
2.º Lewis Hamilton (GBR/McLaren-Mercedes) a 10,162s
3.º Jenson Button (GBR/McLaren-Mercedes) a 11,047s
4.º Nico Rosberg (ALE/Mercedes) a 30,747s
5.º Robert Kubica (POL/Renault) a 39,026s
6.º Vitaly Petrov (RUS/Renault) a 43,520s
7.º Fernando Alonso (ESP/Ferrari) a 43,797s
8.º Mark Webber (AUS/Red Bull-Renault) a 44,243s
9.º Jaime Alguersuari (ESP/Toro Rosso-Ferrari) a 50,201s
10.º Felipe Massa (BRA/Ferrari) a 50,868s
11.º Nick Heidfeld (ALE/Sauber-Ferrari) a 51,551s
12.º Rubens Barrichello (BRA/Williams-Cosworth) a 57,686s
13.º Adrian Sutil (ALE/Force India-Mercedes) a 58,325s
14.º Kamui Kobayashi (JPN/Sauber-Ferrari) a 59,558s
15.º Sébastien Buemi (SUI/Toro Rosso-Ferrari) à 1m03,178s
16.º Nico Hülkenberg (ALE/Williams-Cosworth) à 1m04,763s
17.º Heikki Kovalainen (FIN/Lotus-Cosworth) a 1 volta
18.º Lucas Di Grassi (BRA/Virgin-Cosworth) a 2 voltas
19.º Bruno Senna (BRA/Hispania-Cosworth) a 2 voltas
20.º Christian Klien (AUT/Hispania-Cosworth) a 2 voltas
21.º Jarno Trulli (ITA/Lotus-Cosworth) a 4 voltas

Os outros pilotos não se classificaram

Mundial de pilotos

1.º Sebastian Vettel (ALE) 256,0 pts
2.º Fernando Alonso (ESP) 252,0
3.º Mark Webber (AUS) 242,0
4.º Lewis Hamilton (GBR) 240,0
5.º Jenson Button (GBR) 214,0
6.º Felipe Massa (BRA) 144,0
7.º Nico Rosberg (ALE) 142,0
8.º Robert Kubica (POL) 136,0
9.º Michael Schumacher (ALE) 72,0
10.º Rubens Barrichello (BRA) 47,0
11.º Adrian Sutil (ALE) 47,0
12.º Kamui Kobayashi (JPN) 32,0
13.º Vitaly Petrov (RUS) 27,0
14.º Nico Hülkenberg (ALE) 22,0
15.º Vitantonio Liuzzi (ITA) 21,0
16.º Sébastien Buemi (SUI) 8,0
17.º Pedro de la Rosa (ESP) 6,0
18.º Nick Heidfeld (ALE) 6,0
19.º Jaime Alguersuari (ESP) 5,0

Mundial de construtores

1.º Red Bull 498,0 pts
2.º McLaren 454,0
3.º Ferrari 396,0
4.º Mercedes GP 214,0
5.º Renault 163,0
6.º Williams F1 69,0
7.º Force India 68,0
8.º Sauber 44,0
9.º Toro Rosso 13,0

A dor de pôr fim à carreira e a tentação de voltar

por A-24, em 12.11.10

Gebrselassie disse que se ia retirar mas voltou atrás. Como ele, fizeram Ruth, Ali, Jordan ou Schumacher. É o medo de enfrentar o vazio 

Aos 37 anos e com 27 recordes do mundo ao longo de uma carreira de duas décadas, Haile Gebrselassie afirmou numa entrevista que a sua preparação para os Jogos Olímpicos 2012 decorria como planeado. Isto foi dois dias antes de o atleta etíope abandonar com apenas 25 quilómetros percorridos a maratona de Nova Iorque, com problemas no joelho. "Para mim, andar a dizer constantemente o que se passa comigo é mau, por isso já chega. Por que não hei-de parar?" E anunciou o fim da carreira.

Esta quinta-feira, depois de uma grande comunidade de figuras da Etiópia e do atletismo se ter feito ouvir contra a saída de cena de um dos seus maiores vultos, Gebrselassie voltou atrás com a palavra. O bicampeão olímpico dos 10 mil metros comentou no seu Twitter: "Adoro correr e sempre gostei. Vou pensar nisso". O detentor do recorde da maratona disse que queria competir nos Jogos de Londres, em 2012. Como ele, a história do desporto está cheia de comebacks. Bem e mal sucedidos.
"A transição de carreira, o fim da carreira desportiva e a passagem para outra coisa é pouco preparado e pouco planeado", diz Jorge Silvério, doutorado em Psicologia Desportiva. "Não pensam no futuro, a carreira está no auge e os atletas esquecem-se que um dia há-de acabar. O choque é muito grande".
Há exemplos de todo o tipo: desportistas que abandonam o palco num momento próspero como Zidane ou Pelé, que regressaram com êxito ao nível que tinham quando deixaram a primeira vez como Foreman ou no primeiro dos dois regressos de Jordan. E os que voltaram com um péssimo resultado como Mohammed Ali, que perdeu os seus dois combates no seu retorno à competição - um deles ante um dos seus maiores rivais, Larry Holmes. Caiu Ali, duplamente, o seu corpo e o seu estatuto.
"Chega o dia em que Babe Ruth deixa de ser Babe Ruth, e que Joe Louis é derrotado por KO por um italiano fabricante de salsichas, em que John Barrymore não pode recitar um monólogo de Hamlet. Chega o dia em que estás terminado, em que os anos te deixam KO", reconhecia no seu volume das histórias do famoso 5th Street Gym Ferdie Pacheco, o segundo de Muhammad Ali no canto do ringue. Ele que ganhou a alcunha de "The Fight Doctor" e deixou o cargo voluntariamente em 1977. Era a voz que recomendava a retirada dos pugilistas antes de chegarem os últimos anos amargos. Mas era pouco escutado.
Michael Schumacher em 1996, quando chega à Ferrari e alcançou um palmarés inestimável - enriquecido com cinco títulos mundiais - hoje é a sombra disso. Então por que voltou? "A grande maioria precisa de encontrar, de ir à procura (das) sensações de vitória, da adrenalina. Como não tinham planeado a saída, sentem falta daquelas sensações", lembra Jorge Silvério. "Porque viviam comandados pelas vitórias e pelo sucesso". E têm medo de encontrar o fim, não lidam bem com isso, com o enorme vazio que a sua vida parece ser.

Regresso é bom para o lucro
Nalguns casos não é só adrenalina e a falta de desporto. São também as razões económicas que os fazem sentir forçados a voltar. A tenista Martina Hingis parou em 2002 e voltou em 2006. E abandonaria no final de 2007. Bastou a tenista suíça anunciar o seu regresso para os patrocinadores baterem palmas. Em Janeiro de 2006, regressou e venceu o Open de Itália e atingiu as finais de dois torneios, incluindo a Rogers Cup. Chegou ao Open dos EUA no número 8 do ranking mundial.
O que se passou nesses oito meses foi o suficiente para agradar a qualquer patrocinador. Nesta geração, as quatro estrelas que ganharam uma visibilidade global - Hingis, Anna Kournikova e Venus e Serena Williams - tinham estado fora do jogo ou com participações irregulares. Phil de Picciotto, o representante de Hingis na agência Octagon, diz que a tenista proporcionou uma oportunidade para capitalizar em 10 milhões as receitas da empresa. A imagem de Hingis, uma das melhores na sua altura, com cinco títulos do Grand Slam e uma reputação de menina bonita fora dos courts, tornou-se um cameback perfeito para as marcas que a patrocinavam.
"É sempre uma decisão difícil para um atleta", disse na altura com 40 anos Mario Lemieux, um dos melhores de sempre no hóquei no gelo, no Hall of Fame desde 1997, no final do seu primeiro abandono. "O que posso dizer aos jogadores mais novos é para desfrutarem cada momento. A vossa carreira acaba muito rápido", aconselhou.

Woods e Armstrong
Dois norte-americanos em dois desportos distintos e o mesmo calvário após o regresso. Só a saída de cena foi diferente, tudo o resto é semelhante nas carreiras do golfista Tiger Woods e do ciclista Lance Armstrong. O primeiro saiu dos campos de golfe devido aos escândalos sexuais e, desde que voltou, faz agora um ano, deixou de ganhar. O antigo número um e múltiplo vencedor de títulos (14 Grand Slam) é uma sombra neste regresso à competição. Como Armstrong: o Tour nunca foi o mesmo depois dele, mas ele também nunca mais foi o ciclista que conquistou sete Voltas à França (dominou tudo entre 1999 e 2005) depois de ter voltado, em 2009.


12.11.2010 - 09:13 Filipe Escobar de Lima

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