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A-24

Sobre os 30 anos do Walkman

por A-24, em 30.06.10
O primeiro modelo do mais popular leitor portátil de cassetes chegou às lojas há 30 anos. O aparelho era azul e cinzento – e substancialmente maior do que qualquer moderno leitor de áudio.O Walkman foi o primeiro aparelho a massificar a música portátil. Mas, no que à tecnologia diz respeito, está longe de ter sido pioneiro.Os leitores portáteis de cassetes existiam há anos. O Walkman teve o mérito de ser um aparelho barato, prático (para os padrões da altura) e, sobretudo, bem publicitado pela Sony.Já em 1978, a própria Sony comercializara um leitor portátil de cassetes. Mas era demasiado caro para o consumo geral. Um dos administradores da empresa, porém, era fã do produto (usava-o nas longas viagens de avião) e deu instruções para que a empresa tentasse criar um leitor semelhante, mas com um preço que fosse comportável para a maioria das pessoas.A 1 de Julho de 1979, o Walkman chegou às lojas japonesas (mesmo antes das férias de Verão dos estudantes e com o objectivo de captar um público jovem). Não muito depois, o aparelho foi distribuído por outros mercados.A marca Walkman, contudo, esteve para ser usada apenas no Japão, havendo outros nomes planeados para introduzir os outros países: Soundabout nos EUA, Stowaway no Reino Unido e Freestyle na Suécia. Mas o facto de os cartazes publicitários já estarem impressos com a palavra Walkman antes de se colocar a hipótese dos vários nomes acabou por determinar que a marca pensada para o Japão (e em parte escolhida devido à enorme popularidade do Superman naquela época) seria usada ao nível global.O primeiro mês após o lançamento foi decepcionante: apenas três mil unidades foram vendidas e a imprensa e os comerciantes começavam a duvidar do sucesso da ideia. Mas a Sony reagiu rapidamente com um grande esforço de marketing.Como forma de campanha, a Sony ofereceu Walkmans a celebridades para que estas o usassem. Os funcionários das lojas também tinham Walkmans e incentivavam os clientes a experimentá-los. E os próprios funcionários da Sony passeavam-se pelas ruas japonesas com um Walkman. A empresa teve ainda de combater a má imagem associada aos grandes auscultadores (que, mais tarde, chegaram a ser moda).A estratégia deu resultados: as vendas dispararam, as primeiras 30 mil unidades produzidas esgotaram no final de Agosto e, antes do fim do ano, o produto era um sucesso e estava pronto para marcar o mundo da música da década de 80.Depois do primeiro Walkman, seguiram-se vários modelos com a mesma marca. E a designação não se esgotou nos leitores de cassetes – foi usada para outros leitores de áudio da Sony, incluindo leitores de CD, de míni-discs (uma tecnologia que nunca vingou) e nos modernos leitores digitais.Recentemente, a BBC fez com que um adolescente de 13 anos usasse durante alguns dias o primeiro modelo do Walkman em vez do habitual iPod. Foram precisos três dias para que o jovem descobrisse que a cassete tinha dois lados. (30-06-2009)

Portugal X Brasil Mundial 2010 - 44 anos depois

por A-24, em 27.06.10

No duelo mais esperado da primeira fase da Copa do Mundo, o Brasil cumpriu seu objetivo principal e ficou com a liderança do Grupo G. Jogou para o gasto, com uma atuação razoável no primeiro tempo e apagada no segundo, e ficou no empate por 0 a 0 com Portugal no estádio Moses Mabhida, em Durban, nesta sexta-feira. A partida contra o adversário mais forte da chave, no entanto, acende o sinal de alerta para o time de Dunga, principalmente quanto ao desempenho pouco produtivo de Julio Baptista, substituto de Kaká, e à dependência do ataque pelo lado direito.
maicon brasil fabio coentrão portugalMaicon enfrenta a marcação de Coentrão: lado direito foi bastante explorado outra vez (Foto: agência ReutersO Brasil, que ouviu vaias de parte da torcida após o apito final, acumulou sete pontos em sua chave, contra cinco dos portugueses, quatro dos marfinenses e nenhum dos norte-coreanos. Agora espera a rodada decisiva do Grupo H, nesta tarde (a partir de 15h30m), para conhecer o segundo colocado, que será seu adversário nas oitavas de final, na próxima segunda-feira, às 15h30m (de Brasília). Portugal, que alcançou 19 partidas de invencibilidade e terminou a primeira fase da Copa sem sofrer gol, pegará o líder do Grupo H na terça-feira, no mesmo horário. Na outra partida da rodada decisiva do Grupo G, a Costa do Marfim conseguiu uma inútil vitória por 3 a 0sobre a Coreia do Norte.
 Com a missão cumprida, a seleção brasileira tem a vantagem de percorrer um caminho teoricamente mais fácil até a final. Depois das oitavas, se for avançando, encara Holanda ou Eslováquia nas quartas, e Uruguai, Coreia do Sul, Estados Unidos ou Gana na semifinal. Do outro lado da chave, Argentina, Alemanha, Inglaterra e Portugal batalham por uma vaga na decisão.
As duas seleções apresentaram surpresas em suas escalações. O Brasil, além da entrada de Daniel Alves e Julio Baptista, teve Nilmar substituindo Robinho, poupado. Portugal foi mais radical nas mexidas, com quatro alterações: entraram Ricardo Costa, Duda, o brasileiro Pepe e Danny.
Primeiro tempo nervoso: sete cartões amarelos
Os primeiros minutos da partida mostraram o objetivo de Portugal com as mudanças: reforçar a marcação, sobretudo pelo lado esquerdo da defesa, e sair no contra-ataque. E foi exatamente pelo lado mais congestionado do campo que o Brasil buscou seus ataques, com Daniel Alves se aproximando de Maicon e tentando achar espaços pelo meio. No outro canto, Nilmar se posicionava às costas de Ricardo Costa, esperando por uma falha. Mas ficava isolado, já que Michel Bastos não avançava, e Julio Baptista não passava por ali.
felipe melo brasil cartão amareloFelipe Melo foi um dos sete jogadores a receber cartão amarelo no primeiro tempo (Foto: agência EFE)
Se o Brasil avançava com Maicon, Portugal aproveitava o espaço deixado pelo lateral-direito para conseguir seus ataques. Na melhor oportunidade, Coentrão deu passe aéreo da esquerda para Tiago na entrada da área. O meia pegou de primeira, num lance bastante plástico, mas de pouco perigo. O craque Cristiano Ronaldo - eleito o melhor em campo pela terceira vez seguida - jogou mais centralizado, em vez de se deslocar pelas pontas, e não assustou na primeira etapa. Conseguiu apenas um chute de fora da área, defendido sem problemas por Julio Cesar. Poderia ter uma segunda chance, se Juan não colocasse a mão na bola, interceptando bom lançamento de Duda e recebendo cartão amarelo.
A advertência não foi apenas para o zagueiro. Outros seis jogadores - quatro portugueses e dois brasileiros - também ficaram pendurados, um recorde nesta Copa para os 45 minutos iniciais. E às vezes em lances ríspidos. Felipe Melo distribuiu entradas duras e sofreu um pisão de Pepe, que fez o sinal de "1 a 1" para ele, após claro revide. Dunga preferiu poupar o volante de uma lesão mais grave no tornozelo e de um cartão vermelho desnecessário, trocando-o por Josué.
A seleção brasileira, que teve 63% de posse de bola na primeira etapa, esteve perto de tirar o zero do placar. Mesmo isolado, Nilmar teve duas boas chances. Uma foi criada por ele mesmo, após dar chapéu em Ricardo Costa e isolar a bola em seguida. A outra veio em passe primoroso de Luis Fabiano: Nilmar se esticou e conseguiu concluir a gol, mas esbarrou em boa defesa de Eduardo, que espalmou para o travessão. Luis Fabiano também teve a sua oportunidade, cabeceando com estilo após cruzamento de Maicon. A bola passou raspando a trave.
Portugal se solta, e Brasil se atrapalha
No segundo tempo, Portugal continuou explorando o seu lado esquerdo, onde nos primeiros minutos Cristiano Ronaldo recebeu dois passes livre na ponta. Nos dois lances tentou encontrar alguém na área, mas foi impedido por um carrinho providencial de Lúcio, no primeiro, e por uma cabeçada acrobática de Juan no segundo. Os lusos mostravam que estavam mais dispostos a atacar e reforçaram essa estratégia ao trocarem Duda pelo atacante Simão logo aos dez minutos.
Julio Cesar precisou entrar em ação aos 15, espalmando um chute de Raul Meireles, após desarme de Lúcio em Cristiano Ronaldo, que chegou ao ataque sozinho enfrentando quatro adversários. Enquanto o goleiro era atendido, após choque com o português, e exibia uma proteção nas costas, Dunga mostrava no banco de reservas muita irritação com a falha na marcação.
Vendo o adversário tomar a iniciativa do jogo na segunda etapa, o Brasil tentava variar suas jogadas, apostando em Michel Bastos na esquerda. Mas o lateral não teve sucesso no ataque, sendo vaiado por parte da torcida após um cruzamento errado. Pelo meio, a situação também era complicada, com Julio Baptista se movimentando pouco e aceitando facilmente a marcação.
Nos 15 minutos finais, Brasil e Portugal pouco se arriscaram, satisfeitos com o empate zerado. Sem muitas alternativas do meio-campo para frente, Lúcio fez o papel do volante que sai para o jogo, avançando com a bola e procurando um companheiro mais bem posicionado.  Dunga ainda trocou Julio Baptista por Ramires, que tinha um cartão amarelo e corria o risco de ficar suspenso nas oitavas, e Luis Fabiano por Grafite, que fez sua estreia na Copa.
Nos cinco minutos de acréscimo, Ramires quase marcou, após chute que desviou no adversário e quase traiu o goleiro Eduardo, que se esticou e fez excelente defesa. Continuou no placar o empate por 0 a 0, o primeiro do Brasil em Mundiais desde a final de 1994, contra a Itália.

Resistência ao Islamismo

por A-24, em 25.06.10

Há alguns sinais positivos, nos países de população maioritariamente muçulmana, de resistência ao islamismo. Em Marrocos, é um grupo de jovens que fazem um pique-nique em pleno dia, durante o Ramadão, arriscando penas de prisão. No Líbano, profundamente dividido em comunidades confessionais, manifestações pela laicidade (ver o blogue). E na Gaza do Hamas há um grupo de Rap contra a violência religiosa.

Esquerda Republicana

O encontro mais longo da história já acabou, mas durou 11 horas e cinco minutos

por A-24, em 24.06.10
O norte-americano John Isner derrotou o francês Nicolas Mahut por 6-4, 3-6, 6-7 (7/9), 7-6 (7/3) e 70-68 no encontro que mais tempo durou na história do ténis. Wimbledon foi o palco do épico embate.
Na quinta-feira à noite, Andy Roddick passou pela casa de John Isner e levou, para o amigo e para o seu treinador, “três caixas de pizza, todo o tipo de galinha, puré de batata... era capaz de comer 12 Big Mac”. “Sou o mais pesado do circuito e tenho um pouco de área em excesso no estômago. Sabia que um dia ia ser útil, foi como o depósito de reserva”, brincou Isner, do alto do seu 2,03m, depois de sair vencedor do épico encontro que, desde quarta-feira, quando foi interrompido pelo segundo dia consecutivo, a 59-59 no quinto set, atraiu as atenções do mundo do desporto para Wimbledon. Ontem, após mais uma hora e cinco minutos de jogo, ficou encontrado um vencedor, com o triunfo do norte-americano sobre o francês Nicolas Mahut, com os parciais de 6-4, 3-6, 6-7 (7/9), 7-6 (7/3) e 70-68!
“É muito mau que alguém tenha de perder”, disse Isner, ainda no court, apinhado, cuja capacidade normal é 782 lugares, mas estimada no dobro – sem contar com os milhares de adeptos que preferiram sentar-se no Henman Hill, diante do ecrã gigante. “Quando se joga num ambiente destes não nos sentimos cansados. O público foi fantástico”, frisou Isner (19.º ATP). Mahut (148.º) comentou: “Foi mesmo uma honra disputar o maior encontro de sempre no maior palco de ténis.”
Os aplausos irromperam logo quando ambos os tenistas entraram no court e só houve silêncio quando o árbitro sueco Mohamed Lahyani, anunciou o resultado, 59-59, e que Isner ia servir. Mas no quinto match-point (teve quatro no dia anterior), Isner conseguiu o único break do quinto set e deixou cair os seus 111kg na relva, sob uma estrondosa ovação dos adeptos. Seguiu-se um longo abraço entre ambos, antes de posarem com o árbitro ao lado do marcador, fixando para a posteridade este momento único na história do ténis, em que foram pulverizados vários recordes: encontro mais longo (11 horas e cinco minutos), o set mais longo (oito horas e 11 minutos), o maior número de jogos num set (138) e num encontro (183) e o maior número de ases num encontro (215) e de um jogador (112, para Isner).
A expectativa que rodeava a terceira parte desta maratona apagou um pouco o impacto da presença da rainha de Inglaterra, acontecimento inédito desde 1977. Após uma breve visita às instalações do All England Club e almoço com antigos e actuais campeões, Isabel II ocupou o seu lugar na Royal Box do court central para assistir à vitória do seu súbdito Andy Murray diante de Jarkko Nieminen, por 6-3, 6-4 e 6-2.

Martina Hingis deixa o ténis após teste antidoping positivo por cocaína

por A-24, em 22.06.10
A tenista suíça Martina Hingis, ex-líder do ranking mundial, anunciou ontem o fim da sua carreira, na sequência de um controlo de doping positivo, por detecção de cocaína, registado durante a edição deste ano de Wimbledon, um dos quatro Grand Slams do circuito internacional. Esta informação foi anunciada pela própria Hingis, que negou ter-se dopado.

“Tive um teste positivo, mas nunca pensei em me dopar, nunca me dopei e nunca sequer experimentei drogas. Sinto-me 100 por cento inocente”, afirmou Hingis num comunicado lido pela própria tenista, numa conferência de imprensa sem direito a perguntas em que a suíça considerou a acusação de doping como “horrenda” e “monstruosa”. “Pessoalmente ficaria aterrorizada ao tomar drogas. Quando fui informada [sobre o teste positivo] fiquei chocada e atemorizada”, vincou Hingis, citada pela Reuters.
Na comunicação à imprensa, Hingis deu logo a indicação de como será estruturada a sua defesa: “O advogado e os seus peritos descobriram várias inconsistências com a amostra de urina que foi colhida em Wimbledon. Ele também está convencido que os oficiais antidopagem manejaram mal o processo e não seriam capazes de provar que a urina que acusou cocaína era minha.”

Apesar de ser uma droga social, a cocaína está incluída na lista de estimulantes proibidos no desporto, nomeadamente em competição. A WTA, associação de ténis profissional feminino, organismo que rege o circuito mundial, emitiu um comunicado, por intermédio do seu presidente, Larry Scot, afirmando que “o WTA Tour não recebeu qualquer informação oficial em relativamente ao alegado teste de doping positivo e, por isso, não está em condições de comentar”.
À imprensa, a tenista afirmou ainda que não pretende que “os próximos anos” da sua vida sejam “reduzidos a combater os oficiais antidoping”: “O facto é que tem sido cada vez mais difícil para mim, fisicamente, manter-me no topo. E, francamente, acusações como esta não me dão propriamente motivação para sequer fazer uma tentativa [para continuar]. Por isso, considerando esta situação, a minha idade e os problemas que tenho tido na minha coxa, decidi não jogar mais ténis no circuito.

Hingis foi número um mundial com apenas 16 meses, seis meses e um dia, o que constituiu um recorde. Antes de ter abandonado a carreira pela primeira vez, em 2003, devido a lesões, ganhou cinco provas do Grand Slam: três Open da Austrália, um dos EUA e um torneio de Wimbledon. Regressou em 2006, de forma surpreendente, e ainda ganhou três títulos (Roma, Tóquio e Calcutá), tendo terminado o ano no sexto posto do ranking. A suíça também ficou conhecida por alguns episódios conflituosos: o mais célebre foi o momento em que Hingis disse, em 1999, que jogar contra Amélie Mauresmo era o mesmo que defrontar um meio-homem, por causa da relação lésbica que a tenista francesa mantinha com uma compatriota.
Público  02.11.2007

(Alemanha) Quem derrubou o Muro?

por A-24, em 21.06.10
O dia 9 de Novembro de 1989 ficou para a memória colectiva como a data de implosão do império soviético na Europa. No entanto, a História explica que a Cortina de Ferro foi destruída pela Polónia, pela Hungria e por Gorbatchov.

Na nossa memória, as "transições para a democracia" na Polónia e na Hungria são um "antecedente" da queda do Muro de Berlim. Mas a história de 1989 pode ser lida ao contrário. As revoluções - no sentido de mudança radical da ordem vigente - ocorreram na Polónia e na Hungria. Produziram a seguir uma reacção em cadeia que "explodiu" em Berlim e, por fim, fez tombar como dominós os regimes da Checoslováquia, Bulgária e Roménia.
A queda do Muro é o ícone do fim do comunismo europeu. As imagens de milhares de alemães orientais a passar a fronteira e, depois, a demolir o muro à picareta, impressionaram para sempre milhões e milhões de espectadores.

Desde a sua construção em 1961, o Muro era o símbolo da Guerra Fria e da divisão da Europa. E a sua queda inevitavelmente arrastaria outra questão escaldante que transformaria, uma vez mais, a geografia política da Europa: a reunificação alemã.
Berlim não é o motor, é o apogeu, aquele momento que tem "um antes e um depois".

Há um modelo?
A ideia de "fim do comunismo" encobre as diferenças. Não foi um simples fenómeno de "contágio". É um cacho de processos distintos.
Na Polónia, há uma sociedade mobilizada e uma oposição forte contra um partido comunista fraco. Na Hungria, há uma oposição fraca e são os comunistas reformadores quem organiza o "suicídio" do regime, dissolvendo o partido e construindo a oposição.
Sob a vigilância omnipresente da Stasi, não havia oposição na RDA. Será preciso a Hungria abrir a fronteira com a Áustria para provocar o êxodo que desestabilizará o regime. E Moscovo terá um papel determinante no afastamento de Honecker.
A Checoslováquia do "socialismo de rosto humano" de 1968 nunca recuperou da invasão dos tanques soviéticos. Não havia oposição, havia "dissidentes". Só após a queda do Muro a juventude de Praga se sublevará: a "revolução de veludo" triunfa em dez dias.
Na Bulgária, o ditador Todor Jivkov é destituído por um golpe palaciano, inspirado por Moscovo. A 25 de Dezembro, o romeno Ceausescu é fuzilado, após um simulacro de insurreição manipulada por comunistas com ligações ao KGB.

Polónia: a sociedade triunfa
A "ressurreição" polaca remonta a 1978, ano da eleição de João Paulo II, que galvanizou os católicos e o nacionalismo polaco.

O maciço movimento operário de 1980, iniciado em Gdansk, traduziu-se na criação do primeiro sindicato livre do mundo comunista - o Solidariedade. É um sindicato-partido, reunindo operários e intelectuais, a quem a Igreja oferece a logística. Ultrapassado, o partido comunista (POUP) nomeia secretário-geral o chefe das forças armadas, general Jaruzelski. Em 1981, Jaruzelski decreta o estado de sítio, dissolve o Solidariedade e prende os principais dirigentes. Argumentará mais tarde ter querido prevenir uma invasão soviética.
O totalitarismo exige a passividade e os cidadãos eram activos. A tarefa do Solidariedade era exactamente "o renascimento da sociedade civil". E assim foi, mesmo durante o estado de sítio.
A situação torna-se insustentável em 1988, com crise económica, greves maciças, impotência do regime.
Dois homens, Jaruzelski e Lech Walesa, tomam uma decisão arriscada: negociar uma transição. Muitos comunistas a temiam, pensando (justamente) que seria o princípio do fim. A dúvida dos democratas era outra: iriam legitimar um regime ditatorial? A maioria apostou na "eficácia do contágio democrático".
Na Mesa-Redonda de Fevereiro-Março de 1989, chega-se a um compromisso histórico. O Solidariedade é legalizado. A liberdade de imprensa e o pluralismo político são reconhecidos. São marcadas eleições "livres a 35 por cento": a oposição podia concorrer apenas em 35 por cento dos círculos e a todos os lugares do Senado.
As eleições de Junho são uma vitória por KO: o Solidariedade ganha todos os "35 por cento" e 99 dos 100 lugares do Senado. Forma-se o primeiro governo não comunista da Europa de Leste, presidido por Tadeusz Mazowiecki.

Em 1980, o Solidariedade tinha como bandeira: "A vós o poder, a nós a sociedade." Em 1989, impõe: "A vós a presidência, a nós o governo." Como penhor perante Moscovo e o Pacto de Varsóvia, os comunistas mantêm o Interior e a Defesa e Jaruzelski é eleito Presidente da República. Por um ano. Nas eleições "a 100 por cento" de 1990, o Solidariedade obtém a maioria absoluta. E Walesa é eleito Presidente da República.

A revolução polaca conjuga dois factores: o movimento social e o realismo e a imaginação dos seus políticos. "Pode imaginar-se tudo menos ir a Marte de bicicleta", resumiu um dos seus estrategos, Adam Michnik.

Hungria: revolução por cima
Os húngaros permaneciam marcados pelo esmagamento da insurreição nacional de 1956 pelos tanques soviéticos. Moscovo colocou no poder Janos Kadar, que promoveu uma política de "reforma económica sem reforma política". Era o "comunismo do goulash". Havia algumas liberdades desde que não se discutisse o monopólio do partido (PSOH).
Muitos intelectuais e tecnocratas aderiram ao PSOH, porque era lá "que se podiam fazer coisas". A sociedade alheou-se. Em plena perestroika, os reformistas do PSOH percebem que o regime tem os dias contados. Afastam Kadar. Sucede-lhe outro "pragmático", Karoly Grosz, que aceita renovar o comité central. Um tecnocrata, Miklos Nemeth, assume a chefia do governo. Sob impulso do mais lúcido dos reformistas, Imre Pozsgay, logo em Janeiro é aprovada a lei do multipartidarismo e eliminada a censura. Gorbatchov adverte Nemeth de que os húngaros estão a pôr em risco a liderança do partido. E surpreende-o: "Mas, evidentemente, camarada, a responsabilidade é vossa, não é minha."
Dias depois, Pozsgay faz um teste: na ausência de Grosz, declara à rádio que 1956 não foi uma "contra-revolução" mas um "levantamento popular". No dia seguinte, é a manchete de todos os jornais. Pozsgay e a sua equipa fecham-se num gabinete à espera da reacção do Kremlin. Moscovo nada diz. Eles concluem: podemos avançar.
As notícias da Polónia aceleram a mudança: num primeiro desafio, a 2 de Maio, perante as televisões, é cortado o arame farpado na fronteira com a Áustria, ou seja, a Cortina de Ferro é simbolicamente rasgada. A seguir, é a reabilitação do herói nacional de 1956, o comunista Imre Nagy, fuzilado pelos soviéticos. A tarefa seguinte é ajudar a construir e unir uma oposição para fazer eleições. O PSOH dissolve-se em Outubro. É criado um partido socialista. A Hungria deixa de ser "República Popular". As eleições realizam-se em Abril de 1990: ganha a oposição.
O objectivo dos reformadores era fazer uma democratização política controlada, instaurar a economia de mercado, mas sem romper com o Pacto de Varsóvia. As massas pouco se agitaram. Preferiram votar.
O enigma de Moscovo
O silêncio de Moscovo foi o enigma da época. Havia opiniões divergentes e discussões furiosas na direcção soviética. O que cedo Gorbatchov decidiu - mas evitando que se soubesse - foi a renúncia à intervenção militar, à "doutrina Brejnev". Recusou os pedidos de "assistência fraterna" feitos pelos "duros" de Praga e Berlim-Leste.
O "imobilismo" dos comunistas do Leste exasperava Moscovo. O exemplo da Polónia favoreceu a ideia de uma partilha do poder entre comunistas e oposição. A transição húngara criou a expectativa de uma reforma conduzida pelos comunistas.
Ainda antes da queda do Muro, é patente que Moscovo não tem ilusões sobre a mudança dos regimes na Europa Central e Oriental. Tal como considera inevitável uma gradual reunificação alemã. A obsessão é outra: esses países deveriam manter-se neutrais - na época chamava-se "finlandização" - e permanecer no Pacto de Varsóvia. Foi mais uma ilusão do idealista Gorbatchov.
O seu papel foi determinante. Não apenas pela perestroika, que está na origem de tudo. Mas também pelo seu "silêncio". Ao longo de 1989, cumpriu a palavra: "Mas, evidentemente, camarada, a responsabilidade é vossa, não é minha."
Reconhece hoje Der Spiegel: "O destino da Alemanha e do resto da Europa foi decidido em Varsóvia, Budapeste e Moscovo."

O escritor que revolucionou com a sua escrita

por A-24, em 20.06.10
José Saramago subverteu o cânone, a norma: pôs tudo em estado de desordem, revolucionou. Basta ler um excerto de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, romance publicado em 1991, para se notar a maneira peculiar como o Prémio Nobel da Literatura português usou a pontuação na sua escrita.

"A mulher não respondeu logo, olhava-o, por sua vez, como se o avaliasse, a pessoa que era, que de dinheiros bem se via que não estava provido o pobre moço, e por fim disse, Guarda-me na tua lembrança, nada mais, e Jesus, Não esquecerei a tua bondade, e depois, enchendo-se de ânimo, Nem te esquecerei a ti, Porquê, sorriu a mulher, Porque és bela, Não me conheceste no tempo da minha beleza, Conheço-te na beleza desta hora."

Peculiar porquê? Porque é usada de uma forma não canónica (apesar de o autor fazer parte do cânone literário): falta no texto o travessão para identificar o interlocutor no diálogo e o início das falas de cada personagem é assinalado por uma capitular. Também aqui se vê a frase característica da escrita de Saramago, uma frase quase sem pontos finais e cadenciada na pausa das vírgulas.

Não foi só nisto que o autor de Caim surpreendeu. O modo como "perturbou a tradição do romance histórico", diz o ensaísta Manuel Gusmão, ou fez "a inscrição da História na ficção", nas palavras do professor Carlos Reis é também inovador. Tinha uma "extraordinária capacidade" para descobrir "sentidos novos e temas por inventar" numa ficção e num teatro que se tornaram referências canónicas da nossa literatura.

E ao mesmo tempo, Saramago chamou a História à nossa atenção e deu-lhe uma nova leitura. "Em AViagem do Elefante, Saramago retorna a algo que estava adormecido na sua obra", diz o professor Carlos Reis que fala da sua "capacidade para pegar num episódio histórico e dar dele uma visão muito peculiar". Por sua vez, em Caim, continua o académico, o imaginário remete para O Evangelho segundo Jesus Cristo e para o imaginário bíblico em geral, que ali é subvertido pela visão interpretativa que Saramago coloca nas suas obras. "Saramago apropria-se da nossa história laica ou religiosa, como acontece em Caim e essa maneira de recuperar o nosso património histórico é muito interessante", acrescenta a especialista Ana Paula Arnaut.

O Nobel português, na sua obra, inventa factos, mistura o maravilhoso com o empírico, o conhecimento do presente com o reconhecimento ou novas versões do passado, diz, por seu lado, Manuel Gusmão. O modo como "joga ironicamente a ficção contra o relato histórico" e "mostra como uma tradição e história dos pobres, dos explorados, oprimidos e vencidos se pode construir contra a história dos vencedores" também o distingue. Para a professora catedrática Maria Alzira Seixo, a sua inovação no romance consegue ser ao mesmo tempo "erudita e popular". É erudita porque "tem bases historiográficas sólidas", quer nos livros sobre eventos do passado quer nos romances onde procedeu a investigações pessoais ou onde elabora conjecturas para a compreensão de uma época ou de uma figura. E é popular "pois inventa uma expressão oralizada, que tem a ver com o saber tradicional comunitário (como em Levantado do Chão), criando a sua frase característica, quase sem pontos finais e cadenciada na pausa das vírgulas", explica.

Era como narrador oral que Saramago se via quando escrevia e inovou na maneira como utilizava o ponto final e a vírgula (ele chamava-lhe "os sinais de pausa") dando à frase um outro ritmo dado pela oralidade. O escritor "usa pontuação, mas reinventa-a de acordo com um outro ritmo prosódico, que é o da oralidade de quem fala a língua", afirma Carlos Reis e redescobre sentidos ocultos nas palavras. É inovador o tipo de frase que veio a caracterizar o escritor onde se pode "encontrar o narrador a dialogar com uma ou mais personagens, ou duas personagens que dialogam", diz Manuel Gusmão.

Tudo terá começado no "ensaio de romance" Manual de Pintura e Caligrafia, publicado em 1997. Nessa obra o autor já ensaiava a sua técnica de construção romanesca e nunca mais a abandonará. Todos os seus futuros romances estão contidos em Manual de Pintura e Caligrafia tal como todos os seus grandes temas futuros estão lá: o "ateísmo confesso", o "papel de primordial importância concedido à mulher" até ao carácter humanista e humanitário que se prolonga pela sua obra, diz Ana Paula Arnaut. E nas últimas obras, As Intermitências da Morte, A Viagem do Elefante e Caim volta a haver uma nova mudança. "Surge um tom marcadamente cómico que se sobrepõe à seriedade que caracterizava os romances anteriores", afirma a professora universitária.

Quando lhe perguntámos se aquilo que Saramago fez em termos estilísticos já tinha sido feito, responde que às vezes a questão não é se já foi feito, é a intensidade com que é utilizado que dá essa coisa nova. "Não é uma coisa nova mas de uma maneira nova", conclui.

Esta é uma nova versão do texto Saramago: o escritor que brinca com a pontuação publicado no suplemento P2, de 23 de Abril de 2008

O melhor de José Saramago pelos leitores do Público

por A-24, em 19.06.10
Manuela Matos Monteiro

"Na morte a cegueira é igual para todos."

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa somos nós"
in "Ensaio sobra a cegueira"


Amadeu Gonçalves, Vila Nova de Famalicão

"(...) a pintura não é mais do que literatura feita com pincéis (...)"
in "História do Cerco de Lisboa"

"Tendo nascido, nasci no princípio da minha morte, portanto quase morto."
in "Manual de Pintura e Caligrafia"

"Deus é tanto mais Deus quanto mais inacessível for (...)"
in "O Evangelho Segundo Jesus Cristo"

"Há ocasiões, e se é verdade que na ocasião se faz o ladrão, também se pode fazer a revolução (...)"

in "O Ano da Morte de Ricardo Reis"


Rui Pedro Vasconcelos, V.N.Gaia

"Ele adormeceu, ela não. Então ela, a morte, levantou-se, abriu a bolsa que tinha deixado na sala e retirou a carta de cor violeta. olhou em redor como se estivesse à procura de um lugar onde a pudesse deixar, sobre o piano, metida entre as cordas do violoncelo, ou então no próprio quarto, debaixo da almofada em que a cabeça do homem descansava. Não o fez..."
in "As Intermitências da Morte"


Paulo Gonçalves

"(...) o que é que em nós sonha o que sonhamos, porventura os sonhos são a lembrança que a alma tem do corpo"
in "O Evangelho Segundo Jesus Cristo"


Ana Soares Barbosa

“Deus é o silêncio do universo, e o homem o grito que dá sentido a esse silêncio”
in "Cadernos de Lanzarote"


Miguel Torres Preto

“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem”
in “Ensaio sobre a Cegueira”


Joana Pimentel Alves, Coimbra

"Não falou Blimunda, não lhe falou Baltasar, apenas se olharam, olharem-se era a casa de ambos."
in "Memorial do Convento"


Maria Teresa Magalhães

" O chefe do Governo pôs a mão direita em cima do telefone. Não chegou a esperar um minuto, Senhor primeiro-ministro, começou o ministro do interior, Já sei, não diga mais, cometemos um erro, Disse cometemos, Sim, cometemos, porque se um se equivocou e o outro não corrigiu, o erro é de ambos....."
in "Ensaio Sobre a Lucidez"


Ana Luísa Carvalho, Aldeia do Meco

"Jesus morre, morre, e já o vai deixando a vida, quando de súbito o céu por cima da sua cabeça se abre de par em par e Deus aparece, vestido como estivera na barca, e a sua voz ressoa por toda a terra, dizendo, Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus toda a minha complacência. Então Jesus compreendeu que viera trazido ao engano como se leva o cordeiro ao sacrifício, que a sua vida fora traçada para morrer assim desde o princípio dos princípios, e, subindo-lhe à lembrança o rio de sangue e de sofrimento que do seu lado irá nascer e alagar toda a terra, clamou para o céu aberto onde Deus sorria, Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez. Depois, foi morrendo no meio de um sonho, estava em Nazaré e ouvia o pai dizer-lhe, encolhendo os ombros e sorrindo também, Nem eu posso fazer-te todas as perguntas, nem tu podes dar-me todas as respostas."
in "O Evangelho Segundo Jesus Cristo"


Ivo Raposo
"...a convulsa realidade do universo em que somos um fiozinho de merda a ponto de se dissolver..."
in "As Intermitências da Morte"


Catarina Reis

"Além da conversa das mulheres, são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita. Mas são também os sonhos que lhe fazem uma coroa de luas, por isso o céu é o resplendor que há dentro da cabeça dos homens, se não é a cabeça dos homens o próprio e único céu."
in "Memorial do Convento"


Miguel Cardoso - Viseu

"Acham eles que passando nós fome nas nossas terras nos devíamos sujeitar a tudo, mas aí é que se enganam, que a nossa fome é uma fome limpa, e os cardos que temos de ripar, ripam-nos as nossas mãos, que mesmo quando estão sujas, limpas são, não há mãos mais limpas do que as nossas, é a primeira coisa que aprendemos quando entramos no quartel, não faz parte da instrução de arma, mas adivinha-se, e um homem pode escolher entre a fome inteira e a vergonha de comer o que nos dão, quando também é certo que a mim me vieram chamar a Monte Lavre para servir a pátria, dizem eles, mas servir a pátria não sei o que seja, se a pátria é minha mãe e é meu pai, dizem também, de meus verdadeiros pais sei eu, e todos sabem dos seus, que tiraram à boca para não faltar à nossa, e então a pátria deverá tirar à sua própria boca para não faltar à minha, e se eu tiver de comer cardos, coma-os a pátria comigo, ou então uns são filhos da pátria e os outros são filhos da puta."
in "Levantado do Chão"


Catarina Campinas Furtado, Roterdão

“Todos os dias têm a sua história, um só minuto levaria anos a contar, o mínimo gesto, o descasque miudinho duma palavra, duma sílaba, dum som, para já não falar dos pensamentos, que é coisa de muito estofo, pensar no que se pensa, ou pensou, ou está pensando, e que pensamento é esse que pensa o outro pensamento, não acabaríamos nunca mais.”
in “Levantado do Chão”


Rui Valente, Coimbra

"Voar é uma simples coisa comparando com Blimunda"
in "Memorial do Convento"


Alexandra Godinho, Lisboa

"Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não vêem"
in "Ensaio Sobre a Cegueira"


Ângela Pisco

" Releu o que escrevera... como se estivesse a tomar conhecimento de um recado deixado por alguém de quem não gostasse, ou o irritasse mais do que é normal e desculpável... Agora que está começado vai ser preciso acabá-lo, é como uma fatalidade. E as pessoas nem sonham que quem acaba uma coisa nunca é a aquela que a começou, mesmo que ambas tenham nome igual, que isso só é que se mantém constante, nada mais."

"Há ocasiões assim. Acreditamos na importância do que dissemos ou escrevemos até um certo ponto, apenas porque não foi possível calor os sons ou apagar os traços, mas entra-nos no corpo a tentação da mudez, a fascinação da imobilidade, estar como estão os deuses, calados e quietos, assistindo apenas."
in "O Ano da Morte de Ricardo Reis"


Albano Mendes de Matos

"A queima vai adiantada, os rostos mal se distinguem. Naquela extremo arde um homema a quem falta a mão esquerda.Talvez por ter a barba enegrecida, prodígio cosmético da fuligem, parece mais novo. E uma nuvem fechada está no centro do seu corpo. Então Blimunda disse, Vem.
Desprendeu-se a vontade de Baltazar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda."
in "Memorial do Convento"


Alexandre Sousa

"Não é verdade. A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: «Não há mais que ver», sabia que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com Sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já."

in "Viagens a Portugal"


Paulo Gonçalves, Porto

"Em verdade, em verdade vos digo, há certas maneiras de ser feliz que são simplesmente odiosas."
in "Cadernos 2"


Fernanda Damas Cabral

"Epitáfio para Luís de Camões

Que sabemos de ti, se só deixaste versos,
Que lembrança ficou no mundo que tiveste?
Do nascer ao morrer ganhaste os dias todos?
Ou perderam-te a vida os versos que fizeste?"
in “Os Poemas Possíveis”, ed. 1999, p.33


Jorge Moita

"Quem dele [João Domingos Serra] me falou pela primeira vez foi Maria João Mogarro: “E está aí o João Serra, de quem se diz que escreveu a sua vida, nunca vi, mas deve ser certo.” Imagina-se o meu alvoroço, um camponês escritor, um António Aleixo da prosa… “Uns apontamentos, não?”», perguntei eu a fingir um cepticismo que não sentia. “Que não”, respondeu ela, “«pelo menos é o que me têm dito.” No dia seguinte fomos bater à porta do João Serra, que não estava, estavam, sim, as filhas, “O nosso pai está no hospital”, disseram. Expliquei ao que ia, que estava a escrever um livro sobre o Lavre e que seria para mim uma grande ajuda poder passar uma vista de olhos pelo que ele tinha feito. Pusemo-nos de acordo em esperar que o pai saísse do hospital, aonde o tinham levado certos achaques agravados da velhice, e, finalmente, uns quantos dias depois, recebia das mãos do próprio João Domingos Serra o fruto do seu labor. Com o caderno debaixo do braço corri para o meu refúgio e pus-me a ler, com a ideia de ir copiando à mão as passagens mais interessantes, mas rapidamente compreendi que nem uma só daquelas palavras poderia perder-se. Não terminei a leitura. Meti uma folha de papel na máquina e comecei a trasladar, com todos os seus pontos e vírgulas, incluindo algum erro de ortografia, o escrito de João Serra. Tinha enfim livro. Ainda tive de esperar três anos para que a história amadurecesse na minha cabeça, mas o Levantado do Chão começou a ser escrito nesse dia, quando contraí uma dívida que nunca poderei pagar."
Prefácio a "Uma Família do Alentejo"


João Pedro Gato

"Posto diante de todos estes homens reunidos, de todas estas mulheres, de todas estas crianças (sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra, assim lhes fora mandado), cujo suor não nascia do trabalho que não tinham, mas da agonia insuportável de não o ter, Deus arrependeu-se dos males que havia feito e permitido, a um ponto tal que, num arrebato de contrição, quis mudar o seu nome para um outro mais humano. Falando à multidão, anunciou: “A partir de hoje chamar-me-eis Justiça.” E a multidão respondeu-lhe: “Justiça, já nós a temos, e não nos atende. Disse Deus: “Sendo assim, tomarei o nome de Direito.” E a multidão tornou a responder-lhe: “Direito, já nós o temos, e não nos conhece." E Deus: "Nesse caso, ficarei com o nome de Caridade, que é um nome bonito.” Disse a multidão: “Não necessitamos caridade, o que queremos é uma Justiça que se cumpra e um Direito que nos respeite."
Prefácio a "Terra", de Sebastião Salgado


Daniela Brasil

"...olhava como se olha o vazio, no vazio não há perto nem longe onde parar os olhos, em verdade, não é possível fixar uma ausência."
in "O Evangelho Segundo Jesus Cristo"


Daniel Carolo

“Já sabemos que destes dois se amam as almas, os corpos e as vontades, porém, estando deitados, assistem as vontades e as almas ao gosto dos corpos, ou talvez ainda se agarrem mais a eles para tomarem parte no gosto, difícil é saber que parte há em cada parte, se está perdendo ou ganhando a alma quando Blimunda levanta as saias e Baltasar deslaça as bragas, se está a vontade ganhando ou perdendo quando ambos suspiram e gemem, se ficou o corpo vencedor ou vencido quando Baltasar descansa em Blimunda e ela o descansa a ele, ambos se descansando.”
in “Memorial do Convento”


Alice Loureiro, Braga

"A vida é assim, está cheia de palavras que não valem a pena, cada uma que ainda formos dizendo tirará o lugar a outra mais merecedora, que o seria não tanto por si mesma, mas pelas consequências de tê-la dito"
in "A Caverna"


Lauro Lopes

"(...) A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio de uma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz."
in "O Ano da Morte de Ricardo Reis"


Ana Alexandre

"Bastar-te-ás a ti próprio enquanto puderes aguentar, depois confia-te a quem mereces, melhor se esse for alguém que te mereça."
in "A Jangada de Pedra"

Paulo Sousa, Alcabideche

“Vou a tempo, disse, e era certo, ia a tempo, no fim de contas é como sempre vamos, a tempo, com o tempo, no tempo, e nuca fora do tempo, por muito que disso nos acusem.”
in "A Caverna"


Nuno Santos Carneiro, Porto

"Servem as palavras para isto: tão certas são para errar, como erradas para acertar"
in "Que farei com este livro?"

Real Life Flintstones House Lures Tourists in Portugal

por A-24, em 15.06.10
The 'House of Stone' stands on a remote hillside in northern Portugal. Photo via flickr
It's a bit of a shame that the easiest way to describe this magnificent structure requires reference to a cartoon from the 1960s, but the way in which it incorporates its natural setting defies most conventional description. Located in the Fafe mountains of northern Portugal, A Casa do Penedo, or "the House of Stone," was built between four large boulders found on the site. Although the house may seem rustic, it is not lacking in amenities, which include a fireplace and a swimming pool--carved out of one of the large rocks. But, as word has spread, the sleepy little house has had visitors venturing to see it in droves.The two-story home is built between four large boulders. Photos via Feliciano Guimarães
The house was built in 1974 as a family's rural retreat, but in recent years it has attracted the attention of tourists and architecture enthusiasts alike for being so perfectly integrated into its natural surroundings. Interest in the stone house has grown to the point that the current owner, Vitor Rodrigues, has had to move to find solace from the curious visitors.
For security, the house features bullet-proof windows and a steel door.
Because of the recent interest generated by the house and its remote location, Casa do Penedo has been the subject of robbery attempts and vandalism in recent years. Now, the house is equipped with bullet-proof windows and a steel door. Inside, however, the home is said to be quite cozy, with stone furniture, stairs, and railings made of logs.
 
The eco-friendly house has a view of wind-turbines on the Portuguese hillsides.
Recently, the house was the subject of a story in Portuguese media, which offers a peek into the home's interior:
While there may be no shortage of modern, eco-friendly design ideas being generated in the architectural community today, there's still something breathtakingly original about a house that looks straight out of the Stone Age.
Stephen Messenger in "Tree Hugger" link

As polémicas de Saramago

por A-24, em 14.06.10
1975

José Saramago é nomeado director-adjunto do Diário de Notícias, de onde viria a sair na sequência do 25 de Novembro, decidindo dedicar-se em exclusivo à escrita. Quando entrou, anunciou aos jornalistas: “Quem não está com a Revolução, é melhor não estar no Diário de Notícias”. Num tempo de opções radicalizadas, os editoriais, apesar de não assinados, vinham marcados pelo seu estilo inconfundível, posto ao serviço da facção gonçalvista do MFA. O saneamento de três dezenas de jornalistas, na sequência de um documento de protesto contra a falta de pluralismo do jornal, colou ao seu nome, visto como o mentor do processo, um rasto de polémica que o acompanhou sempre. Em declarações sobre o tema ao jornal brasileiro Folha de S. Paulo, Saramago assumiu a sua responsabilidade na decisão, mas disse que esta não foi apenas dele, mas de “um corpo coerente de pessoas que fez gorar o golpe preparado no exterior do jornal.”


1989

O escritor é o primeiro das quatro centenas de subscritores – entre os quais estavam também Pina Moura, José Luís Judas e Barros Moura – de um documento, designado Terceira Via, que contestava a direcção de Álvaro Cunhal e exigia “maior democracia interna” no PCP.


Novembro de 1991

A publicação de Evangelho Segundo Jesus Cristo é recebida com polémica em Portugal e noutros países, nomeadamente no Brasil, com a Igreja deste país a criticar o ateísmo do livro e a dizer que se o escritor fizesse parte da Igreja Católica seria “excomungado”.


Abril de 1992

A polémica em volta de Evangelho Segundo Jesus Cristo agudiza-se em Portugal, com o sub-secretário de Estado da Cultura, António Sousa Lara, a excluir o livro da lista de candidatos ao Prémio Literário Europeu (em que estavam também Pedro Tamen e Fiama Hasse Pais Brandão, que virão a retirar-se num gesto de solidariedade para com Saramago, e Agustina Bessa-Luís). “O livro não representa Portugal nem os portugueses”, justifica o governante. Saramago comenta: “É o regresso da Inquisição”. A polémica arrasta-se por vários meses e, em 1993, Saramago decide abandonar o país para fixar residência na ilha de Lanzarote, em Espanha.


Março de 1993

A TVI proíbe a exibição de um anúncio ao livro In Nomine Dei. Em resposta, o escritor comenta, na sessão de encerramento da Feira do Livro de Braga: “Deus lhes dê uns bons açoites. (...) A TVI não sabe o que Deus quer, embora possa saber o que a Igreja quer”.


Janeiro de 1994

Em entrevista à televisão espanhola Antena 3, a pretexto de Lisboa’94 – Capital Europeia da Cultura, Saramago diz: “Deixem a cultura em paz”, e contesta o excesso de mediatismo e de artificialidade que acompanha esse mundo. “Num momento em que a cultura na Europa está moribunda, entra-se numa operação artificial, com a contribuição dos governos e autoridades municipais”. “A realidade cultural de Lisboa não é a falsa realidade de 1994, mas a real de 1992, 1993 ou 1995”, acrescenta.


Janeiro de 1996

José Saramago e José Manuel Mendes subscreveram uma declaração de apoio à candidatura presidencial de Jorge Sampaio, sem esperarem pela reunião da Comissão Política do PCP (de que Saramago é membro desde 1969), que formalizaria a desistência de Jerónimo de Sousa em favor do ex-presidente da Câmara de Lisboa. É mais um dos inúmeros episódios de demarcação do escritor relativamente à direcção do PCP.

Numa palestra em Brasília, critica a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), que acusa mesmo de ser “uma organização criminosa, uma quadrilha que se dedica à extorsão e ao roubo”. Admite que a IURD “seria legítima” se tivesse “uma nova interpretação de Deus”. “Mas não. É o engano sistemático, é a exploração da credulidade, da ingenuidade das pessoas, é a especulação com o sofrimento do povo e sua desesperança”. O escritor compara os crimes das seitas evangélicas de hoje aos pecados da Igreja Católica no passado.


12 de Novembro de 1998

A maioria PSD na Assembleia Legislativa da Madeira rejeita um voto de congratulação e louvor a José Saramago pela atribuição do Nobel da Literatura. A proposta é votada favoravelmente apenas pelas bancadas da oposição.


10 de Dezembro de 1998

SIC antecipa no Jornal da Noite o teor do discurso de José Saramago na cerimónia de atribuição do Nobel, furando o embargo pedido pelo escritor e motivando a sua fúria. Em reacção à atribuição do prémio, o jornal oficial do Vaticano, L’Osservatore Romano, diz que a distinção tinha sido “ideologicamente orientada”.


27 de Fevereiro de 1999

Num colóquio em Lisboa sobre os 25 anos do 25 de Abril, Saramago diz acreditar que se a Revolução dos Cravos não tivesse sido feita, Portugal estaria igual ao que é hoje. “O 25 de Abril acabou. É história. É uma promessa que não se realizou”. E acrescenta: “Não quer dizer que não o devêssemos ter feito. Apenas que não soubemos, não pudemos ou não nos deixaram mantê-lo”.


Agosto de 1999

Recusa ser doutorado “honoris causa” pela Universidade de Belém do Pará, em sinal de protesto contra o modo como decorre o julgamento do massacre ocorrido na povoação de Eldorado dos Carajás, a 17 de Abril de 1996, em que 155 soldados da polícia militarizada abriram fogo contra uma manifestação de camponeses tendo provocado 19 mortos e um número indeterminado de feridos. “Já não imaginava que em pleno século da chamada democracia global pudessem acontecer coisas assim”, justifica Saramago.


Setembro de 2000

Entra em polémica com o deputado comunista Carlos Brito, pelo facto de este ter enviado uma carta à direcção do PC criticando as posições do partido, não fazendo “jus ao seu passado histórico de comunista”, diz. Um ano depois, é o escritor que acaba por demarcar-se do PC, ao voltar a apoiar a (re)candidatura de Jorge Sampaio à Presidência da República, quando o partido apostava numa candidatura própria com o seu militante António Abreu. E em Abril de 2004, em entrevista à TSF, desafia o PC a procurar “caminhos novos”, frisando que “as batalhas de hoje não se ganham com as armas de ontem”.


18 de Setembro de 2001

Uma semana depois do 11 de Setembro, num artigo editado simultaneamente no PÚBLICO e no El País, intitulado O Factor Deus, Saramago cita exemplos de violência ocorrida em países como a Índia, Angola e Israel, supostamente por motivos religiosos, para expressar a sua ideia de que “as religiões, todas elas, sem excepção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais”. O artigo provoca uma série de reacções, de diversos sentidos, na imprensa portuguesa.



24 de Janeiro de 2002

Em visita a Ramallah, integrado numa delegação do Parlamento Internacional de Escritores (PIE), Saramago compara a ocupação israelita dos territórios palestinianos ao campo de concentração nazi de Auschwitz. “É preciso dizer que o que acontece na Palestina é um crime que nós podemos parar. Podemos compará-lo ao que aconteceu em Auschwitz”. A declaração motiva uma demarcação do PIE e também críticas generalizadas em Israel, nomeadamente por parte da Liga Anti-Difamação e do escritor Amos Oz, com este a acusar Saramago de “revelar uma terrível cegueira moral”. Em entrevista ao jornal brasileiro O Globo, em Outubro de 2003, o escritor volta a abordar o tema e reafirma a sua posição. “Os judeus não merecem a simpatia pelo sofrimento por que passaram durante o Holocausto. Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós”.


14 de Abril de 2003

Depois de por várias vezes se ter manifestado um acérrimo defensor da revolução cubana, Saramago critica o regime comunista de Fidel, agastado com a execução de três dos autores do desvio de um ferry. Num artigo de opinião no espanhol El País, o escritor demarca-se dos destinos da governação cubana. “Até aqui cheguei. De agora em diante, Cuba seguirá o seu caminho, eu fico”, escreve.


15 de Julho de 2007

Em entrevista ao DN, Saramago defende que os portugueses só tinham a ganhar se Portugal fosse integrado na Espanha. “Não vale a pena armar-me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos”. (...) Seria mais uma província. “Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla la Mancha e tínhamos Portugal. Provavelmente [Espanha] teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria”. As declarações motivam reacções desencontradas (e polémica) no país e ganharam eco internacional, nomeadamente em Espanha.


18 de Outubro de 2009

Na Biblioteca Municipal de Penafiel, no lançamento mundial do novo romance Caim, reinterpretação do episódio de Caim e Abel do Velho Testamento, Saramago refere-se à Bíblia como “um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”. Mas diz o mesmo sobre o Corão. “Imaginar que Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos”. As reacções não se fizeram esperar. Ainda que o Vaticano tenha evitado comentar as opiniões do autor de Evangelho Segundo Jesus Cristo, o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Morujão, classificou-as como “uma operação de publicidade” para aumentar as vendas do livro. E o bispo do Porto, D. Manuel Clemente, considerou que as incursões bíblicas do escritor revelavam “uma ingenuidade confrangedora”. Também o rabino Eliezer di Martino, da comunidade judaica, acusou o autor de não conhecer a Bíblia nem a sua exegese, limitando-se a fazer “leituras superficiais” do livro. E, em artigo no Ípsilon, o escritor Richard Zimler considerou as declarações de Saramago “unicamente banalidades superficiais”.


Fevereiro de 2010

Quando é noticiado que, no programa da visita do Papa Bento XVI a Portugal, haveria um encontro com personalidades da Cultura portuguesa, Saramago, em declarações ao Diário de Notícias, anuncia que recusaria um eventual convite para a ocasião. “Não temos nada para dizer um ao outro”, justificou o autor de Caim.


Abril de 2010

A casa editora alemã de Saramago, Rowohlt, recusa publicar no país, em livro de bolso, uma recolha de textos do blogue pessoal do escritor, o que terá acontecido em consequência das suas posições consideradas anti-semitas. Saramago troca-a pela Hoffman und Campe, que anuncia para Outubro a edição alemã de A Viagem do Elefante.

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